terça-feira, 12 de abril de 2022

O último de um clã

Lampião e a faca jardineira; entrevista com Simeão Pereira

 

No começo do ano de 1926 Lampião foi convidado pelo Dr. Floro Bartolomeu para se incorporar ao batalhão patriótico de Juazeiro do Norte Ceará. No dia 3 de Março de 1926, Lampião entra na cidade de Jardim já no estado do Ceará. Parece que Lampião premeditou passar na oficina de José Pereira grande cuteleiro cearense. Segundo o escritor e pesquisador jardinense José Márcio da Silva, ainda na juventude Virgulino junto com seu pai, trabalharam na cidade de Jardim-CE transportando mercadorias entre os Estados de Ceará e Pernambuco. 

Neste tempo os Ferreiras tinha uma Tropa de burros e eram almocreves. Foi por este motivo, que Lampião conheceu de perto estas famosas facas, que ali mesmo no comércio era usadas para cortar fumo de rolo, descascar laranja, cortar corda de Carua, cortar couro de animais e etc:, mas o papel de suma importância dessa faca era nas famosas brigas de peixeiras. Segundo o seu Simeão Pereira Filho de José Pereira o famoso cuteleiro de jardim, quando acontecia as brigas na feira de jardim, os cabras riscavam a faca no chão dizendo a seguinte frase "Aqui é língua de peba de Zé Pereira". Se referindo a faca. 

Depois do puxado de faca o desmantelo era feio. Seu Simeão Pereira já nos falou ao contrário, em uma entrevista acontecida em Janeiro deste ano (2021) o S. Simeão disse que achava bonito o duelo dos cabras na feira que acontecia com naturalidade. Segundo ele os cabras morriam mas não corriam da briga, e continuando o raciocínio do seu Simeão, ele disse que onde a jardineira penetrava não jorrava sangue de tão venenosa que as facas eram. No dia 3 de Março de 1926, Lampião entrou na cidade de Jardim sentido o caminho para Juazeiro. Ele passou pela manhã e foi direto para oficina de José Pereira que já era famoso na região, Lampião conhecia bem a fama dele. 

Lampião entrou na oficina dele, junto com dois cabras. Ele se apresentou dizendo quem era e já de imediato encomendou um punhal de 60cm que deveria estar pronto até às 3 horas da tarde. Da oficina de Zé Pereira Lampião se retirou para o sítio Juá próximo a Jardim e quando foi meio-dia Lampião, apareceu para pegar o punhal. Adivinha o que aconteceu? José Pereira acostumado a fabricar punhais usou de uma Agilidade de um gato e além de ter feito o punhal já estava terminando a bainha do mesmo. Lampião pegou o punhal e fez um teste. Ele botou o punhal no joelho e colocou força envergando para ver se quebrava mas o punhal Voltou ao estado inicial, bem reto. 

O Capitão então perguntou - "Quanto ficou o trabalho em cabra?" José Pereira não quis cobrar nada. E disse que fazer um punhal para Lampião era uma honra. Lampião impressionado com aquele homem perguntou se ele tinha algum desafeto na região para que ele mesmo desse fim a qualquer um, mas Zé Pereira disse que não tinha inimigo algum nem na cidade e nem no Estado, disse que já estava de bom grado receber Lampião na oficina dele. 

Depois da conversa Lampião montou um cavalo e retirou-se do centro da cidade. Já na curva quando Lampião desapareceu José Pereira fechou a porta da oficina, e danou-se no meio do mato onde só voltou dois dias depois. O mais interessante é que Zé Pereira fez apenas um punhal para Lampião, mas, o cuteleiro era tão bom que Lampião fez a propaganda dele por onde passou e as facas de José Pereira ganharam um patamar elevado. 

Hoje uma faca de Zé Pereira original custa entre R$ 1.000,00 e R$ 5000,00 devido a raridade. A passagem de Lampião em Jardim em 1926 foi tão marcante que José Pereira entrou para a história da cutelaria nordestina embora só tenha feito apenas um punhal para o Cangaço. Mas não fique preocupado pois ainda existe um filho de Zé Pereira trabalhando no ofício da cutelaria em Jardim. E o nosso grande amigo Simeão Pereira. 

Postado originalmente no canal Lampião Governador do Sertão (YouTube)

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