quarta-feira, 31 de março de 2010

Anjo Roque e Zé Baiano

Dois valentes cangaceiros

(*) Por Ângelo Osmiro Barreto

O ano é l935, o sertão nordestino mais uma vez, é assolado por uma terrível seca. No interior baiano os cangaceiros chegam a um lugar chamado Curaçá, ao encontrarem uma fazenda fazem pouso para aliviar a fome e a sede do grupo.

Comem, bebem e parecendo incansáveis começam uma dança embaixo de alguns juazeiros que ficavam na frente da casa grande e alpendrada da fazenda sertaneja.

No alpendre amplo da casa havia três potes cheios de água. Para evitar a poeira que vinha do baile improvisado, Lampião tratou de mandar cobrir as bocas dos potes com panos, tendo o cuidado de dizer para atar-lhes a boca para não voar, mas todas as vezes que algum cangaceiro vinha beber água não fechava como havia encontrado, fato este que irritou muito Lampião, que aos gritos começou a reclamar daquela atitude dos cangaceiros, inclusive de Ângelo Roque, o Labareda que estava deitado perto dos potes com sua mulher, a cangaceira Mariquinha, que a tudo ouvia.
- E esse peste?! O que tá fazendo aí, que não vê isso. Falou Lampião asperamente.
Labareda nada respondeu. Pouco tempo depois se levantou e sem ninguém esperar quebrou os três potes com o coice de seu mosquetão, e voltou a deitar com sua mulher como se nada tivesse acontecido.

Após alguns instantes chega o cangaceiro Zé Baiano para beber água, e fica surpreso com os potes quebrados e pergunta quem foi. Ângelo Roque responde:
-Fui eu. Por que?
Zé Baiano nada disse, simplesmente se retirou e foi à procura do chefe para contar o acontecido.
Lampião se dirigiu ao local, onde Labareda já o esperava de pé.
Lampião zangado, perguntou: -Quem quebrou os potes?
-Fui eu. Respondeu o cangaceiro Ângelo Roque.

" ANGELO ROQUE - Vulgo LABAREDA "

"ZÉ BAIANO " .

A situação ficou tensa, os nervos à flor da pele, são dois valentes homens, prestes a medir suas forças.
O chefe voltou a perguntar:  
-Você num me respeita cabra?
- O tanto que você me respeita. Respondeu Ângelo Roque, desafiando o chefe, dizendo de pronto que com seu mosquetão cheio de balas, não tinha medo de homem nenhum no mundo.
Lampião destemido como seu comandado, levantou a arma ao mesmo tempo Labareda a sua também ergue; os dois ficam por alguns instantes a se olharem, a morte rondou o local, todos os demais cangaceiros ficaram calados, esperando o pior.

Neste momento, o cangaceiro Virgínio, cunhado de Lampião, interveio entre os dois, e grita que acabem com aquela briga, pois já não bastavam os macacos a lhes perseguir e brigar, agora eles companheiros das lutas cangaceiras, discutindo por motivos banais, prestes a se matarem.

Os dois homens valentes se olharam e deixando o dito pelo não dito, a coragem de ambos ficou comprovada, por pouco não acabando em tragédia para o bando aquele dia de l935.

Em 1938, Lampião foi morto na fazenda Angico, Estado de Sergipe. Após a morte do chefe, Labareda se entregou as autoridades, sendo depois anistiado pelo governo do Presidente Getulio Vargas. Reintegrou-se a sociedade através da ajuda do médico baiano Estácio de Lima, diretor da Casa de Detenção em Salvador, onde o cangaceiro esteve preso. Tornou-se Funcionário Público exemplar, jamais voltando a praticar qualquer tipo de delito. Faleceu já em idade avançada no estado da Bahia.

*ÂNGELO OSMIRO é Presidente da Soc. Brasileira de Estudos do cangaço -SBEC
Pesquisador e escritor do cangaço e Membro efetivo da ALMECE.


3 comentários:

José Mendes Pereira disse...

Segundo informações do próprio escritor deste artigo, Ângelo Ormiro, em outro, ele afirma que Labareda morreu bem velhinho.

Em novembro de 1973, o cangaceiro Balão cedeu entrevista à Revista Realidade, e afirmou que no período do cangaço ele era comandado de Labareda, sendo este companheiro da cangaceira Mariquinha. Como a assecla era uma mulher formosa, Labareda adquiriu uma espécie de ciúmes, fazendo com que Balão desistisse de acompanhá-los, e a partir daquele dia ele ficou como formiga sem formigueiro.

Virgínio Fortunato da Silva, que no cangaço recebeu a alcunha de Moderno, nasceu no ano de 1903 e faleceu em combate no ano de 1936. Era natural do Rio Grande do Norte. E segundo o pesquisador Franklin Jorge, há suspeita, não comprovada, que Virgínio era da cidade de Alexandria. Apesar de ter sido cangaceiro era um homem bastante educado, moderado, e não gostava de perder palavras por qualquer coisa. Conseguiu o cargo oficial do bando como capador.

Zé Baiano foi um dos homens mais cruéis de todos os tempos que o cangaço recebera. Havia ferrado quatro mulheres com suas inicias. E antes já havia matado a sua esposa, a Lídia, a pauladas repentinas. A causa, ela havia o traído com o cangaceiro Bem-Te-Vi. Não querendo ficar desmoralizado diante dos amigos, ordenou aos companheiros que a amarrasse ao pé de uma árvore. E com pancadas repentinas, a assassinou.
Zé Baiano era primo de Mané Moreno, e Zé Sereno. E sobrinho dos cangaceiros: Antonio de Engrácias e Cirilo de Engrácias.

José Mendes Pereira - Mossoró-Rn.

Francisco Ari disse...

Esse quase embate entre Lampião e Labareta não está bem contado. O nível de linguagem não é típico de duas pessoas "rudes" cuturalmente e em vias de fato.

Francisco Ari disse...

Labareda, leia-se "Angelo Roque"