segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Documentários

Paixão e Guerra no Sertão de Canudos (1993)


Produzido ao longo de 3 anos, "Paixão e Guerra no Sertão de Canudos" de Antônio Olavo, conta a epopeia sertaneja de Canudos. 

No percurso de 180 cidades e povoados de Ceará, Pernambuco, Sergipe e Bahia, o vídeo reúne raros depoimentos de parentes de Antônio Conselheiro, contemporâneos da guerra, filhos de líderes guerrilheiros, historiadores, religiosos e militares.

Fonte: Docsprimus/YouTube

Visitem: www.docspt.com (Maior fórum de documentários dublados ou legendados em língua portuguesa.) www.docsprimus.blogspot.com (Blog especializado em documentários.)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Quadrinhos Clássicos

Cangaceiro Carrapicho, de Carlos Avalone 

Tiras



Em 1978 a Abril implantou o Projeto Tiras, um ousado e ambicioso sistema de distribuição de tiras diárias para jornais de todo o país, com participação majoritária de quadrinistas ligados à editora, dirigido por Ruy Perotti e coordenado por Wagner Augusto. Tendo 11 autores e um editor, nunca tinha sido feito nada parecido no Brasil até então.

O desafio era instituir um sistema comercial de produção e distribuição de tiras semelhante ao americano, um King Features Syndicate tropical, com o suporte da poderosa Editora Abril.

Dentro desse Projeto criei tiras do Carrapicho que foram publicadas diariamente por dezenas de jornais de todo o país durante mais de um ano.

Em 1981 o Carrapicho saiu também aos domingos na Folhinha, suplemento infantil dominical da Folha de S. Paulo. Com a interrupção do Projeto "Tiras da Abril" eu ainda consegui manter a distribuição das tiras por minha conta por cerca de dois anos. Mas sem ter uma adequada estrutura de operação empresarial eu não consegui manter o esquema.

No ano de 1987, desenhando nas horas vagas durante um período em que trabalhei no Departamento de Artes do jornal A Tribuna, de Santos, em três meses eu já tinha pronto um projeto para publicação do Carrapicho em revista. Pedi demissão do jornal e apresentei o projeto para a editora Noblet, que já tinha publicado meu Espoleta cerca de dez anos antes. A editora topou e colocou a revista Carrapicho nas bancas.

Personagens

O cangaceiro Carrapicho é o justiceiro de Vila Pedregulho, imaginariamente localizada no nordeste brasileiro.

Vive perseguido pelo poderoso Coroné Cascalho, um dominador político e econômico da região. Donzela Muriçoca é a moça  cobiçada pelo coroné, mas ela quer mesmo casar é com o Carrapicho, que não quer saber de conversa. Outros personagens completam o universo: os assistentes de cangaceiro Folha Seca e Faísca, o Padre Pedroca e ainda o Cabo Firmino, que é o braço direito do Doutor Delegado.

Procurei dar às histórias do cangaceiro Carrapicho um cunho cômico apoiado no universo sertanejo e no cangaço do nordeste brasileiro. Apesar de estrutura regional, as aventuras do personagem transcendem o espaço geográfico e se tornam universais pelo tratamento dado às suas relações com o meio-ambiente e com a sociedade local.


Embora à vontade no uso de uma linguagem carregada de neologismos e expressões regionais, tentei com o Carrapicho zelar pela correção ortográfica e gramatical nos diálogos e nos enunciados. Algumas vezes, porém, convenientemente brinquei com a gramática
em nome de uma "licença quadrinística".

Simultaneamente eu fazia a revista de atividades Historinhas do Carrapicho

Enfim, após seis edições produzidas e quatro publicadas, a revista Carrapicho saiu de circulação.
   
Mudança de rumo

Em 1989 finalmente me convenci de que a tendência de encolhimento do mercado de quadrinhos era irreversível e o panorama ficaria cada vez mais restrito para quem fazia quadrinho autoral. E voltar a trabalhar em uma grande editora ou estúdio para desenhar personagens de outro autor já não me interessava tanto naquela época. Engavetei meus personagens e procurei outro rumo. Desde então não desenho uma só página de HQ. A última história que desenhei foi justamente naquele ano de 1989. Eu ainda tenho arquivadas algumas histórias inéditas.


Fonte: www.carlosavalone.com.br

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Documentários

Perfil - Gustavo Barroso


Filho de Antônio Filinto Barroso e de Ana Dodt Barroso, fez os seus estudos nos externatos São José, Parthenon Cearense e Liceu do Ceará.

Cursou a Faculdade Livre de Direito do Ceará, bacharelando-se em 1911 pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da UFRJ

Foi redator do Jornal do Ceará (1908-1909) e do Jornal do Commercio (1911-1913); professor da Escola de Menores, da Polícia do Distrito Federal (1910-1912); secretário da Superintendência da Defesa da Borracha, no Rio de Janeiro (1913); secretário do Interior e da Justiça do Ceará (1914); diretor da revista Fon-Fon (a partir de 1916); deputado federal pelo Ceará (1915 a 1918); secretário da Delegação Brasileira à Conferência da Paz de Venezuela (1918-1919); inspetor escolar do Distrito Federal (1919 a 1922); diretor do Museu Histórico Nacional (a partir de 1922); secretário geral da Junta de Juriconsultos Americanos (1927); representou o Brasil em várias missões diplomáticas, entre as quais a Comissão Internacional de Monumentos Históricos (criada pela Liga das Nações) e a Exposição Comemorativa dos Centenários de Portugal (1940-1941). Participou do movimento integralista. Embora não concordasse com o rumo dos acontecimentos a partir de 1937, manteve-se fiel à doutrina filosófica do integralismo.

Estreou na literatura, aos vinte e três anos, usando o pseudônimo de João do Norte, com o livro Terra de Sol, ensaio sobre a natureza e os costumes do sertão cearense. Além dos livros publicados, sua obra ficou dispersa em jornais e revistas de Fortaleza e do Rio de Janeiro, para os quais escreveu artigos, crônicas e contos, além de desenhos e caricaturas. A vasta obra de Gustavo Barroso, de cento e vinte e oito livros, abrange história, folclore, ficção, biografias, memórias, política, arqueologia, museologia, economia, crítica e ensaio, além de dicionário e poesia. Pseudônimos: João do Norte, Nautilus, Jotanne e Cláudio França.

Inicio


Parte 2


Parte 3


Parte final


Pescado no canal do YouTube da TV Ceará

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Temas do Cariri Cangaço 2013

Dona Fideralina Augusto - Nota Preliminar
Por Dimas Macedo
                                                                                                                                        
                                                                   
                                                             Em Lavras da Mangabeira
                                                             poeta Dimas Macedo
                                                             um irmão da coronela
                                                             morreu por mim.
                                                                                 (Gerardo Melo Mourão)

Primeira filha de Isabel Rita de São José e do major João Carlos Augusto, antigo deputado à Assembleia Provincial cearense, nasceu Fideralina Augusto Lima em Lavras da Mangabeira (CE), aos 24 de agosto de 1832.
 
Apesar de jamais ter vivido fora do seu município, sua fama de mulher destemida e audaz correu mundos, sendo considerada uma das maiores simbologias do mandonismo e uma das grandes expressões políticas do Ceará e do Nordeste.

Conhecida como figura de destaque do coronelismo, cujo espírito encarnou com a sua armadura de guerreira, Fideralina sempre levou às últimas consequências as vinditas com os seus adversários, ganhando ou perdendo as demandas com as quais se envolveu.
           
Falecida aos 16 de janeiro de 1919, foi casada com o major Ildefonso Correia Lima, e entre os fatos marcantes da sua trajetória podem ser enumerados: a detenção do poder político supremo, em Lavras da Mangabeira, e a derrubada do seu próprio filho, Honório Correia Lima, da chefia da Intendência local.
 
Major Ildefonso Correia Lima
In  www.blogdosanharol.blogspot.com.br

Senhora de vastos domínios territoriais e de grande vocação para o exercício da política, em Lavras estabeleceu residência em casarão localizado na então Rua Grande, hoje Major Ildefonso, e sua vivenda de campo foi construída no sítio Tatu do mesmo município, ostentando, além da casa-grande, a senzala, a capela e o engenho, símbolos máximos da autonomia do sistema latifundiário.
 
 Casa...
 ... E vivenda de Dona Fideralina Augusto
 em Lavras da Mangabeira (Ceará)

Vastíssima tem sido a crônica histórica a seu respeito, valendo destacar algumas opiniões de abalizados conhecedores da nossa história política, selecionadas entre a complexa bibliografia que regista a sua trajetória. Em torno de sua pessoa disse Antônio Barroso Pontes: “Dona Fideralina, que na sua época dominou toda a região sul do Ceará”. E Joaryvar Macedo: “Mulher forte, Dona Fideralina tornou-se uma das maiores expressões da política cearense do seu tempo”.
           
Assim opinaram Antônio Martins Filho e Raimundo Girão: “Valente espírito feminino a quem muito interessava a política cearense”. Já para Hugo Victor Guimarães foi Dona Fideralina uma “mulher extraordinária como expressão de bravura e coragem” e “uma das mulheres que tiveram maior projeção na vida política do Ceará”. Para o pesquisador João Alves de Albuquerque, foi Dona Fideralina a “respeitável senhora que durante longos anos dirigiu a política de Lavras, cuja chefia lhe fora arrebatada pela morte, pois, só assim, lhe seria abatido o grande prestígio que sempre desfrutou em sua terra”.
           
O poeta Gentil Augusto Lima, em conferência proferida na Associação de Imprensa da cidade de Campos (RJ), em 1955, assim se manifestou sobre ela: “Mais brava e de muito mais valor do que Bárbara de Alencar, e ainda do que Anita Garibaldi”. Já o historiador Valdery Uchoa afirmou ser Dona Fideralina uma “mulher notável pelo seu destemor e pela sua bravura”.
            
João Clímaco Bezerra, em artigo estampado na revista Manchete (em 1976), buscando um paralelo para Marica Lessa, que inspirou o romance – Dona Guidinha do Poço –, de Oliveira Paiva, assim expressou o seu ponto-de-vista: “uma dessas mulheres que dominaram os sertões no tempo do império e que passaram ao lendário cearense como Dona Fideralina das Lavras da Mangabeira”.
           
O historiador fluminense João Medeiros, em passagem de um dos seus livros, registrou que Dona Fideralina era uma mulher que, pela coragem e atitudes matriarcais, merecia o respeito em toda uma vastidão rural. E argumentou, em seguida: “Daí ser acatada sua palavra nos pronunciamentos políticos da região, pois conseguia ter seus filhos na representação do governo municipal, Assembleia Estadual e Câmara Federal”.
           
E mais, revelou João Medeiros que o Padre Cícero, certa feita, chegou a ponderar que “não se podia escrever a história do Cariri sem se deter na pessoa dessa digna matrona”.
           
O testemunho mais lúcido sobre Dona Fideralina, no entanto, fica por conta de Rachel de Queiroz, que, em artigo estampado na revista O Cruzeiro, de 07 de agosto de 1976, depois de afirmar que essa destemida matriarca lavrense foi “a mais famosa dona do Nordeste, e a senhora de mais cartaz do seu tempo”, acrescenta que Dona Fideralina “foi uma espécie de rainha sem coroa, foi uma legenda”.
          
Ainda segundo as palavras de Rachel, “Das margens do São Francisco aos seringais do Amazonas a palavra de Dona Fideralina era lei. Sendo de corpo uma fraca mulher como nós todas, tinha, entretanto, uma alma de varão, e como varão era não apenas reconhecida, mas temida”.
          
E prossegue a autora de O Quinze: “Como toda pessoa que cai no folclore, acontece que a figura de Dona Fideralina foi algumas vezes deformada, envenenada, pois a boca do povo sempre altera o que repete, para o bem e para o mal. E assim, porque Dona Fideralina não tinha medo de ninguém, porque sendo apenas uma mulher, sabia fazer-se respeitada como um coronel de bigodes; porque, num tempo em que o cangaço era a lei única e nem o exército podia direito com um bando de jagunços (exemplo: Canudos, Juazeiro, Princesa), Dona Fideralina também se cercava de cabras armados para a defesa dos seus e da sua casa”.
           
Na fase mais criativa da maturidade, ao publicar a sua obra-prima, Memorial de Maria Moura (São Paulo, Editora Siciliano, 1992), Rachel de Queiroz foi incisiva ao dizer que se tratava de um romance à clef, inspirado na vida de Dona Fideralina Augusto. E mais: chegou a publicar um folheto intitulado: Dona Fideralina das Lavras (Rio, UFRJ, 1990).
     
O Cego Aderaldo, num dos seus poemas em que historia a Revolução de 1914, que derrubou o Governo Franco Rabelo, no Ceará, dá-nos igualmente a dimensão dessa ilustre matrona sertaneja, quando diz: “Goesinho rolou no chão / temendo a bala ferina / mas quando ele conheceu / que ali havia ruína / correu com medo dos cabras / de Dona Fideralina”.
           
A sua participação na Revolução de 1914, conhecida por Sedição de Juazeiro, foi das mais decisivas para a vitória do Movimento. De uma só empreitada, segundo Floro Bartolomeu, ela teria colocado cinco mil cartuchos à disposição dos que lutavam contra o Governo de Franco Rabelo.
           
Otacílio Anselmo, que se refere a esse episódio, no seu livro Padre Cícero: Mito e Realidade (Rio, Editora Civilização Brasileira, 1968); e bem assim historiadores como João Brígido e Joaryvar Macedo atribuem um papel político de destaque a Dona Fideralina Augusto, diante da Sedição de Juazeiro e ao tempo da Primeira República.
           
Manteve Dona Fideralina relações de amizade com o Padre Cícero, e com os maiores coronéis do Cariri, colocando-se contra ou a favor dos que rezavam ou não rezavam pela sua cartilha, mandando e desmandando nas coisas da política sempre que achava que assim devia proceder.
            
E o vulgo popular compreendeu, e a literatura de cordel assim registrou que ela, Dona Fideralina, diferente dos grandes coronéis do Cariri, queria mandar no mundo inteiro e não apenas na política da sua região.
 
 Segunda edição, do livro “Os Augustos”, 
sob coordenação de Rejane Monteiro Augusto Gonçalves. 
In: Diário do Nordeste

Na sua terra de berço, jamais admitiu que alguém tivesse mais poder do que ela, vivendo sempre às turras com o Monsenhor Meceno, político cearense da maior expressão e que foi vigário de Lavras durante o apogeu do seu mandonismo. Fidera vasculhou de tal forma a vida desse sacerdote, que terminou descobrindo, em Tauá, um deslize por ele cometido, dando ciência do feito a seus paroquianos, através de um panfleto bastante audacioso.
           
Na primeira década do século precedente, tomou partido em várias refregas memoráveis verificadas no Sul do Ceará, e de todas essas refregas saiu-se Dona Fideralina muito bem, fazendo, em Lavras da Mangabeira, o casamento da sua filha Josefa com o Juiz de Direito da Comarca, ameaçando-o com uma severa imposição, e tal forma que o magistrado se mudou depois para o Amazonas, não regressando mais ao Ceará.
            
Em 1902, como registra Joaryvar Macedo, em Império do Bacamarte (Fortaleza, Casa de José de Alencar, 1990), a velha matriarca de Lavras determinou a invasão de Princesa, no Estado da Paraíba, para vingar a morte do seu neto, Ildefonso Augusto, constituindo, na época, o Batalhão de Dona Fideralina, comandado por Zuza Febrôncio e que ali cumpriu fielmente a sua decisão.
           
Em Lavras, investiu-se com todas as prerrogativas no poder local, fazendo o jogo dos interesses políticos com a posição da Intendência; e, não conseguindo demover o seu filho, Honório Correia Lima, do cargo de Intendente, em 26 de novembro de 1907, retirou o mesmo do poder pela força do velho bacamarte, cobrindo-se depois de luto e se enfurnando em sua fazenda, durante certo tempo.
            
O fato acima, como bem salientou o historiador Joaryvar Macedo, trouxe consequências funestas, não somente para os membros da família Augusto, da qual Dona Fideralina era o pedestal máximo de referência, mas para todo o município de Lavras da Mangabeira.
            
Seu pai, João Carlos Augusto, antigo Deputado Provincial, fez-se, em toda a região do Vale do Salgado, um dos maiores líderes políticos do seu tempo. Afilhado e tido como filho natural de um governador do Ceará (o Barão de Aracati), trazia do berço, o Major João Carlos, os requintes da aristocracia; e como bom guerreiro e líder político do seu povo, chefiou as tropas que libertaram a Vila de Lavras dos asseclas de Pinto Madeira.
             
Em 1832, ano em que Dona Fideralina nasceu, a Capital do Médio Salgado encontrava-se dominada por esse grande caudilho de Jardim, que espalhava terror e sobressalto em todas as ruas do lugar, às vezes, até em parceria com o Padre Verdeixa, o vigário lavrense de então.
            
Esse desmiolado Padre Verdeixa, conhecido pela alcunha de "Canoa Doida", foi quem batizou Fideralina Augusto, aos 19 de setembro de 1832, na Igreja Matriz de São Vicente Ferrer, recebendo ela, na pia batismal, o nome que o seu pai achava muito próximo dos ideais federalistas e da forma de Estado nos quais acreditava, e pelos quais os seus familiares lavrenses haviam lutado bravamente.
              
O entorno familiar de Fideralina Augusto fez-se, todo ele, cercado de tragédias e acontecimentos que chamam de plano a atenção: seu tio-avô, pelo lado materno, José Joaquim Xavier Sobreira, vigário da freguesia de Lavras e político de grande atuação em todo o Ceará, foi envenenado; sua tia, pelo ramo paterno, Cosma Francisca de Oliveira Banhos, assim como seu pai, João Carlos Augusto, e o seu irmão, Ernesto Carlos Augusto, foram assassinados; e seu primeiro neto a formar-se em Medicina, Ildefonso Augusto de Lacerda Leite, foi trucidado de forma violenta na Vila de Princesa, em 1902.
             
Mas Dona Fideralina, com os fulgores da sua fortaleza, sobreviveu a todas as tragédias, à ferrenha oposição da sua irmã, Dulcéria Augusto de Oliveira, e a todas as circunstâncias difíceis da sua trajetória. Teve que tomar decisões que lhe fizeram sangrar o coração, tal aquela de optar por um filho, o Coronel Gustavo, e ter que derrubar o outro do poder político pelo uso da força.
             
Episódios verificados na cidade de Lavras entre 1907 e 1910 e, especialmente, entre 1911 e 1914, trouxeram-lhe vários dissabores, e dividiram definitivamente os descendentes da família Augusto, ao preço de assassinatos memoráveis, tal aquele perpetrado contra o seu próprio filho, o célebre Coronel Gustavo.
            
Como nenhum mandatário do seu tempo, Dona Fideralina encarnou as instituições vigentes em sua época, juntando, ao seu patrimônio de latifundiária, várias possessões de terras do município, e garantindo a sobrevivência do feudo com o trabalho servil de base escrava, que jamais aboliu nas cercanias das suas fazendas e na casa-grande do sítio Tatu.
           
Ali, ignorou a abolição da escravatura e durante a primeira década do século precedente continuou sendo carregada de liteira pelas ruas de Lavras, segundo os seus próprios descendentes, que com ela conviveram de perto e testemunharam a sua maneira ousada de viver.
            
No sítio Tatu – como reza uma quadra popular –, não apenas criou negros para o sei deleite, mas os transformou em expressões de relevo da vida social do município, exportando-os também para outras regiões do Ceará, tais os casos de José Ferreira da Silva (o Zé Rainha), personagem de destaque do carnaval de Fortaleza; e de Luís Preto, que foi imortalizado por Batista de Lima num dos seus poemas de maior expressão.
             
Vivendo num momento marcado pela presença do banditismo das hordas facínoras de cangaceiros, não deixou de arguir em torno de sua defesa pessoal, na preservação dos interesses legitimados pelo seu código de honra, homens ágeis no manejo do trabuco como um Antônio Preto ou um Nego Bento, ou ainda cangaceiros destemidos do porte de um Miguel Garra.
             
Desfrutou Dona Fideralina as concessões sociais da sua época; mas é certo também que dispensou as regalias que lhe eram conferidas pelo sistema latifundiário, fazendo o percurso do sítio Tatu até a sede municipal nas costas de possantes cavalos, sempre com um bacamarte na lua da sela, cena varonil que deixou marcantes impressões no Dr. Augusto Dias Martins, que exerceu as funções de Juiz de Direito da Comarca de Lavras, no final do século dezenove.
             
Viúva ainda muito jovem, assim permaneceu até a data do seu desenlace, sublimando a sua solidão e, possivelmente, a sua libido, com a energia que movimenta o mundo da política, mas surpreendendo, também, pelo gosto que demonstrou pelas coisas da cultura, tendo sido, em Lavras da Mangabeira, correspondente da revista Estrela, fundada e dirigida em Fortaleza (e depois em Baturité e Aracati) pela escritora Francisca Clotilde.
              
O seu esposo, Ildefonso Correia Lima (16.3.1928 a 27.12.1876), natural de Várzea Alegre, CE exerceu, na Vila de São Vicente das Lavras, preponderante atuação política, tendo ali ocupado os cargos de membro da Guarda Nacional, juiz municipal, delegado de polícia, vereador e presidente do Poder Legislativo, o que correspondia na época ao cargo de Prefeito.
              
Além do seu marido, todos os seus filhos, genros e cunhados protagonizaram de tal modo o poder político em sua terra, que se torna difícil, na história de Lavras, encontrar um cargo de chefia do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário (estadual ou municipal) que não tenha sido por um deles monopolizado, isto desde quando ela resolveu encarnar a política como vocação, somente deixando de reinar após a sua morte, em 1919.
              
Conhecida igualmente por Fidera, ou Didinha, como ainda hoje lhe fazem referências alguns membros da família, o certo é que Dona Fideralina Augusto tem presença assegurada na história das transformações políticas por que passou o Ceará nas primeiras décadas da República Velha.
          
Figura lendária e até certo ponto mitológica, em seu município e na região Sul do Ceará, a sua condição de matriarca de uma prole que por diversas razões se tem destacado no Ceará e além-fronteiras, imprime-lhe respeito ao nome e aos valores da sua tradição.
  
Em Dona Fideralina, a vocação maior foi sempre a política, que recebeu como herança dos ancestrais e que tão bem soube transmitir como legado aos seus descendentes. Três dos seus filhos tomaram assento como deputados na Assembleia Legislativa estadual, tendo dois deles exercido o cargo de Vice-Presidente do Estado.
              
Dois dos seus bisnetos chegaram ao Senado Federal e nele tomaram assento, e doze outros descendentes seus exerceram mandatos de Deputado. Diversos membros da sua estirpe memorável têm exercido postos de destaque na vida política, administrativa e econômica do Estado, bem como em outros setores da vida social do Ceará.
               
É vasta a bibliografia a seu respeito. Entre livros e opúsculos, no entanto, sugiro a remissão às seguintes fontes: Dona Fideralina das Lavras (Rio, 1990), de Heloisa Buarque de Holanda e Rachel de Queiroz; Uma Matriarca do Sertão – Fideralina Augusto Lima (Fortaleza, 2008), de Melquíades Pinto Paiva; e A Vocação Política de Fideralina Augusto Lima (Fortaleza, 1991), de Rejane Augusto.   


Dona Fieralina -- Biliografia Preliminar
Artigos

1.   AQUINO, J. Lindemberg. A Dama de Ferro de Lavras, in Tribuna do Ceará, Fortaleza: edição de [....].
2.    BEZERRA, João Clímaco. As Obras-Primas Que Poucos Leram: Dona Guidinha do Poço, in revista Manchete, nº 1280. Rio: 1976.

3.   DIÁRIO DO NORDESTE – Mulher na Literatura. Fortaleza: 27.03.2002.

4.   DUARTE, Ana Rita F. “Mulher-Macho, Sim Senhor: Histórias de Mulheres que Romperam Limites no Ceará, in Bonito Pra Chover. Fortaleza: Ed. Demócrito Rocha, 2003.

5.   LIMA, José Batista de. Da Pátria Lavras, in O Catolé, nº 37. Fortaleza: outubro de 1981.

6.    MACEDO, Dimas. Dona Fideralina Augusto Lima, in O Povo. Fortaleza: 21.06.1981

7. MACEDO, Dimas. Dona Fideralina Augusto Lima, in Itaytera, revista do Instituto Cultural do Cariri. Crato: nº 27, 1983.
8.     MACEDO, Joaryvar. Dona Fideralina: Negros e Cabras, in Desafio, Revista da Pró-Reitoria de Extensão da UFC. Fortaleza: nº 1, Ano 02, Abril de 1989.

9.   MATTOS, Tarcísio. Cearenses, Povo Pra Lá de Bom, in O Povo. Fortaleza: 13.12.2003.
10. SOUZA, José Hélder. Onde se Trata de Lucubrações Ficcionais da Crônica, in Correio Brasiliense. Brasília: 16.05.1991
11.  QUEIROZ, Rachel. Maneco, in revista O Cruzeiro. Rio: 07.08.1946.

12.  QUEIROZ, Rachel de. “Sinhá D’Amora”, in Jornal do Comércio. Rio: 07.08. 1978.

 13.  XAVIER, Marisa A. de Brito. A História de Mulheres Guerreiras / A Bravura de Dona Fideralina, in Delas, Ano II, nº 79, Sup. de O Povo. Fortaleza: 05.07.1998.

Livros

 14.  ALBUQUERQUE, João Alves. A Vida Dos Municípios. Fortaleza: Tip. Minerva, 1945.

15.  ANSELMO, Otacílio. Padre Cícero: Mito e Realidade. Rio: Civilização Brasileira, 1968.

16.  BARBOSA, Lourdinha Leite. Protagonistas de Rachel de Queiroz. Campinas: Editora Pontes, 1999.

17.  BORGES, Raimundo de Oliveira. Serra de São Pedro. Crato: Tipografia e Papelaria do Cariri, sem data de publicação.

18.  BARROSO, Olga Monte. Quem São Elas. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1992.

19.  BARTOLOMEU, Floro. Discursos Parlamentares. Rio: 1924.

20. CALISTO JÚNIOR, João Tavares. Venda Grande d’Aurora. Fortaleza: Expressão Gráfica, 2012.

21.  CARVALHO, Gilmar de (Org.). Bonito Pra Chover. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2003.

22.  COSTA, Cândido Acrísio da. Gente da Gente. Fortaleza: Imprensa Universitária da UFC, 1974.

23.  D’AMORA, Sinhá. Quarenta Anos de Vida Artística. Rio: Livraria Eu & Você Editora, 1981.

24. FIRMO, Rosa. O Rosário de Quitaiús. Fortaleza: RDS Editora, 2010.

25.  GIRÃO, Raimundo e MARTINS FILHO, Antônio.  O Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária, 1939.

26.  FONTENELE, Maria do Carmo Carvalho. Pioneiras em Evidência. Fortaleza: Destak Gráfica e Editora, 2000.

27.  GALENO, Alberto S. Território dos Coronéis. Fortaleza: Editora Henriqueta Galeno, 1988.

28. GONÇALVES, Rejane Monteiro Augusto. Lavras da Mangabeira – Um Marco Histórico. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1984.

29.  GONÇALVES, Rejane Monteiro Augusto. A Vocação Política de Fideralina Augusto Lima. Fortaleza: Imprensa Oficial do Ceará, 1991.

30. GONÇALVES, Rejane Monteiro Augusto. O Coronel João Augusto Lima / 1886 –1986. Fortaleza: Edição da Autora, 1986.

31.  GONÇALVES, Rejane Monteiro Augusto. Umari – Baixio – Ipaumirim / Subsídios Para a História Política. Fortaleza: Edição da Autora, 1997.

32.  HOLANDA, Heloisa B. e QUEIROZ, Rachel. Matriarcas do Ceará / Dona Fideralina de Lavras. Rio: Centro Interdisciplinar de Cultura Contemporânea da UFRJ, 1990.

33.  LACERDA, Emerson Monteiro. Cinema de Janela. São Paulo: Terceira Margem, 2002.

34.  LEITÃO, Juarez. Prediletos das Urnas. Fortaleza: Editora Realce, 2004.

35.  LEITÃO, Juarez. Ensino Como Quem Reza – Vida e Tempo de Filgueiras Lima, de Juarez Leitão. Fortaleza: Editora Tecnograf, 2006.

36.  LEMOS, Fátima. Histórias Para Contar e Poemas do Meu Viver. Fortaleza: Editora Prêmius, 2010.

37.  LEMOS, João Gonçalves de. No Tempo/No Espaço - A Família Lemos. Fortaleza: Edição do Autor, 2004.

38.  LEMOS, Linda. Fragmentos da História de Várzea Alegre. Fortaleza: RDS, 2010.

39.  LIMA, Gentil Augusto. Eu e a Minha Poesia. Vitória: Imprensa Oficial, 1955.

40.  LIMA, Gentil Augusto. Cangaceiros. Recife: Sem Editor, 1959.

41.  MACEDO, Dimas. Lavrenses Ilustres, 3ª ed. Fortaleza: Secult/BNB, 2012.
42.  MACEDO, Dimas. Crítica Dispersa. Fortaleza: Edições Funcet, 2003.
43.  MACEDO, Dimas. Entrevista. Fortaleza: Edições Pajeú, 2003.

44.  MACEDO, Dimas. A Brisa do Salgado. Fortaleza: Imprece, 2011.

45.  MACEDO, Joaryvar. Os Augustos. Fortaleza: Imprensa Universitária, 1971.

46.  MACEDO, Joaryvar. Um Bravo Caririense. Crato: Empresa Gráfica Ltda, 1974.

47. MACEDO, Joaryvar. Lavras da Mangabeira – Dos Primórdios a Vila. Fortaleza: Separata da Revista do Instituto do Ceará, 1981.
48. MACEDO, Joaryvar. São Vicente das Lavras. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1984.

49. MACEDO, Joaryvar. Temas Históricos Regionais. Fortaleza: Secretaria de Cultura, 1986.
50.  MACEDO, Joaryvar. Império do Bacamarte. Fortaleza: Casa de José de Alencar, 1990.
51.  MACEDO, Joaryvar. Ensaios e Perfis. Fortaleza: Casa de José de Alencar/UFC, 2001.

52.  MACEDO, Vicente Landim de. Marica Macedo: A Brava Sertaneja de Aurora. Brasília: Petry Gráfica e Editora, 1998.
53.  MARTINS FILHO, Antônio. Memórias / Menoridade / 1904-1925. Fortaleza: Imprensa Universitária/UFC, 1991.

54.  MEDEIROS, João. Mestres da Pintura no Brasil. Rio: Editora Parma Ltda. 1983.

55.  MONTEIRO, Túlio. Sinhá D’Amora. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002.
56.  MORAIS, Raimundo Rolim de. Bembém. Fortaleza: Edição do Autor, 1983.

57.  MORAIS, Raimundo Rolim de. Parte da Primitiva Família de Lavras da Mangabeira. Fortaleza: Gráfica do jornal A Fortaleza, 1953.

58.  MOREL, Edmar. Padre Cícero: O Santo de Juazeiro. Rio: Gráfica O Cruzeiro, 1946.

59.  MOTA, Leonardo. Cantadores. Rio: Livraria Editora Cátedra / INL, 4ª ed., 1976.
60. MOURA, Evandro Ayres. Histórias de Ontem e de Hoje. Fortaleza: Editora ABC, 2001.
61.  MOURÃO, Gerardo Mello. Cânon & Fuga. Rio: Editora Record, 1999.

62.  PAIVA, Maria Arair Pinto. A Elite Política do Ceará Provincial. Rio: Editora Tempo Brasileiro, 1979.

63. PAIVA, Melquíades Pinto. Uma Matriarca do Sertão – Dona Fideralina Augusto. Fortaleza: Edições Livro Técnico, 2008.

64.  PAIVA, Melquíades Pinto. Memória Centenária de Uma Sertaneja: Creusa Pinto Paiva. Fortaleza: Edições Livro Técnico, 2009.

65.  PONTES, Antônio Barroso. Mundo dos Coronéis. Rio: Gráfica O Cruzeiro, 2ª ed., 1970.

66.  QUEIROZ, Rachel. Memorial de Maria Moura. São Paulo: Editora Siciliano, 1992.
67.  UCHÔA, Valdery. Ideias Municipalistas. Fortaleza: Edição do Autor, 1959.

O Coroné Severo nos deu a sugestão, e aí fumo buscá aculá, no www.dimasmacedo.blogspot.com.br

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Cangaceiro Esperança

Sua prisão e sua herança
Por João de Sousa Lima

Cangaceiro "Esperança" ao centro.

A fazenda Quirino, no povoado São Francisco, Macururé, Bahia, era um  dos coitos do bando de Lampião e principalmente reduto dos cangaceiros nascidos entre Macururé, Brejo do Burgo, Santo Antonio da Glória  e Chorrochó. Entre eles Gavião, Azulão, Esperança, Cocada, Zé Sereno, Zé Baiano e Gato. No povoado São Francisco a mãe de Esperança, dona Andressa, tinha terras por lá, porém ela residia na Várzea da Ema.

O comandante de volante que destacava na Várzea da Ema era Antonio Justiniano e dois dos soldados que ele comandava eram irmãos de Esperança: Vicente, apelidado de Medalha e Ananias. A fazenda pertencia a Ludugero, tio do cangaceiro Esperança.

Ludugero, tio de Esperança, dono da fazenda Quirino.

João e Jovelina Barbosa, irmã do cangaceiro Azulão, 
povoado São Francisco.

Esperança, Cocada, Pancada e Gavião, encontravam-se acoitados próximo ao sítio Quirino. Dentro de um cercado os cangaceiros catavam imbu quando chegou o dono do terreno e Cocada o prendeu e depois o soltou. O sertanejo correu e foi avisar policia do encontro que teve com os cangaceiros.
   
Dona Andressa sempre que precisava ir ver suas criações no São Francisco tinha que pedir autorização ao comandante do destacamento e foi em uma dessas viagens que ela travou diálogo com o contratado Reginaldo que lhe sugeriu pedir para que Esperança se entregasse que nada lhe aconteceria, de preferência que ele trouxesse a cabeça de um companheiro que sua vida tava garantida. Andressa levou o recado ao filho que mesmo relutante acabou cedendo aos apelos da querida mãe. Reginaldo mandou roupas novas de mescla azul para Esperança. O cangaceiro ainda relutante disse a mãe que não tinha coragem de se entregar e a mãe saiu triste.
   
Era março de 1933, no coito encontrava-se Esperança, Cocada, Gavião e Pancada.  Esperança chamou Cocada para irem pegar água em um caldeirão ali próximo. Os dois seguiram na direção do caldeirão. Diante quando chegaram ao caldeirão sentaram-se e ficaram conversando. Cocada limpou sua arma e depois pediu a arma do amigo para ele limpar e Cocada entregou seu mosquetão. Esperança limpou, colocou uma bala na agulha e detonou. O cangaceiro com o impacto do tiro caiu uns dois metros de distância e sem saber de onde tinha partido o disparo pediu socorro:
- Me acode Esperança, não deixe os “MACACOS” me matar!
Esperança pegou o facão da marca jacaré, partiu na direção do moribundo e o degolou ainda com vida. Pegou os bornais, armas, a cabeça do cangaceiro e foi se entregar a policia.

 Cabeça do Cangaceiro Cocada,
morto pelo "colega" Esperança

Na Várzea da Ema ele se entregou  as autoridades, contou detalhes da morte que fez, denunciou os coitos dos cangaceiros na região. Com dez dias  depois  foi encaminhado para a cidade de Uauá, onde o capitão Manoel Campos de Menezes que o livrou da prisão e o incorporou na volante policial do tenente Santinho como contratado . Ficou sendo o corneteiro do grupo. Trabalhou em Jeremoabo e faleceu tempos depois na cidade de Juazeiro, Bahia.

Ainda na prisão em Várzea da Ema.

O cangaceiro Esperança quando preso, já atendendo agora por Mamede, seu nome real, encontrou o com o jovem sobrinho José  Gonçalves Varjão, apelidado de Pororô e lhe confidenciou que na frondosa árvore lateral a casa de sua família, enterrado próximo ao seu tronco, tinha um material guardado e que ele tirasse e entregasse a seu pai. Pororô procurou ao redor da árvore mais diante da pouca idade não encontrou forças para continuar a empreitada de escavação no duro chão de cascalhos.

O tempo passou, Pororô cresceu e retornando certo dia de uma caçada, quando se aproximava de sua velha residência, viu quando seu cachorro passou acuando um preá, o cachorro parou próximo a antiga e frondosa árvore, Pororô se aproximou e viu o cão rosnando e olhando para um pé de macambira, Pororô tirou a cactácea e avistou uma lajota cobrindo um buraco, tirou a pedra, o preá correu com o cachorro latindo atrás, Pororô puxou um tecido em farrapos que cobriam algumas peças, entre elas: Uma colher de prata, 160 cartuchos de fuzil, um punhal, uma espora e algumas moedas.

 Colher de prata de Esperança 
presenteada ao escritor João de Sousa Lima pelo sobrinho do cangaceiro.

Era esse o tesouro de Esperança que ele havia pedido para o sobrinho guardar. Pororô vendeu os cartuchos a um dos prefeitos de Macururé. A colher de prata, algumas moedas, o punhal e uma das esporas ele me presenteou. Na colher encontramos as letras: MA. Talvez o cangaceiro tenha tentado escrever seu verdadeiro nome: MAMEDE. No punhal tem um “NA” ou “NH”.

Detalhe do cabo do punhal de Esperança

Pororô ainda reside e seu irmão Izidoro ainda residem no São Francisco e os Quirino é herança que ficou com a família. Aquele longínquo pedaço de chão ainda guarda as histórias do cangaço vivido em suas terras, memórias ainda latentes de um tempo que teima em não ser esquecido e nem deve....

João de Sousa Lima ladeado por Izidoro e José Pororô
Sobrinhos de Esperança.

Segue em anexo a esse texto uma das cartas de interrogatórios realizados pela polícia e que mostra a importância desses lugares citados com a história do cangaço e a referência com pessoas da localidade. A carta vai transcrita na integra com os erros e incorreções:
“Aos três do mês de maio de 1932, no arraial de Várzea da Ema em casa de residência do segundo tenente Antonio Justiniano de Souza, sub delegado de policia, foi interrogado o bandido acima referido que disse:
   
“Em 1929, estando ele bandido, em seu rancho no lugar denominado São Francisco, foi surpreendido pelo grupo de Lampião que ali chegava a mando do Cel. Petronílio de Alcântara Reis, para que fosse as imediações do Icó e ali receber dinheiro enviado para Lampião, cuja importância era 20:000$000, mas só foram entregues 18:000$000 e que dois restantes Lampião disse que dava por recebido, quando lhe mandasse um cunheito de munição; o que não sabe-se se isso efetuou-se,  mais depois ouviu do bandido ferrugem a declaração de que teve referido Cel. Petronilio havia comprado munição. E que devido a esse encontrão foi ele depoente obrigado a refugiar-se nas Caatingas, pois as forças andavam a sua procura tendo por isso de quando em vez constantes encontros com os cangaceiros, merecendo do mesmo consideração a ponto de lhe ser entregue por “Lampião” um rifle com cem cartuchos, os quais conservou até a data de sua prisão, não tendo, porém feito uso da dita arma para a prática de crime.
 
 Sargento Otávio Farias, radiotelegrafista da policia baiana.
Serviu na Várzea da Ema, sempre enviava as mensagens contando os combates 
dos cangaceiros contra as volantes.
Que sempre foi seduzido por “Lampião”  para fazer parte do seu grupo, mas nunca aceitou, apesar de ter parente no grupo, como sejam: Azulão, Carrasco e Moita Brava. Que esses encontros se efetuavam no lugar denominado Quirino para Lagoa Grande, sendo os sinais convencionados para os referidos encontros, três  pancadas em um pau seco, ou então berrando como boi; que nunca recebeu dinheiro de “Lampião” a não ser algumas roupas dadas pelos cãibras.
   
Que nos últimos encontros que “Lampião” teve com as tropas. Ele respondendo notou que alguns companheiros estavam desgostosos por verem os sacrifícios da causa, que nessa data viajaram nos “cascalhos” das aroeiras com direção a Várzea pernoitando a três quilômetros de distância.
   
Que nessa mesma noite desligou-se do bando a meia noite com Manoel Sinhô de Aquileu, sem que fossem pressentidos pelos outros e vieram pairar nas “Canouas” onde foram informados por Pedro de Aquileu que havia garantia para todos aqueles que tinham ligações com cangaceiros, uma vez que procurassem as autoridades para se entregarem.
   
E baseado nisso em companhia de Pedro veio à procura do Tenente Justiniano em Várzea de Ema onde se acha. Disse mais que “Lampião” depois do combate do touro com o Tenente Arsênio cuja força foi emboscada e morreu quase toda, escapando o referido oficial, pois é um herói que enfrentou o grupo que era numeroso, com um fuzil metralhadora dando somente três rajadas conseguiu matar o irmão de Lampião, Ponto Fino e sendo forçado a abandonar a arma deixando-a inutilizada pelos bandidos.
    
 Tenente Arsênio Alves de Souza
Acervo Lampião Aceso
Que nessa ocasião encontrou Lampião cartas ao Cel. Petronilo acusando Lampião, por isso Lampião resolveu queimar algumas fazendas referido Cel. Petronilo.
   
Disse mais que ouviu de Lampião dizer que tinha mil tiros de fuzil enterrados em um ponto lá para baixo, não declarado ao certo o lugar e que ia também a Curaçá a procura de outros mil tiros que tinha para lá.
Quanto ao armazenamento sabe que Lampião tem alguns  rifles ensebados em ocos de pau (ensebados, para não darem o bicho próprio de madeira).
   
Perguntado quais são as pessoas que fornecem armas a Lampião respondeu que não conhece mais sabe que nas fazendas Juá, Várzea, e São José há “coitos” onde lhes prestam bastante serviços em abastecimentos.
   
E por nada mais dizer nem lhe ser perguntado deu-se por findo estas declarações ao presente auto que vae por todos assignados pelo tenente e testemunhas.

Várzea da Ema, 7 de maio de 1932”