sexta-feira, 29 de junho de 2018

Entretenimento

Projeto de terror brasileiro “SerTão Sangrento” junta game, filme e HQ



E se um bando de cangaceiros encontrassem criaturas mortas-vivas em pleno sertão? Imaginem vocês que, por um acaso, os piores inimigos de Lampião não fossem somente o governo brasileiro da década de 1920. Se, por um acaso, eles tivessem que encarar um horror que poucos conseguiriam sair vivos. Algo que desola muito mais que a falta de emprego ou a fome, porque é desconhecido. Algo meio vivo, meio morto.

O projeto de Kleyner Arley e Rodrigo Motta trabalha com essa ideia. SerTão Sangrento é um projeto de obra transmídia, que envolve Filme-Quadrinho-Jogo, mesclando elementos reais de 1926 e uma boa dose de horror e sobrenatural.

A sinopse do projeto:

“Ano 1926. Cinco cangaceiros do grupo de Lampião, enviados para uma missão de assassinato no sertão da Paraíba, se verão envoltos em uma trama de horror e mistério onde suas habilidades individuais serão postas à prova em uma cidade desolada pela morte.”

O curta vai acompanhar os cangaceiros Rasga-Mortalha, Carcará, Torquato, Delmar e Graúna.

A história em quadrinhos, um prelúdio ao curta e lançada anterior à ele, irá abordar a história do cangaço e o passado dos personagens, inclusive as histórias reais que fazem parte do filme (como o próprio Lampião e o Padre Cícero)

Além da HQ, também será lançado um cordel com a história que será vista no curta, escrito por Geraldo Bernardo.

 O projeto ainda está sendo desenvolvido e não tem uma data certa para lançamento. Porém, podemos acompanhar o desenvolvimento pela página do facebook: Projeto serTão Sangrento.



 

Estamos ansiosos para ver esse projeto ganhar forma! Confira o teaser logo abaixo:



Pesquei no Garotas Geeks

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Andrés Zambrano

O estrangeiro que peitou Lampião

Imagine-se no início do ano de 1936, andando a pé pela caatinga. A 14 léguas de Águas Belas, em Pernambuco, de repente você é surpreendido por bandoleiros armados. Levado até Lampião, é acusado de ser espião da polícia, mesmo falando castelhano. Após levar uma coronhada no peito, já de pé mas seguro por dois homens, diz na cara do rei do cangaço: “O senhor deve me tratar como eu mereço. Sou um estrangeiro e tenho direito a ser respeitado. O senhor está desrespeitando a sua lei e o seu governo”.

O autor desta suposta resposta, que saiu vivo para contar a história, publicada no Diário de Pernambuco no dia 22 de fevereiro de 1936, chamava-se Andrés Zambrano, um venezuelano de 22 anos, capitão de um grupo de 20 escoteiros que resolveu conhecer toda a costa brasileira, partindo de Caracas no dia 12 de dezembro de 1934.

O Diario apenas reproduziu o relato que Zambrano deu, no Rio de Janeiro, ao Diario da Noite, outro jornal dos Diários Associados. Para a imprensa do Sudeste do país, relatos sobre a brutalidade de Lampião sempre atraíam leitores e a existência de um estrangeiro que conseguiu ser libertado depois de enfrentar o maior dos cangaceiros era mais do que o esperado.

Na verdade, Andrés Zambrano, que apareceu na redação do diário carioca vestido de uniforme cáqui, com galões de capitão e um grande chapéu de feltro, de abas largas, era espalhafatoso demais para descrever o ocorrido da forma como realmente aconteceu.

Segundo a conversa de Andrés Zambrano, os escoteiros estavam merendando à sombra de uma árvore quando foram cercados por 24 cangaceiros. Os venezuelanos receberam ordem de acompanhar o bando, andando cerca de cinco léguas em uma caatinga fechada. Ao chegar no esconderijo, Lampião estava contando dinheiro e perguntou quem eram aqueles rapazes fardados. “Quem é o chefe deste batalhão?”, inquiriu Virgulino. Foi quando Andrés Zambrano se apresentou, afirmando ser da Venezuela e não trabalhar para a polícia.

Depois de ter exigido respeito no tratamento, ele teria ouvido Lampião dizer que a “lei era ele”. Os escoteiros foram todos amarrados depois de ficarem devidamente nus. Morreriam no dia seguinte, como vingança à perda de quatro cangaceiros por causa do último ataque do tenente Manuel Neto.

Lampião não teria ido com a cara do estrangeiro insolente. Mandou servir café salgado para ele e depois água com pimenta. A história só não teve fim ali mesmo porque por volta da meia-noite teria aparecido Maria Bonita. Ela teria se interessado pela confusão e conversado com os escoteiros. Convenceu Lampião a soltá-los, depois dos “visitantes” terem dado sua palavra de honra de que não informariam à polícia o paradeiro do bando.



Aos repórteres do Diário da Noite, Zambrano teria ainda afirmado que Maria Bonita quis saber da sua idade e dito que ele era bem bonitinho, batendo no seu ombro. E ele nu, amarrado na árvore…

No dia seguinte, os venezuelanos foram soltos. Perderam as roupas, uma máquina fotográfica e o equivalente a quatro contos de réis. Da turma toda, somente Zambrano resolveu continuar suas andanças pelo Brasil. Foi assim que ele apareceu, vivinho da silva, na redação do jornal carioca. Contando uma história que Lampião não iria gostar nem um pouco.

Pesquei no Diário de Pernambuco

História dos Volantes

Major Optato Gueiros

Por David Gueiros Vieira


Optato Gueiros era filho do delegado de polícia e alferes da Guarda Nacional João da Silva Gueiros, e de sua primeira mulher, Rita Cavalero. Nasceu em Garanhuns, no dia 2 de março de 1894. Cumpre talvez lembrar: nasceu dois meses antes da chegada de  Henry Jonh McCall, missionário calvinista escocês, que naquele mesmo ano converteu quase toda família Gueiros ao Evangelho. Não se sabe onde Optato Gueiros estudou.

Como filho de evangélicos, deve ter começado seus estudos em 1900, aos seis anos de idade, na escolinha paroquial da Igreja Presbiteriana de Garanhuns, fundada e conduzida por Martinho de Oliveira. Provavelmente continuou os estudos em Belém do Pará, para onde seu pai João da Silva Gueiros se mudara, em 1908. Sua educação não deve ter ido além do nível secundário, se tanto. Sem dúvida era um autodidata. Escrevia relativamente bem e era versado em assuntos de história, filosofia e direito, sem falar do seu conhecimento da Bíblia, lida diariamente "em inglês", assim assevera seu velho companheiro de lutas, o tenente Davi Gomes Jurubeba.

Seguindo a profissão do pai, sentou praça na polícia pernambucana, como soldado raso, como se fazia naqueles dias, antes de haver escola para preparação de oficiais. Galgou todos os níveis: de soldado raso a major. Sua carreira militar poderia ser melhor apreciada através dos documentos por ele guardados, se  esses ainda existissem. Parte dessa documentação cheguei a examinar, na minha juventude, pois o filho dele, João Gueiros Neto - meu colega no Colégio 15 de Novembro, em Garanhuns, Pernambuco - levava para a escola relatórios, documentos e fotografias do pai famoso, a fim de mostrá-los aos amigos.

Com a morte do major Optato, toda essa documentação ficara sob a tutela de uma de suas filhas, Zita Souza Gueiros, casada com um primo, o pastor Uziel Furtado Gueiros. Infelizmente esses documentos foram perdidos na grande cheia do Recife, em 1966.

Por falta de subsídios documentais, restou-me pinçar os eventos da vida do major Optato Gueiros através do seu livro de memórias; das poucas informações que seus descendentes ainda guardam de sua vida; e dos eventos guardados em minha própria memória. Foram também de grande auxílio neste trabalho as entrevistas que mantive por dois dias com o tenente Davi Gomes Jurubeba, em dezembro de 1999. Fui levado até Serra Talhada pelo filho dele, Olímpio Jurubeba. Davi Jurubeba, várias vezes citado no livro de Optato, vivia em Serra talhada - tendo completado 97 anos em janeiro de 2000. Na época, já cego de cataratas, no entanto era ainda pessoa de saúde admirável e de memória invejável, especialmente para assuntos do passado longínquo.

Não se sabe em que data Optato Gueiros "sentou praça" na polícia pernambucana. Sabe-se apenas que aos 27 anos de idade, em 1921, ele já era sargento. Em 1930, com 36 anos, casou-se com Maria Estela de Souza "Liquinha", sua parenta, nascida e criada na Fazenda da Barra, perto de Triunfo, Pernambuco. A noiva tinha doze anos de idade.

De acordo com os boatos familiares, ela trouxera consigo não apenas a babá, mas também suas bonecas de estimação. Evidentemente, esse não foi um casamento feliz, pois mais tarde vamos encontrar o major Optato Gueiros debatendo-se com grande fervor pelo divórcio no Brasil, através de um livreto de 78 páginas, de sua autoria, intitulado O Divórcio, a Igreja e o Estado (verdades nuas e cruas), publicado em São Paulo, em 1954. Aparentava lutar, em causa própria, em favor da aprovação do divórcio no Brasil.

Como militar, enfrentou cangaceiros do tipo Lampião; os jagunços de José Lourenço e Severino Tavares; os revolucionários da coluna Prestes; os revolucionários liberais de 1930 - aos quais mais tarde ele se irmanaria - e a rebelião paulista de 1932. Mais ainda, muitas vezes foi obrigado a enfrentar os próprios homens da volante pernambucana, a quem chamou de "verdadeiras feras".

Eventualmente converteu-se ao Evangelho, e daí em diante passou a atuar como pregador leigo junto aos seus próprios soldados, bem como aos sertanejos nas caatingas. No entanto, assim nos conta Davi Jurubeba, Optato Gueiros, no começo de sua carreira, fora um grande farrista, não se comportando de acordo com as regras de vida geralmente seguidas pelos evangélicos. Pelos anos de 1928 ou 1930 - Jurubeba não conseguiu precisar a data - Optato converteu-se ao Evangelho, tendo então completamente mudado de vida.

A partir de então, vestindo o "uniforme" de couro das forças volantes pernambucanas, e com cartucheira, pistola  e punhal  ao cinto, lia a Bíblia e pregava o Evangelho nas ruas de Serra Talhada e outras cidades sertanejas. A razão da mencionada indumentária talvez tenha sido porque, como oficial das forças volantes não podia se desarmar, sem correr o risco de ser morto por algum bandido, razão pela qual mantinha as armas à mão em todos os momentos. Mais ainda, o clima antiprotestante no sertão era tão violento, que os  missionários evangélicos às vezes sequer podiam apear-se de seus cavalos, e já eram expulsos das cidades. Ninguém porém, jamais teve coragem ou ousadia de tentar expulsar Optato Gueiros de lugar algum, por pregar o Evangelho. Coisas da época.

Conta ainda Jurubeba que, na caatinga, cada vez que a tropa parava para repousar, Optato sentava-se "debaixo de um pé de pau" e lia a Bíblia em Inglês. Isso mesmo, "em inglês", afirmou Jurubeba. Ao ser inquerido pelo amigo Jurubeba a razão pela qual ele não mais farreava, como nos primeiros tempos, Optato explicava que no começo de sua carreira não fora realmente evangélico, mas apenas um "simpatizante" da causa. "Isso era estranho para mim", afirmou Jurubeba, "porque antigamente, quando Optato bebia, era um homem perigoso. Topava qualquer um. Isso no tempo antigo. Bebia cachaça e comia pimenta malagueta com farinha e um pedaço de carne  assada. Morreu de tanta pimenta que comeu, e sabia disso", concluiu o ex-companheiro de Optato.

Relatando maiores detalhes da profunda mudança ocorrida na pessoa de Optato Gueiros, após sua conversão, Jurubeba afirmou: "O que me lembro especialmente de Optato foi a batalha com Lampião, na Fazenda Caraíbas,. Optato recusou matar as pessoas, e atirava para o ar, só para espantar. Mas disse aos meninos nazarenos que matassem se quisessem, mas que ele não ia matar ninguém. Isso foi em 1928, eu creio. Isso era coisa estranha para mim, porque antigamente, quando Optato bebia, era um homem perigoso."

Símile ao seu tio Antônio Gueiros, Optato era um dentista do tipo tira-dentes, e "médico" da população sertaneja. "Uma coisa lembro bem dele", afirmou Davi Jurubeba, "é que ele era também doutor raizeiro. Por onde andava, nos vários postos que teve, sempre levava um montão de garrafas  e panelas, nas quais cozinhava e preparava suas garrafadas de cascas de pau e raízes, que apanhava na caatinga. E muita gente comprava as garrafadas dele".

Por amar o Sertão, e nele sentir-se "em casa", bem como por  também amar as batalhas com o banditismo, seu serviço militar, naquela região, foi todo voluntário. As forças volantes eram todas compostas por voluntários. Por terem escolhido esse tipo de serviço, tanto os oficiais quanto os soldados eram obrigados a pagar pelo seu próprio transporte do Recife até o sertão, e mesmo de um posto de serviço para o outro, um absurdo, evidentemente.  Escreveu Optato: "Viajei muitas vezes a pé, de  Vila Bela a Rio Branco e vice-versa. Houve tempo em que  as nossas próprias passagens pagávamos no trem, sob alegação de que era nosso gosto preferir o sertão à capital; não íamos contra a vontade, então 'pague seu transporte'."

Como não havia meios de transporte no sertão, e o Estado nem sempre provia montarias para os soldados. Frequentemente as volantes locomoviam-se a pé, por dezenas de quilômetros ao dia, às vezes até mesmo os oficiais tinham de caminhar. Quando tinham de  correr atrás de bandidos, então requisitavam cavalos ou mulas da redondeza, se os encontrassem. Porém o meio de transporte mais comumente utilizado era mesmo caminhar. Usavam mulas ou cavalos apenas para transportar os apetrechos militares, munição e comida.

O acima pessoalmente constatei, em 1937 ou 1938, quando pela primeira vez vi um pelotão de tropas volantes de Pernambuco, comandadas por Optato Gueiros. Vinha a pé, e tinha marchado os 75 km de Águas Belas a Garanhuns. Entrara na então poeirenta cidade de Garanhuns tão garbosamente quanto possível. Os soldados calçavam alpercatas e vestiam roupas de couro, trazendo ainda pistolas à cintura, bandoleiras cruzadas e fuzis aos ombros.

Os únicos cavalos que possuíam vinham atrás, carregando a matalotagem da  tropa. A poeira levantava pelas alpercatas ia ficando para trás, enquanto o povo nas ruas observava os soldados, silenciosa e, talvez, amedrontadamente. Parecia mesmo um grande grupo de cangaceiros invadindo a cidade.



Contava meu pai ter sido o próprio Optato Gueiros, quando ainda no início de carreira, quem se debatera pela necessidade da volante vestir-se com roupas de couro, como os vaqueiros sertanejos. Argumentava ser uma possibilidade os policiais embrenharem-se pela caatinga, no meio da vegetação xerofílica, do tipo "rasga bode", vestindo fardas de cáqui.


Os soldados da volante, em geral, comiam uma vez por dia apenas. Isso porque as tropas volantes, em consonância com sua denominação, estavam quase sempre se movimentando, e não havia como parar, a fim de comer três refeições por dia. Por essa razão, em geral comiam apenas à tarde, ou tardinha, um "jantar" bem reforçado. Essa refeição reforçada os deveria sustentar por vinte e quatro horas. Isso explicou Jurubeba, quando tinham tempo de parar e comer. O mais das vezes, quando estavam correndo atrás de bandidos, nem sempre tinham tempo de comer, de modo que às vezes passavam dias sem se alimentar regularmente, "chegando até mesmo a enfraquecer de tanta fome".

Contava a professora Noêmi Gueiros Vieira, prima irmã de Optato Gueiros, que quando este se converteu ao Evangelho, fez uma visita ao tio Antônio Gueiros, pastor da Igreja Presbiteriana de Garanhuns, a fim de alegremente comunicar-lhe esse fato auspicioso. Após uma longa visita - e quando o sobrinho já tinha ido embora - o pastor Antônio Gueiros chamou a mulher e disse: "Maroca, estamos muito mal. Optato contou-me que se converteu. Vai sair por aí dizendo que é crente. Que tipo de crente será ele? Espero que não nos envergonhe".

A razão para essa dúvida, explicou Jurubeba, era válida. A princípio, Optato fora "uma pessoa muito violenta e perigosa". Bebia muito. Fazia grandes farras, quando se tornava mais violento ainda. Porém, após ter-se convertido, mudou completamente e transformou-se em pessoa pacífica, a ponto de recusar a atirar nos bandidos quando estava em batalha. Atirava ao esmo, ainda que desse ordens aos soldados para atirar e matar. Ele mesmo, anteriormente, matara o corneteiro de Lampião com um tiro na cabeça, e depois dera um tiro no próprio Lampião, quando este fugia, chegando a traspassá-lo com uma bala de fuzil, ferindo-o pelas costas. Afirma ainda Jurubeba que, quando Lampião morreu foi constatado que ele levara um tiro que o trespassara e ninguém sabia explicar como o cangaceiro sobrevivera àquele tiro.

As atividades de Optato como "doutor raizeiro", e dentista do tipo tiradentes, são as mais folclóricas de sua vida. Sempre o conheci como "raizeiro", como o chamou Davi Jurubeba, pois quando visitava seu tio Antônio Gueiros trazia garrafadas, preparadas por ele mesmo, com aquelas misteriosas raízes e folhas do sertão, as quais receitava para tudo: nevralgia, dor de dentes, dor de barriga, "mal do fígado", fraqueza, "espinhela caída", vermes, e outra enfermidades mais.

Em 1923, quando da passagem da Coluna Prestes por Pernambuco, em um dado momento, no lusco-fusco da tardinha, Optato Gueiros avançou com alguns soldados, buscando prender dois revoltosos. Deu-se então conta ter penetrado no acampamento de um batalhão da coluna, onde já se acendiam fogueiras para preparar a refeição noturna. "Vimos então que estávamos perdidos", escreveu ele. Pulamos dos cavalos e fizemos fogo para todo lado. Houve a maior confusão no meio dos rebeldes e da mesma forma fomos tratados com tiros à queima roupa. Conseguimos sair daquela situação, encontrando pela frente, pela direita e pela esquerda.

Após 25 anos de batalhas e lutas, a carreira de Optato Gueiros terminou da maneira mais prosaica possível. Nos próximos 10 anos, durante a década de 1940, passou algum tempo como delegado em Garanhuns, tendo depois ido para Caruaru, onde, após alguns anos de serviço, foi reformado.

Há várias histórias bem folclóricas sobre sua atuação em Caruaru, inclusive um enfrentamento que teria tido com o famoso Frei Damião. De acordo com as informações obtidas, o frade teria criado um complô e movimento popular, para física e violentamente expulsar os protestantes daquela cidade. A estória, como contada pelos netos de Optato Gueiros, é que o major teria dado até meio dia para o frade sair da cidade, ou seria preso, por perturbar a ordem pública. Frei Damião, afirmaram meus informantes, conhecendo a reputação do major delegado, imediatamente mudara-se para o interior do sertão, onde as autoridades, tando as religiosas quanto as policiais,  não interfeririam com ele. Não sei se essa história é verídica.

Após 35 anos de vida militar, foi reformado, em 1950, por ato do governador José de Barbosa Lima Sobrinho, cuja eleição fora duramente contestada por Nehemias e Esdras Gueiros, advogados da  UDN. A reforma de Optato não foi uma reforma. Foi uma punição sem dúvida por ser ele primo dos inimigos do governador. Foi reformado no posto de major, e não de tenente-coronel, como deveria ter sido, de acordo com a prática militar. Essa reforma seria questionada, em 1989, pelo jornalista do Jornal do Commercio, de Pernambuco, Hélio Alencar Monteiro. Esse jornalista era filho do oficial da polícia pernambucana Plínio Monteiro, companheiro de Optato Gueiros, em 1938, em Pau de Colher. Perguntava o jornalista por que ocorrera tal ato de reforma, ferindo tão frontalmente a prática militar. Apelava então para o governador Miguel Arraes, pedindo ao mesmo corrigir tal injustiça (Monteiro, 1989).

Morreu Optato Gueiros no Recife, em 1957, com 63 anos de idade. Porém antes de sua morte, esse guerreiro, que fora presbiteriano na juventude, tornara-se pentecostal. Consta ter-se convertido ao pentecostalismo, quando visitava uma irmã pentecostal, Clotilde Gueiros Cativo, residente em Belém do Pará.

Tornou-se então uma espécie de missionário entre os parentes, indo de um por um, tentando convencê-los de que o pentecostalismo era a verdadeira Igreja primitiva de Jesus Cristo. Fez uma viagem ao Rio de Janeiro, unicamente para pregar o pentecostalismo às irmãs - Rina, Sidrônia e Mirob - ali residentes, que aceitaram sua mensagem, tornando-se também pentecostais.

Debilitado pela  vida de privações enfrentadas nas caatingas, e depois de longa enfermidade - varado de úlceras estomacais - veio a falecer em três de março de 1957. Sua morte, ocorrida em casa,  foi presenciada por sua filha Abzag Souza Gueiros. O valente caçador de cangaceiros e beatos guerreiros exclamou em seus últimos momentos estar vendo, ao lado da sua cama, "dois varões vestidos de branco", chamando-o para uma viagem, tendo então exclamado: "esperem, vou com os senhores, vou com os senhores". Tentou levantar-se, para segui-los, vindo então a falecer. Curiosa morte, de um tão valente caçador de bandidos dos Sertões Nordestinos.

Fonte:
Vieira, David Gueiros, 1929
Trajetória de uma família:
História da Família Gueiros/ David G. Vieira - Brasília, 1ª edição
2008. 622 p.


Pesquei no Blog do Anchieta

terça-feira, 26 de junho de 2018

Histórias das grandes batalhas

O Fogo da Maranduba

Por Raul Meneleu

Pesquisador Raul Meneleu
Quando estive nos campos de guerra do Fogo da Maranduba, nunca poderia imaginar o que realmente acontecera ali, se não fosse a ajuda de um mago da narrativa, em um de seus livros sobre essa odisseia chamada Cangaço. 

Em encantamentos presenciais, imagino o Caipira de Poço Redondo, Alcino Alves Costa, em pé, nessa rocha em que estive; olhando e se transportando para aquele dia nove de janeiro de 1932 às quatorze horas, quando se deu esse famoso combate entre os heróis Nazarenos com seus inimigos mortais, Lampião e seus cangaceiros.

Eu não conseguia ver o que houvera naqueles campos, a não ser uma pequena cruz fincada no meio da caatinga, para marcar a sepultura inicial desses bravos que deram sua vida, para tentar acabar com aquelas feras que viviam fazendo perversidades pelo sertão.

Antes, como visto pelo Alcino, em sua encantada presença ao dia do combate, onde visitou com os olhos da imaginação esse ermo que estamos vendo agora. Era uma mataria fechada. Hoje apenas um ermo quase sem vegetação alta. Mas ainda vemos alguns umbuzeiros da época.


Convido os amigos a virem comigo apreciar o que Mestre Alcino viu com os olhos da imaginação e pelos diversos contatos que teve com alguns dos heróis nazarenos e com cangaceiros ainda vivos, quando talvez nessa mesma pedra, ou em Fogo da Maranduba!*

"O cerrado de Maranduba era, e ainda é, uma das mais faladas caatingas da região sertaneja de Sergipe, mataria grossa: o cipó de leite, bom nome, angico, aroeira, braúna, barriguda, umburana, quixabeira e umbuzeiro, morada do gato, da ema, do caititu, do tatu bola e do peba.

Pastos onde só vaqueiros machos corriam atrás de bois, vaqueiros escolhidos e famosos como os Soares, o maioral Milinho, João Preto, os Teobaldo, os do Cuiabá e os de João Maria: Adolfo e Manezinho Cego, o famoso Manezinho de Rosara.

Ali. Bem ali. Naquele emaranhado quase que intransponível, está o coito de Lampião. É ali onde as mulheres cangaceiras esperam seus homens que retornam de mais uma de suas costumeiras razias.

Os soldados vêm chegando. Chegam a umas pias. Espantados, vêem os pingos de água que caem dos paus em cima das pedras. Sinal de que os bandidos ainda estão por ali mesmo. Ao redor das pias, apenas uns quinze homens, os outros estão atrasados, alguns estão na casa velha do Maranduba e outros ainda nem lá chegaram. Mané Neto, louco por uma desforra, resolve não esperar os retardatários e seguir em frente, sabe que os homens de Lampião estão bem próximos, ali naquela mataria.
 

No entanto, não sabe Mané Neto que a natureza havia presenteado aquela parte da caatinga com um extraordinário anel, formado por um maravilhoso círculo. Sete umbuzeiros circundam belamente as pias, é uma paisagem de raríssima beleza. É nesse anel formado pelos sete umbuzeiros que Lampião se refugia com seus homens. Havia chegado naquele mesmo momento, coisa pra menos de meia hora, demorara-se um pouco nas pias e agora espalhara seus homens pelas sombras dos umbuzeiros. A alegria é geral. Abraços e vivas fazem a felicidade de todos. Os bandidos formam uma só família. Vivem irmanados pela dor e pelo sofrimento.

Apenas Lampião não tem alegria. Está taciturno e inquieto. Chama Luís Pedro e ordena:

— Avise ao pessoá qui enquanto nóis num preparar os sentinelas, eu num quero ninguém desequipado, quero todo mundo aperparado e pronto pra uma surpresa. Achu qui a quarquer momento a gente vai ser atacado.

Mané Neto está saindo das pias e vagarosamente caminha na mataria. Os cangaceiros estão ali a menos de cinquenta metros. A hora da verdade chegou. Escutam as vozes alegres da cabroeira. Rápidos cercam, ou pensam que vão cercar o coito. Acham que os bandidos estão em um umbuzeiro. Jamais poderiam imaginar que ali existissem sete umbuzeiros e que os bandoleiros estivessem espalhados em todos, como também não imaginaram que os bandidos estivessem praticamente preparados para o combate, graças ao poder misterioso de Lampião que previu com precisão o momento do perigo.

São exatamente duas horas da tarde. É o dia nove de janeiro de 1932. Estão frente a frente os inimigos mortais. Nazarenos e Lampião se enfrentarão, Liberato e sua força serão os coadjuvantes da tremenda desforra. A oportunidade de vingar-se do desastre da Serra Grande se apresenta e os nazarenos não poderiam deixar fugir esta grande chance. Serra Grande era uma marca dolorosa que feria profundamente a vaidade de Mané Neto; grandioso combate que ficara nos anais da guerra cangaceira, oportunidade em que as forças comandadas por nada menos que seis experientes comandantes, os temidos Arlindo Rocha, Zé Olinda, Gino, Domingos, Euclides Flor e Mané Neto, foram espetacularmente derrotados pelo iluminado cangaceiro da Ingazeira.

Triste 26 de novembro de 1926, data em que as mortais balas dos bandidos deixam marcas indeléveis em suas pernas e quase o levam para o outro mundo. Agora, seis anos depois, surge a maior chance e ela precisa ser aproveitada. Serra Grande e Maranduba, além de Serrote Preto, foram na verdade as maiores vitórias e os maiores feitos do grande rei dos cangaceiros.

Nos cerrados de Maranduba, Lampião dá o alarme. Grita:

— Cuidado mininos. Os macaco cercaro a gente.

Nesse momento, o inferno como que desaba naqueles ermos. Não existe nada comparável à violência e aos estrondos do combate e do tiroteio. O ribombar ecoa longe, muito longe. Parece que o inferno transportou para aquela esturricada terra os horrores e agonias de suas profundezas.

Os das volantes, valentes, vaidosos, confiantes e destemerosos, atiram e avançam enlouquecidos e alucinados. A ordem de Mané Neto é avançar e avançar sempre. Liberato está ao seu lado; ele e mais alguns entre os quais Mané Véio, Elias Marques e o filho Pocidônio estão na vanguarda, ao lado de Mané Neto. Querem mostrar que são verdadeiros machos, verdadeiras feras, que nada ficam a dever à força pernambucana.

Os soldados gritam: Mistura! Mistura!

A vitória parece certa. Já estão misturados, juntos, dentro do coito. Os retardatários vêm chegando, tudo vai ser muito mais fácil, a animação da tropa é sem igual, aquele está sendo um feliz combate. Lampião não tem como safar-se do cerco que lhe fizeram. É hoje ou nunca.

É para Mané Neto a justa recompensa de tantos anos de luta e sofrimento, desde aquele já distante 1923, quando juntamente com o amigo e conterrâneo Odilon Flor ingressaram nas tropas do governo, persegue o infeliz inimigo, e vem sendo sistematicamente derrotado. Alí não é Serra Grande. Naquele combate, apesar de Lampião ter enfrentado seis destemidas volantes, com mais de trezentos homens e sair vencedor, contava com a vantagem de ser o atacante, de estar fortemente preparado e bem entrincheirado esperando as volantes impossibilitadas de sair da arapuca.

Agora a situação é totalmente inversa, tudo é diferente; apesar do número de soldados ser muito menor, todos os trunfos estão do lado das volantes. Acham que Lampião havia sido atacado de surpresa, e o local, embora muito fechado, era raso, em um plano que muito beneficiava os atacantes; tudo favorecendo as forças.

Mas do outro lado, o herói, o titã do nordeste, o guerreiro ímpar dos sertões. Imediatamente, dos sete umbuzeiros estrondam furiosas as armas da cabroeira. Rápidos formam um envolvente bloqueio. Procuram de todas as maneiras fazer frente aos da volante. Experientes, calejados e preparados, os veteranos bacamarteiros, dentro da mais perfeita ordem, procuram se alargar pelo cerrado, numa manobra altamente tática e envolvente, deixando os atacantes sem saber para onde dirigir o combate. Começam então a aparecer as primeiras dificuldades, aquele combate que parecia dominado e à mercê dos soldados, está se apresentando como um difícil e tremendo confronto.

O momento do flagrante já passou. Estarrecidos, os soldados sentem que não conseguiram a vantagem esperada e ainda se dão conta de que já não são os atacantes; sofrem uma medonha investida. O ímpeto e ferocidade dos bandidos são inigualáveis. Começam a ficar desnorteados. Aquilo que parecia ser o início de uma gloriosa vitória começa a ser um terrível e inesperado pesadelo. A luta é de uma atrocidade impressionante. Ali está a nata dos valentões sertanejos. Verdadeiras feras. Verdadeiros suicidas.

Mané Neto, o lendário vesgo de Nazaré, mostra-se realmente um valentão. A sua vaidade, a sua soberba, na verdade são nascidas de seu temperamento de ferro e de sua incomparável coragem. Liberato não deixa por menos, é também um gigante sertanejo. Juntamente com o Mané Fumaça, formam uma dupla de desassombrados comandantes que não sabem qual é o significado da palavra medo.

Mas apesar da valentia dos comandantes e de seus soldados, o destino da batalha estava selado. A derrota havia se afigurado desde o início da perseguição quando o despeito entre as volantes havia decretado aquele desastre que, no momento do tiroteio, estava se consumando. O verdadeiro e maior desastre foi a chegada dos retardatários.

Com o estrondar do pesado fogo eles reúnem suas últimas forças e correm para ajudar os companheiros. Não contam com a experiência de Lampião e seu bando que se haviam espalhado deixando os soldados sem saber para que lado atirar.

Quando também se envolvem com a luta não discernem o alvo a ser atingido e, na ânsia de socorrer seus companheiros, disparam naqueles que se aproximam, confundidos com os inimigos.

Angustiados percebem o fortíssimo e nutrido fogo em que se encontram. O desastre e a tragédia se configuram. Desesperados, Mané Neto e Liberato tentam parar o fogo cerrado de seus próprios comandados. O impossível está acontecendo, desgraçadamente seus melhores homens estão dentro de um corredor mortal, cujo tapete era o sangue de sua própria gente.

As baixas começam assustadoramente a subir. Os primeiros atacantes estão sendo dizimados, os homens de Mané Neto são os mais atingidos. Desenha-se o quadro monstruoso de mais uma desastrada derrota.

Dos da Bahia estão na linha da frente, além de Liberato, os valentes de Santa Brígida; Elias Marques, seu filho Pocidônio e Mané Véio, os quatro baianos brigam juntos. Um pouco mais ao lado, brigam Mané Neto e João de Anízia, outros estão espalhados e amparados nos troncos das árvores.

Os bandidos estão enlouquecidos. Avançam como se fossem feras, atiram e adiantam, negoceiam e progridem, gritam e atiram. Rifles e mosquetões estão em brasa, a sede é torturante, os cangaceiros em cima, endemoniados.

De repente, Elias é baleado, Pocidônio pergunta se o ferimento é grave, o ferido é um titã, quer lutar ao lado do filho. Responde que não. Foi apenas um ferimento no braço. A luta continua, minutos depois Mané Véio vê Elias caído, corre e ampara o tio colocando-o sobre suas pernas. Antes viu um cangaceiro como um louco pular na frente dos atiradores, parecendo que queria pegar Mané Neto à mão.

O bandido está tão próximo que, sem dificuldade alguma, atira e o cangaceiro cai a seus pés. Aproveita e da cabaça do próprio bandoleiro bebe água; retirando a caneca dependurada na mesma cabaça, enche-a de água. Quando sorve o precioso líquido sente um gosto muito grande de sangue. Não se incomoda. Como está morrendo de sede torna a encher a caneca e aí vê a mesma se tingia com o sangue que pingava da cabeça do cangaceiro morto: Sabonete.

O ferimento de Elias, a princípio, aparentemente sem a menor gravidade, agora lhe retira a vida. Nos braços de Mané Véio e de Pocidônio, esvai-se em sangue. O filho também está baleado em uma perna. A situação torna-se dramática e desesperadora. Entre os nazarenos, a tragédia ainda é maior. Mané Neto e os seus, debaixo de um verdadeiro massacre, assiste à queda de seus homens numa constância alarmante.

Muitos feridos e vários mortos. Já estão sem vida os irmãos Edelgício e Ercílio de Sousa Novaes, filhos de Conrado Ferraz Nogueira, da fazenda Ema, e irmãos de Aureliano e Herculano. Também tomba sem vida o sargento João Cavalcante, conhecido como João de Anízia da Ipueira, além de Antônio Benedito, Pedrinho e Manuel Ventura.


Dos cangaceiros morrem apenas Sabonete e Catingueira. Aquela tão sonhada desforra, aquela gloriosa vitória, torna-se em uma retumbante derrota, parecendo que as duas volantes serão aniquiladas pelos verdugos de Lampião.

Mané Neto está enlouquecido, não se conforma com o desastre e renega a sua própria sorte.

Alucinado, contempla seus homens estirados, sem vida naquela caatinga. Procura pelo companheiro João de Anízia, o valoroso sargento de sua Nazaré, até que o encontra morto no pé de uma braúna, não nota ferimento e nem sangue; só depois de revirá-lo é que descobre o grande furo deixado pela bala em suas costas. Não é possível que aqueles homens tão destemidos e valentes estejam alí sem vida.

O que dirá aos pais, irmãos, esposas e filhos quando para Nazaré retornar? Alí mortos estão os homens que nasceram, cresceram e viveram sempre juntos, todos praticamente de uma mesma família, todos enfrentavam e quase sempre eram derrotados por um dos seus, por um dos que também viveram toda sua vida naqueles campos secos e bravios dos sertões de Vila Bela.

A batalha do Maranduba, como a de Serra Grande, foram os maiores pesadelos da história romanesca daqueles que perseguiam os asseclas nordestinos e a total desmoralização dos cabras de Nazaré, a partir desse fatídico dia, não mais conseguiram ímpetos e nem ânimo para guerrear com Lampião e sua gente. Maranduba e Serra Grande são, portanto, os dois maiores marcos, os dois maiores feitos da guerra cangaceira."

* Do livro MENTIRAS E MISTÉRIOS DE ANGICO - Alcino Alves Costa, transcrito por Raul Meneleu em seu essnecial blog Caiçara do Rio dos Ventos

Procurando livros?

Consulte o acervo do Professor Pereira

O nosso amigo e parceiro de Conselho Cariri Cangaço, Professor Pereira, acaba de atualizar seu estoque de livros raros e de preciosidades da literatura do cangaço e das coisas do nosso nordeste.

Estão à nossa disposição, desde os mais belos clássicos sobre a temática como os últimos e esperados lançamentos.




 


Indicação Bibliográfica da vez: Padre Ibiapina

Na sua atividade missionária, fundou 22 Casas de Caridade, dezenas de cemitérios, açudes e outras benfeitorias úteis aos sertanejos.

Ele foi um ser humano iluminado e serviu de luz a muitos pobres abandonados pelo governo. Temos uma bom acervo disponível sobre este notável religioso. Todos estes livros do mostruário, ou são específicos, ou contém capítulos sobre esse santo missionário.

Para consultar disponibilidade, preços, fretes, solicitar o seu catálogo são mais de 300 títulos; é só entrar em contato: franpelima@bol.com.br e WhatsApp 83 99911-8286.


quinta-feira, 21 de junho de 2018

HQ virtual

Lapejão e Maria Esquisita” faz sátira com o Cangaço



"Lapejão e Maria Esquisita" é uma sátira baseada nos tempos do cangaço, mas convertida para os tempos atuais, e que acontece em uma região que, apesar do tempo, certos problemas crônicos continuam os mesmos. Ainda assim, os confrontos atuais nos remetem as disputas e escaramuças que ocorriam entre homens das volantes com cangaceiros em diversas regiões do nordeste brasileiro.

A história conta de forma bem humorada, e com desenhos cômicos, como pessoas simples lidam com situações e problemas que ameacem aquilo que para eles é o essencial. Um lugar para viver, e trabalho digno para se manterem.

A publicação virtual com 60 páginas em cores é de autoria de Mauro Machado, que tem uma página no Facebook aqui. A história carregada de humor, traz um traço que lembra o europeu, a edição pode ser lida completa CLICANDO AQUI


Para contato com o autor borntopaint@hotmail.com

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Opiniões

O cangaço como atraso do Nordeste

por Paulo Goethe

  Arte Silvino - Diário de Pernambuco

Em abril de 1937, o repórter Fernandes de Barros foi enviado pelo Diário de Pernambuco para mostrar como as chuvas haviam mudado o cenário no interior do Nordeste. O seu relato, publicado no dia 24, com direito a quatro fotos feitas por ele, apresentava uma realidade que poderia escandalizar os leitores do litoral. Pior que a estiagem, quem vivia no semiárido sofria mais era com o banditismo, agravado por extorsões e saques praticados pelas volantes, que deveriam manter a ordem e o direito.

A reportagem de Fernandes de Barros apresentou uma abordagem que vem ganhando força entre os pesquisadores do fenômeno do cangaço nas últimas décadas. Entre 1919 e 1927, agiam no interior nordestino pelo menos 54 bandos armados. Essa movimentação gerava uma instabilidade econômica em uma região que já apresentava um desenvolvimento inferior em relação ao Centro-Sul do país. Todos os setores produtivos da sociedade sertaneja sentiam-se ameaçados. Além dos saques nas pequenas cidades e ataques a fazendas, Lampião – o mais famoso dos cangaceiros, que só saiu de cena em julho de 1938 – instituiu uma nova modalidade criminosa: o sequestro.

Os fazendeiros não estão dispostos a arriscar a vida morando em sua propriedade. Há o êxodo para as cidades. Agora, não mais pelo flagelo da seca: por uma questão social. Se ficarem trabalhando, no fim da safra Lampião iria buscar o dinheiro da venda do algodão e do gado que levara para Rio Branco (atual Arcoverde). O pobre que passou os doze meses do ano embrenhado na fazenda plantando e criando para sustentar a família é obrigado a dar tudo aos bandidos e ainda fica preso para resgate. Tem de escrever aos comerciantes seus amigos pedindo dinheiro, como muitas vezes já tem acontecido.

Quando o cangaceiro sai, vem a polícia. Acusa-o de coiteiro e lá é o homem preso de novo e será feliz se não for bater com os quartos na cadeia, e não levar uma surra, como sucede sempre e como se deu ano passado nos arredores de Alagoa de Baixo, conforme as reportagens publicadas a respeito nesta folha.

Resultado: para resolver essa grave situação, os fazendeiros prejudicados não trabalham e vivem na cidade esperando que os bois e os cabritos cresçam em abandono, para terem com que se manter.


Imagem: Blog do Crato
Durante 16 anos, de acordo com Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, autora de "A derradeira gesta: Lampião e Nazarenos guerreando no sertão", Lampião impediu o fortalecimento de uma camada intermediária economicamente autônoma no interior nordestino. Luitgarde é a mais contundente crítica da ação dos fora da lei na região.

Ela calcula que, a partir de 1930, quando Lampião dividiu os cangaceiros em subgrupos, foram realizados cerca de 10 saques que rendiam 5 contos de réis por dia. Em 15 anos, a extorsão de pequenos e médios produtores sertanejos teria rendido a fortuna de 273 mil contos de réis, dinheiro suficiente para manter postos de pronto-socorro em cinco estados, além de uma Escola Normal e uma Profissional em cada um.

Enquanto os governos do Sudeste conseguiam subsídios para investir em produção e pesquisa, no Nordeste boa parte do dinheiro público era destinado ao combate à criminalidade. De acordo com Luitgarde, somente a Bahia recebeu 400 mil contos de réis para ação de combate ao cangaço, isso sem representar melhoria das estradas ou aparelhamento da polícia.

José Anderson Nascimento, em Cangaceiros, coiteiros e volantes, ressalta que o banditismo causou ainda uma grande queda de arrecadação nos estados nordestinos. Os cangaceiros assaltavam coletorias, incendiavam documentos, destruíam equipamentos. “Os fiscais não podiam viajar”, acrescenta. Luiz Bernardo Pericás, em seu livro Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica, ratifica a tese de que a criminalidade fez a diferença negativa no Nordeste.


De acordo com o jornalista Moacir Assunção, cujo livro Os homens que mataram o facínora: a história dos grandes inimigos de Lampião abordava os principais perseguidores do mais famoso cangaceiro, Virgulino Ferreira da Silva precisava manter a região que dominava bem longe do progresso: “Sagaz, ele percebia que o desenvolvimento do sertão conspirava contra o seu domínio.

Afinal de contas estradas, telégrafo, melhores comunicações e crescimento das vilas trariam, com certeza, mais soldados e proteção às pequenas povoações do interior. O seu tempo, como notava, passaria quando o sertão estivesse em melhores condições”.

No início da década de 1930, o caminhão passaria a ser mais usado como meio de transporte de tropas, constituindo uma poderosa vantagem para os inimigos do bandoleiro, em pleno governo Getúlio Vargas. Lampião chegaria a ameaçar alguns donos de caminhão que cediam seus veículos ao transporte de “macacos”. Menos de quatro anos depois, era a vez de entrar em cena as metralhadoras, que decretaram o fim dos cangaceiros.

Pescado no Diário de Pernambuco

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Nota de falecimento

Adeus ao professor, pesquisador e escritor José Romero



 É com pesar que informamos à comunidade 'Uerniana' e especialmente a de pesquisadores da Historiografia Nordestina o falecimento do Professor Mestre José Romero de Araújo Cardoso. O fato lamentável ocorreu no início da noite desta sexta-feira, 15 de junho de 2018.

Romero tinha 48 anos, e de acordo com informações foi vítima de complicações cardiorrespiratórias.

Nascido em 28 de setembro de 1969 em Pombal (PB), era geógrafo, especialista em Geografia e Gestão Territorial e em Organização de Arquivos, Mestre em desenvolvimento e Meio Ambiente.

Professor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) escreveu diversos livros, dentre os quais "NAS VEREDAS DA TERRA DO SOL" e "NOTAS PARA A HISTÓRIA DO NORDESTE".





Membro do Instituto Cultural do Oeste potiguar (ICOP), da Sociedade Brasileiras de Estudos do Cangaço (SBEC) e da Academia dos Escritores Mossoroenses (ASCRIM), dedicava-se a estudos sobre a região Nordeste, Cultura Regional e cangaço.

O Departamento de Geografia da  UERN externa sua mais sinceras condolências à família e amigos por esta inestimável perda.


Créditos para esta nota Prof. Fábio Ricardo Silva Bezerra - Chefe do departamento de Geografia - Campus Mossoró - UERN

quinta-feira, 14 de junho de 2018

VOCÊ SABIA?

O Cangaço foi objeto de estudos e pesquisas dos alunos da Faculdade de Direito do Recife

No Arquivo da Faculdade de Direito do Recife há um relatório documentando uma viagem de observação e pesquisa na “zona sertaneja assolada pelo banditismo” realizada por uma comissão de estudantes da Faculdade na ocasião da morte de Lampião e de seus companheiros em Angico, sertão de Sergipe, em julho de 1938.

Sob a orientação dos professores Drs. José Joaquim de Almeida e Aníbal Firmo Bruno, formou-se, na Faculdade de Direito do Recife, uma comissão de estudantes do 2º ano do curso de bacharelado, a qual, para conseguir facilidades em Alagoas, tomou o nome de Comissão Acadêmica Coronel Lucena, com a finalidade de visitar e estudar os resultados da Tragédia de Angico in loco.


A Comissão visita o Cap. João Bezerra no Pronto Socorro

Compunha-se a caravana de seis acadêmicos: Wandenkolk Wanderley (presidente)1, Elisio Caribé3, Décio de Sousa Valença4, Plínio de Sousa5, Haroldo de Mello6 e Alfredo Pessoa de Lima2.

A este incumbia apresentar ao interventor federal em Pernambuco, Agamenon Sérgio de Godoy Magalhães, o relatório da missão.

Os estudantes acompanharam de perto as análises frenológicas e antropométricas praticadas sobre as cabeças dos cangaceiros e tiveram a oportunidade de examinar as peças de fardamentos, ornamentos e pertences dos cangaceiros, além de observar o local da caatinga em que se travou a luta.

 A Comissão ouvindo a prelação sobre os dados antropológicos 
colhidos nas cabeças

Por fim, os estudantes da Faculdade de Direito do Recife entenderam que o Cangaço é resultante de um tríplice sistema de fatores: sociais, mesológicos e antropológicos.


Referências:
Comissão Acadêmica Coronel Lucena. Arquivo da Faculdade de Direito do Recife.

Pesquei no site da www.ufpe.br

Afinal, quem decapitou Maria Bonita?

Os volantes Bertoldo, Cecílio ou... 'Negro', o da reportagem abaixo?


Por Leonencio Nossa “O Estado de S. Paulo” edição de 21/10/2001



OROCÓ (PE) – Ele ajudou a cortar a cabeça de Maria Bonita com faca tão afiada quanto a própria memória. Depois de trocar tiros e punhaladas com cangaceiros na juventude, Augusto Gomes de Menezes, um policial aposentado que acaba de completar 85 anos, virou contador de histórias do cangaço e de Orocó, cidade sertaneja a 620 quilômetros do Recife, às margens do rio São Francisco.

Um lugar violento e pobre, com 10 mil moradores, onde mais de 5% das crianças morrem nos primeiros dias de vida.

 “Negro”, que era policial naquela época, garante 
que Maria Bonita já estava morta"

'Negro', como era chamado pelos colegas de polícia, participou de um capítulo decisivo da história do Sertão. O cenário é a fazenda Angicos, em Flor da Mata, atual Poço Redondo (AL), na manhã de 28 de julho de 1938. O bandido Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, escondia-se no local com seus homens. “Morreram nove cangaceiros e duas cangaceiras, Enedina e Maria Bonita”, inicia a prosa.

“Maria Bonita morreu pertinho dele, Lampião, assim como daqui ali naquela parede”.

Sentado numa cadeira de plástico, na sala da casa de estuque, onde mora com duas filhas, Negro não reivindica papel de destaque na ação que resultou na decapitação do bando de Lampião. “Quando eu cortei a cabeça dela (Maria Bonita), não estava mais viva, não”, diz. “Num combate anterior, eu gritei pra ele (Lampião): ‘Traz tua mãe, filho da peste, pra tirar raça de homem valente!’ Ele gritava pra gente também: ‘Taca espora na tua mãe, aquela égua”, exclamou.

Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, do Recife, Frederico Pernambucano de Mello afirma que Negro é personagem desconhecido pela história, talvez por ter sido soldado raso da campanha contra Lampião.


Na avaliação de Mello, o depoimento do aposentado ao “Estado” não apresenta contradições, especialmente na descrição do massacre de Angicos, e preenche lacunas, como por exemplo, a morte do cangaceiro Mané Velho, em 1937. O pesquisador planeja uma viagem a Orocó para conhecê-lo.
Hormônios – O aposentado mostra uma foto da época. “Este aqui sou eu”, aponta para um dos retratados. “Já este aqui é o cabo Terror, que tinha esse apelido porque era um terror mesmo.” Negro desafia o crepúsculo de Orocó. Entre um cigarro de palha e outro, vai construindo imagens mais vivas que o presente, feitas de duelos e sangue.

“Só de bornal nas costas eu tenho cinco anos”, fala numa alusão ao período em que ficou isolado na caatinga. “Desses cinco anos, só descansei oito dias”. Negro ri do fato de o povo de Orocó ter pensado que ele deu o primeiro tiro em Lampião. O aposentado esclarece que não foi bem assim.

“Muita gente ainda jura que ele morreu por mim, não sabe?” Negro deixa claro que só quem viveu o período é capaz de acreditar nos feitos atribuídos a Lampião.

“Numa fazenda em Simão Dias, [Sergipe] mataram dois rapazes, defloraram uma moça e cortaram a língua de uma velha”, diz. “A gente perguntou a ela o que acontece, e ela: ahhh... Não disse nada. Coitada, não tinha culpa, pois não tinha língua.”

Homens valentes e mulheres decididas não fizeram sozinhos a história do cangaço. Muitos integrantes do bando de Lampião viviam a explosão dos hormônios. Menores também foram usados na repressão aos bandidos. Negro era um deles. Nascido na cidade baiana de Curaçá, em 1916, foi recrutado ainda menino pelo governo. Não tinha completado 22 anos quando participou do combate de Angicos.

“Com 14 anos peguei na espingarda para perseguir gente ruim e só saí quando acabou o derradeiro, em 1941”, afirma, numa referência ao fim do cangaço. E era na caatinga, longe das vilas e cidades que os meninos descobriam a sexualidade. A caça aos cangaceiros levava os jovens das volantes a ficarem meses afastados de mulheres. O jeito era se virar com animais ou, se tivessem sorte, cangaceiras capturadas.

Para pegar bandido na Caatinga, só se for a pé

Policial aposentado discorda dos meios usados pela polícia e pelo Exército.

Um dos últimos sobreviventes do combate de Angicos, o policial aposentado Augusto Gomes de Menezes, o Negro, discorda das ações atuais das polícias e do Exército contra assaltantes de caminhões e traficantes de drogas em Pernambuco. Ele releva o fato de os fuzis e as metralhadoras terem substituído os punhais no sertão. “Eu não posso informar nada da polícia de hoje, mas o que eu acho é que carro com sirene não é modo de perseguir gente ruim”, afirma. “Na caatinga não dá para entrar de carro.”

Negro lembra que para caçar cangaceiros o jeito era andar a pé, sem mula ou viatura. Vida na caatinga era à base de carne, farinha e rapadura. A farinha ficava no bornal. O jeito era meter a mão no bornal. “A gente não tinha tempo de assar carne, comia crua mesmo, tirava a dente”, conta. A escassez de água levava o grupo a apelar para a rapadura. “A gente passava até sete dias sem beber”, dramatiza. “Isso escureceu a vista de todo mundo.”

O policial aposentado se casou e enviuvou duas vezes. Da primeira união, com Ocília Barbosa, em 1940, nasceram dez filhos. A mulher morreu 33 anos depois, quando os dois já estavam separados.

“Ela caiu de repente e morreu”, lembra. Quem também morreu por nada, há oito anos, foi Antônia Maria do Nascimento, com quem teve mais oito crianças. Dos 18 filhos de Negro, restaram dez. Amigos não faltam; de solidão, reclama pouco. O maior problema, segundo ele, é o salário mínimo que recebe da Previdência Social.

A casa de Negro não tem televisão nem guarda-roupas. Também faltam baús. Segredos e histórias de uma polícia violenta e criminosa estão na memória do homem que após participar das volantes foi chamado para lutar na Segunda Guerra Mundial – chegou a se apresentar em Salvador, mas a guerra acabou uma semana antes.

Negro colaborou com o Exército na repressão aos integralistas da Bahia, durante o Estado Novo de Vargas, e no auge do regime militar, nos anos 60. Sobre essa época, pouco revela. Desconfia-se que passava informações sobre a geografia da região. “Depois de sair da volante, eu trabalhei nesse negócio de pistolagem”, diz sem ir adiante. Em 1965, no governo do marechal Castelo Branco, gente do Exército andou prometendo “coisa” para o policial aposentado. (L.N.).

Partilha de bens do Cangaço gerava discórdia entre policiais

Tenente teria ficado com maior parte do tesouro do bando de Lampião

Os macacos, como os policiais eram chamados pelos cangaceiros, travaram duelo particular pela divisão do tesouro do bando de Lampião. Um dos integrantes da volante que massacrou os criminosos, em 1938, Augusto Gomes de Menezes, o Negro, revela que o chefe, o tenente João Bezerra, morto nos anos 70, ficou com a maior parte da fortuna, cerca de $1.200 contos de réis e cinco quilos de ouro. O prêmio máximo da Loteria Federal valia, à época, 200 contos de réis.

“A gente tinha ordem do presidente que quem matasse cangaceiro ia ficar com os objetos dos mortos”, diz.

Negro afirma que o tenente não repartiu a fortuna e dá a lista dos nomes dos colegas de farda que teriam sucumbido numa suposta operação travada por João Bezerra para evitar a partilha. “Zé Gomes foi morto por um pistoleiro e Mané Velho conseguiu escapulir.”

Mais de 60 anos depois da maior façanha da volante, Negro ainda tem raiva do tenente. “Eu não fui perseguido pelo João Bezerra, mas ao mesmo tempo posso dizer que fui; eu trabalhei demais”, diz resignado. “eles prometeram um negócio para mim e nunca saiu.” Ele jura que não ficou com nenhum pertence dos cangaceiros.

“Eu peguei dez contos de réis de um, mas um colega me traiu.”

O pesquisador Frederico Pernambucano de Mello desconhece as perseguições, mas confirma a revolta dos soldados e a promessa de partilha. Há 40 anos estudando o cangaço, Mello diz que Mané Velho era homem violento e que causava medo entre os colegas. Após o massacre de Angicos, Mané Velho cortou as mãos do cangaceiro Luís Pedro para ficar com os anéis de ouro.

Fotos das revistas da época mostram as cabeças dos onze cangaceiros expostas na escadaria da prefeitura de Piranhas, em Alagoas. O crânio de Lampião aparece no centro. A mórbida cena é atenuada pelos chapéus com pedaços de ouro e signos de Salomão e pelos bornais. “A estética do cangaço é uma arte nascida em circunstância de conflito; seus símbolos não são apenas estéticos, mas possui funções místicas”, avalia Mello, um dos curadores da Mostra do Redescobrimento.

“Numa comparação universal, o traje do cangaceiro só se compara ao do samurai japonês.” Nas andanças pelo sertão, Mello encontrou pessoas que afirmaram que a cena de maior impacto na vida foi ver o bando de Lampião. “Tinha-se a impressão de que o grupo, ao chegar às cidades, estava trajado como se fosse pular carnaval”, diz. “Era uma mistura de pavor e êxtase; um êxtase estético, épico e viril.” (L.N.)


Matéria transcrita pelo amigo Antônio Corrêa Sobrinho

terça-feira, 12 de junho de 2018

A partir desta quinta-feira, 14

'Cangaceirólogos' do Brasil voltam seus olhos para Poço Redondo



Há nove anos iniciamos ao lado de inúmeros apaixonados pela cultura e tradições nordestinas esta jornada chamada Cariri Cangaço, é verdade... já se vão nove anos,muitas veredas percorridas e muitas histórias para contar.

O Cariri Cangaço promove não só Conferências, Debates, Visitas Técnicas,Lançamentos de Livros, enfim, o Cariri Cangaço promove acima de tudo o ENCONTRO DAS PESSOAS e isso não tem preço.Mais uma vez nos encontramos diante de um novo desafio, a partir do sensacional Cariri Cangaço Poço Redondo 2018 consolidamos nossa presença no estado de Sergipe e pela primeira vez chagaremos ao estado da Bahia a partir da Serra Negra, município de Pedro Alexandre, para nós um tento importante, agora são 6 estados: Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.

Um dia nos separa de mais uma grande demonstração da integração de uma Nação chamada nordeste, reuniremos a partir desta quinta-feira em Poço Redondo, Sergipe e Pedro Alexandre na Bahia, personalidades do universo do estudo e pesquisa do cangaço de todos os cantos deste país, numa autentica festa da alma nordestina.

Nos cenários importantes e significativos dos dois municípios, onde ocorreram episódios marcantes da historiografia do cangaço; como o fatídico Angico e o espetacular fogo do Maranduba, sem falar na enigmática Estrada de Conselheiro e a grandiosa Serra Negra dos Carvalho, o Cariri Cangaço busca mais uma vez nesta sua 21ª edição, fragmentos da verdade histórica na direção da consolidação de nossa memória.Tudo foi pensado para que pudéssemos proporcionar, tanto para as queridas famílias de Poço Redondo e de Pedro Alexandre, como para os convidados de todo o Brasil, uma programação rica, dinâmica e extremamente responsável, marcas de nossos empreendimentos.

A Comissão Local em Poço Redondo, com Manoel Belarmino, Rangel Alves da Costa, Maria Oliveira, Fernandes Reis, Djalma Feitosa e tantos outros estimados amigos, o apoio incondicional do querido amigo prefeito Junior Chagas e uma zelosa equipe em todas as secretarias, como também o decisivo apoio em Pedro Alexandre da tradicional Família Carvalho, nos dão a certeza de um excepcional evento no "chão sagrado de Alcino", o nosso patrono, o Caipira de Poço Redondo.

Temáticas preciosas, próprias do lugar...presenças de personalidades talentosas e que dedicam boa parte de suas vidas à pesquisa do cangaço não dão a certeza de mais um grande empreendimento que se inicia nesta próxima quinta-feira. Assim, gostaríamos de convidar a cada um de vocês para virem conosco, sem dúvidas, estaremos juntos escrevendo mais uma página importante dessa fantástica saga de nossos sertões.

Manoel Severo - Curador do Cariri Cangaço, 12 de junho de 2018


 Programação Cariri Cangaço Poço Redondo 2018
"Celebrando o chão sagrado de Alcino"

Quinta-feira, 14 de Junho de 2018

6h00min - Alvorada Festiva e Queima de Fogos

19h00min – Noite Solene de Abertura
Praça de Eventos de Poço Redondo-Sergipe

19h20min – Formação da Mesa de Autoridades
19h30min – Hino Nacional e Hino de Poço Redondo

19h40min – Apresentação do Cariri Cangaço
Por Conselheiro Raul Meneleu Mascarenhas , Aracaju-SE

19h50min - Fala das Autoridades

20h20min - Entrega de Comendas
Por Conselheiros Celsinho Rodrigues e Manoel Serafim

20h20min - Entrega de Diplomas de Honra ao Mérito
Por Pesquisadores Rodrigo Honorato e Voldi Moura Ribeiro

Homenageados
- Padre Mário César de Souza
- Zefa da Guia
- Guiomar Vito
- Manoel Dionízio da Cruz - "in memoriam"

20h50min - "Cariri Cangaço, Mais que um Evento, um Sentimento"
Por Manoel Severo Barbosa

21h15min - Lançamento de Livro
"Roteiro Histórico e Anotações do Cariri Cangaço Poço Redondo 2018"
Por Rangel Alves da Costa e Manoel Belarmino

21h30min - Apresentação de Grupos Folclóricos
Feira de Cordéis, Xilogravuras e Literatura do Cangaço

22h00min - Show em Praça Pública

Sexta-feira, 15 de Junho de 2018

8h30min - Saída para Curralinho

9h00min - Inauguração dos Marcos Históricos na Estrada Antônio Conselheiro

"Cangaceiro Canário"
"Zé de Julião"
"As Cruzes dos Soldados"
"Tonho Canela"
Rangel Alves da Costa, Poço Redondo-SE
Manoel Belarmino, Poço Redondo-SE

10h00min - Alto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição
Conferência - "Antônio Conselheiro: O Mito"
por Carlos Alberto Silva, Natal-RN;
Wescley Rodrigues, Sousa-PB;
Oleone Coelho Fontes, Salvador-BA.



10h40min - Caminhada pelas ruas do povoado de Curralinho

11h00min - Margens do Rio São Francisco - Orla de Curralinho
Conferência - "Lampião e as Novidades na Historiografia do Cangaço em Sergipe"
Por Archimedes Marques, Aracaju-SE

12h00min - ALMOÇO

14h00min - Saída para Fazenda Maranduba

Visitações aos Marcos Históricos
- Brió e Zé Joaquim
Rangel Alves da Costa, Poço Redondo-SE; Manoel Belarmino, Poço Redondo-SE



15h00min - Recepção na Fazenda Maranduba
Grupo Teatral Raízes Nordestinas

15h30min - Inauguração dos Marcos Históricos
- Serrote da Maranduba
- Cruz dos Nazarenos


16h30min - Capela da Maranduba
Conferência - "O Fogo da Maranduba: Vitória de Lampião ou Derrota das Forças Volantes?"
Ivanildo Silveira, Natal-RN

19h00min - Lançamentos de Livros
Praça de Eventos de Poço Redondo-SE

"A Revolução Praieira no Sertão" Por Leonardo Ferraz Gominho
"As Quatro Vidas de Volta Seca" Por Robério Santos
"Lampião, o Cangaço e outros fatos no Agreste Pernambucano" Por Junior Almeida

21h00min - Shows na Praça de Eventos

Sábado, 16 de Junho de 2018

8h30min - Saída para 'Serra Negra' Pedro Alexandre - Bahia

9h30min - Solenidade de Abertura na Câmara de Vereadores de Pedro Alexandre

9h50min - Fala das Autoridades

10h00min - Entrega de Comendas por Conselheiros Ana Lúcia Souza e Luiz Ruben Bonfim

10h15min - Conferência
"A Importância de Serra Negra para a História do Cangaço"
Por Orlando de Carvalho, Serra Negra - BA

10h50min - Visitação aos pontos Históricos de Pedro Alexandre

Quartel das Volantes
- Praça João Maria de Carvalho
- Rua Velha
- Praça General Liberato de Carvalho

12h30min - ALMOÇO


 Comissão Organizadora do Cariri Cangaço em Pedro Alexandre

14h00min - Retorno para Poço Redondo

15h00min - Cortejo Festivo pela Avenida Alcino Alves Costa, Poço Redondo-SE

15h30min - Inauguração do Marco em Homenagem a Alcino Alves Costa

16h30min - Inauguração da Reforma da Praça Lampião

17h00min - Feira de Livros e Artesanato na Praça da Matriz

19h00min - Praça de Eventos de Poço Redondo - SE

19h20min - Entrega de Certificados aos Familiares de remanescentes do Cangaço
Por Conselheiros Kydelmir Dantas e Elane Marques, Antonio Vilela e Edvaldo Feitosa

Homenageados:

Família dos ex-cangaceiros Sila, Novo Tempo , Mergulhão e Marinheiro
Família dos ex-cangaceiros Adília e Delicado
Família do ex-cangaceiro Cajazeira (Zé de Julião)
Família da ex-cangaceira Enedina
Família das ex-cangaceiras Rosinha e Adelaide
Família da ex-cangaceira Áurea
Família do ex-cangaceiro Zabelê
Família do ex-cangaceiro Canário
Família do  coiteiro Manoel Félix
Família do coiteiro Adauto Félix
Família do coiteiro Messias Caduda 

19h30min - Conferência "O Legado de Alcino Alves Costa: Vida e Obra"
Por Rangel Alves da Costa, Poço Redondo-SE
Depoimentos: Juliana Pereira, Quixadá-CE

21h00min - Apresentações Artísticas

22h00min - Shows em Praça Pública

Domingo, 17 de Junho de 2018

 "Aniversário de Nascimento de Alcino Alves Costa" O Caipira de Poço Redondo

6h00min - Alvorada Festiva e Queima de Fogos



7h00min - Missa de Aniversário "78 Anos de Nascimento de Alcino Alves Costa"
Memorial Alcino Alves Costa em Poço Redondo - SE

8h30min - Café Sertanejo de Encerramento
Grupos Folclóricos
Forró Pé de Serra


 


Realização
INSTITUTO CARIRI DO BRASIL
 

Co-realização
PREFEITURA MUNICIPAL DE POÇO REDONDO
MEMORIAL ALCINO ALVES COSTA

Apoio
SBEC- SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DO CANGAÇO
GRUPO DE ESTUDOS DO CANGAÇO DO CEARÁ
ICC - INSTITUTO CULTURAL DO CARIRI
GPEC-GRUPO PARAIBANO DE ESTUDOS DO CANGAÇO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO PAJEÚ
 

Mídia e Redes Sociais
GRUPO LAMPIÃO CANGAÇO E NORDESTE
GRUPO OFICIO DAS ESPINGARDAS
COMUNIDADE O CANGAÇO
GRUPO HISTORIOGRAFIA DO CANGAÇO
GRUPO DE ESTUDOS CANGACEIROS
O CANGAÇO NA LITERATURA
GRUPO SERTÃO NORDESTINO


Maiores informações no Blog do Cariri Cangaço

Diversão e Arte

O Xadrez do Cangaço


O Xadrez do Cangaço foi um projeto para conclusão do curso de design gráfico. Consiste na comunhão entre a história do cangaço e plataforma do xadrez, ambos unidos pelo senso estratégico, militar, do combate e do conflito rural no Brasil do século 19. Como solução final, foram produzidos dois times distintos: os cangaceiros e os militares.

 Estudos de poses em rafes


 

 Processo de montagem do tabuleiro: módulos individuais (casas), 
fileiras, união e texturização.

Personagens retratados, esquerda para direita: cangaceiros Maria Bonita (rainha) e Lampião (rei), e militares João Bezerra (rei) e Zé Lucena (rainha). João Bezerra e seu subalterno Zé Lucena foram os responsáveis pela entrada de Lampião no cangaço, movido pela vingança e revolta, assim como também foram responsáveis pelo seu fim. Emboscaram e metralharam ele e seu bando na grota de Angico, em 1938.


 
 Peças colorizadas em photoshop


 DVD multimídia com material final do projeto.

Publicação na 4ª edição da revista Cliche

Pesquei no www.behance.net

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Eventos


Oficial de volante será homenageado em Angelim,PE


Por Roberto Almeida

 O capitão José Caetano de Melo, nasceu no distrito de Papagaio em Pesqueira, PE, em julho de 1872. Sentou praça na então Força Pública de Pernambuco, hoje Polícia Militar, em 1893 e durante três décadas em que esteve na corporação foi um dos maiores nomes na luta contra banditismo e o cangaço que assolou o Nordeste no início do século passado.

José Caetano trabalhou em dezenas de cidades de Pernambuco e até fora do Estado onde travou luta com célebres bandoleiros das caatingas como o cangaceiro Antônio Silvino, considerado o primeiro rei do cangaço, Sinhô Pereira, esse chefe de Lampião, e com o próprio Virgulino Ferreira e seu bando, além de ter feito tombar nas Terras das Sete Colinas um dos envolvidos na Hecatombe de Garanhuns em 1917.

Depois de aposentado Zé Caetano foi morar em um lugar fora do foco das confusões que ficaram dos muitos combates que travou quando militar, querendo o sossego de sua aposentadoria. Angelim, a 25 quilômetros de Garanhuns, no Agreste de Pernambuco foi a cidade escolhida pelo célebre oficial volante, onde constitui família e findou seus dias em 1964.


Agora a história desse guerreiro será contada pelo pesquisador Junior Almeida, no livro Lampião, o Cangaço e Outros Fatos no Agreste Pernambucano, que terá seu primeiro lançamento em Poço Redondo, Sergipe, município o qual Lampião foi morto com parte do seu bando em 1938.

Antes disso, porém, o Capitão José Caetano será homenageado numa cerimônia militar na cidade de Angelim na próxima quinta feira 14 à 9h da manhã.

Está à frente dessa homenagem a Polícia Militar de Pernambuco, através do 9º BPM que tem no comando o tenente-coronel Paulo César Gonçalves; da Prefeitura Municipal de Angelim; do prefeito Douglas Duarte, e do Instituto Cariri Cangaço do Brasil, representado pelo seu conselheiro, escritor Junior Almeida.


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Pescado no  Blog do Roberto Almeida
e Editado pelo Lampião Aceso