sábado, 30 de outubro de 2010

Prazer em conhecer

Lampião Aceso entrevistou o pesquisador e escritor Luiz Ruben.

Encerrando a série "Cruzando punhais" abordando o trabalho e um pouco da vida de alguns dos confrades que estiveram abrilhantando o Cariri Cangaço 2010.

Fruto de uma conversa rápida e objetiva apresentamos o perfil de mais um pesquisador da nova geração do cangaço.

Luiz Ruben, 55 anos. É economista com pós graduação em turismo e desenvolvimento sustentável. Natural de Jaboatão,PE, mora a 22 anos em Paulo Afonso,BA. Quem o conhece já sabe de outras paixões como Ferrovias, poesia... Mas o assunto em pauta é o cangaço lampiônico.

Foi a partir de uma conversa...

Certo dia do ano de 2001 teve a grata surpresa de conhecer o Dr. Antonio Amaury em frente a sua residência. Amigos em comum que o acompanhavam lhe chamaram e proporcionaram uma sessão recheada de tantos relatos em que ele se apaixona pelo Cangaço.

As narrativas do Dr. Amaury aguçam minha curiosidade e eu começo a fazer pesquisas. Alem da Bahia percorri os três estados fronteiriços Sergipe, Alagoas e Pernambuco em busca de informações especialmente da imprensa local. Folheei 150 mil páginas de jornais, tenho fotografadas mais de cinco mil fotos documentais e imprimi pelo menos umas seis mil. Modéstia a parte tenho hoje um grande acervo de material jornalístico”.  
Então apresente suas crias! 
- São cinco livros publicados. O primeiro em 2004 foi em parceria com Antonio Amaury intitulado Lampião e a Maria Fumaça; depois escrevi Lampião e os governadores 2005; Lampião e os interventores 2007; Lampião e as cabeças cortadas nova parceria com Amaury em 2008 e Noticias sobre a morte de Lampião lançado este ano.


  





Filho preferido?
- Os três livros que escrevi sozinho e mais um "quarto" que comentarei posteriormente foram gerados pelo resultado de um único período de estudos. Então de certa forma são “quadrigêmeos” com campos distintos, mas não posso eleger um, condiciono o mesmo apreço por todos eles.

De outro autor? 
- Assim morreu Lampião de Antonio Amaury por ser um livro bem elaborado exemplo de pesquisa minuciosa, vale à pena ler e utilizar como fonte.

Qual é o primeiro título recomendado para um calouro? 
- Lampião, de Ranulfo Prata.

Com quantos personagens desta história você teve contato? 
- Personagens: minha pesquisa é especificamente documental com base nos jornais e bibliotecas até por não ter alcançado os grandes personagens remanescentes desta história. Conheci pelo menos quatro ex cangaceiros e conversei com cerca de quarenta pessoas que testemunharam de perto toda aquela época quase todos da região de Paulo Afonso.

Qual destes contatos foi, ou foram, os mais difíceis? 
- Nenhuma dificuldade, mas presenciei uma saia justa. Foi durante uma visita para colher depoimentos do Sr Abel Lima filho de João Lima um agricultor que foi espancado até a morte pela policia no Povoado Juá em Paulo Afonso. Um dos supostos envolvidos nesse crime era Zeca Bolachinha que foi quem acusou Sr João pára as forças como sendo coiteiro. João Lima nunca colaborou com cangaceiros e foi punido com castigo e morte. E quem estava me acompanhando? Justamente um filho de Zeca Bolachinha que após ouvir a mágoa do Sr Abel, levanta-se exaltado e diz que não aceitava aquela acusação contra a memória do seu pai e logo ele que tinha feito confissão em leito de morte desmentindo toda aquela história de que tenha causado a morte de um conhecido. Eu particularmente não duvidei da palavra dele...

Por quê não duvida? 
- Porque compactuo com a crença do povo sertanejo aquela de que o sujeito não mente na ultima hora.

Qual o contato que não foi possível e lhe deixou de certo modo frustrado? 
- Contato que não foi possível... Não, eu nunca programei nenhum contato. Fiz justamente o contrário: Talvez agraciado pela ironia percorrendo primeiramente a vizinhança de Paulo Afonso como: Glória, Santa Brígida etc. Ia buscando pessoas que tivessem tido contato com Lampião ou qualquer cangaceiro e registrando estas histórias. Com base em informações de vizinhos eu procurava essas pessoas mais idosas... e engraçado é que eu pensava no risco de uma recusa quem sabe eles poderiam achar que eu fosse um "funcionário do INSS" fiscalizando se eles estavam recebendo a aposentadoria. (Risos). Bom, minha emoção é que nestas visitas eu encontrei pessoas envolvidas diretamente com os fatos que iam sendo pesquisados. Um exemplo curioso foi ter encontrado João Maria do Olho Dágua lá perto de Sergipe na expectativa de colher um vasto depoimento... Ele nada nos contou.

Com quem gostaria de ter conversado?
- Com Sinhô Pereira e João Bezerra.

Qual é o seu capitulo preferido?
- Com base nos documentos que tive acesso especificamente os processos tenho atenção especial à todos os capítulos que findaram com o corte de cabeças. São fatos impressionantes que precisou de um livro inteiramente dedicado a este. Mas destaco o combate ocorrido na Lagoa do Lino porque houve uma excelente cobertura da imprensa da época. Acho que são poucos os autores que contestam o que foi escrito na aludida matéria.

Um cangaceiro (a)?
- O próprio Lampião.

Um volante?
- O algoz João Bezerra.

Um coadjuvante?
-Aquele personagem indispensável no final da vida de Lampião que foi o Pedro de Cândido.

Uma personagem secundária? Queria ter bom papel, mas não passou de figurante.
- Quem além de não contribuir atrapalhou e confundiu os pesquisadores com certeza foi Volta Seca. Mentiu bastante, atribuiu a sua pessoa qualidades e feitos que não foram seus. Em segundo vem também o Labareda com seus exageros, mas o Volta Seca foi imbatível nos caprichos e blefes.

Geralmente todo pesquisador é colecionador qual é o foco de sua coleção?
- Sou um consumidor do artesanato do cangaço em cerâmica. Amo os bonecos de Vitalino e genéricos. Recentemente aconteceu um fato engraçado, pois conheci Severino Vitalino lá no alto do Moura em Caruaru e acabei dando uma instrução involuntária ao perguntar por que eles confeccionavam os bonecos de Lampião cego do olho esquerdo? Ele confessou que não sabia, mas que a partir daquele instante eles passariam a cegar o olho direito!

Entre as peças tem alguma relíquia?
- Tenho algumas: Posso citar um chicote que pertenceu ao cangaceiro Arvoredo, cartuchos, as cascas da munição encontrada após o combate na Aroeira que foi presente do Dr. Amaury. Tenho também uma peça de couro, um peitoril que pertenceu a Corisco.

Nós que gostaríamos de ver um filme que retratasse um cangaço autêntico, fiel aos fatos, sem licença poética, erro primário enfim sem exagero da ficção lamentamos a eterna necessidade de se ter finalmente uma produção digna da saga, de preferência um épico ou uma trilogia, enquanto isto não foi possível qual a película mais lhe agradou?
- Lampião o rei do cangaço e o Baile Perfumado são filmes que me agradaram.


Eleja a pérola mais absurda que já leu sobre Lampião?
- Lampião, zagueiro de time de futebol disputando amistosos no Raso da Catarina é impossível de tragar...

Diante de tantas polêmicas surgidas posteriormente a tragédia em Angico alguma chegou a fazer sentido, levando-o a dar atenção especial ex.: “Ezequiel não morreu e reaparece anos mais tarde”, “João Peitudo, filho de Lampião”, “O Lampião de Buritis” e “a paternidade de Ananias"?
- Ezequiel? Eu jamais poderia concordar com essa possibilidade porque eu apresento a foto do crânio de Ezequiel, pois o corpo foi localizado dias depois e levado para salvador pela policia do estado.

E Lampião: morreu baleado ou envenenado? 
- Baleado! Veneno foi a grande invenção de Zé Sereno. Empolgado com uma câmera de cinema e de repente se torna o senhor da vida e da morte de Lampião, mas não passa de prosa sem prova por que nenhum outro sobrevivente de angico concordou com o companheiro? A imprensa até mostrou uma cápsula de veneno, no entanto com o conteúdo intacto.

...Que mais tarde descobriu-se por ex comandados que seria ingerido por ele caso fosse apanhado vivo.  


Não precisa detalhar, mas em que assunto ou personagem está trabalhando ou qual gostaria de estudar para a publicação desta pesquisa. Enfim qual a próxima novidade que teremos em nossas estantes?
- “Lampião conquista a Bahia” que deve ser lançado ano que vem! Desta vez estou dependente de uma outra editora já que os anteriores foram produzidos por nossa gráfica. O livro já está no prelo e tem 418 páginas o que exigiu uma impressão mais cuidadosa, condição técnica que não suprimos no momento.

 Luiz e um amigo em comum o documentarista Gilmar Teixeira.

Um comentário:

Anônimo disse...

Luiz Ruben, um guardião das nossas histórias, parabéns pelos trabalhos e, em especial pela memória da nossa estrada de ferro, um verdadeiro patrimônio nacional, pela qual sou apaixonado também.

Aderbal Nogueira