terça-feira, 31 de março de 2009

Atendendo à pedidos

A oração da Pedra Cristalina


"Minha Pedra Cristalina que no mar fosse achada, entre o Cálice e a Hóstia consagrada:
Treme a terra, mas não treme Nosso Senhor Jesus Cristo no altar;
Assim como treme os corações dos meus inimigos quando olharem para mim.
Eu te benzo em cruz e não tu a mim, entre o sol e a lua e as estrelas
- As três pessoas da Santíssima Trindade.
Meu Deus! Na travessia avistei meus inimigos.
Meu Deus, o que faço com eles?
Com o manto da Virgem Maria sou coberto;
E com o sangue de meu senhor Jesus Cristo sou valido.
Tens vontade de atirar, porém não atira.
Se me atirar, água pelo cano da espingarda correrá.
Se tiver vontade de me furar a faca, a mão cairá.
Se me amarrar, os nós desatarão
E se me trancar, as portas se abrirão.
Salvo fui, salvo sou, salvo serei.
Com a chave do Sacrário, eu me fecho".

segunda-feira, 30 de março de 2009

Alí jaz...


Cemitério da Quinta dos Lázaros - Salvador - Bahia


Mais um excelente artigo transportado das comunidades para a apreciação dos avessos ao Orkut. O texto e as fotos são das viagens de pesquisa realizadas por Sergio Dantas.

Sabemos do grande número de visitantes aliás de romeiros ao túmulo de Jararaca em Mossoró - RN é ponto turístico, mas, e quanto aos jazigos de outros cabras não menos famosos?

As duas fotos abaixo são do jazigo do mais conhecido daqueles que estão lá: Trata-se do túmulo de Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto). Observem que o jazigo já foi transformado em PERPÉTUO. Corisco foi morto em 25 de maio de 1940 e enterrado no cemitério da atual cidade de Miguel Calmon, sendo exumado 3 dias depois para que lhe cortassem a cabeça (dizem que foi para estudo, mas foi crueldade e desrespeito ao finado, mesmo). Outra foto do jazigo, onde se lê o nome do compadre e a data de 1977, quando os restos mortais foram colocados ali, transportados da primeira sepultura, aquela datada de 1969:

Outros no mesmo cemitério

A primeira foto trata-se das quatro gavetas (cliquem para ampliar) que guardam os restos mortais dos cangaceiros: AZULÃO, MARIA DORA, CANJICA E ZABELÊ, mortos em 1933 no sítio Lagoa do Lino, atual município de Serrolândia - BA.

As cabeças desse pessoal ficaram expostas em Salvador até 1969, quando foram retiradas e levadas para a Quinta dos Lázaros, onde permanecem até hoje, sem que ninguém das famílias de cada um reivindicasse os restos mortais. Assim, ainda hoje, estão como indigentes, em gavetas que os próprios funcionários do cemitério têm dificuldade em localizar quando alguém deseja visitar.

Detalhes que podem responder maiores dúvidas

* Corisco morre em maio de 1940 e seu corpo completo é enterrado em Miguel Calmon/BA.

* Após três dias é desenterrado e sua cabeça é levado para o Nina Rodrigues e seu corpo sem cabeça continua no cemitério de Miguel Calmon até 1969.

* Após ações judiciais na década de 60 a cabeça de corisco sai do Nina e vai ser enterrado junto com os restos mortais que estavam em Miguel Calmon no cemitério da quinta dos lázaros.

* E Esta exumação é para troca de cemitério? cabeça e tronco juntos ou separados? Não... foi devido à compra de um jazigo perpétuo que todo o conjunto de restos mortais foi transferido para o túmulo onde se encontra hoje.

*Assim que se entra no cemitério, cerca de 300 metros à esquerda, está o túmulo de Corisco.

* A turma que Zé Rufino deu cabo... Azulão e Cia: Estão somente as cabeças, que estavam igualmente expostas no Estácio de Lima. Os corpos foram enterrados próximo ao local do combate que ainda hoje é identificado com uma cruz.



sexta-feira, 13 de março de 2009

Estética do cangaço em livro de luxo

Historiador Frederico Pernambuco de Mello assina contrato para lançar obra pioneira pela editora Escrituras.

Por um quarto de século, o historiador Frederico Pernambucano de Mello tem investigado o fenômeno do cangaço. O exaustivo trabalho pode ser encontrado em vários artigos acadêmicos e nos livros Guerreiros do sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil (1985) e Quem foi Lampião (1993).
Mello possui acervo com mais de 160 peças de uso pessoal dos cangaceiros, como óculos, algemas e luvas de couro. Desde 1997, no entanto, o pesquisador deixou de lado o aspecto estritamente jurídico-sociológico para se dedicar com esmero às implicações estéticas geradas por esse universo. Este pioneiro estudo em breve estará acessível ao público leitor através do livro de arte "Estrelas de couro: A estética do Cangaço", que será lançado sob o selo da editora Escrituras.

A parceria entre autor e editora foi sacramentada com assinatura de contrato ontem quinta-feira, 12, em evento aberto ao público no auditório do Museu do Estado de Pernambuco. Por telefone, o editor Raimundo Gadelha explicou ao Diario de Pernambuco que a formalidade é consequência da importância do projeto. "Esta será a mais importante obra sobre o tema", disse Gadelha, que adiantou alguns detalhes técnicos: 5 mil cópias; sobrecapa e miolo com 240 páginas em papel couché; e capa dura com aplicações de verniz que imitam a textura do couro. Gadelha diz que o preço final depende das oscilações da economia.

"A ideia é não ultrapassar os R$ 100, mas para isso precisamos de apoio de instituições que façam aquisição prévia de exemplares". Na mesma ocasião, Frederico Pernambucano concedeu a palestra Uma estética brasileira relevante: cangaço. Nela, o historiador defende a ideia de que os cangaceiros tinham preocupação estética ainda maior do que o homem urbano contemporâneo.
"Certa vez, Lampião passou duas semanas costurando um bornal em uma máquina Singer. Ele mesmo desenhava no papel o modelo para as flores e estrelas", contou.
Uma vez pronto, o livro materializará uma pesquisa que procurou nos detalhes as pistas para decifrar o comportamento do que Frederico Pernambucano avalia como a última expressão do irredentismo brasileiro.  
"Trata-se do mito primordial de que aqui é possível viver sem lei nem rei, traduzido pragmaticamente pelos índios, depois pelos negros dos quilombos, e depois pelo cangaço, sendo este último não restrito a grupos étnicos".
O pesquisador, que se considera um "sociólogo atropelado pelo esteta", afirma que o portentoso volume poderá ser objeto de cabeceira para dramaturgos, estilistas, designers e demais profissionais da imagem. "A meia-lua e a estrela que formam o chapéu de couro até hoje é a marca que representa o Nordeste. E isso, gostemos ou não, quem nos deu foram os cangaceiros", afirma Mello. As inúmeras e detalhadas referências, informações e reflexões de Mello certamente são um forte atrativo para qualquer interessado nesta rica e fascinante iconografia.

No entanto, o carro-chefe da publicação serão as ilustrações, retiradas de múltiplas fontes, entre elas, de seu acervo particular, que acumula cerca de 160 itens entre roupas, armas, bornais (bolsas) e diferentes objetos que compunham a indumentária típica do cangaceiro. "O traje do cangaceiro não se confunde com o de qualquer grupo social da história brasileira. No meio internacional, é algo que só se compara com os cavaleiros medievais e os samurais japoneses", garante o autor.

Desde 1984, quando começou a se debruçar sobre o cangaço, o componente estético havia lhe chamado a atenção. "Me deparei com objetos com apelo estético requintado demais para pertencer a um grupo de bandidos. Então verifiquei que esse lado criminal, que era o único conhecido, precisava ser combinado com o lado estético, então oculto. Entendi então que o cangaço é muito mais profundo do que uma mera expressão da criminalidade", conta Mello, que agora sonha com seu próximo projeto: Acriação do Museu do Cangaço do Nordeste.

Fonte: André Dib
andrehdib@gmail.com
Foto: Helder Tavares/DP/D.A. Press Diário de Pernambuco

quinta-feira, 12 de março de 2009

A vida após o cangaço. 1

 "Lampião tornou-se um herói aos olhos dos pobres e miseráveis"  
Ex Soldado de Volante "Marancó"


Oresto integrou uma das volantes (unidades que caçavam cangaceiros) de José Osório de Farias, conhecido como Zé Rufino, o homem que mais matou cangaceiros no Nordeste e também o mais respeitado por Lampião.

Além da guerra na caatinga, comendo apenas raízes, ele afirma que a sua maior batalha não foi o cangaço, mas sim em São Paulo, em 1944, quando trabalhou na construção da Via Anchieta. Também acompanhou o desenvolvimento político de Cubatão. Viúvo, atualmente mora na Cota 400.

Como foi que o senhor conheceu o rei do sertão?
Eu conheci Lampião com 12 anos. Ele era de estatura média, moreno, cabelos negros e lisos, muito franzino e de pouca conversa. Começou a lutar para vingar a morte do pai, assassinado pelo fazendeiro Zé Saturnino, por questões de brigas por terras. Era tropeiro e o mais velho de seis irmãos. Deixou José Ferreira para tomar conta de duas irmãs e levou os outros para vingar a morte do pai. Luís Pedro, primo de Lampião também se integrou ao grupo para matar os macacos (como eram chamados os soldados). Ele aderiu ao bando de Sinhô Pereira, em 1920, aos 22 anos. Já Maria Bonita morava na fazenda Santa Brigida, povoado pertinho da onde eu morava, em Marancó. Ela tinha 17 anos quando Lampião passou pelo povoado e foi embora com ele. Ao contrário de Lampião, era muito bonita, simpática e falante. Com 15 anos se casou com o sapateiro Zé de Neném. O rei do sertão, cabra macho, escreveu explicando que Maria Bonita estava abandonando o marido para acompanhá-lo.

Apesar de ter aderido ao cangaço por uma motivação pessoal, Lampião acabou sendo reverenciado como salvador da pátria pelos nordestinos. Como isso ocorreu?
Lampião era o defensor do povo. Tornou-se um herói aos olhos dos pobres e miseráveis porque viam nele um sonho de liberdade e justiça. Nas execuções de espiões e mortes de inimigos, ele nunca matou uma pessoa indefesa, não cometia ato de covardia e de maldade. Lampião defendia o povo dos coronéis. Revoltado com os volantes (caçadores de cangaceiros) que entravam na caatinga e metiam o cacete no povo para descobrir os cangaceiros, matava muitos policiais. Além disso, os policiais também entravam nas fazendas e saíam matando os bois para alimentação e pagavam apenas 70 mi réis, que não valia nem a cabeça do boi. Lampião era contra todo o tipo de repressão.

Como Lampião foi morto?
Ele morreu aos 41 anos, em 1938, encurralado por uma volante, comandada pelo tenente João Bezerra, no interior de Sergipe, depois de ser traído por Joca Bernardes, um coiteiro (protetor) que denunciou o seu esconderijo. Ele morreu com Maria Bonita e mais nove cangaceiros, sem cumprir o seu objetivo que era matar os assassinos de seu pai, a quem perseguiu por mais de 20 anos.

Na força policial baiana, o senhor cumpriu oito anos e três meses sob o comando de Zé Rufino, onde participou de diversas batalhas. A principal delas foi a captura e morte de Corisco (o último dos cangaceiros e mão direita de Lampião), em 1940. Como foi?
Corisco cortou o cabelo e trocou de roupa para não ser reconhecido, fugindo com Dadá e outro casal de cangaceiros. Foram perseguidos e, quando Corisco foi pular uma cerca, levou uma rajada na barriga. Ele morreu quando era transportado no caminhão. Não deu um único grito. Nunca vi um homem como aquele. Zé Rufino ainda disse a Corisco que ele deveria ter se entregado e a resposta veio rápida: estou muito satisfeito desse jeito.

Apesar de ter participado da repressão dos bandoleiros, dá a entender que é admirador de Lampião. Reconhece que seus colegas de farda batiam muito na população civil que, freqüentemente, ficava no meio do fogo cruzado entre cangaceiros e policiais? Qual a sua análise sobre o assunto?
Fui militar, era pago para executar, mas nunca bati nem torturei ninguém. Sou admirador de Lampião, um homem de coragem que saiu guerreando por todo o Nordeste. Seus feitos acabaram se transformando em lendas. Suas vitórias eram contadas e comemoradas com rezas por ele e por seus companheiros de cangaço.

Como o senhor chegou a Cubatão?
Eu tinha 26 anos, foi em janeiro de 1944, praticamente 'desviado' da guerra da Alemanha. A mulher do coronel, que gostava muito de mim e não queria que eu morresse na guerra, me mandou para cá. Demorei 42 dias para chegar aqui. Fiquei oito dias em Juazeiro, fui até Aracaju de jardineira (barcos de madeira com motor na frente), depois peguei o vapor (navio), depois fui para Pirapora (Minas Gerais) e peguei o trem direto para cá. Vim trabalhar na construção da Via Anchieta, pelo Departamento de Estrada de Rodagem (DER).

Como foi construir a Via Anchieta?
Essa serra era tão fria que a gente secava roupa na lenha. Só Deus sabe o que sofremos para construir a rodovia, que foi inaugurada em 1947. Eu morava em uma casa da DER e tinha uma pedreira na Cota 500. Eu fazia ferragens, meio fio, cortava pedras na pedreira. Depois fui trabalhar na Refinaria, como vigia. Aí, o Jânio Quadros me mandou novamente para trabalhar no DER, onde me aposentei em 1980. Lembro com carinho do seu Sebastião Ribeiro, que trabalhava comigo, um grande homem e amigo que ajudou muito.

O senhor acompanhou o desenvolvimento de Cubatão? Quais os pontos positivos e negativos?
Antigamente não tinha nada aqui. Só a Light e o DER, depois vieram a Santista de Papel e o Curtume (fábrica de couro). O melhor prefeito que Cubatão já teve foi o Armando Cunha, que trouxe a Petrobras ao município. Ele ajudou no desenvolvimento da cidade com os impostos das empresas e também construiu o 1º Ginásio (escola). Além disso, a sua esposa, dona Helena, era uma mulher maravilhosa. Ajudava muito o povo. Ela nunca me negou nada. Já Abel Tenório derrubou todas as casas do Centro para a construção das ruas e dos lotes. O 2º melhor prefeito foi Frederico Campos. Depois, todo mundo quis ser prefeito de Cubatão, por ser uma cidade de grande arrecadação.

Como está Cubatão hoje?
Em vista de antigamente, está muito boa, mas poderia estar muito melhor com tanto dinheiro que tem.

Como o senhor vive atualmente?
Hoje, sou funcionário aposentado do DER e recebo R$ 563,85 mensais. O meu tempo de militar não foi contado na aposentadoria. Tenho quatro filhos, mas só duas vivem comigo aqui, nesta casa, aqui na Cota 400, o que me restou do DER. Vou fazer 89 anos e vivo muito feliz com as minhas lembranças.


Entrevista Publicada em: 10/02/2006 na edição 96 do Jornal Metrópole

Créditos para Ronnyeri, pesquisador e membro das comunidades.

Deslumbre de um curioso

Meu primeiro contato com especialistas e personagens



No dia 25 de Julho de 2001, acontecia em Aracaju/SE a "1ª Mostra do Cangaço" ocorrida no Shopping Riomar, onde estava sendo lançado "De Virgolino à Lampião" o mais novo livro de Antonio Amaury e Vera Ferreira.

Foi uma ótima oportunidade de conhecer pessoalmente os principais descendentes de Lampião e Maria Bonita, e também um dos maiores pesquisadores do assunto.

Primeiro conheci Vera, conversamos bastante, sua mãe Dona Expedita só estaria presente à tarde e o Amaury provavelmente só depois do dia 28, após a missa do Cangaço.

Pena, ficaria para uma próxima.

Então no dia 8 de Agosto, retornei à capital e de passagem pelo Shopping, para minha surpresa, soube que a mostra ainda estava por lá.

Fui rever Vera e tive a grata surpresa de conhecer Amaury.

 
Conversei um pouco... ou melhor... "enchi o saco" do mestre com aquelas questões primárias. Depois recorri novamente à Vera, abracei Dona Expedita..



... E um tanto frustrado, lamentei, em alto e bom som, ter que ir embora sem conhecer "Sila"... (foto 4) que estava pra chegar... , mas eu tinha hora pra retornar.

Foi quando uma elegante senhora tocou em meu ombro e perguntou: - Se por acaso eu não estava a vendo alí.

Eitcha!!! me senti o próprio Amaury diante de uma personagem do cangaço, viva. Depois de um abraço beijo e foto, sentamos por um bom pedaço.

Dona Sila, segundo seus testemunhos, me narrou desde à noite até os últimos instantes do massacre. Ela se emocionava a cada passagem.

Me falou sobre a fuga junto com Sereno e a chegada em São Paulo. Falou da família e até de um novo e jovem amor, além dos inúmeros compromissos e viagens que realizava pelo país.

Nesta mesma ocasião ela estava lançando o livro "Angicos, Eu sobrevivi".

 
Ilda Ribeiro de Souza, a ex-cangaceira Sila de Zé Sereno, faleceu em São Paulo no dia 15 de agosto de 2005, era natural de Poço Redondo/SE, tinha 80 anos.

sábado, 7 de março de 2009

Frederico Pernambucano em debate

“Uma Estética brasileira relevante: Cangaço”

A Estética do Cangaço em discussão no Museu do Estado. Palestra, ministrada pelo historiador Frederico Pernambuco de Mello, no próximo dia 12, aborda lado pouco conhecido dos cangaceiros: o da vaidade na hora de vestir-se.

Uma outra face do cangaço, que até algum tempo atrás era pouco valorizada pela Historiografia oficial, será exposta e discutida pelo pesquisador Frederico Pernambucano de Melo, no Museu do Estado de Pernambuco, na próxima quinta-feira (12), às 19h.
 

Sob o tema “Uma Estética brasileira relevante: Cangaço”, a palestra irá revisitar um dos movimentos mais característicos do Nordeste com um olhar diferente do usual, observando a riqueza e o cuidado estético de seus integrantes, entre eles o lendário Lampião. Na ocasião, também será assinado o contrato de edição do livro “Estrelas de couro: a estética do cangaço”, que deverá ser lançado daqui a seis meses.

A temática, tanto da palestra quanto do livro, vem sendo trabalhada por Frederico Pernambucano de Mello há mais de 10 anos, quando, convidado a integrar a curadoria especial da Fundação Bienal de São Paulo, resolveu pesquisar a cultura material do cangaço. Em 2000, fez do tema um dos módulos de destaque da mostra do Redescobrimento – Brasil 500 anos, realizada em São Paulo. 

Em seu trabalho, o historiador faz uma leitura de peças e objetos utilizados pelos cangaceiros, buscando compreender seus valores simbólicos que até hoje se fazem presentes no imaginário nordestino. Ele cita como exemplo o signo-de-salomão, a cruz-de-malta, a flor-de-lis, entre outros objetos que agregavam ao bando um sentido tanto ornamental quanto místico.
 

Diferentemente da grande maioria dos trabalhos sobre o cangaço, que costumam mostrar apenas seu lado violento, de banditismo social, Frederico Pernambucano aponta para a convivência pacífica entre o cangaceiro sangrento e o vaidoso num mesmo indivíduo. “Lampião matava muitas pessoas, mas, ao chegar em casa, ia costurar e bordar suas roupas para o dia seguinte. Já foi encontrado um chapéu com quase 70 peças de ouro encrustadas. 

O cangaço é único, você não vê um fenômeno igual a esse em nenhum lugar do mundo”, afirmou o historiador.

SERVIÇO:
Palestra “Estética brasileira relevante: a do cangaço”  

Local: Auditório do Museu do Estado, Av. Rui Barbosa, 960, Graças  
Horário: 19h  
Informações: (81) 3427 - 9322
Entrada Franca

Créditos: Jal Gomes - Moderador da comunidade Cangaço, Discussão Técnica.

Dia Internacional da Mulher... Cangaceira

No Dia Internacional da Mulher, Maria Bonita, a companheira de Lampião, faria 99 anos, caso estivesse viva.

Por: Antonio Vicelmo, Repórter

Violência, sexualidade, trabalho, política, saúde e etnia. Estes serão os eixos temáticos a serem desenvolvidos amanhã, Dia Internacional da Mulher, pelo Conselho Municipal da Mulher Cratense, dentro da “Primeira Conferência de Formação em Gênero e Feminismo”, que será realizada no Parque de Exposições do Crato. A data também marca o centenário de nascimento de Maria Bonita, a companheira de Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião.

No Crato, a população feminina deverá marcar presença na programação que oferece uma passeata contra as demissões e reduções dos salários. Outro assunto a ser levantado pelo Conselho é uma campanha em favor da doação de medula. A plenária final será realizada no bar da “Casa de Artes Olhar”, na Praça da Sé, com uma atividade cultural.


Além destes temas, será prestada homenagem à cangaceira Maria Bonita, na passagem do seu centenário de nascimento. Ela nasceu no dia 8 de março de 1909. “Vamos falar da importância de uma mulher que rompeu todas as barreiras de preconceitos e entrou para a história do País”, justifica a professora Verônica Neuma Carvalho, coordenadora do movimento feminino.

Maria Bonita foi responsável por introduzir vários costumes no meio dos homens do Cangaço, já que a presença de mulheres no movimento era proibida até a entrada dela no grupo, segundo o escritor Magérbio Lucena, co autor do livro “Lampião e o Estado Maior do Cangaço”. “Ela foi um dos maiores expoentes da cultura nordestina”, atesta o pesquisador.

A cangaceira está sendo também homenageada pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb), no I Seminário Internacional sobre o Centenário de Maria Bonita: a rainha do cangaço, promovido pela instituição, em parceria com a Prefeitura de Paulo Afonso e a Secretaria Municipal de Turismo.


O evento termina amanhã no auditório do Departamento de Educação (DEDC), do Campus VIII da Uneb, e vai contar a história de vida de quem popularmente foi conhecida como Maria Bonita, a companheira de Lampião. Uma das atrações é a presença dos ex-cangaceiros Teófilo Pires e Aristéia Soares, além de Neli Conceição e João Souto, filhos dos cangaceiros Moreno e Durvinha.

“O seminário integra a comemoração do centenário de Maria Bonita e, para tanto, queremos estudar o papel da mulher no Cangaço, a partir do que foi a sua vida de liderança e companheirismo, ao lado do cangaceiro Lampião”, destaca Juracy Marques, coordenador da iniciativa.Para Juracy, não por acaso, Maria Bonita nasceu no Dia Internacional da Mulher, festejado em 8 de março. “Vamos encerrar o evento comemorando o dia em que o povo sertanejo, em especial, comemora os 100 anos dela”, complementa.

Maria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, foi a primeira mulher a aparecer no cenário do Cangaço, revolucionando a sua época (século XX) e introduzindo vários costumes no meio de homens guerreiros que até então não permitiam mulheres entre os seus pares. Nascida em 8 de março de 1911, em uma fazenda na Malhada da Caiçara, na Bahia, casou-se aos 15 anos com um sapateiro, com quem vivia brigando.

Durante uma das separações de seu marido, Maria Bonita conheceu Lampião e apaixonou-se. O rei do Cangaço, nesta época, tinha quase 33 anos e Maria, pouco mais de 20.


Musa e rainha

Maria Bonita entrou para o bando ao final de 1930 e tornou-se musa e rainha do Cangaço, ocupando-se, entre outras coisas, de costurar a indumentária dos cangaceiros. Depois dela, os outros do grupo também trouxeram suas companheiras para fazerem parte do bando. Em alguns momentos, a intervenção de Maria Bonita impediu vários atos de crueldade de Lampião.

Os historiadores afirmam que a presença das mulheres no Cangaço humanizou uma das mais violentas fases da história nordestina, com prática, inclusive, de estupros. Maria Bonita era a musa e a rainha do Cangaço e serviu de referência para um grupo de mulheres que passaram a fazer parte do bando, modificando a forma de atuação junto aos grupos considerados inimigos. Dizem que elas participavam de todas as atividades, inclusive dos combates.

Fique por dentro

Maria Bonita conviveu durante oito anos com Lampião e teve uma filha, Expedita. Como seguidora do bando, Maria foi ferida algumas vezes, em 28 de julho de 1938, na Fazenda Angicos, Estado de Sergipe, durante um ataque feito pela Polícia ao bando. Ali, morreu o casal. Eles foram brutalmente assassinados, transformando suas vidas em um marco da história nordestina. Além dela, outras mulheres também se destacaram no Cangaço: Dadá, esposa de Corisco; Lídia, mulher de Zé Baiano; e outra Maria, mulher de Pancada...

Fonte: Diário do Nordeste
Sugestão da matéria: Jailson Gomes / Jaboatão dos Guararapes / PE 

sexta-feira, 6 de março de 2009

Herdeiros da Ingazeira


A Casa "amaldiçoada" de Lampião

"Virgolino hoje tanta gente lembra seu destino / Desde a Ingazeira donde foi menino"...
(Rei do Sertão - Xangai)

O Sítio "Passagem das Pedras", situado a 45 km do atual município de Serra Talhada/PE, local onde nasceu "Lampião", terras que outrora foram dos Ferreiras (pais do famoso cangaceiro), foram compradas, posteriormente, pelo casal José e Agda Barbosa Nogueira.

Esse casal não tinha filhos. Foram herdeiros os filhos adotivos, seus sobrinhos: profª Maria José e Pedro Barbosa Nogueira. Encontrando "Demolida" a casa dos Ferreiras, no Sítio Passagem das Pedras, a professora/escritora Aglae Oliveira, indagou da atual proprietária:- "Por que a atual proprietária demoliu a residência dos Ferreiras (pais de Lampião) ? Tinha tanto valor para a história do cangaço no Nordeste ! Ouviu a escritora, o seguinte:
" Quando José Barbosa Nogueira comprou as terras, passou a residir na casa onde nasceu e viveu Virgulino ( antes de tornar-se Lampião) com sua família. José foi mordido por uma Cobra Cascavel... José começou a passar mal, e faleceu, após 12 dias de grandes sofrimentos. Era um bom homem, excelente esposo e estimado na Ribeira. A viúva, Agda, ficou inconsolável e tomou a deliberação de demolir as casas, onde, nos idos de 1898, nasceu Virgolino, e a D. Jacosa, avó do futuro cangaceiro.
A viúva admitiu que a morte do marido se deu porque morava na residência onde vivera um bandido. Para ela, a casa dava "azar". Hoje, o local é muito visitado por escritores, jornalistas, estudiosos da história do banditismo nos sertões do Nordeste.
Hoje, o sitio, pertence ao Sr. Camilo Nogueira. (foto acima). No local da antiga casa de Lampião existem apenas escombros (pedaços de tijolo batido; telhas..), além de plantas típicas do sertão nordestino tipo xique-xique, faveleiros, quipás, e, frondosos e Mandacarus.

Nota: Estamos nos referindo ao verdadeiro berço de Virgolino, pois a casa de D. Jacosa reconstruída pela Fundação Cabras de Lampião que fica próxima é onde ele vai ser criado depois de alguns anos.

Texto de Ivanildo Silveira.

"Num perda"!

Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita

 
 
Nosso amigo e colaborador Rubinho, que é um dos palestrantes e organizadores do evento, reforça o convite para todos os leitores do Blog Lampião Aceso!

terça-feira, 3 de março de 2009

Cidade baiana celebra o centenário de Maria Bonita

Paulo Afonso (BA) mostra a participação das mulheres no Cangaço.

Ela nasceu em 8 de março de 1911 e eventos marcam série comemorativa.

A cidade de Paulo Afonso (BA) inicia nesta Terça-feira (3) uma série de eventos para comemorar o centenário de nascimento de Maria Gomes de Olveira, a Maria Bonita, que nasceu em 8 de março de 1911. A primeira programação de eventos termina neste domingo (8).

O objetivo da Diretoria de Cultura da cidade baiana é falar da importância da mulher no Cangaço, já que Maria Bonita nasceu no dia Internacional da Mulher e acompanhou o movimento ao lado de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.

A ex-cangaceira Aristeia Soares de Lima, o ex-soldado da volante Teófilo Pires, além de Neli Conceição e João Souto, filhos do casal de cangaceiros Moreno e Durvinha estarão presentes nos eventos. Aristeia é uma das últimas remanescentes da luta do cangaço e vive há quatro anos na cidade de Delmiro Gouveia, em Alagoas. Aristeia Soares de Lima, 96 anos, disse que não tem saudades do tempo em que viveu na caatinga. Ela disse também que chegou a passar fome depois do fim do cangaço, em 1940.

Jeito feminino no cangaço
Segundo o historiador João de Sousa Lima, Maria Bonita foi responsável por introduzir vários costumes no meios dos homens do cangaço, já que a presença de mulheres no movimento era proibida até a entrada dela no grupo.

A série de eventos pelo centenário da Rainha do Cangaço é uma iniciativa da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e da Secretaria de Turismo de Paulo Afonso. A atividade de abertura é o I Seminário sobre o nascimento de Maria Bonita. A segunda edição do evento será realizada em 2010 e o terceiro seminário será feito em 2011.

"Queremos valorizar nossas raízes culturais e levar ao conhecimento público a importância de Paulo Afonso como um dos principais cenários relacionados com a história do cangaço. Além disso, vamos falar da importância de uma mulher que rompeu todas as barreiras de preconceito e entrar para história do país", disse João de Sousa, que também é diretor de cultura de Paulo Afonso.

Turismo
Os endereços que possuem referência ao cangaço em Paulo Afonso vão se transformar em pontos turísticos para alunos e pesquisadores da região e do país. Para isso foi criado o "Roteiro do Cangaço". Um destes pontos é a casa onde viveu Maria Bonita, no povoado de Malhada da Caiçara.

O imóvel foi restaurado e abriga um acervo de fotografias de Lampião e Maria Bonita, além de objetos que foram usados pela família dela.