O figurino é inspirado nos cangaceiros. Só que na cor rosa. Vestidos assim, os organizadores da I Parada da Diversidade de Serra Talhada, a 420 km do Recife, estão causando polêmica na cidade por causa da realização da marcha no próximo dia 03 de outubro.
O grupo que está promovendo a Parada, cerca de 10 pessoas, compõem o que eles batizaram de Cangagay, um espécie de bloco. A expectativa deles é reunir cerca de 5 mil pessoas na Praça Sérgio Magalhães, centro da cidade.
A reação à primeira Parada na terra de Lampião foi imediata. As igrejas católica e evangélica são contra o evento.
"Era melhor que não tivesse" disse o padre Gilvan Bezerra em entrevista para o jornal "Diário de Pernambuco."
O pastor Francis Alencar, da Igreja Batista, considera a homossexualidade pecado e também não quer que a Parada aconteça.
Muita gente é a favor. Foi o que mostrou uma enquete da Rádio Vila Bela FM. Dos 35 ouvintes que ligaram, apenas três se colocaram contra à marcha.
A prefeitura está apoiando o evento que divide as opiniões. É que Serra Talhada sempre teve fama de terra de homens muito machos por causa do seu conterrâneo mais ilustre: Virgolino Ferreira, o Lampião.
Não há, até hoje, nenhum registro que questione a sexualidade do maior cangaceiro do país. Pelo contrário. Sua fama se espalhou por ser implacável nos combates, na crueldade com os inimigos e na punição daqueles que contrariassem a sua vontade.
Até no amor, ele foi autoritário. Lampião decidiu raptar a dona de casa Maria Bonita, casada com o sapateiro José de Neném.
Com a Parada, o organizadores pretendem reduzir essa herança conservadora deixada por Lampião. "A discriminação diminuiu, mas ainda tem muita gente que tem horror ao homossexual" disse um dos organizadores Higino Carlos, conhecido como Bofe Pantera.
Publicado em 25 de setembro 2009 pela Redação do [Toda Forma de Amor] com informações centrais do Diário de Pernambuco.
Parada da diversidade na terra de Lampião
Conhecida pelo lendário cangaceiro, cidade se prepara para a primeira passeata gay do Sertão
Por Ana Paula Neiva
Ananeiva.pe@diariosassociados.com.br
Depois da Parada da Diversidade do último domingo em plena Avenida Boa Viagem, área nobre do Recife, a terra do cabra macho Lampião também poderá se render a um desfile semelhante. É isso mesmo. A cidade de Serra Talhada, localizada a 420 quilômetros do Recife, poderá entrar para a história como palco da primeira parada gay do Sertão. O evento está marcado para o próximo dia 3, um sábado. Mas desde já, a cidade passou a comentar o evento, dividindo opiniões. As igrejas evangélica e católica locais já se pronunciaram contrárias ao desfile. O pastor Francis Alencar e o padre Gilvan Bezerra chegaram a dizer que homossexualismo é pecado.
Os organizadores, que formam o bloco Cangagay, composto por 10 cangaceiros estilizados na cor rosa, têm a intenção de reunir cinco mil pessoas na Praça Sérgio Magalhães, no centro do município. Na comissão de frente do desfile, a organização vai colocar um arco-íris de bexigas. Já foram contratados dois trios elétricos, gogo boys e bandas musicais que tocam na região. "Vamos abalar as estruturas, deixando a cidade mais colorida e feliz", promete o coordenador do evento, o estilista e decorador Hélio Nascimento. O grupo Cangagay é formado por estudantes, cantor, artista plástico e comerciante.
A primeira parada gay do Sertão pretende ficar marcada não só pela produção, mas também pela mensagem de liberdade de expressão, denunciando o preconceito e a violência contra os homossexuais em todo o país. A ONG Leões do Norte, referência no Recife, está apoiando o evento. O movimento também quer reforçar a luta pela defesa da cidadania. "Não queremos apenas sair às ruas sem apresentar nada de concreto para a sociedade", resume Hélio Nascimento. Por isso, uma das bandeiras será a do respeito. "As pessoas precisam entender que somos iguais as outras, independentemente de raça ou religião. Merecemos a mesma importância", comentou Nascimento. Criador do bloco Cangagay, Higino Carlos, mais conhecido como Bofe Pantera, queixa-se da homofobia no município. "A discriminação diminuiu, mas ainda tem muita gente que tem horror ao homossexual", observou.
Embora o evento esteja dividindo opiniões na cidade, numa enquete realizada das 8h ao meio-dia de ontem, pela Rádio Vila Bela FM, 35 ouvintes ligaram para dizer que concordavam com a realização da parada gay, enquanto apenas três foram contra. "O assunto é muito polêmico", admitiu o diretor da rádio, Júnior Duarte. Mas antes de o desfile chegar às ruas vai enfrentar críticas da sociedade. Parte da comunidade evangélica local não concorda com a manifestação cultural. O pastor Francis Alencar, da Igreja Batista Brasileira, lembra que homossexualismo é pecado e vai mais além em suas colocações. Acusa a marcha gay de ser exclusivista. "Eles querem ter direitos, mas não permitem a diversidade. Adotaram o arco-íris como símbolo deles, mas na verdade, todos são monocromáticos, não respeitam a opinião dos outros", comenta.
No município, no entanto, já existe desde novembro do ano passado uma lei contra a homofobia. O texto foi sugerido pelo estudante Éliton Oliveira, 29 anos. Éliton faz questão de declarar que já foi homossexual, mas há um ano tornou-se evangélico e deixou de se envolver com pessoas do mesmo sexo. Ele tem um programa na Rádio Nova Gospel - Restauradores do Altar - que vai ao ar todos os sábados. Nesse programa, posicionou-se contrário à passeata. "À luz da Bíblia, Deus ama o homossexual, mas abomina as suas práticas. Sou contra esse movimento, especialmente por sua agressividade moral e por ir de encontro aos preceitos bíblicos. Acho que eles só querem dançar e aparecer", justificou.
A Igreja Católica, embora mais discreta, também é contra a festa. "Era melhor que não tivesse", disse o padre Gilvan Bezerra. Segundo ele, as famílias mais tradicionais da região têm se manifestado contra. Com manifestações a favor ou não, a festa tem data, hora e local marcados para começar.
Reforço policial garante segurança na parada gay
Serra Talhada // O 14º Batalhão da Polícia Militar vai contar com mais 30 homens para atuar durante o desfile no próximo dia 3 na terra de Lampião
O 14º Batalhão da Polícia Militar, em Serra Talhada, já pediu reforço policial ao Comando de Policiamento do Sertão para garantir a segurança da 1ª Parada da Diversidade, programada para acontecer no próximo dia 3, no município conhecido como a terra de Lampião. O tenente-coronel Eduardo Aragão informou ontem que 30 homens de outras unidades do Sertão serão deslocados para a cidade desde a véspera do desfile e irão se juntar aos 22 policiais que já trabalham lá.
"Também vamos colocar cinco guarnições nas ruas", adiantou. O policiamento ficará à disposição da população até as 20h, horário determinado para o término do evento. "Faremos um trabalho semelhante ao que ocorreu no Recife no último domingo, na Avenida Boa Viagem, na Parada da Diversidade da capital", explicou o oficial.
A movimentação em torno do desfile tem causado muito rebuliço no município, distante 420 quilômetros do Recife. Ontem, após a publicação da matéria no Diário de Pernambuco sobre a parada gay, não se comentava outra coisa na cidade. A festa está dividindo opiniões, principalmente das igrejas, que já se manifestaram contra a realização do desfile por considerar homossexualismo um pecado.
O pastor Francis Alencar, da Igreja Batista Brasileira, que já havia dito que não gostaria que a parada acontecesse, ressaltou ontem que a liberdade de se expressar é um direito de todo cidadão, garantido pela Constituição Federal. "Em nenhum momento me coloquei contrário a tal realização", ressaltou. Enquanto os comentários tomam conta das ruas, os preparativos para o desfile estão a toda prova. Os organizadores do evento pretendem reunir cinco mil pessoas na Praça Sérgio Magalhães, no centro. A prefeitura local prometeu montar o palco. Além do bloco Cangagay, formado por um grupo de dez cangaceiros estilizados de cor de rosa, a ONG Leões do Norte, que luta contra a homofobia, já anunciou que vai levar dois ônibus de convidados do Recife.
"Vamos dar um apoio aos nossos companheiros do Sertão", informou Gilvan Rufino, secretário geral dos Leões do Norte.Ele lembra que Caruaru, no Agreste, por ocasião da realização da primeira parada, há quatro anos, a polêmica foi a mesma. O organizador do evento em Serra Talhada, o estilista e decorador Hélio do Nascimento disse que esteve reunido com a juíza da comarca, que pediu para que não aconteça strip tease no meio da rua. "Garantimos a ela que não haverá mais o show com os gogo boys", contou.
O diretor da Fundação Cabras de Lampião, Anildoma Williams de Souza, declarou que não viu nenhum ofensa a Virgulino Ferreira, o rei do cangaço. "O fato deles desfilarem vestidos de cangaceiros cor de rosa não vai agredir a memória de Lampião. Ser cabra macho é respeitar a liberdade dos outros e não bater em mulher, como muitos acham", falou. A fundação mantém um museu e faz apresentações de xaxado. Hoje, ao meio-dia, haverá um debate com os organizadores do desfile na Rádio Vila Bela FM. O microfone ficará aberto para os ouvintes ligarem e darem a sua opinião.Fonte: Diário de Pernambuco
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