O trágico e covarde assassinato de José Nogueira
Por: Luiz Ferraz Filho
Os
livros sobre a história brasileira sempre trouxeram no capitulo sobre a
Coluna Prestes o simbolismo da liberdade. Porém, nada foi mais
aterrorizante para a população do Sertão do Pajeú, no mês de fevereiro
de 1926, do que esses revoltosos sulistas. Vinda da Paraíba em direção
ao Pajeú sob o comando do general Isidoro Dias Lopes, a Coluna Prestes
contou com o "reforço" da boataria que estava alinhada ao bando de
Lampião, para assim aterrorizar ainda mais o sertanejo.
General Isidoro Dias Lopes
E
foi esse boato que fez muitos fazendeiros da região abandonarem suas
casas para se embrenhar na caatinga como esconderijo. Somada a isso,
tinha também um batalhão patriótico para combater os revoltosos e que
confundia ainda mais a população. Ao passarem por Betânia (PE), onde
esfomeados saquearam o comercio local, os revoltosos marcharam em
direção ao povoado de São João do Barro Vermelho (Tauapiranga), distrito
de Serra Talhada. De lá, desceram pelas margens do Riacho São Domingos
em direção a lendária vila de São Francisco, também distrito de Serra
Talhada.
Serra Vermelha vista da Fazenda de Zé Nogueira
Entre
essas duas localidades, os revoltosos encontraram a Fazenda Serra
Vermelha, na época fonte rica para o abastecimento da tropa composta de
seiscentos ou oitocentos soldados. Com a barriga cheia, precisavam eles
de uma pessoa da região para servir como "guia dos revoltosos" e nada
melhor que um homem conhecido e respeitado por todos para usarem como
"escudo". E foi assim que o influente dono da fazenda, José Alves
Nogueira, acabou "sequestrado" pelos revoltosos. Três dias sem nenhuma
regalia, andando a pé sob olhares dos soldados até ser libertado próximo
ao povoado de São João do Barro Vermelho (Tauapiranga).
Cruz no terreiro da casa demarcando o local
onde foi covardemente assassinado
Zé Nogueira pelo cangaceiro Antônio Ferreira.
Aliviado, mal podia imaginar José Nogueira que voltando para sua Fazenda Serra Vermelha passaria por situação ainda pior. Ao chegar, José Nogueira pediu para um dos moradores ir avisar aos parentes e familiares que estava tudo bem com ele e que já estava
em casa. E nisso, aproveitou para ir na vazante (plantação no baixio)
olhar uma cacimba que abastecia o lugar. Depois de algum tempo lá, José
Nogueira recebeu um recado de Antônia Isabel da Conceição (Isabel
de Luis Preto) que inocentemente disse que a força volante de Nazaré
(comandada por Manoel Neto) estava no terreiro da casa esperando ele.
Desconfiado, José Nogueira ainda perguntou: - Tem certeza que é a força
?. Tenho sim, respondeu Isabel.
O
fazendeiro João Nogueira (neto de Zé Nogueira
e bisneto do major João
Alves Nogueira),
na calçada onde foi assassinado o avô em fevereiro de
1926.
Domingos Alves Nogueira
(neto de José Nogueira)
Ao
subir da cacimba em direção ao terreiro da casa, José Nogueira avistou o
bando de Lampião com 45 cangaceiros enfurecidos após saírem derrotados
na tentativa de invasão ao povoado de Nazaré do Pico. Homem
de firmeza, continuou José Nogueira o trajeto mesmo sabendo que
dificilmente escaparia da morte. Nisso, o cangaceiro Antônio Ferreira,
aproximou-se dele e falou: - É hoje José Nogueira. Ele ele respondeu: -
Seja o que Deus quiser.
Lampião
mandou todos baixarem as armas e começou a conversar com o velho
fazendeiro. Após a palestra, Lampião observou ele muito cansado, doente e
asmático, liberando o fazendeiro. Deu voz de reunir e começou a seguir
no destino da caatinga quando escutou um tiro. Tinha
sido o cangaceiro Antônio Ferreira que havia covardemente atirado nas
costas de José Nogueira. Vendo o ocorrido, Lampião reclamou dizendo que o
velho estava doente e quase "morto". Então, Antônio Ferreira (que era
irmão mais velho de Lampião) falou:
- Matei , tá morto e pronto.
Era
26 de fevereiro de 1926. Calçou Antônio Ferreira as alpercatas
(sandálias de couro) do falecido e seguiu junto ao bando caatinga a
dentro. Segundo o fazendeiro João Nogueira Neto (neto de José Nogueira),
durante anos o local onde o avô paterno foi assassinado ficou manchado
com o sangue nas pedras. No local, os filhos do fazendeiro depois
fincaram uma cruz para demarcar a tragédia. O corpo de José Nogueira foi
enterrado no dia seguinte, do outro lado do riacho, no cemitério da
Serra Vermelha.
Deixou ele a viúva Francisca Nogueira de Barros (Dona
Dozinha, tia dele) e sete filhos.
Luiz Ferraz Filho, é pesquisador, Serra Talhada - Pernambuco
FONTE: (LIRA, João Gomes de - Memórias de Um Soldado de Volante)
- (AMAURY,
Antônio e FERREIRA, Vera - O Espinho de Quipá) - (FERRAZ, Marilourdes - O
Canto do Acauã) - (SOBRINHO, José Alves - Zé Saturnino - Nas Pegadas de
Um Sertanejo).
FOTOS/ENTREVISTADOS:
João Nogueira Neto e Domingos Alves Nogueira (netos de José Alves Nogueira).
Pescado no Cariri Cangaço
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