domingo, 11 de outubro de 2009

Piranhas

O sabor do cangaço
Pequena e agradável, às margens do São Francisco

Foto: Chico Junior
Vale a pena descobrir o sabor desse lugar ainda pouco conhecido pelos turistas. Piranhas é uma pequenina cidade alagoana, divisa com Sergipe, de nome exótico, belas paisagens e charmosa arquitetura.

Com igrejas e sobrados dos séculos 18 e 19 tombados pelo Patrimônio Histórico Nacional, traz em sua bagagem momentos emocionantes, como a exposição em praça pública (na frente ao prédio onde hoje é a sede da Prefeitura) das cabeças cortadas de Lampião, de Maria Bonita e de outros nove cangaceiros mortos pela volante do Tenente Bezerra na Grota do Angico, em Poço Redondo, já em território sergipano.

Resumindo, Piranhas é um lugarzinho todo especial, situada numa escarpa junto ao rio. Vielas estreitas, entre rochas, dão um charme à cidade. A famosa Angico é uma das trilhas que fazem parte da “Rota do Cangaço”, dentre os passeios turísticos da região, um dos mais procurados pelos visitantes interessados em conhecer a história do sertão brasileiro. Lugar das andanças de Lampião e local que fica a grota, onde foi morto.

O roteiro começa em Piranhas, com visitação ao Museu do Sertão e segue com o passeio de catamarã ou barco para visitação a Grota do Angico e inclui passagem pela Ilha do Ouro, além de visitas opcionais á hidrelétrica de Xingó e ao Museu Arqueológico. O passeio é belíssimo, em alguns trechos pode-se nadar ou simplesmente tomar banho sob o sol nordestino. Para não correr o risco de perder a aventura é preciso marcar com antecedência no hotel no qual estiver hospedado para a formação de grupo.

A partir da margem do rio, o passeio começa no Restaurante Angicos e é seguido a pé por uma trilha no meio da caatinga. A trilha é sempre feita com um guia, que conta como se deu o ataque a Lampião e seu bando. Se o visitante der a sorte de ter Jairo como guia, aí terá uma verdadeira aula sobre o cangaço. Jairo Luis de Oliveira (foto) é técnico em turismo, dono da Angico Tour e, principalmente, um estudioso e pesquisador de história do cangaço.

Vai andando na trilha e falando do cangaço e do ambiente da caatinga, mostrando cada árvore e arbusto ou cacto encontrados na trilha. Para diante de uma planta de urtiga e faz uma revelação: “Vocês sabiam que do caule da urtiga se faz uma salada deliciosa?” O que é confirmado por Angecila, esposa de Jairo.

Gastronomia do cangaço

Jairo cuida da história e Angecila da gastronomia. Há mais de 10 anos ela pesquisa e estuda a gastronomia sertaneja e cangaceira e, assim, consegue dar um diferencial fantástico à culinária do Restaurante Angicos, de propriedade da irmã Luciana, que, sempre sorridente, recebe os visitantes vestida a caráter, ou seja, de cangaceira estilizada. O diferencial é a utilização da polpa de dois tipos de cactus - o cabeça-de-frade e o facheiro - como ingredientes de alguns pratos do lugar.

O primeiro é um cactus pequeno, baixinho e gordinho, com uma coroa vermelha (a flor) na ponta. O seu produto mais famoso é o doce de cabeça-de-frade, que lembra uma cocada, mas tem gosto parecido com doce de mamão, uma delícia.

Ainda no campo dos doces. Da polpa do facheiro, ela faz uma igualmente deliciosa geléia. “Criamos novos sabores que tenha a ver com a região, com a caatinga. Sempre a partir de receitas que eram usadas na época do cangaço”, diz Angecila. Ela informa que o doce existe desde o século XIX e era consumido pelos cangaceiros. “Há muito tempo o sertanejo come cacto. E feito assim: tira-se o espinho, a casca e utiliza-se a polpa, cortada em tiras, que são lavadas e fervidas. Depois, cozinha-se com açúcar, cravo moído e chá de erva-doce.

Com o facheiro Angecila faz, ainda, o seu prato mais exótico: filé de surubim com tiras do cacto refogadas por cima. Diferente e gostoso. Mas se o visitante não quiser se arriscar no exótico há a opção do campeão dos pedidos: filé de surubim ao molho de macaxeira (mandioca), cozido com temperos, cenoura e batata. Outra delícia da casa.

Além dos pratos apresentados acima e da exótica salada de caule de urtiga (“é perfeita”, diz Angecila), o visitante tem à escolha para o almoço: peixe empanado coberto com facheiro refogado, salada de mamão verde (mamão cortado em cubinhos e refogado em manteiga com coentro), pitu, robalo, piabinha frita (a sardinha do rio) e posta de surubim grelhada.

Contatos
Restaurante Angicos. Tel: (82) 8823-3973. Só se chega por barco (10’ a partir de Piranhas)
Angico’s Tur (Jairo). Tel: (82) 8823-3973
Prefeitura de Piranhas. Tel: (82) 3686-3013
Quiosque Beira-Rio

Em Piranhas, no Quiosque Beira-Rio, se come uma das pituzadas mais famosas de todo o estado de Alagoas. A paulista Cléo chegou na região em 1993 para ser professora em Xingó. Gostou do lugar e se apaixonou por Piranhas. Trouxe o marido, que também se apaixonou, e ficou. Quando Cléo abriu o quiosque, só vendia salgadinhos. Depois passou a servir o pitu e aí veio o sucesso.

O pitu é pescado ali mesmo, em armadilhas chamadas covos, colocadas junto às pedras onde o bicho é encontrado. É mantido vivo até a hora de ir para a panela, junto com tomate, cebola, pimentão, coentro, leite de coco e um pouco de água. De 15 a 20 minutos depois, está pronto. Do molho, faz-se o pirão, delicioso, que acompanha o prato.

Mas Cléo faz uma reclamação. “Infelizmente, o nosso pitu, do São Francisco, está acabando. Está em extinção. O pessoal pesca os pequenininhos e, aos poucos vai acabando. Pitu grande, daqueles com garras, só em foto”, desabafa. Falar nisso, essa é uma reclamação de muitos pescadores da região.

Além do pitu, Cléo serve também surubim, tilápia, tucunaré e postas fritas de tubarana, o dourado do rio. Isso sem falar que é muito agradável comer no varandão do quiosque, na beira do rio.

O cari do Lampião

Embora seja um peixe característico do São Francisco, o cari não é fácil de ser encontrado em qualquer mesa. É um peixe feio, escamas grossas, mas de carne apreciada na região. No Baixo São Francisco, o restaurante Lampião é o único que o põe na mesa. A especialidade da casa é o cari ao queijo. O peixe inteiro é cozido; depois é triturado e temperado. Colocam-se camadas de cari, banana, creme branco e, por último, queijo. Depois, forno.

Paulo Amaral, o proprietário, é de Triunfo (PE), mas está em Piranhas há mais de 20 anos. Ele informa que a idéia de usar o cari no cardápio e, daí, virar a marca da casa, foi do cozinheiro do restaurante, o cearense Tarcísio Parente. Ali, o cari também é servido em filés. “Antigamente”,diz Paulo, o cari era um peixe de segunda categoria. Mas aí a gente começou a trabalhar com ele e as pessoas descobriram o sabor do peixe, que só dá onde tem pedras, nas locas, e é abundante nessa região do São Francisco.

Além do cari, experimente: pitu, surubim, tucunaré a carneiro guisado acompanhado de feijão verde, arroz e salada.

Endereço e telefone
Avenida Beira-Rio 100. Tel: (82) 9986 -7382 / 9965 - 3556 / 3686-3335

Imagem e redação: Chico Junior
Confira todas as imagens de pratos e passoas citadas na matéria através do site Viagem & Sabor

Um comentário:

Ed Oliveira Artista Plástico disse...

Há quatro anos fui convidado para fazer alguns trabalhos em Água Branca-AL, e descobri que o bando de Lampião passou por lá e provocou um reboliço danado.
Lampião mandou um recado para o Poderoso Barão de Água Branca pedindo dinheiro para prosseguir viagem só que o Barão estava viajando e a Srª Baronesa disse ao portador que não tinha dinheiro para bandido;ao saber disso, Lampião resovleu se vingar, ao chegar em Água Branca o bando foi dividido,em uma rede colocaram as armas com um cabra dentro fingindo de morto e foram até a delegacia, ao chegar lá os poucos policiais que lá estavam foram rendidos e presos, em seguida lampião cerca a casa do Barão e obriga a Srª Baronesa a desfilar com ele pelas ruas da cidade.
Água Branca também foi cenário para a gravação do filme "O caagnceiro".