sexta-feira, 5 de julho de 2019

Diário de Pernambuco, edição de 11 de Novembro de 1979

Morreu solitário o homem que Lampião mais temia

Por Marco Túlio
Ilustração e correções Lampião Aceso

Manoel de Souza Neto nasceu no dia 01 de novembro de 1901, num lugar denominado Ema no município de Floresta do Navio. Não tendo estudado no período de infância em virtude da falta de professores no Sertão, dedicou-se ao trabalho agrícola. Era destemido, demonstrando desde cedo tendências para a vida militar. Apreciava com muita curiosidade o movimento de tropas e cangaceiros na região, transformando-se mais tarde num justiceiro, que combatia impiedosamente os cangaceiros que assolavam os sertões nordestinos.


Acervo Lampião Aceso


Durante toda a adolescência conservou-se um rapaz igual aos outros sertanejos, cuidando da agricultura, do gado e comovendo-se com a paisagem e o pôr-do-sol. Um dia, no entanto após uma caminhada a pé pelo município de Rio Branco, consegui uma passagem para vir ao Recife, onde com a ajuda de Antônio Boiadeiro, ingressou na Força Pública.

Inicialmente foi destacado para servir em Santo Amaro, bairro conhecido na época, pelos altos índices de criminalidade e onde prestou relevantes serviços.

No dia 24 de janeiro de 1925 foi mandado para Vila Bela atualmente Serra Talhada/PE, a fim de participar da Força Volante naquele município para dar combate ao cangaço.

Os primeiros combates

Dias após ter chegado à Vila Bela o então Soldado Manoel Neto comandado pelo Pedro Cavalcanti foi a cidade de Triunfo/PE, onde Lampião e seu bando havia cercado a Fazenda de Clementino de Sá. Destacando-se no combate. Manoel Neto foi elogiado por seu superior e considerado o Soldado mais corajoso da Volante. Nessa batalha Lampião foi obrigado a fugir, sendo perseguido até a fronteira da Paraíba, de onde a Volante teve de regressar, pois o governo paraibano não permitiu que os Soldados pernambucanos entrassem em seu território, o fato que contribuía para Lampião se reorganizasse e voltasse a atacar.

Em 10 de novembro de 1925 na localidade Cachoeira, distrito de São Caetano, ocorreu outro combate contra Lampião. Na ocasião morreram ou fugiram da luta o Sargento José Leal e o seu auxiliar direto José Terto. Manoel Neto assumiu então o comando da Volante, conseguindo uma vitória surpreendente contra Lampião que passou a se interessar pela valentia do “macaco” que conseguira lhe infligir tão grande derrota. Em função da façanha, Manoel Neto foi promovido ao posto de Anspeçada, isto é, intermediário entre Soldado e Cabo.

Outras bravuras

A partir desse episódio, Manoel Neto passou a ser o terrível perseguidor de Lampião, sempre lhe mandando recados, desafiando-o para que lutassem de homem para homem numa batalha para pôr fim aos crimes no Sertão.

No tiroteio da Fazenda Favela, localizada no município de Floresta, Manoel Neto foi emboscado pelo bando de Lampião, ficando gravemente ferido, com duas pernas quebradas. Segundo contam, sempre ia à frente de seus comandados, alegando que como comandante cabia a ele receber ou disparar o primeiro tiro.


Certa ocasião, foi chamado pelo Tenente João Bezerra da Policia Militar de Alagoas, para arquitetarem o plano da morte de Lampião por envenenamento. (Fato que carece de maiores esclarecimentos).

Manoel Neto mostrou-se imediatamente contrário àquele tipo de assassinato. Dizendo para o Tenente:

- Lampião é meu inimigo pessoal e ele também me considera assim. Se eu puder pegá-lo no ponto do meu Mosquetão, acabarei com ele. Porém não o matarei envenenando a água que beba, pois Lampião sabe que o rastejo e nunca envenenou a água que eu bebo, mesmo lhe perseguindo.

Certa vez no município de Triunfo, vários bandoleiros que habitavam uma serra, resistiram a ação da Polícia Militar. Sem condições de subirem a montanha, os Soldados eram duramente repelidos a tiros de rifles. Ao tomar conhecimento do fato, o Capitão Manoel Neto, fazendo acompanhar de oito Soldados subiu a serra e aproveitando o silêncio da noite, foi invadindo casa por casa. Ao amanhecer todos estavam amarrados e desmoralizados.

O relógio de um dos apartamentos do Hospital da Policia Militar de Pernambuco,marcava exatamente sete horas e quarenta e cinco minutos do dia 3 de novembro [de 1979], quando falecia um dos maiores heróis da história do combate ao cangaço em Pernambuco. Tratava-se do coronel Manoel de Souza Neto, conhecido em seis estados do nordeste como "Mané Neto" e apelidado por Lampião como "Mané fumaça", pois, segundo a lenda, aparecia repentinamente de vários locais ao mesmo tempo.



Manoel Neto viva sozinho, residindo em um dos hotéis da cidade de Ibimirim [PE] quando foi acometido de uma doença renal.

Ao tomar conhecimento de que o coronel era portador da moléstia incurável,o comandante da Polícia Militar de Pernambuco, João Lessa, determinou a sua remoção imediata para o Hospital Geral do  DERBI. Lá, o velho combatente do cangaço faleceu aos 78 anos, após 14 dias de internamento. Seu corpo foi trasladado para o município [distrito] de Carqueja, onde foi sepultado com honrarias militares.

Além da luta ao bando de Lampião, Manoel Neto também participou de Revoluções, chegando inclusive a ser o homem de confiança dos governadores: Carlos de Lima Cavalcanti [1892 – 1967] e Estácio Coimbra. [1872-1937]. Perdeu a farda por ocasião da derrota do partido que defendia, mas conseguiu voltar a ativa em virtude do reconhecimento do seu trabalho e atos de bravura. 




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Um comentário:

Lúcio disse...

Não tem foto a de Manoel Neto como prefeito ou em outras ocasiões da vida ?