Por José Romero Araújo Cardoso
Em dois momentos, quando da entrada do bando de Lampião no Estado do Rio Grande do Norte, o chefe quadrilheiro fez valer sua experiência como chefe de cangaço, evitando deliberadamente confrontar-se com a resistência que foi organizada.
Foto: Acervo de Sinô Maia |
O segundo desvio proposital dos cangaceiros foi em Caraúbas. O “rei do cangaço” conhecia a fama de quem havia estruturado a resistência. Tratava-se tão somente do “Coronel” Quincas Saldanha, o “gato vermelho” da expressão sisuda e respeitosa proferida pelo próprio Virgulino Lampião.
Atordoados com a fama perversa de Virgulino Ferreira da Silva e seus cabras, os jagunços do “Coronel” Quincas Saldanha iniciaram forte tiroteio, a esmo, cujo erro foi notado imediatamente pelo experiente sertanejo, observando que os disparos estavam sendo feitos apenas de um lado. Quincas Saldanha ordenou cessar fogo e notou que estava certo. Lampião tinha desviado a rota para Pedra da Abelha, onde aprisionaria o “Coronel” Antônio Gurgel. A esperteza do chefe dos cangaceiros era uma das razões para o “sucesso” que obteve em vinte e dois anos de lutas no cangaço.
Em Alexandria lembraram-se de eternizar a valentia daqueles que pegaram em armas para obstacular as ações ensandecidas dos cangaceiros. Uma fotografia rara e inédita, de propriedade do senhor José do Patrocínio de Oliveira Maia, natural de Catolé do Rocha (PB), residente no presente da cidade de Mossoró (RN), é a prova iconográfica do empenho valoroso que a família Oliveira efetivou, organizando frente de combate, a qual, conforme se pode verificar no importante registro iconográfico, estava decidida e irresoluta.
A necessidade de fomentar obstáculo a Lampião se dava em virtude da forma tresloucada como o bando vinha se comportando desde quando cruzou a fronteira com a Paraíba. Em Cantinho do Feijão (PB) (hoje município de Santa Helena), o bando cometeu verdadeiros atos de vandalismo.
O senhor José do Patrocínio, conhecido por todos por Sinô Maia, guardou a relíquia com todo zelo, principalmente em virtude de que na fotografia aparece o avô do dono da iconografia rara e inédita. O combatente chamava-se José Garcia, estando assinalado na fotografia, como forma do neto demonstrar carinho ao valente sertanejo. Sinô Maia residiu muito tempo na fazenda cachoeira, em Brejo do Cruz (PB), servindo ao Dr. Fábio Mariz, na profissão de vaqueiro, durante décadas.
Sinô Maia não soube informar os nomes dos outros combatentes, nem a autoria da fotografia. Apenas guarda de recordação há muitos anos. Na fotografia, conforme pode se notar na mesma, identifica-se a bandeira do Brasil como pano de fundo, envolvendo simbolicamente o grupo da resistência de Alexandria na legalidade.
No âmbito histórico-iconográfico considero que o registro fotográfico da resistência organizada em Alexandria tem a mesma importância que as fotografias perpetuadas por Raul Fernandes em seu clássico opúsculo por título “A marcha de Lampião – assalto a Mossoró”.
Nenhum documento sobre a arrogante invasão do bando de Lampião ao território potiguar pode ser desprezada. O valor de uma fotografia rara e inédita sobre o tema, é incomensurável, visto que temos de relatar de todas as formas possíveis às gerações presentes e futuras a grandeza da bravura do povo potiguar, sobretudo Mossoroense, que resistiu galhardamente a um dos mais absurdos atos de agressão a seres humanos, a maioria indefesa, à lei e à ordem no Rio Grande do Norte.
Qualquer documentação inédita que tenha ligação com o cangaço deve ser valorizada, principalmente em razão de que a importância do fenômeno social ocorrido nas caatingas nordestinas traduz a essência da busca pela compreensão da dimensão regional de uma forma holística.
Fonte: Alma do beco
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