quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

De Pernambuco para o Rio de Janeiro

Depoimento do ex-volante Andrelino Marcolino Nogueira, para o jornal “Manchete/RJ” em 1981.

Andrelino Marcolino Nogueira, era pernambucano da região de Serra Talhada/PE, nasceu no dia 30 de setembro de 1909, sendo filho de Camilo Marcolino Nogueira e Possidônia Nogueira da Silva. Andrelino tinha nove irmãos. Ele e sua família tiveram contato com Virgulino e os demais Ferreiras.
 

Segundo o mesmo para o Jornal Manchete, disse que Lampião era almocreve e artesão no sertão do Pajeú. Em uma cajazeira que tinha na casa da irmã do volante, a Dona Águeda Possidônia Nogueira, o jovem Virgulino passava horas mexendo com os artigos de couro. Porém, a mesma mandou cortar a árvore por desgosto.
 

Era vizinho da casa de Manoel Pedro Lopes e Jacoza da Soledade (avós de Virgulino e pais do Sr. José Ferreira), e apenas o riacho São Domingos o separavam um pouquinho, entretanto, se criaram juntos.
Foi testemunha desde a juventude dos irmãos Ferreira até às desavenças que se iniciaram em meados dos anos de 1916. Cita que ainda lembra de Virgulino, Antônio e Livino quando eram trabalhadores, cuidando do gado e dos bodes da propriedade. Complementa também que foram almocreves, transportando mercadorias para as regiões de Arco-Verde, Garanhuns, Águas Belas, Triunfo, Piranhas, entre outros locais. Dá detalhes certeiros sobre a evasão dos Ferreiras e das mortes de seus pais.
 

Entrou na força volante entre os anos de 1931/1932, fugindo do seu pai (não se sabe por qual motivo). Relata que pagavam 95 mil réis por mês, utilizavam roupa cáqui ou mescla e a indumentária era extremamente semelhante com a dos cangaceiros. E por causa da estética ser muito parecida, além dos encontros de outras volantes onde, ocorriam um fogo amigo por se pensar em ser os bandoleiros, um comandante ordenou que as tropas utilizassem chapéu de massa fina.
 

Andrelino relata que andavam 45 volantes em um comando, em outro já eram 30, e quando se juntavam, chegavam à numeração de 100 militares, a cavalo, a pé, de todo jeito. E quando sabiam da notícia de cangaceiro na região, tomavam animais de quem tivesse para a melhor locomoção.
 

Atuou nas regiões da Bahia por oito meses, perambulando pelas regiões do Juazeiro, Bonfim, Barro Vermelho, Canudos, Raso da Catarina, Chorrochó e Uauá. Será que foi membro das forças de Odilon? Diz que, nas horas de se alimentarem, matavam a criação de gado também.


Possivelmente participou até o fim da campanha contra o cangaceirismo (ou até os anos de 1933/1934). Se casou com Maria Anália de Moura, com quem teve cerca de onze filhos. Não tenho as informações da data de falecimento de ambos, porém, viveram ainda nas regiões de Pernambuco.
 

Créditos:

Jaozin Jaaozinn "Cangaço Brasileiro" 

𝑭𝑶𝑵𝑻𝑬𝑺: 𝑱𝒐𝒓𝒏𝒂𝒍 𝑴𝒂𝒏𝒄𝒉𝒆𝒕𝒆/𝑹𝑱 - 1981; 𝑮𝒆𝒏𝒆𝒂𝒍𝒐𝒈𝒊𝒂 𝑷𝒆𝒓𝒏𝒂𝒎𝒃𝒖𝒄𝒂𝒏𝒂.







Foto inédita na literatura

 Sargento Deluz

Por Eduardo Marcelo Silva Rocha *

Tratar das Volantes sergipanas no combate ao cangaço não é tarefa das mais fáceis.

Os relatos sobre a profunda proteção que os cangaceiros tiveram em nosso Estado tendem a ser um óbice. Outro fator a favorecer o bandoleiro e seu grupo foram os movimentos iniciados com a Revolução de 30 que, exigindo concentração de esforços militares no início daquela década, momentaneamente diminuiu o foco de atenções ao banditismo nordestino.

O fato é que em nosso Estado a Força Pública não se furtou ao combate ao banditismo e empregou tanto seu efetivo ordinário, quanto gerenciou contratados da vida civil para tal mister.
 

Nesse contexto, podemos citar alguns comandantes de Volantes militares, como os Tenentes Stanley Fernandes da Silveira e Agnaldo Alves Celestino. Outros nomes poderiam ser citados, mas deixemos para uma ocasião futura, certamente mais oportuna do que essa.

Muitos encontros entre cangaceiros e volantes se deram em nossas terras, é verdade, mas nem sempre em tais ocorrências, as volantes eram comandadas/oriundas da nossa Polícia, uma vez que havia o acordo entre Estados e, por isso, volantes de outros estados atuavam em solo sergipano. É o caso do maior fogo ocorrido em nosso Estado, o da fazenda Maranduba, que era constituído por volantes baianas, pernambucanas…

Um dos grandes eventos registrados envolvendo a polícia sergipana foi a invasão à Canindé do São Francisco, cidade que sediava a Volante do Tenente José Vieira de Matos (oriundo do 28 BC) que seria auxiliada pelas volantes do Ten. Manoel Ramos (sergipana) e a do Sgt. Miranda (esta da Bahia). Sobre essa invasão, dois aspectos interessantes sobressaem aos interessados pelo estudo do tema.
 

Um trata-se da participação do Sarg. Deluz em uma das volantes que se encontravam na região quando deu-se a ação criminosa. Deluz, então Cabo de Esquadra sob o nº 174, integrava a força policial do Ten. Manoel Ramos.

Outro, os prejuízos infligidos ao destacamento, que perdeu peças diversas de fardamento – perneiras, sapatos, além de sabres modelo 1908, todas destruídas pelos cangaceiros que conseguiram atear fogo na sede policial.

Após a citada invasão, a volante do Ten. Manoel Ramos seria destituída e a do Ten. Matos seria reforçada, assim como a do Ten. Hermento Feitosa, futuro comandante da PMSE. Nessa ocasião, era que o então Cabo Deluz passaria a integrar a volante do Ten. Matos, antes de galgar postos mais altos em sua carreira e no vilarejo de Canindé.

Mas, debrucemo-nos mais acerca de tal figura.

Retrato Artístico do sargento Deluz (Fonte: Alcino A. Costa)

Amâncio Ferreira da Silva era, provavelmente, de um lugar chamado São Bento do Una em Pernambuco. Devido ao sobrenome e à origem, alguns já levantaram a possibilidade de Deluz ter algum tipo de parentesco com Virgulino Ferreira da Silva, pernambucano de Serra Talhada. Sendo que, até hoje não encontramos indícios que comprovem tal situação. Além disso, não existem registros sobre nenhum combate dele contra Lampião. Apesar do pai de Deluz, inclusive, chamar-se José Ferreira da Silva. Sigamos.

Fato é que nascido em 1904 provavelmente, ou 05, como dizem alguns, pouco se sabe de sua vida até o ano de 1931, quando efetivamente senta praça nas fileiras da Força Pública de Sergipe. É verdade que sua carreira na corporação é notável, uma vez que, como vimos, em um ano já era Cabo e logo seria Sargento.

No início dos anos 1940, Deluz já galgara mais uma promoção e, como Sargento, também era Delegado de Polícia em Canindé. Os relatos disponíveis dão conta de bastante truculência e arbitrariedade praticadas pela força volante de Canindé. De toda sorte, há quem diga ter sido Amâncio tão temido quanto Zé Baiano.
 

Do que se sabe, Deluz chegaria à patente de 2º Sargento, quando da sua morte em 1952. Sua exclusão das fileiras, da já então chamada Polícia Militar do Estado de Sergipe, dar-se-ia em 01 de Outubro 1952, por falecimento, conforme veremos mais adiante.

Do pouco que se sabe, Deluz seguiu sua carreira no sertão sergipano, na região do Município de Porto da Folha e nos vilarejos de Poço Redondo e Canindé. Poço Redondo, este, que ao ser emancipado selaria mortalmente o destino do ex-cangaceiro Zé de Julião, conhecido como Cajazeira, assunto para outro momento.



Captura do grupo de Pancada (Reprodução de Lampião entre a espada e a Lei - Sergio Augusto Souza Dantas)

Antes de prosseguirmos vamos contar a história sendo contada pela história – a história do cangaço em movimento.
 

Em fins da década passada, o Professor Robério Santos produziu um filme sobre o ex-cangaceiro Manoel Pereira de Azevedo, conhecido no cangaço como Jurity. Relatando a vida de Manoel, iniciando dos eventos fatídicos da grota do Angico, em 1938.
 

Sobre Manoel, o filme mostra que entregou-se após a morte de Lampião e redimido/anistiado, retomou sua vida na Bahia, tendo trabalhado como vigilante até que decidiu – ainda em início da década de 1940 – voltar ao sertão de Sergipe para reaver dinheiro e bens que deixara por lá, inclusive cobrar dívidas decorrentes da agiotagem que praticava com o saldo das participações em saques e extorsões do período de cangaço.

Fazemos outro parêntesis, observando as relações do cangaço com a agiotagem, que coincidentemente reservou à história contar duas mortes famosas no cangaço: Zé Baiano e Juriti. Mas, como dantes, isto é assunto para outro momento, fica pontuado. Além da relação bélica entre o próprio Lampião e um Coronel baiano famoso, de quem o cangaceiro cobrou dívidas queimando algumas fazendas.

Sargento Deluz

No filme, Manoel, então, volta aos rincões caatingueiros de Sergipe para acertar suas contas, para reaver seu dinheiro e outros prováveis bens que amealhara e deixara com amigos e/ou clientes. Por conta dessa viagem, Manoel/Juriti, teria a presença delatada à autoridade policial do arruado de Canindé do São Francisco, que vai encontrá-lo na fazenda de Rosalvo Marinho, onde se arranchara. Sem nenhuma condição de reação, até por já ser um homem livre, Manoel é capturado e conduzido à local ermo – chamado de “Roça da Velhinha”, amarrado em uma corda. Manoel teria sido jogado em uma espécie de coivara, onde morreria queimado.

O relato do filme, embora possa ser considerado ou não ficcional, baseou-se em obras de pesquisadores que debruçaram-se sobre o tema cangaço, em diversos momentos, inclusive ouvindo relatos de pessoas remanescentes que viram ou ouviram sobre o fatos.

Pois bem, apesar disto, o filme do professor Robério Santos foi objeto de processo judicial em nosso Estado (tombado sob o número 0044386-18.2018.8.25.0001), que, ao final, reconheceu o seu direito de exibição devido à sua natureza e relevância histórica.

Voltando a Amâncio e seu desfecho, Alcino Alves Costa, em sua obra, relata que este seria vítima de uma emboscada ocorrida, provavelmente, em 30/09/52 ou 01/10/52.

O fato é que pouco se sabe sobre a vida do militar. Na verdade, pouco sabemos sobre a vida de vários policiais volantes daquele tempo de combate ao banditismo. Nesse sentido, como curiosidade, nunca vi alguém observar que o Ten. José Lucena, que estava na ocorrência na qual foi morto o pai de Lampião, já como Capitão em 1924 serviu integrando as tropas federais legalistas aqui em Sergipe contra a insurreição do 13 de julho.

Seja qual for a verdade, fato é que a vida naqueles tempos era difícil para todos, sem exceção às forças volantes. A dureza da terra semiárida, a distância do litoral e da capital dificultava a vida e a sobrevivência de todos. Não haviam facilidades. Não podemos julgar ninguém que viveu naquele tempo com os olhos de hoje, isso é uma falha básica de avaliação que chamamos anacronismo. O máximo que podemos fazer, sem errar, é ajustar as condutas à Lei em vigor no período. Mais que isso tende a incorrer em achismo.

lista de oficiais da Polícia Militar de Alagoas empregados na força legalista no combate ao 13 de Julho em Sergipe

Por fim, sobre Deluz, não existia registro fotográfico incontroverso. Tínhamos uma foto pintura dele e uma fotografia de uma volante mista, na qual, desconsiderando uma marcação errada, supúnhamos ser ele.

Nessa última imagem, agora, temos Deluz em uma provável fotografia 3 x 4, com uniforme militar cáqui. Notemos que há uma real aparência entre os traços de Deluz com o militar da imagem anterior, destacada na fotografia da Volante completa, tirada logo após a captura do grupo do cangaceiro Pancada. Além disso, na terceira imagem, ostenta em seus braços divisas e, apesar de estar marcado com o número “XI” e na legenda constar número “IX”, nesta última há a seguinte identificação: “Sargento Diluz, comandante da volante sergipana”.

A grafia Diluz nos remete à questão dos efeitos da precariedade dos registros, uma vez que muita coisa sequer foi registrada ou se perdeu no meio do tempo até o hoje. Como não sabemos a origem do apelido Deluz, bem como não fazemos muita ideia do que seria o Brasil dos anos 30, questões de grafia não devem nos assustar, ao tempo em que pouco se podia verificar informações, estas que demoravam dias ou semanas para circular, pois muitas vezes andavam em lombos de animais ou nas pernas de mensageiros/transportadores.

Assim, já vimos registros dando conta do nome de ser Amâncio Ferreira da Luz. Uma possibilidade dessa grafia ser originada de um incauto, por não saber o nome completo ter, por convicção própria oralmente ou por escrito, informado o nome com a aquisição do “da Luz”, não por má intenção, mas por ser a referência que conhecera. Mas vamos em frente.

Deluz, com excelente relações de confiança com ao menos uma família importante da região – homem de confiança de um poderoso Coronel – somado à sua graduação militar, estava em confortável posição naqueles sertões do nosso Estado – ou mesmo de qualquer outro.

Sargento Deluz com a farda da Força Pública de Sergipe
Imagem inédita na literatura do tema.


Assim, não por acaso, casara-se com uma moça, filha de honrada e importante figura local, extremamente respeitada naquelas bandas de então Porto da Folha.

Mas o casamento não daria certo logo nos primeiros dias, uma vez que a esposa era dotada de forte personalidade, não tendo receio em demonstrar desagrados ao áspero marido. Segundo o escritor José Mendes Pereira, as brigas levaram Deluz à intimar formalmente um dos seus cunhados e até a sua sogra, algo rechaçado por sogro que teria ido ao destacamento policial pessoalmente com os filhos e entrado em luta corporal com o pernambucano. A relação familiar estaria, então destruída após esse episódio.

Nesse interregno, sobre Deluz se abate uma tragédia, a morte de sua genitora e um irmão. Por conta do fato, o 2º Sargento necessita viajar à Pernambuco, para ir atrás dos responsáveis pela morte dos seus entes queridos. É nesse momento em que se inicia o planejamento de sua morte. O que se sabe sobre este evento fatal é que ao sair em destino a Pernambuco – segundo Alcino Alves Costa – Deluz foi atocaiado e morto a tiros na ainda na estrada da sua Fazenda Araticum, sem possibilidade alguma de reação.

Terminava em 30 de setembro de 1952, a jornada do Sargento pernambucano no Estado de Sergipe, que marcou seu nome na região do então Município de Porto da Folha.

 NOTAS:

 – As informações constantes aqui, são oriundas basicamente das pesquisas de Alcino Alves Costa e José Mendes Pereira, disponíveis em fontes abertas como sites de internet e livros.

            – Créditos das imagens: 1 Alcino Alves da Costa; 2 Sérgio Dantas, 3 – Revista Noite Ilustrada de 08/11/38; 4 e 5 – acervo do autor;


É tenente coronel da PM/SE e membro da Academia Brasileira de Letras e Artes do cangaço. (eduardomarcelosilvarocha@yahoo.com.br)

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Ações na terra natal

Lampião ataca José de Esperidião na Varzinha
 
Por José João Souza
 
Em 25 de novembro de 1926, um dia antes da Batalha da Serra Grande, o bando de Lampião atacou José de Esperidião, residente na fazenda Varzinha, município de Serra Talhada - PE. 
 
Nessa ocasião, sua residência estava com alguns visitantes, os quais foram cumprimentar Rosa Cariri, esposa de José de Esperidião, por ter dado luz a uma criança, que estava com sete dias de nascido.
Rosa Cariri, ao avistar, de longe, alguns cangaceiros avisou ao marido, alertando-o para que se retirasse. José de Esperidião perguntou:
 
- Quantas pessoas você acha que vêm?
Ela respondeu:
- Uns vinte homens.
Ele disse:
- Não corro com medo de vinte homens.
José de Esperidião pegou seu rifle e dois bornais de balas e ficou entrincheirado no quarto.
Quando os cangaceiros chegaram deram boa tarde e perguntaram:
- José de Esperidião está?
Lá de dentro ele respondeu:
- Estou aqui.
Os cangaceiros disseram:
- Venha para fora, precisamos conversar.
José respondeu:
- Já estamos conversando, eu não vou sair e vocês também não vão entrar.
 
Quando as pessoas presentes notaram que estavam diante do bando de Lampião, começou a correria, o pavor foi tanto, que algumas mulheres pularam pelas janelas. Os cangaceiros perceberam que José de Esperidião não sairia e começou o tiroteio.
 
O recém-nascido, José Pereira Lima (Cazuza), filho da vítima, estava deitado em uma rede na sala e foi baleado nos dois pés (o mesmo estava com os pés cruzados). De toda ribeira ouviam-se os tiros e a maioria dos habitantes da localidade abandonaram suas casas e foram se refugiar na caatinga.
Lampião ficou sentado na calçada da casa de Agostinho Bezerra, próximo ao local. O ataque foi coordenado por Antônio Ferreira, motivado por uma vingança de um assassinato cometido por José de Esperidião na Serra Negra, no município de Floresta. Quando Lampião percebeu que o caso era demorado, foi aguardar o desfecho deitado em uma rede no alpendre da casa de Braz Estevão, um pouco mais distante do local do ataque. 
 
Segundo relatos do escritor João Gomes de Lira, os cangaceiros chegaram à casa de José de Esperidião por volta de uma hora da tarde. O tiroteio durou a tarde inteira. “Às seis horas da tarde, um cangaceiro foi até onde estava Lampião, para dizer que José de Esperidião era valente; uma fera, até parece que não morre. Assim, o que deviam fazer? Lampião respondeu e determinou que arrancassem as cercas do curral, apinhassem a madeira no pé da parede em volta da casa e tocasse fogo". 
 
O fogo destruiu toda madeira do telhado, ficou apenas as paredes em pé, no dia seguinte, uma mulher moradora da localidade, foi a primeira pessoa a entrar no recinto, pulando por cima de brasas e cinza, conseguiu chegar ao quarto da casa, onde tombou o corpo de José de Esperidião, com seu rifle na mão, bala na agulha e o dedo no gatilho. Quando a mulher pegou e puxou e rifle, o mesmo disparou. Em uma conversa informal do historiador Frederico Pernambucano de Mello, ele afirmou que, José de Esperidião era homem valente, mesmo depois de morto ainda conseguiu atirar.
 
Quando retiraram o corpo de José de Esperidião para fazer o sepultamento, não encontraram marcas de balas no corpo dele, portanto, chegou-se à conclusão de que a morte fora por asfixia provocada pela fumaça.
 
José Pereira Lima, filho da vítima, ficou com uma marca no pé pelo resto de sua vida. Geralmente, quando ia comprar sapatos, adquiria dois pares, um par 41 e outro par 42, pois um pé ficara menor.
 
Conforme consta no livro, "Memórias de um Soldado de Volante", de João Gomes de Lira, “Ao cair da tarde daquele dia, a Força que vinha distante, ouviu as últimas descargas do fogo dos bandidos contra José de Esperidião. Quando ali chegou, na manhã seguinte, só encontrou o tristíssimo quadro”.
 

 


A ferida que não cicatriza

Quando Elise Jasmin falou sobre a influência ainda exercida pelo cangaceiro na cultura brasileira

Por ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

 

O maior bandido da história brasileira chegou à Sorbonne e comparece agora nas livrarias da França em "Lampião - Vies et Morts d'un Bandit Brésilien" (Vidas e Mortes de um Bandido Brasileiro), escrito pela historiadora Élise Grunspan-Jasmin.


Originalmente uma tese de doutorado para a universidade francesa, o trabalho recebeu o prêmio de melhor pesquisa científica concedido pelo jornal "Le Monde" e pela PUF (Presses Universitaire Françaises), que está publicando a obra.


"Lampião" é ao mesmo tempo uma biografia do cangaceiro e um ensaio sobre o seu mito na cultura nordestina e brasileira. A história de Virgulino Ferreira da Silva, nascido em torno de 1897 e morto em 1938, é traçada pela historiadora por meio de variados registros: documentos, imagens, depoimentos, reportagens jornalísticas e versos de cordel.


As diferentes fontes narram as sucessivas "vidas" e "mortes" criadas para o bandido, em suas duas décadas de cangaço e depois. Em Lampião, a sociedade brasileira projetou múltiplos conteúdos simbólicos, que expressavam as suas contradições concretas a respeito da posse da terra, das diferenças raciais, da violência, do sertão e da unidade nacional. "A história de Lampião é um vai-e-vem contínuo entre imaginário e real", diz Grunspan-Jasmin, 34. Leia a seguir trechos da entrevista.

Folha - O que levou uma historiadora francesa a se interessar pela história de Lampião?
Élise Grunspan-Jasmin -
Primeiro, porque seu mito impregna até hoje a cultura do Nordeste, onde eu vivi durante um tempo, em Recife. Depois, porque a fotografia foi parte integrante desse mito. Eu trabalhava anteriormente sobre os traços históricos nas fotografias e fiquei impressionada com a profusão de imagens desse personagem, desde o início de sua trajetória até a sua morte. Creio que a primeira foto que vi de seu grupo de cangaceiros foi a das cabeças cortadas e exibidas publicamente pelas forças da ordem. A imagem me chocou muito, pelo cuidado extremo de encenação fotográfica e a dimensão simbólica que foi visada na cenografia dessa morte.

Folha - Por que a encenação da morte é importante no caso de Lampião?
Grunspan-Jasmin -
A encenação da morte, feita pelo poder público, ocorre tanto com Lampião quanto com Antonio Conselheiro. Esses personagens simbolizam o sertão como um espaço de barbárie, que não poderia ser penetrado pela dita civilização, e a impossibilidade para o Brasil de obter a sua unidade nacional. Assim, em ambos os casos, as práticas de poder visam à destruição do mito e a uma despossessão pós-morte. No caso de Conselheiro, as autoridades impuseram que seu cadáver fosse desenterrado e fotografado em seguida, para só depois ter direito à decapitação. Como ele havia se apropriado de uma terra, ele é tirado dela, não tem o direito de ficar ali. No caso de Lampião, é o ato de decapitação, de separar o corpo em dois, que é determinante. Como ele não tinha terra, mas dominava um território e carregava suas riquezas sobre o próprio corpo, então é sobre esse corpo que se deve agir. Efetivamente, sua cabeça é cortada e o resto do corpo é deixado sem sepultura.

Folha - Da parte de Lampião, não haveria também um desejo de encenação do cangaço?
Grunspan-Jasmin -
Claro. Esse é um dos aspectos geniais do personagem. Ele utilizava a mídia, a fotografia, tudo que diz respeito ao visual, como a vestimenta, para a construção de seu próprio mito e de sua própria imagem. Isso é uma das grandes particularidades e um dos traços modernos desse personagem.

Folha - Por que o sertão interessou pouco os historiadores, como a sra. afirma em seu livro?
Grunspan-Jasmin -
Isso está mudando progressivamente. O sertão simbolizou para o Brasil essa impossibilidade de encontrar uma forma de unidade nacional. Era uma espécie de encrave arcaico, uma região considerada fora do tempo e da história, que não poderia ser desenvolvida. Ainda hoje, é bastante estigmatizado. Trata-se de uma questão que permanece aberta, a saber: como um país se constrói a partir dessa cristalização de uma região que sofre, como uma ferida sempre aberta, e revela frequentemente a essa nação a sua incapacidade de representar um corpo sem sofrimento.



Folha - O Brasil que a sra. descreve é um país guerreiro e violento, muito diverso da imagem dominante de um povo pacífico e conciliador.
Grunspan-Jasmin -
No início, meu trabalho era sobre o cangaço e certos aspectos da cultura nordestina por meio da violência. Para mim, que não conhecia direito o país, essa violência se amplificava nas imagens que via. O que me interessou em Lampião e em todas as projeções que fizeram dele é que se trata de um certo momento da história do país em que se vê uma violência exacerbada, seja dos cangaceiros, seja das forças da ordem. Ao mesmo tempo, vê-se uma força de vida, uma potência do imaginário e da criatividade muito grande. É uma ambivalência que faz a história desse período ser muito interessante.

sábado, 4 de novembro de 2023

"O Estado de São Paulo" - 7 de março de 1996

Quando Dadá conversou com Rosemberg Cariry

Por Helena Salem (Transcrição de Antonio Correia Sobrinho)

O status inconteste de Dadá, de verdadeira cangaceira, associado à sua forte ascensão e influência sobre o esposo Corisco, faz desta mulher, penso eu, mais do que imaginamos, mais do que uma simples cangaceira. Dadá foi a líder intelectual do grupo de bandoleiros comandado pelo seu marido. 
 
Condição esta que ela, nas inúmeras entrevistas dadas à imprensa ao longo de seus anos de vida pós-cangaço, conseguiu embora deixasse aqui e ali transparecer, não tornar claro esta sua real posição dentro do grupo, o que vejo como amplamente justificável, uma vez que todo cangaceiro sobrevivente usou de mecanismos de defesa, como, não dizer completamente de seus atos delituosos, para mitigar as suas responsabilidades. 
 
No caso de Dadá, também, quem sabe, para não tirar do seu amado o holofote maior da história.  Antonio Correia
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Sérgia da Silva Chagas, a Dadá, nasceu em 25 de abril de 1914, no interior de Pernambuco, e morreu em 7 de fevereiro de 1994, de câncer. O filho Silvio conta que, na noite de sua morte, chamou uma psicóloga do hospital em que estava internada em Salvador, pediu um batom e um pente para se arrumar “bem bonita”, porque tinha sido convidada para ir a uma festa com Jesus e não podia chegar feia”. Uma hora depois, morreu.
 
Vaidosa, corajosa, Dadá – que teve uma perna amputada em consequência dos ferimentos à bala no momento de sua prisão (ela saiu atirando com as duas mãos) junto a Corisco (ele morreu na mesma noite), em 1940 – foi depois anistiada e se casou de novo, com o empreiteiro Alcides chaves. Refez a vida, porém, não teve mais filhos. E continuou sendo, sempre, a mulher forte que se impôs frente a Corisco, conquistou o respeito e a amizade de Lampião, a admiração de todo o cangaço e até de José Rufino, o matador de cangaceiros, para quem ela era “brava como um homem”. 
 
Elogio maior, naquele ambiente tão machista, era quase impossível.
 
Entre 1989 e 1990, o diretor Rosemberg Cariri gravou em vídeo uma longa entrevista com Dadá. Seguem alguns trechos dessa entrevista inédita, na qual a ex-cangaceira fala, entre outros pontos, de seu amor por Corisco, da Coluna Prestes e de como era a vida das mulheres no cangaço.
 
Comunismo: “ouvia falar muito. De noite ficava todo mundo lá sentado e Lampião dizia: ‘Rapaz, se eu pudesse sair disso, se viesse aí um doido, uma revolução que abatesse esses miseráveis todos. Nós passava pra frente deles. Ah! Luiz Carlos Prestes. 
 
Nós encontrava com este homem, nós abre o mundo e vamos embora’. Eles falavam muito nisso, mas nunca apareceu nenhum. 
 
Quando aparecia, era pra matar. Mataram, mataram, aleijaram, acabou, pronto. Agora, tem muito cangaceiro aí bem de vida, os que se entregaram. São funcionários, os filhos são formados, vivem muito bem.”
 
Mulheres: “Era uma convivência maravilhosa. Todo mundo tinha seu marido. Um amor danado. Uma costurava, outra ajeitava um vestidinho, uma coisa. Uma vida bacana. Com Lampião ali, ninguém dava um nome, ninguém se "inxeria" com coisa nenhuma. Agora, se ela saísse fora da linha, o chumbo comia, matavam, como aconteceu com Cristina e Lídia.”
 
 
Maria Bonita (mulher de Lampião)
: “Era terrível, orgulhosa, metida. Era assim pequenina, toda redondinha, bem-feitinhas as pernas, mas pisava assim. Quer ver? Olhe no retrato, ela tem os pés pra frente. 
 
Orgulhosa, metida à besta, barulhenta. Só vivia com encrenca com um e com outro. Mas ninguém ligava, não. Era assim, bonitinha, alvinha, agora bacana era só ela, e queria ser mais.”
 
A relação com Corisco: “Eu tinha uma boa vida com Corisco. Era um homem bom. Nunca chegou um dia de falar comigo aborrecido. Quando ele queria dizer ‘não’, dia ‘não sei, você é que sabe’. Mas se ele dissesse ‘faça’, era o ‘sim’. Eu falava alto, eu xingava, vá pros inferno. 
 
Aí ele ficava com aquilo: ‘Fale baixo, num grita. Dadá, mulher pra ser uma mulher completa tem de ter modo até no pisar’ (...) Ele ficava dando risada, virava a cara assim pra num dar ousadia. E dizia: ‘Uma mulher é como uma flor, se a pessoa encosta nela, machuca.’ Ele dizia tanta coisa bonita pra mim, pra ver se me conformava. Mas eu era malcriada com ele.”
 
A vida no cangaço: “As mulheres não cozinhavam. Só se ela quisesse. Ela lavava tudo, botava tempero e entregava para eles cozinharem. Quando tava pronto, tava pronto. Aí vinha Lampião e eu dividir, porque Lampião tinha o povo dele e eu o meu. Maria não ia pegar em nada disso. Era bacana. Cada dia um cozinhava, outro lavava a panela, negócio tudo organizado. Não tinha de ‘não faço’. 
 
Chamava, era seu dia, tinha de fazer. Tudo limpinho, ajeitado, acabava de comer a gente dividia, mas mulher não ia para a beira do fogo. (...) Os cangaceiros eram muito amorosos, tinham tato carinho que eram capaz até de se esquecer das armas. Como teve muitos que morreram num descuido, entretido lá com mulher.”
 
Dadá, Corisco e Benjamim
 
A morte de Lampião: “Corisco ficou louco. Ele não era de chorar nem de falar, ficava calado. Mas ele parecia um maluco. Eu disse ‘deixa pra lá, Corisco’, mas ele falava ‘eu vingo’. Era quinta-feira e ele disse: ‘Se fosse os homens que tivessem morrido, não era nada demais, porque nós vivemo esperando isso. Mas uma mulher não se mata. Porque nem cem cabeças paga a de Maria.’ Aí foi quando ele fez aquele salseiro; eu quase nem consigo contar isso.”

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

O cangaço em Sergipe

A Pia das Panelas

*Por Eduardo Marcelo Silva Rocha
 

 



Sergipe foi um dos locais mais destacados na metade final da história do cangaço lampiônico. Uma vez que nessas paragens o valente de Vila Bela encontrou pouso e proteção de destacados coronéis da região do São Francisco. Ele pôde se estabelecer, recrutando diversos do povo para encorpar suas hostes.
 

Lampião ao se radicar na região de SE/BA/AL, alterou o funcionamento de seu grupo, que foi dividido em vários (sub) grupos menores, com áreas territoriais de atuação definida, em um processo de delegação de funções, nomeando chefes de bando em diversas localidades, sendo o mais famoso destes, o cangaceiro Zé Baiano, que atuou na região agreste do Estado, tomando Frei Paulo como uma dessas referências.
Essa tranquilidade, somada ao consórcio com “coronéis” da região, permitiu-lhe diminuir seu ritmo de ação, transformando-se em uma espécie de gestor dos seus delegados: Zé Sereno, Labareda, etc. É óbvio que existiam outros aspectos, como o cansaço daquela vida dura, e mesmo, a admissão de mulheres ao bando.
 

Enfim, Lampião construíra em Sergipe um sólido “modelo de negócio” que lhe deu a oportunidade de desfrutar momentos de tranquilidade como nunca dantes. Depoimentos de pessoas da época dão conta de visitas a cidades, como Propriá e Laranjeiras, em busca de tratamento médico, por exemplo. Além de incursões como a de Capela, onde Lampião chegara a assistir ao filme “Anjo da rua” (Street angel), estrelado por Janet Gaynor.
 

O fato é que a região era, no geral, um bom coito para Lampião e seu bando, como vimos acima. Mas não apenas isso. Em um dos locais de pouso estabelecido na região catingueira do nosso Estado, Lampião estabeleceu uma espécie de quartel, onde podia reunir-se e tratar de outros assuntos diferentes da rotina de lutas.
 

Trata-se da Pia das Panelas, no atual município de Poço Redondo. Escondido por grandes propriedades, o citado coito era tão bem localizado no que tange à segurança, que os relatos dão conta de que nunca houve ataque por partes das volantes ao referido local.
 

Diante dos fatos é possível inferir que em um local seguro deste, não era incomum a presença de coiteiros responsáveis pelo fornecimento de víveres e demais produtos. Em conversas com Manoel Belarmino, morador da região e pesquisador independente, consideramos a possibilidade, de devido à segurança do coito, os cangaceiros receberem visitantes, acompanhados de crianças, ao menos em companhia de coiteiros.
 

O nome “pia” não era fantasia, consistindo em uma espécie de lajedo de pedra, seus buracos eram capazes de armazenar água por muito mais tempo que os riachos que secam logo após o inverno. No caso da Pia das Panelas, existem vários buracos onde se armazena água, tanto que os moradores da região, hoje, enchem os buracos de pedras, como forma de prevenção a acidentes com animais que ainda buscam o refúgio para a sede naquele antigo coito.
 

Além disso, o local consiste também em uma pequena elevação que somada às características da vegetação mais baixa, fornecia vantagem estratégica aos que ali repousam.
 

Alguns acontecimentos convergem para a ideia de que ali se tratavam assuntos de ordem “administrativa” do bando. Nesse sentido, exemplo maior é a morte de Lídia – dizem ter sido a mais bela – companheira do cangaceiro Zé Baiano – ao que se sabe, no mesmo dia da morte do Padre Cícero.
 

Após ter sido delatada pelo cangaceiro Coqueiro, que a teria visto deitar com o cangaceiro Bem Te Vi, Lídia fora arrastada para o famoso umbuzeiro que, ainda existe, no entorno do lajedo, onde esperaria amarrada pela morte a pauladas na manhã seguinte.
 



 

"Coqueiro", não se salvaria vivo, pois a delação era uma forma de traição, mesmo aquela, tão específica. Bem Te Vi, o conquistador, este salvou-se da morte, seja por proteção ou por haver fugido assim que soube do intento de Coqueiro – pois há quem defenda as duas versões.
                  

Existe alguma divergência sobre como se deram os fatos com o conquistador, mas seja como foi, sabe-se que em algum momento ele fugiu, livrando-se de qualquer ato de violência física. O conquistador não sofreu nada.
 

Mas não foi somente esse assunto que terminou em morte naquele local: ali ainda morreram outras pessoas sob o manto das decisões gerenciais do cangaço. Uma, foi Rosinha, que após a morte do cangaceiro Mariano, viúva, declarou querer sair do cangaço e, a mando de Lampião, foi resgatada da casa dos pais e morta próximo ao Riacho do Quatarvo - imediações do coito.
 

Outro foi o sertanejo Zé Vaqueiro, que encontrou o cangaceiro Novo Tempo, que se arrastara ferido até a Fazenda Paus Pretos (de propriedade do Coronel Antônio Caixeiro, pai do Interventor Eronides de Carvalho, local onde fica a Pia das Panelas).
 

Sabendo do tiroteio que acontecera dias antes, o vaqueiro decidiu executar o cangaceiro, que conhecia muito bem, para ficar com os seus bens, afinal, o fogo da lajinha ocorreu em local diverso ao da Pia das Panelas, onde estavam eles, naquele momento.
 

O plano do vaqueiro deu errado, o cangaceiro não somente sobreviveu ao disparo feito por Zé Vaqueiro, como conseguiu fugir. Dias depois, Novo Tempo já recuperado e com o bando, pegaram Zé Vaqueiro e o executaram às margens do riacho, queimado, após o seviciarem até sua exaustão.
 

Outra morte registrada no local, foi a de Preta de Maria das Virgens, que teve a cabeça esmagada pelo namorado Zé Paulo, que não queria assumir a responsabilidade da gravidez da moça.
 

Os cinco casos relatados têm a traição em diversas perspectivas como ponto comum. Coqueiro, Lídia e Zé Vaqueiro morrem porque traem. Rosinha morre pelo medo que a sua “deserção” causa, dada a possibilidade de traição que rondaria sua reintegração à vida normal, sendo ela conhecedora de coitos e coiteiros. E Preta de Maria das Virgens morre à traição, esta encetada pelo próprio namorado, pai do filho que esperava em seu ventre.
 

É característica da traição marcar a terra com sangue.
 

Sobre cemitérios, conta-se que o local que circunda a Pia das Panelas era antes um Campo Santo/Cemitério indígena. O local sob o Umbuzeiro onde supõe-se estar enterrado o corpo de Lídia de Zé Baiano é recoberto por pedras, que lhe facilitam identificá-lo e o fizeram famoso.
 

Mas sob um olhar mais atento, é possível observar que existem ainda muitas formações de pedras que sugerem ser demarcadoras de local de enterramentos humanos. É fato que, o local já foi remexido para exploração agrícola e, certamente, muitos vestígios arqueológicos já se perderam.
Por outro lado, certamente por questões culturais, alguns espaços como o entorno próximo da Pia e o umbuzeiro com o pretenso túmulo de Lídia ainda resistem.

EPÍLOGO

Ao visitarmos locais como esse, de sofrimento e dor – que representam histórias com muito sangue, ao menos para quem crê em vida além da vida – devemos considerar o peso que esses eventos carregam, nesses lugares, de energias ligadas as emoções de quem viveu tais situações. Se não quisermos pensar em energias (se está cético, se pergunte sobre o que se capta do corpo humano em um eletroencefalograma, por exemplo) pensemos no seguinte: quem gosta de reviver momentos ruins? Ou de ouvir pessoas recontando nossas péssimas experiências?

 

Longe de querer limitar ou ser contra as visitações aos sítios históricos, mas sim deixar aqui uma reflexão sobre como nos portamos nesses locais e como, respeitosamente, devemos nos portar neles.
Por fim, o local da Pia das Panelas, além de um sítio de interesse histórico, possivelmente, também se trata de um sítio de interesse arqueológico – cemitério indígena, a  despeito de já haver sido bem modificado pela ação da atividade agropecuária nas últimas As décadas. Muitas das pedras, se foram usadas para demarcar sepultamentos, hoje certamente já estão fora do seu local de origem.
 

Mas ainda há um pequeno espaço central – exatamente onde fica o lajedo da Pia das Panelas – preservado, inclusive em seu entorno próximo, assim como o umbuzeiro onde se supõe estar Lídia enterrada, onde encontramos um pequeno ajuntamento de pedras, em padrão que vemos em covas rasas.
 

Agora é a vez do IPHAN. 

 

* É tenente coronel da PM/SE e membro da Academia Brasileira de Letras e Artes do cangaço. (eduardomarcelosilvarocha@yahoo.com.br)
 

sábado, 28 de outubro de 2023

O cangaço...

E os mensageiros
 

Por Luis Bento       

Lampião foi capaz de arregimentar uma legião de colaboradores, uma malha  informantes e mensageiros, numa época em que a telefonia ainda engatinhava no Brasil, principalmente no nordeste. Assim construiu uma rede de comunicação tão grande que nenhum outro homem da região foi capaz.
          

No então distrito Macapá atual Jati-CE, morava Joaquim Aureliano Pereira da Silva, "Quinca Pereira" irmão do cangaceiro Sebastião Pereira da Silva, senhor Pereira. No ano de 1919, ele foi procurado pelo padre Cícero Romão Batista a levar uma carta ao irmão. A carta constava o seguinte teor. " Era um pedido ou uma ordem, que o cangaceiro suspendesse as armas, abandonasse as questões entre as famílias: Pereira, Carvalho e fosse se refugiar-se em terras distantes ".

          

Quinca Pereira

Manoel Cunha Moura, Neco Cunha, outro mensageiro do distrito Macapá atual Jati-CE. No dia 2 de março do ano ano de 1926, Lampião passará pelo então distrito com destino a cidade de Juazeiro do padre Cícero. Neco Cunha, pediu a Lampião que a sair do distrito passasse em sua residência, tinha uma correspondência a lhe entregar, uma uma carta de seu ex-chefe Senhor Pereira que já se encontrava refugiado no estado de Goiás. 

A carta tinha o seguinte teor. "era uma carta convite, convidando Lampião a abandonar as armas e  se refugiar-se em Goiás ".
          

 

Neco Cunha

O mensageiro, foi de suma importância na historiografia do cangaço, Lampião tinha muito respeito por todos, além das correspondências ser preservadas no mais absoluto segredo, ainda contava com excelentes redes de informações.
          

*Luís Bento é Diretor de Cultura.

A Noite " edição de 14 de Dezembro de 1932

Informes confusos sobre as mortes de alguns cangaceiros

Por Helton Araújo-  Cangaço Eterno

Na matéria do jornal " A Noite " edição de 14 de Dezembro de 1932 ", o periódico traz o seguinte título : " O BANDITISMO NO NORDESTE ", com o subtítulo " A campanha vae ser feita por mais de tres mil soldados - " Antônio de Engracia " morreu mesmo, e foi comido pelos corvos (seguindo a escrita da época).

 


Apesar da péssima resolução da matéria, vou passar para vocês um resumo da publicação e fazer algumas observações em seus principais tópicos.

A matéria tem início informando que a campanha contra o banditismo está na região tranquilizando a população que vem sofrendo com as incursões de Lampião e seu bando nas regiões do sertão baiano e sergipano.

O periódico informa que há poucos dias a volante comandada pelo tenente Justiniano travou ríspido combate contra o bando de Lampião, nas proximidades de Juá, em Santo Antônio da Glória, nessa ocasião foi morto o cangaceiro Baliza e presa a sua companheira. Aqui fazemos nossa primeira observação, o periódico não informa o que a tradição oral diz sobre a história de Baliza, que o mesmo teria sido surpreendido por Justiniano e seus homens, no momento em que estava em relações sexuais com sua companheira.

A Tradição oral ainda diz que o tenente Santinho ( Ladislau Reis ) quando se encontrou com a volante do " cabo " Justiniano ( o jornal diz tenente ) solicitou ao mesmo por ter a patente maior a condução e recambiamento do cangaceiro. Daí popularmente sabemos o que aconteceu com Baliza, que foi torturado e morto em uma fogueira por Santinho e seus homens.

Fica claro que o periódico não apresenta essas informações, destaco ainda, que na tradição oral a data do acontecimento seria março de 1933, mas o jornal relata que o fato se deu em dezembro de 1932, ficando aí a inconsistência.

Cabe aos pesquisadores buscarem mais informações se de fato Santinho torturou e matou Baliza ou se essa história é mais uma entre tantas outras que caiu nos contos e folclores populares sobre o cangaço.

A matéria segue com mais uma excelente informação, segundo o jornal, as colunas volantes descobriram que de fato o cangaceiro Antônio de Engrácia estava morto, cujo acontecimento deixava dúvidas sobre a veracidade da morte do cangaceiro.

Um coiteiro de Chorrochó preso, disse que Antônio foi gravemente ferido pelo contratado Hermógenes, sobrinho do fazendeiro sergipano José Ribeiro. Segundo o coiteiro, Antônio veio a falecer em decorrência de seus ferimentos em sua própria residência, ainda segundo o coiteiro, seu corpo ficou insepulto, vindo a ser devorado pelos "corvos".

Ele prossegue informando que as ossadas do cangaceiro foram levadas até Jeremoabo ( não informando quem a levou ), onde ficou em exposição. Aqui faço mais uma observação, o jornal fala de Antônio de Engrácia, porém segundo as informações que temos nas pesquisas do cangaço, quem teria sido morto por Hermógenes, seria o cangaceiro "Antônio de Seu Naro", sendo assim, acredito eu, que houve apenas uma confusão de informações, pois Antônio de Seu Naro também era um Engrácia e também lhe caberia a apresentação como Antônio de Engrácia.

Diante dos fatos, creio eu que a matéria refere-se ao cangaceiro Antônio de Seu Naro e não de seu parente Antônio de Engrácia. Nos tempos atuais, aqueles que fazem pesquisas, se não cruzarem as informações podem fazer uma grande confusão histórica entre os fatos acontecidos e seus personagens.

Gostaria de associar essa informação das ossadas levadas para Jeremoabo com aquela matéria que também roda por aí, dos ossos e crânios dos cangaceiros " Antônio de Engrácia " e Ponto Fino (Ezequiel Ferreira), diante dessa matéria, acredito que aquelas ossadas sejam de fato Antônio de Seu Naro e do suposto Ponto Fino.

A matéria traz mais algumas ótimas informações, a primeira é que o sertão baiano contará com o reforço de mais de 3 mil soldados na campanha contra o banditismo.

A segunda, o Capitão João Miguel conseguiu auxílio mensal de 20 contos de réis para ajudar os flagelados da seca. Além de mandar construir estradas de rodagem por vários locais da região.
 

Vale lembrar que isso contradiz o que a tradição oral conta sobre a ação do capitão João Miguel, o mesmo teria mandado os sertanejos abandonarem suas casas em uma tática irresponsável na tentativa de dificultar as ações dos cangaceiros na região, Isso não só favoreceu os cangaceiros como causou mais sofrimento para os pobres sertanejos, esse fato relatado ficou conhecido como " A seca de João Miguel "

E para finalizar, a matéria relata que foi aprendido na casa de um coiteiro a metralhadora que Lampião conseguiu no confronto no Tanque do Touro (onde supostamente teria morrido Ezequiel Ferreira) contra a volante comandadas pelo tenente Arsênio Alves, além de outros armamentos e muitas munições.

Encerro esse texto sem querer desmerecer o trabalho de nenhum dos companheiros de pesquisa, pelo contrário, reafirmo aqui meu respeito a cada um, meu intuito com essa postagem é apenas elevar a história ao mais próximo possível da realidade. Deixo claro também, que não sou dono da verdade e que posso estar errado em minhas observações, mas fica aí o material para confrontação de informações e esclarecimentos e dúvidas.

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

101 anos depois

Processo de 1922 revela tocaia de Lampião para matar delator de seu pai

Por Carlos Madeiro Portal UOL


Eram por volta das 19h do dia 14 de agosto de 1922, quando Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, dois irmãos e mais um grupo de cangaceiros foram até Água Branca, no sertão alagoano, fazer uma tocaia e cumprir uma missão que juraram a si mesmos.

Eles esperavam a passagem de um homem: Manoel Cipriano de Souza, que foi morto com três tiros, um dado por cada um dos irmãos Ferreira.

Revelação importante

    
Segundo Lampião, foi ele quem delatou o local onde estava seu pai, José Ferreira dos Santos, no dia 18 de maio de 1921. Nessa data, ele foi morto pelo tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão, em Mata Grande, sertão de Alagoas.

A morte do pai de Lampião é um episódio marcante para o cangaço. A história conta que os irmãos Ferreira resolveram entrar na vida do crime para vingar os ataques que o pai sofria de um vizinho — que virou inimigo — chamado Zé Saturnino. A morte do pai foi o estopim para eles entrarem no cangaço.
Justiça acha processo

O processo judicial que denunciou Lampião e mais quatro cangaceiros pelo crime estava guardado no Fórum de Maceió. Ele traz detalhes que eram desconhecidos do crime.

O documento foi encontrado recentemente, junto com outros processos, pelo juiz e historiador Claudemiro Avelino. Todas são denúncias que acusam Lampião ou cangaceiros do seu bando por crimes de mortes, roubos e estupros.

No assassinato do suposto delator Cipriano foram denunciadas cinco pessoas

 - Lampião
- Livino Ferreira, irmão de Lampião
- Antônio Ferreira, conhecido como Esperança e também irmão de Lampião
- Antônio Rozendo, conhecido como Antônio Gelo
- Antônio Bagaço (abaixo)


Antônio Augusto (Feitosa ou Correia), Antonio Bagaço


Em depoimento à polícia, a testemunha Manoel Pedro de Alcântara narrou tudo que houve naquela noite. Diz que ele e Manoel Cipriano estavam cruzando a cancela do Mané, vindos da feira de Água Branca, quando homens armados com rifles o abordaram.

Lampião mandou eles descerem dos cavalos e perguntou o nome deles. Cipriano, o primeiro a responder, recebeu logo uma resposta do chefe: "É esse mesmo que estamos esperando."

Ao reconhecer seu alvo, ele mandou que a testemunha se afastasse e não saísse até ele dar uma "ordem expressa."

Cipriano foi então arrastado para um local ao lado do cavalo em que estava, quando Lampião perguntou sobre o dinheiro que ele levava. Ele tinha apenas 10 mil contos de reis, pouco para a época.

Tortura e morte

Outra testemunha do crime, Silvino Antônio dos Santos afirmou à polícia que Cipriano ainda perguntou o que Lampião queria, e disse que "ele daria para salvar a vida."

A frase dita por Cipriano, segundo testemunhas que depuseram, foi:

"Lampião, não me mate. Deixe eu criar minha família", clamou Manoel Cipriano.

Não adiantou. Lampião ainda "judiou" de Cipriano (não há detalhes de como) e o sentenciou em seguida.

"Agora você conhece Lampião. Foi você quem indicou onde meu pai estava para o matarem. Agora você é quem vai pagar.


Lampião então se afasta para trás e dá o primeiro tiro. Os dois irmãos de Lampião que o acompanhavam deram mais dois em seguida.

Foram três tiros; no segundo tiro ele caiu por terra.
Manoel Pedro de Alcântara, testemunha.

 

Processo está guardado no Fórum de Maceió.

Após os tiros, e vendo a vítima no chão, um do cangaceiros disse: "Basta, vamos embora." Foi quando outros integrantes do bando saíram do meio do mato, onde estavam na espreita para dar segurança aos irmãos Ferreira. Na fuga, um dos cangaceiros montou e levou o cavalo da vítima.

A morte não foi a única vingança dos irmãos. Após matarem, eles foram até a casa onde morava Cipriano. Ao chegarem, um filho da vítima perguntou aos cangaceiros o que eles queriam e o que tinham sido os tiros na cancela. Lampião então respondeu: "Vá lá examinar."

As testemunhas narram que eles em seguida empurraram o filho e entraram na casa, onde quebraram portas, baús, celas, móveis e roubaram "tudo que puderam". Logo depois, fugiram em cavalos.

Lampião e mais quatro denunciados

A promotoria pública de Alagoas, após os depoimentos, denunciou Lampião e outros quatro cangaceiros identificados pelas testemunhas no dia 9 de outubro de 1922. Cinco dias depois, o juiz da comarca de Água Branca acolheu e pronunciou (mandou a julgamento) os réus.

 

Parte dos autos em que a promotoria denuncia Lampião

Só que o processo nunca andou, e ninguém foi julgado.

Foram dadas várias ordens de intimação dos réus, mas sempre falavam que não os achavam, ou creio que não iam atrás para notificar. Naturalmente, todos tinham medo de Lampião
Claudemiro Avelino, historiador e juiz

Nenhum dos cangaceiros foi levado a julgamento em nenhuma das denúncias encontradas até aqui em Alagoas.

Em 1939, um ano após Lampião ser morto na grota do Angico, em Sergipe, um dos processos foi declarado extinto. "Nós demais processos não achamos isso essa extinção, mas talvez tenha havido uma ordem para que todos fossem arquivados, mas não encontramos", diz.

Esse e os outros processos achados fazem parte da pesquisa de Claudemiro, que vai render um livro sobre o cangaço. A obra está em fase final de seleção de imagens para publicação…

Todos também serão digitalizados aos poucos e colocados para acesso público.

Esses documentos são essenciais, porque sobre o cangaço há muita fantasia e folclore. O processo é um documento primário, original. Ele serve para espantar todas as dúvidas.


Juiz Claudemiro no acervo histórico do TJ de Alagoas.

Historiador, ele fez um curso de restauração de documentos antigos e passou a analisar cada um deles. O conhecimento sobre o tema o levou a ser chamado para ajudar na montagem do Museu do STF.

Também foi ele responsável pelo museu no TJ (Tribunal de Justiça) de Alagoas.Em Alagoas, diz, será montado um laboratório de restauração de documentos históricos.


Fonte: Portal UOL

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Pias das Panelas

Um dos cenários mais tristes da saga lampiônica

Texto e fotos Kiko Monteiro

Guiados pelo confrade Manoel Belarmino, No ultimo domingo, 22  de outubro de 2023, eu, junto com o companheiro de expedições Marcelo Rocha, pudemos finalmente conhecer as “Pias das Panelas”. Um pequeno lajedo às margens do Riacho do Quatarvo, antigo território da histórica Fazenda Paus Pretos de Antônio Caixeiro na zona rural de Poço Redondo, Alto Sertão Sergipano.
 
 

Nos anos 30 este local passou a ser um dos muitos coitos de Lampião 
e seus subgrupos naquela região. 
 

 
 
Como bem preveniu o saudoso mestre Alcino Costa, um lugar fúnebre, lúgubre, pois fora palco de tragédias e virou morada eterna de pelo menos 5 almas identificadas. Uma coincidência macabra entre as vítimas que jazem ali é que todas foram mortas pelos seus próprios “parceiros”.
 
 

Esta formação de pedras, embaixo de um velho umbuzeiro, marca a sepultura da cangaceira Lídia. Acusada de adultério, foi morta pelo seu marido, “Zé Baiano” em julho de 1934.
 
Após o veredito de Lampião, Zé deixou-a amarrada naquela mesma árvore durante toda a madrugada. Ao amanhecer, aquela que foi considerada a mais bela das cangaceiras, foi morta a pauladas.
 

 
O delator da traição, o cangaceiro “Coqueiro II”, pensou que teria a gratidão do bando, mas tombou sob a mira do colega “Gato” e por ali mesmo foi enterrado.
 
A história não esquece de Preta de Maria das Virgens. Nativa daquela mesma região que foi assassinada pelo seu namorado, Zé Paulo. Este, após descobrir que engravidara a moça, para não ser obrigado a casar com a pobre sertaneja, aplaca seu tormento com uma pedra, esmagando a sua cabeça e deixando-a ali. Localizada, é enterrada às margens do Riacho.
 
Também em um ponto atualmente impreciso, em 1937, foi morta e sepultada a cangaceira Rosinha, viúva do cangaceiro “Mariano”. Executada pelo seu colega “Pó-Corante” a mando de Lampião, só porque desejava voltar pra casa dos pais… Mas no cangaço, como em qualquer outra organização criminosa, aquilo era considerado uma deserção. Ela sabia demais e assim foi efetuada a queima de arquivo. 
 

 
E a sentença do vaqueiro e coiteiro “Zé dos Paus Pretos”
 
Aquele que em finais de 1937 acreditou ter matado o cangaceiro “Novo Tempo”, depois de encontrá-lo moribundo nas matas ao redor da Fazenda que devia ser rancho seguro dos cabras de Lampião. Mesmo baleado na cabeça “Novo Tempo” conseguiu fugir. Recuperado, relatou a traição do colaborador. Zé foi queimado vivo em uma coivara. Dias depois os vaqueiros da região encontram o corpo já em estado avançado de decomposição e o enterram-no ali mesmo nas proximidades das Pias das Panelas.
 

 
Gratidão pela atenção e companhia deste confrade que é grande conhecedor dos fatos que envolvem o Cangaço em Poço Redondo e em toda aquela região.
 
Manoel Belarmino, Marcelo Rocha e o autor.
 

 
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