domingo, 2 de agosto de 2009

BENJAMIN ABRAHÃO

O libanês que domou Lampião:
Benjamin Abrahão Botto, que já havia sido secretário particular do Padre Cícero, parte para sua maior aventura: capturar imagens do homem mais procurado no Nordeste

Quarenta e duas facadas decretaram o final, no dia 9 de maio de 1938, da cinematográfica vida do libanês nascido no lugarejo chamado Zahelh e que deixou o seu país natal durante a I Guerra Mundial. Benjamin Abrahão Botto veio parar no Brasil, mais precisamente em Pernambuco, muito longe dos Estados Unidos que seria o destino preferencial na sua rota de fuga. Ele estabeleceu-se no Recife como mascate, vendendo inicialmente tecidos. Depois, ampliou suas ofertas para produtos vindos do Sertão, como rapadura, farinha e carne-de-sol.

No início dos anos 20, empreendeu sua primeira aventura pelo interior, chegando até Juazeiro do Norte, no Ceará, onde se tornou secretário particular do Padre Cícero, considerado "santo" pelos romeiros que afluíam de todos os lugares do Nordeste. O médico e historiador Napoleão Tavares Neves ressalta que "Abrahão ganhou a simpatia do religioso com uma mentira. Ao ver aquele homem diferente no meio da multidão, Padre Cícero, beirando os 80 anos de idade, teria se emocionado ao saber que o estrangeiro de fala enrolada nascera em Belém, na Palestina, o lugar de nascimento de Jesus Cristo".


Foi ao lado do Padre Cícero que Benjamin Abrahão conheceu, no início de março de 1926, o homem que mudaria o seu destino. Lampião, o rei dos cangaceiros, tinha ido a Juazeiro do Norte para receber uma patente de Capitão e depois lutar contra a Coluna Prestes.

Os caminhos do libanês e do pernambucano de Serra Talhada se cruzariam novamente em 1936, quando Benjamin Abrahão, com uma carta de apresentação do Padre Cícero (falecido dois anos antes) e equipamentos obtidos na Aba Film, sediada em Fortaleza, parte em busca do bandido mais famoso do Nordeste com um objetivo: registrá-lo em celulóide.

O capitão Virgulino Ferreira é ignorante, mas inteligência não lhe falta

Armado com uma câmera de corda Nizo Kiamo, de 35 milímetros e lente Zeiss, cinco rolos de filme e mais uma câmera fotográfica Interview Établissements André Debrie, o libanês seguiu o rastro do bando de Lampião. Todo esse material, lhe foi entregue pelo Sr. Ademar Bezerra de Albuquerque, proprietário da ABA-FILM.

Ademar B. Albuquerque
Graças aos contatos do Cel. Audálio Tenório, chefe político de Águas Belas/PE, ele obteve a permissão de se aproximar dos cangaceiros na Fazenda Bom Nome, em Alagoas. Desconfiado, Lampião ordena que Abrahão fique na frente do equipamento para o primeiro take (foto), para se certificar de que não era uma armadilha.

Cel. Audálio Tenório, de Águas Belas/PE

Com todos os filmes recheados de cenas do bando, Abrahão parte para Fortaleza. Depois de revelado, o material entusiasma Adhemar Albuquerque, que cede mais material para nova sessão de filmagens na caatinga. Depois de mais cenas da vida cotidiana dos cangaceiros, era hora de divulgar a novidade.

Em 27 de dezembro de 1936, o Diário de Pernambuco é o primeiro jornal do Brasil a publicar a façanha do libanês. Na entrevista, recheada de fotos de Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros, Abrahão descreve como se encontrou com o homem que a polícia de sete estados não conseguia prender ou matar por quase duas décadas.
"Fiz tudo para ver se escapulia alguma frase indiscreta. O capitão é ignorante, mas inteligência não lhe falta", afirmou Abrahão ao Diario.

A única sessão de cinema da saga cangaceira

O Cine Moderno, em Fortaleza, abrigou, no dia 2 de julho de 1938, a única exibição pública do filme de Benjamin Abrahão. Na platéia, o chefe de Polícia, Cordeiro Neto, jornalistas e convidados para uma sessão privada. As cenas na tela causaram revolta.

Como o Governo Vargas iria admitir que um bandido pudesse ser retratado como o rei da caatinga, dando ordens ao seu bando, costurando, lendo e rezando o ofício? O material acabou apreendido pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e só foi redescoberto em 1957.

A ferrugem das latas, o mofo e a poeira destruíram mais de 90% do material coletado pelo libanês nos seus dois encontros com Lampião. Restaram apenas cerca de 11 minutos de imagens. Nelas, os temíveis cangaceiros aparecerem sorrindo, encarando a câmera, simulando combates, dançando e despreocupados com a repressão oficial.

Benjamin Abrahão já não podia mais defender sua obra. Dois meses antes da exibição de Lampeão, o Rei do Cangaço, ele foi assassinado em Itaíba - Águas Belas/PE, no interior de Pernambuco, crime atribuído a um sapateiro, deficiente físico enciumado pela traição da mulher com o estrangeiro. Mas muitos já estavam incomodados com as cobranças de Abrahão da ajuda financeira prometida para a realização do filme.

 Sessão no "Cine moderno de Fortaleza", 
o único, a exibir o filme "Lampião - Rei do Cangaço"

Créditos: Ivanildo Silveira

*Os textos acima são componentes de reportagens especiais do Diário de Pernambuco. Nosso colaborador não cita o autor desta pesquisa. Tentamos colher a informação, mas a matéria é restrita para assinantes.


Att Kiko Monteiro

2 comentários:

Anônimo disse...

Naquele tempo, era muito comum o fabricante de certos produtos fornecerem-no acompanhado de um instrutor. Das grandes impressoras rotativas aos teares industriais todos esses equipamentos só faziam venda se exportassem-no acompanhado por um engenheiro ou técnico.
Na década de 30 no Brasil as pessoas mal conheciam o cinema e quando tinham recursos para adquirir maquinas de filmar, faltava-lhes conhecimentos técnicos para operar com o instrumento e não tinham como pagar um técnico.

As filmadoras da epoca, por tratar-se de um pequeno laboratório, exigia ainda, conhecimentos de química coisa rara nas universidades brasileiras.


Nesse sentido, ao contrário do que fazem transparecer nos documentários, históricos, o Benjamim Abrahão que pozou ao lado do bando, não era , um mascate aventureiro, que conduzia no lombo das mulas sua Lamb&Lamb.

Tratava-se de um dos primeiros cinegrafistas brasileiro que nas horas vagas era secretário e braço direito de Padim Cicero.

Ele morreu assassinado e sua morte tem sido alvo das especulações diversas.

Já que "seu acervo" foi apreendido pelo estado. (DIP- delegacia de imprensa e propaganda).

Deixou mulher com três filhos, esses ainda vivos, sendo que um deles o Abrahão que possui um pequeno comércio à rua Gonçalves Ledo 33 +_ RJ.

Quem matou o cinegrafista Botto, o Estado (ofendido pela façanha) ou algum amante (ofendido pela preferência) ?

endereço de imagem da loja

https://maps.google.com.br/?ll=-22.905685,-43.183961&spn=0.000506,0.001183&t=h&z=20&layer=c&cbll=-22.905685,-43.183961&panoid=8jrHCs2XgZrDdzoxaeK8mw&cbp=12,242.9,,1,15.32

Herlanio disse...

Acho difícil que tenha sido Zé de Rita, deficiente da cintura pra baixo.