quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Eitcha cambada...

  Que 2010 já tá no meio da beirada!

Eu respeito a crendice dos ateus
E a descrença que mora nos beatos
O atrativo daqueles que são chatos
E o modesto que às vezes se acha Deus.

Reconheço o valor dos versos meus
E a sujeira que habita a mente pura
A pureza que mora na mistura
E a discórdia que mora no consenso.

Deus conserve pra sempre meu bom senso
Temperado à pitadas de loucuras

Eu respeito as hipócritas verdades
E o valor natural dos imperfeitos
Pois somente através dos seus defeitos
Poderão destacar as qualidades.

Reconheço o valor das falsidades
E a mentira que mora em cada jura
Tanta lágrima mole em cara dura
Que eu já nem ofereço mais meu lenço.

Deus conserve pra sempre meu bom senso
Temperado a pitadas de loucuras

Eu respeito o lamento dos contentes
E a alegria que mora em todo pranto
O pecado que mora em cada santo
E o temor que apavora os mais valentes.

Reconheço a moral dos indecentes
E o sabor palatável da amargura
O azedume que mora na doçura
E a fumaça que limpa pelo incenso.

Deus conserve pra sempre meu bom senso
Temperado a pitadas de loucuras

Eu respeito a breguice do elegante
E a desordem na mente do analista
O desanimo mora no otimista
E a inocência namora o meliante.

Reconheço a modéstia do arrogante
E o maestro que odeia partitura
O erudito que foge da leitura
E o aluno que adora ser suspenso.

Deus conserve pra sempre meu bom senso
Temperado à pitadas de loucuras

Eu respeito a vontade do capacho
E o sucesso de todo o fracassado
A macheza do homem delicado
E a porção delicada do homem macho.

Reconheço a elegância do esculacho
E o poder criador da criatura
A coragem que mora na paúra
E o valor da derrota quando venço.

Deus conserve pra sempre meu bom senso
Temperado à pitadas de loucuras

Eu respeito a esperteza que há no tolo
E a tolice que mora em cada sábio
O mau jeito que mora no mais hábil
Jubileu celebrado sem o bolo.

Reconheço a desculpa para o tolo
E o valor nutritivo da gordura
A doença saudável que nos cura
E a paixão que parece amor intenso.

Deus conserve pra sempre meu bom senso
Temperado à pitadas de loucuras.

Eu respeito a doidera do careta
Lucidez que se mostra no maluco
A memória que mora no caduco
E o fantasma que mora na gaveta.

Reconheço o caráter da mutreta
E a beleza que mora na feiúra
Pilantragem que mora na lisura
E a pressão 10 por 8 do hipertenso.

Deus conserve pra sempre meu bom senso
temperado à pitadas de loucuras.

Eu respeito o sorriso do sisudo
E a tristeza que mora na risada
Quem é tudo, mas diz que não é nada
Quem é nada, mas diz que sabe tudo.

Reconheço a grandeza do miúdo
E a umidade que mora na secura
Noite em claro que ofusca noite escura
E a incerteza que mora no que eu penso.

Deus conserve pra sempre meu bom senso
Temperado à pitadas de loucuras.
 

*Autoria ainda desconhecida. 
Quem souber entregue aí.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Retrospectiva

Lançamentos e reedições de Livros 

Em 2010 aconteceram muitas noites de autógrafos. O cangaço esteve em constante evidencia nas prateleiras.  Atualize sua estantes e reserve um espaço para o que vem por aí.








 






 




  
E também algumas novidades em HQs que não poderiam ficar de fora.


"Eleita a melhor HQ de 2010"
Confira aqui 



Se o seu trabalho ficou de fora: lampiaoaceso@hotmail.com

Lampião e o "Lajedo do boi"

Um dos locais das filmagens de Abrahão

Na historiografia do cangaço são muito analisadas as filmagens que Benjamin Abrahão fez com Lampião e seu bando.
 



No ano de 1936, o árabe passou vários meses filmando o bando nas caatingas, e, no governo de Getúlio Vargas, o "DIP" - departamento de imprensa e propaganda confiscou o filme produzido, entendendo que o mesmo, ia contra os princípios da república e afetava a imagem do governo.

Das filmagens originais de Abrahão, sobraram, apenas, em torno de 10 minutos, uma vez que, o restante foi estragado pelo tempo, nos porões da ditadura.

Onde foram feitas as filmagens de Abrahão com o grupo de Lampião?

Segundo estudiosos, apesar de Benjamin ter passado vários meses filmando o grupo um dos locais destas foi No lugar “Lajedo do boi”, próximo ao povoado do "Capiá da igrejinha ", pertencente ao município de Canapi , estado de Alagoas .

Pequeno templo que batiza o povo e o povoado.


O Lajedo fotografado há alguns anos.
Nesse lajedo, os cangaceiros se abasteciam de água, cozinhavam etc. Veja, logo abaixo, a imagem da época feita por Benjamin Abrahão, vendo-se, um cangaceiro carregando água em um pote, em cima do lajedo que acumulava o precioso líquido.naquele “lajedo”, que Lampião se acoitou com seu grupo, em 1936.

 
Cangaceiros carregando potes com água, para abastecimento do grupo.

 Mais um ângulo do grande "Lajedo do boi” hoje.

Fotos recentes - Cortesia do escritor do cangaço, Dr. Sérgio Augusto Souza Dantas.

Créditos
Ivanildo Alves Silveira
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC
Natal/RN

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Cangaço na telinha

Novela da Rede Globo será gravada no sertão sergipano 

Além de Sergipe, um castelo do Vale do Loire, na França, também será cenário para a próxima trama das seis que, segundo informações da colunista Patrícia Kogut, deve misturar os núcleos da Aristocracia e do Cangaço.

Segundo informações da coluna Controle Remoto, do Jornal O Globo, Nathália Dill viverá o papel da vilã Dora, uma menina que se passará pelo menino Fubá para entrar no Cangaço. Bruno Gagliasso completa a dupla central de vilões.

A diretora geral da novela será Amora Mautner e o elenco conta com nomes como Cauã Reymond, Bruno Gagliasso, Nathália Dill e Bianca Bin

Novela tem estréia prevista para 2011


Sergipe será locação para as gravações da próxima novela das seis da Rede Globo, chamada de ‘Cordel Encantado’. A notícia foi recebida com extrema satisfação pelo diretor-presidente da Empresa Sergipana de Turismo (Emsetur), José Roberto de Lima, que desde os primeiros contatos com o Renato Azevedo, coordenador de Produção da novela, não mediu esforços para garantir a escolha do estado.

“Nossos primeiros contatos foram por telefone e, desde então, fizemos o que estava ao nosso alcance para fornecer todo e qualquer subsídio do qual precisassem. Enviamos várias informações por e-mail e sedex, como publicações do estado, folders, fotos, vídeos, enfim, tudo o que fosse necessário para mostrar o que Sergipe tem de melhor e, assim, poder surpreendê-los”, afirma José Roberto.

Diante desta missão, a diretora de Marketing da Emsetur, Caroline Portugal, não descansou. “Na Abav – Feira das Américas (maior evento de turismo do País) tive a oportunidade de conhecer o produtor, Renato Azevedo, e convidá-lo para visitar o Estado. Ele aceitou e, quando chegaram aqui, gostaram do que viram. Mas ainda haviam outros estados na ‘disputa’, como Alagoas”, informa.

Sabendo que o cenário da novela seria o sertão e com o apoio de Thaís Figueiredo, assessora do Departamento de Marketing da Empresa, Caroline Portugal imediatamente reuniu imagens e contatos que pudesse ajudar nessa empreitada. “Automaticamente inseri Silvinha Oliveira no circuito e a ajuda dela foi fundamental para todo apoio que tivemos em Canindé do São Francisco”, diz. Segundo ela, foi o trabalho em conjunto que rendeu essa vitória à Sergipe.

“Desde o final de setembro que temos mantido contatos com a Globo. Não só informamos sobre cenários, como oferecemos apoio logístico nas várias visitas que fizeram ao nosso estado. Aliás, quero destacar o profissionalismo do Governo do Estado e das pessoas que fazem parte da Emsetur, que foi um dos diferenciais destacados pela equipe da Rede em relação aos outros ‘concorrentes’. Isso vai gerar uma enorme exposição de nossos atrativos turísticos na mídia nacional”, reforça José Roberto.

Para Caroline Portugal, é uma exposição que só trará vantagens. “Fico muito feliz de poder participar deste momento do turismo em nosso estado. Sergipe é um destino riquíssimo em belezas naturais, cultura e história. Ser cenário de novela é o melhor merchandising para qualquer produto, principalmente quando não gera ônus, como é o caso. Tenho certeza que a partir de agora Sergipe ficará nas ‘prateleiras’ das operadoras e agências de viagens nacionais e internacionais, já que as novelas da Globo são vendidas para o mundo inteiro”, anima-se.

A confirmação sobre a escolha de Sergipe como locação partiu do produtor Raul Gama, que ressaltou o compromisso dos envolvidos em facilitar o acesso da equipe aos cenários. “Percebemos o empenho e que todos estão dispostos a contribuir”, revela.

De acordo com a diretora de Marketing da Emsetur, Sergipe mostrou não só que possui belezas naturais mais que suficientes para se tornarem cenários de novelas, como também se destacou por ter uma excelente infraestrutura. “Eles observaram nossa estrutura física e o acesso às possíveis locações. Tudo contribuiu para que nos escolhessem, afinal, serão mais de 100 pessoas na produção da novela”, informa Caroline Portugal.

Fonte: Agencia Sergipana de Notícias.

Imagem: César de Oliveira)
Pesquei no Portal Infonet

  
Nota do Lampião Aceso
O Cangaço ou "um Cangaço" estará novamente em maior evidencia na TV.  

Segundo o portal emsergipe esta trama terá estreia logo após a atual novela Araguaia. 
Só nos resta aguardar e torcer para que os autores se valham do mínimo possível de licença poética. Já adiantaram que existe uma personagem fictícia que ingressa nas hostes de algum líder cangaceiro. 

Que sejam cuidadosos, pelo menos 90% fiéis ao vestuário, cotidiano, características e costumes etc etc etc. Sem falar no irrinitente e pejorativo Hibrido sotaque nordestino desenvolvido nos laboratórios linguístico do sudeste. É incrível como o imigrante daqui de cima sabe interpretar o sulista mas o sulista tende a desafinar tanto com nossa melodia?

Ei cambada

Com este belo cartão virtual, obra dos parceiros Arievaldo Viana e Jô Oliveira, desejamos a todos os nossos amigos, confrades de SBEC, Cariri Cangaço, colaboradores, seguidores e visitantes... 
    Feliz Natal!


Acompanhado de um abraço Fraterno!
Kiko Monteiro. 


*Imagem gentilmente enviada pelo confrade Kydelmir Dantas.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Vídeo

Homenagem a Antonio Vieira 

Por: Aderbal Nogueira

Há poucos dias o amigo João de Souza comunicou a morte do ex - volante Antônio Vieira. Mais um participante da história que se vai, pois é, o tempo é cruel. Venho aqui prestar uma homenagem póstuma ao ex-combatente e também ao incansável garimpeiro da história, meu amigo João, pois através dele tive a oportunidade de conhecer e entrevistar o Sr. Antônio.

Como disse há pouco no blog do Cariri Cangaço, em quase todos os depoimentos gravados por mim, sempre tive ao lado vários amigos me dando suporte, entre os quais o ímpar Paulo Gastão e vários outros, como Lemuel Rodrigues, Ângelo Osmiro, Waldir Júnior, Jairo Oliveira, Kydelmir Dantas, entre outros. Eu simplesmente apertei o botão da câmera. Agradeço a João de Souza pela oportunidade de ter conhecido mais um personagem importante do combate da Grota de Angico.

Coloco agora uma pequena parte de como a volante de seu Antônio chegou ao local onde tombou o Rei do Cangaço.



João, continue na sua luta incansável em prol da verdadeira saga Lampiônica. Você tem uma mina ao seu alcance. Destrinche todo o sertão baiano, alagoano e sergipano; nós, seus amigos, só temos que agradecer.

Aderbal Nogueira

Opinião

Quem foi Lampião 

Por Alfredo Bonessi

Alto, magro, moreno escuro, quase pardo, esguio, meio corcunda, ágil, saudável, resistente a fadigas, manco do pé direito por causa de bala - segundo quem lhe conheceu - por causa de calos no pé segundo declarações dele mesmo, em estado espiritual, a um programa de televisão, com belida no olho direito, um leucoma, assim era o corpo de Virgulino Ferreira, vulgo Lampião.

De personalidade alegre, disposto, temperamento inconstante, sujeito a crises de fúria e descontrole, místico, religioso, rezador, intuição apurada, perspicaz, agudeza de raciocínio, inteligente, líder nato, exímio atirador de armas curtas e longas, fazendeiro, domador de animais de montaria, vaqueiro campeão, amante de bebidas finas, cigarros, charutos e mulheres, excelente trabalhador em couro e tecidos, narcisista, jogador de baralho sem sorte, impiedoso, cruel, vingativo, justiceiro - falso moralista, abusou sexualmente de algumas mulheres, embora, hoje, não sabemos se eram esposas ou filhas de inimigos. – mesmo assim são fatos lamentáveis e inaceitáveis para qualquer época de uma geração.

Desconfiado, prudente, calculista, infiel mas respeitador das opiniões da companheira, maleável até certo ponto, principalmente em algumas decisões a ponto de alterar as ordens dadas por interferências dela, respeitado, temido, considerado, perigoso, astuto, inquisidor, julgador, musico, dançarino, corajoso, amigo, leal, acreditava nas pessoas, perfeccionista , gostava de tudo o que era bom, rico, comerciante, artífice, laborioso, habilidoso e estrategista.

Lampião foi um homem notável para o seu século. Não existiu até o presente momento ninguém mais do que ele, igual a ele, em mesmas circunstâncias, fazer o que ele fez em um ambiente hostil, carente de meios e desprovido de tudo, por tanto tempo assim – mais de vinte anos - acossado por centenas de volantes policiais.


A impressão que se tem pela fotografia acima, é que em 1928 – na visita a Ribeira do Pombal, BA possuía um relógio de pulso no braço esquerdo.

Não sabemos até hoje como conseguiu gravar o seu nome e o de sua mulher no interior das alianças que ambos portavam e que simbolizavam a paixão que um nutria pelo outro. Gostava de tudo que brilhava, que reluzia. Quem o avistasse pela primeira vez ficava impressionado com aquele homem impecavelmente trajado de azul, ou brim caqui, apetrechos ricamente ornamentados de variadas cores e matizes, armas luzidias nas mãos prontas para o uso, tez da cor de cuia, olhar firme, voz rouca, sons profundos que calavam fundo na mente de quem o ouvia – de repente a pessoa, em seu intimo, sentia um arrepio, um frio, um medo, um temor – sentia a impressão que estava correndo um grande perigo, e aguardava, apavorada, a qualquer momento o bote daquela fera perigosa, de punhal em riste, e com a ponta do aço duro cutucar a veia jugular na tabua do pescoço, sangrando a vítima em questão de segundos.

O pavor que os nordestinos sentiram quando estiveram frente a frente com Lampião, sentiram também os homens que outrora conviveram com pessoas diferentes e superdotadas, como por exemplo, quem esteve nas presenças de Alexandre, O Grande, Julio César, Nero e Napoleão Bonaparte. – personagens da História, grandes personalidades em suas diferentes épocas, alguns líderes excepcionais, guerreiros, vencedores, que sucumbiram pela vontade do destino, dono absoluto da vida das pessoas importantes. Quem os visse, a princípio, sentiam-se admiradas diante de tanta beleza, depois de contemplá-los por alguns instantes sentiam um respeito profundo pelo que viram, depois eram possuídas por um temor inexplicável que lhe arrebatavam a alma e que lhes causavam calafrios, palidez nas face, suor frio e tremores nas pernas.

Não se pode desejar que lampião nasça em outro lugar, em outro país, em classes mais abastadas. Lampião nasceu e se criou no lugar exato em que todo o homem valente deseja nascer e ser criado - uma terra de homens corajosos, valorosos, que não tem medo de nada e de ninguém. Homens acostumados a vida dura, difícil, onde só o destemido, o persistente, o audacioso, os corajosos sobrevivem, tiram raças e prosperam em cima do solo duro, pedregoso, domando o gado hostil - animais bravios - em meios a serpentes venenosas, como a cascavel e rodeado de mata espinhenta por todos os lados.

Quem visita o lugar onde Lampião nasceu sente a alma envolta por um romantismo inexplicável, o ar circundante é adocicado pelo aroma das flores silvestres. Ainda pode se escutar o gorgeio livre da passarada ao amanhecer e ao entardecer; pode-se sentir o cheiro natural que brota da terra estrumada; pode-se ouvir o guizo da cobra oculta; pode-se escutar ao longe o mugido do gado na invernada; pode-se imaginar o fogo aceso, panelas ferventes, chiando nas trempes, o prato de bolinhos feitos pela Dona Jacosa, sua avó, o café fumegando na caneca, e as suas mãos ágeis enfeitando o couro dos arreios, o seu semblante concentrado mas feliz pela alegria que sentia de viver e de trabalhar, o prazer de tudo e por tudo, o gosto pelo que é bom.

Toda essa vida boa, doce, tranqüila, prazeirosa, o destino ingrato retirou dos caminhos de Lampião, menos a fé em Deus e o amor puro que nutria pelos seus familiares. Mesmo nas horas mais difíceis de sua vida atribulada a paixão pela Virgem Santíssima nunca se arrefeceu de seus pensamentos ardorosos, forjados por uma fé inquebrantável – sentia um amor infinito e incompreensível pela Santa, a ponto de sempre rezar em sua homenagem, ao deitar, ao levantar, ao meio dia e as seis horas da tarde.


Lampião queria viver bem e feliz. Queria ser o melhor em tudo e por tudo, de acordo com o que Deus lhe dera. Por ser portador de qualidades inerentes a poucos seres humanos, foi invejado, odiado, perseguido, traído e levado a morte, embora tenha feito de tudo para que isso não acontecesse, pois era um amigo leal e de confiança, era muito bom para quem fosse bom para com ele – Lampião era um homem de palavra e não se apossava das coisas alheias por ser ladrão vulgar, salteador de beira de estrada, fazia o saque por necessidade de manter o bando de cangaceiros e por esse fato pedia sempre dinheiro as pessoas mais abastadas, por carta, bilhetes ou mensageiros, ou simplesmente tomava delas.

Lampião a frente de seus homens mantinha uma rede de informantes pagos a peso de ouro. Aliciava policiais e pessoas influentes, e quando não conseguia demover o perseguidor por bons modos, difamava-os, inventava historias cômicas sobre eles, dava-lhes apelidos depreciativos, contava piadas que fazia brotar risos na turma acampada aos redores das fogueiras, sobre esse e aquele oficial. Era temerário, mas não poderia ter negligenciado a capacidade combativa de Bezerra - o oficial que o matou- segundo Lampião, dito por ele mesmo, não tinha medo de boi brabo, quanto mais de bezerra.........o descuido, esse erro de avaliação foi-lhe fatal e custou-lhe a cabeça naquela manhã de 28 de julho de 38.

Criou para si e para seu bando sinais, códigos e gírias que significavam algo entre eles, que conheciam a chave para decodificação, como por exemplo o L formado pelo indicador e o polegar da mão direita que devia ser mostrado quando se aproximavam das sentinelas do grupo. A três pancadas nos troncos das arvores - mas não eram pancadas comuns, elas tinham intensidade, ritmo e frequência, que só os do bando sabiam executa-las.

A manutenção dos esconderijos, os depósitos escondidos nos interiores dos troncos das arvores, de dinheiro, munição e armamento; a ocultação do cadáver do seus comandados, o sumiço dos rastros, a camuflagem, a dissimulação, a finda, o drible, a manobra audaciosa, o descarte dos dejetos dos acampamentos, a busca pela água e pelos alimentos, - o lampejo na mente iluminada pela escolha da decisão mais acertada, na hora certa e diante de grande perigo - fizeram o bando sobreviver por longos anos, diante de volumoso número de perseguidores, graças ao tirocínio de seu comandante, de sua visão combativa, de seu planejamento bélico, do seu sentido de direção, de seus objetivos previamente ajustados e na maioria das vezes bem sucedidos, e por esse fato granjeava a admiração e o respeito dos seus seguidores, a ponto de sempre confiarem nele e o considerarem invencível. Seu bando nunca andava a ermo, sem um roteiro estabelecido, se um objetivo, sem uma missão a cumprir. Seus deslocamentos sempre tiveram início, meio e fim.

Lampião morreu no tempo certo e na hora certa. Morreu no apogeu da vida e da saúde. Morreu em combate. Após o mortífero impacto da bala que lhe pôs por terra, enquanto pode, enquanto tinha uma pouco de energia, tentou ficar de pé, não conseguiu, se contorceu até que o tiro final esgotou todas as possibilidades de vida. Um espírito muito forte retornava a sua morada divina.



Lampião pode ter sido o que seja, mas um dia voltará para cumprir a sua missão terrena em uma nova chance dada pelo criador. Esperamos que tenha mais sorte desta vez. Analisando a vida de grandes malfeitores podemos dizer que Lampião não teve as mesmas chances e as oportunidades de fazer o bem que tiveram Reis, Rainhas, Religiosos e Políticos da Nova Era. – pelo contrário – foram até muito pior do que ele. As centenas de pessoas que caíram pelo aço de seu punhal ou pelas balas de suas armas nem de longe se comparam aos milhões de mortes causadas pela inquisição religiosa e nos porões das masmorras ideológicas. Talvez seja por isso que Lampião mereça uma nova chance nesse mundo de pecado.


Alfredo Bonessi. (Foto: Coroné Severo)
Estudante Pesquisador – Membro da GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará e SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Notas

Nossa solidariedade ao confrade Honório

Faleceu na noite deste último dia 19, domingo, no Hospital Wilson Rosado Mossoró, o senhor Francisco Honório de Medeiros, 83. "Seu Chico Honório" era pai de Honório de Medeiros, companheiro confrade de SBEC e Cariri Cangaço, um grande caráter, um ser humano inigualável. O velório aconteceu na Capela de São Vicente e o sepultamento ocorreu na manhã de ontem, segunda-feira, 20, no Cemitério São Sebastião em Mossoró.

A neta Bárbara ao lado do saudoso vovô Chico. 

Amigo Honório e familiares aceite nosso votos de pesar pela perda deste velho amigo. E que Deus logo renove a alegria que cedeu um espaço para a tristeza às vésperas deste Natal.

Atenciosamente  
Kiko Monteiro.

Nota e imagem colhida no Cariri Cangaço
Clique e confira a homenagem do coroné Severo.

Cangaço em HQ: Um clássico e uma novidade!

As aventuras de Milton Ribeiro 
Por José Salles

Os primeiros anos da década de 50 do século passado foram de grande vulto para o cinema brasileiro, com a exibição de um filme que se tornaria um grande clássico entre os cinéfilos: O Cangaceiro, de Lima Barreto (não é o famoso escritor carioca, mas um homônimo), que ganhou prêmios no exterior e transformou seu principal protagonista, Milton Ribeiro, em astro de renome internacional.

Na época, Ribeiro tinha como vizinho um artista das Histórias - em - Quadrinhos, e com isso pensou em contatá-lo para uma possível versão do filme O Cangaceiro para as páginas de gibi. O artista em questão atendia pelo nome de Gedeone Malagola, então um jovem de 30 e poucos anos que dava seus primeiros passos como roteirista e ilustrador de HQs na paulistana Editora Júpiter, de Auro Teixeira (Ribeiro e Malagola residiam em Jundiaí, próximo da capital paulista).

As negociações para se conseguir os direitos do filme não avançaram, e Milton Rodrigues pensou em transformar a si mesmo, ou por outra, apresentar um personagem vestido de cangaceiro chamado exatamente... Milton Ribeiro! E o ator deu carta branca ao vizinho & amigo Gedeone, só exigindo que o personagem fosse totalmente voltado ao Bem, e por isso que o Milton Ribeiro do gibi é diferente do sádico & violento Capitão Galdino, personagem que o ator interpretou no laureado filme. Muito ao contrário, Milton Ribeiro estava sempre ao lado da lei e da justiça.




Milton Ribeiro em Quadrinhos começou a ser publicado pela própria Editora Júpiter em Aventuras No Sertão (no ano de 1953), e posteriormente na famosa revista Vida Juvenil de Mário Hora Júnior, onde a série foi publicada por quase dez anos, e, mesmo não tendo aparecido em todos os números, tornou-se um inesperado sucesso entre os leitores, sucesso que durou quase uma década.










E com a longevidade a série foi ganhando alguns outros personagens, como Filhota (uma versão da Luzia-Homem, eventual parceira de Milton Ribeiro, em algumas aventuras tendo destaque principal) e o delegado Ricardo – que fisicamente se assemelhava ao próprio Gedeone (que também tinha por hábito desenhar colegas seus como personagens das histórias). Gedeone, a propósito, já demonstrou na ocasião muita criatividade (a marca de sua carreira), neste personagem que lhe exigiu muito estudo também, haja vista a adaptação que fez do romance de José de Alencar, O Gaúcho, e também sua polêmica versão sobre o conflito de Canudos. (JS)

 Gedeone Malagola (de pé) e Milton Ribeiro.

Pesquei no Salles Fanzineiro
Primeira imagem: Guia dos quadrinhos

Lançamento - "Pau de Arara" de Leandro Gonçalez

Leandro Gonçalez, quadrinista e artista plástico da vizinha cidade de Bauru, lança o fanzine Pau de Arara (18 páginas p&b - lembrem-se que em fanzine a capa, contracapa e versos também são consideradas como páginas) mostrando, através do tema do cangaço, peculiaridades do semiárido nordestino. Gonçalez recentemente promoveu em sua cidade uma exposição dos trabalhos do artista plástico José Lanzelotti (de obra profícua e diversificada, conhecido entre os fãs da HQB por seu Raimundo, O Cangaceiro), e usa aqui tema & cenário muito usados por Lanzelotti em seus anos de trabalho.

Mesmo aqueles que não se entusiasmarem pela temática, hão de reconhecer o talento de Gonçalez, que desenha bem pra caramba. O fanzine foi lançado em dois tamanhos, no formatinho e no formatão. Infelizmente não há e-mail nem endereço para contato, mas digitem “Leandro Gonçalvez-Bauru” na busca do Orkut, que vocês o encontram lá.

Texto: José Salles – Fonte: Jupiter2hq
 Pesquei em Editora EMT