sexta-feira, 6 de julho de 2018

Vila Bela em chamas

Origem das questões entre Pereiras e Carvalhos

Por Luiz Lorena


No início do ano de 1904, assumiu a paróquia de Vila Bela, Monsenhor Afonso Antero Pequeno, culto e bravo sacerdote, filho do Icó, no centro-sul cearense.

Desde o ano de 1901, o sul do Ceará vivia um período de inquietação política, que durou por duas décadas.

Naquele mundo de canaviais, os coronéis alimentados pela rapadura, fizeram valer a força do bacamarte.

Vindo daquele mundo, mais precisamente do Crato, logo que chegou à Vila Bela, monsenhor Afonso Antero Pequeno, pediu às lideranças políticas locais armas, munição e jagunços para ajudar ao primo, o coronel Antônio Luiz Alves Pequeno na luta pela deposição do coronel José Belém de Figueiredo, que na época ocupava o cargo de vice-presidente (vice-governador) do Estado.


O coronel Antônio Pereira, líder da família Pereira, negou-se categoricamente a participar dessa bravata. A família Carvalho concordou com o Monsenhor em tudo e decidiu mandar Antônio Clementino de Carvalho (Antônio Quelé) com um grande contingente armado, tendo à frente o próprio sacerdote.

Iniciado o tiroteio no mês de junho de 1904, só após 55 horas de combate o coronel Belém recuou e fugiu.


O Monsenhor voltou a Vila Bela, trazendo a ideia fixa de derrotar a família Pereira, na eleição municipal do período seguinte. Mais uma vez o Monsenhor foi vitorioso, participou da eleição municipal, elegendo-se prefeito.

Em uma visita que lhe fizera, na cidade de Vila Bela, Antônio Quelé assassinou em praça pública o delegado de polícia Manoel Pereira Maranhão. No júri de Quelé, além do advogado que contratou, o Monsenhor participou pessoalmente da tribuna de defesa.

Os crimes políticos tanto em Vila Bela como no Crato, tornaram-se mais frequentes e mais bárbaros.

Em Vila Bela, seus correligionários mandaram matar de emboscada um patriarca dos Pereira, o ex-prefeito Manoel Pereira da Silva Jacobina, (Foto abaixo).


A frustração perturbava o Monsenhor de tal maneira que renunciou ao mandato de prefeito, entregando o município ao vice, o fazendeiro José Alves da Silveira Lima, com recomendação de proceder com serenidade. Logo depois se transferiu para cidade de Garanhuns, onde faleceu.

Antes, porém, plantou no solo fértil de Vila Bela, a semente do banditismo, a qual resultou na formação de grupos de cangaceiros como os de Sinhô Pereira e Lampião. Daí diz-se que, com monsenhor Afonso, começou a época do obscurantismo no sertão do Pajeú, vigente até 1930.

Do Livro: Serra Talhada 250 Anos de História, 150 Anos de Emancipação Política.
De: Luiz Lorena


Transcrito por José João Souza - Grupo Lampião, Cangaço e Nordeste (Facebook)

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