Padre Cícero e Lampião
Por: Daniel Walker
No seminário sobre o cangaço que acontecerá em Juazeiro, Crato e Barbalha nos dias 22-27 de setembro os cangaceirólogos vão conhecer uma nova versão sobre a famigerada patente de capitão que Lampião recebeu em Juazeiro do Norte. Quase todos os livros escritos sobre Lampião falam sobre o assunto e em geral atribuem a outorga desse posto militar a Padre Cícero.
É provável que o escritor Optatos Gueiros tenha sido o primeiro autor a propagar essa informação. Muitos autores o copiaram e assim a versão correu Brasil a fora. Os detratores de Padre Cícero afirmam que o fundador de Juazeiro convidou Lampião para ingressar no Batalhão Patriótico e auxiliar o governo no combate à Coluna Prestes. E mais: obrigou um funcionário público federal lotado em Juazeiro (Dr. Pedro Uchoa) assinar o documento que foi ditado pelo próprio Padre Cícero. Essa história é contada de várias maneiras e com detalhes mirabolantes pelos difamadores de Padre Cícero, mas sempre tendo como foco principal que o convite e a outorga da patente foram iniciativas dele.
Por outro lado, os defensores do Padre Cícero contestam a informação, esclarecendo que o comandante do Batalhão Patriótico era Dr. Floro Bartolomeu e sendo assim só ele teria autoridade legal para convidar a conceder a patente ao Rei do cangaço. Afirmam ainda, que Padre Cícero desde o começo queria evitar o combate armado e para tanto chegou a enviar carta ao comandante Carlos Prestes convidando-o a depor as armas. Ademais, depois do que Padre Cícero passou por ter se envolvido, forçado pelas circunstâncias, com a sedição de Juazeiro, ele certamente só queria era distância desse negócio de luta. O certo é que o assunto é polêmico, as opiniões são contraditórias, não existe documentação confiável para comprovar, e tudo o que se disse ou se diz se baseia em história oral ouvida de memorialistas.
A nova versão que será apresentada no seminário tem o peso da credibilidade de Dr. Napoleão Tavares Neves, uma das maiores autoridades em estudo do cangaço no estado do Ceará, que relatará o fato conforme ouviu do Sr. Raimundo Gomes, memorialista(já falecido) de muita credibilidade também. É possível que o assunto não se esgote tão cedo, pois até agora todas as versões apresentadas para contar como se deu a entrega da patente de capitão a Lampião foram recebidas com desconfiança, mas sempre com defensores de ambos os lados. Na verdade, deram ao assunto uma dimensão descomunal, e ele, de certa forma contribuiu sobremaneira para alimentar a farta bibliografia sobre os dois personagens: Padre Cícero e Lampião.
A maioria dos livros publicados sobre os dois invariavelmente tocam no assunto e no computo geral Padre Cícero saiu perdendo, pois a versão contra o Padre Cícero é mais frequente. A versão que será apresentada por Dr. Napoleão, já divulgada num livro escrito pela escritora Fátima Menezes (com tiragem reduzida), tem tudo para fazer um estrondo no mundo do cangaço porque será apresentada dentro de um recinto repleto de estudiosos do tema cangaço.
Vamos aguardar para ver a repercussão.
O artigo foi anterior ao evento, mas sempre vale a pena conferir.
Publicado originalmente no: Juá ON LINE Via Beto Fernandes
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