segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Opinião

Autoritarismo x Capitalismo no Tempo do Cangaço
por: Carlos Eduardo Gomes 

Por volta de 1936 o turco Benjamim Abrahão, teve a brilhante ideia de registrar em imagens o cotidiano do bando de Virgulino Ferreira da Silva, o conhecido cangaceiro Lampião. 
 
Pesquisadores do assunto acreditam, que naquele momento esse senhor tentava obter lucro com a venda dessas imagens, uma coisa que muita gente não vê com bons olhos, classificam esse desejo de resultados materiais como ambição, uma condição vista por grande parte da sociedade como negativa. Abrahão, quando teve a ideia de filmar o grupo e saiu em busca de financiamento e apoio técnico para seu projeto, talvez não estivesse consciente de criar um registro para a história, certamente não queria ameaçar o Governo Federal, no entanto, teve seu material confiscado pela censura do regime autoritário de Getúlio Vargas, que sentiu-se desafiado pelo atrevido imigrante e seu filme.

Apesar da violência aplicada pelo censor, aquilo que inicialmente era uma tentativa de fazer dinheiro e ganhar notoriedade, um legitimo direito da livre iniciativa, acabou virando uma preciosidade histórica, por serem as únicas imagens em movimento de Lampião e seu bando, registrando sua indumentária, pequenos hábitos, e características. A censura da época considerava estar agindo em defesa do interesse nacional, os tecnocratas usando do autoritarismo concedido pelo regime daquele tempo, apreenderam e ocultaram essas fitas sem nenhuma preocupação com a preservação desse material. Sem nem se dar conta que estariam subtraindo da história regional e do Brasil, um registro tão importante. Pensavam apenas nos resultados imediatos, preservar o poder e o controle de qualquer forma.

Os pesquisadores da história de Lampião, podem agradecer a ambição de Benjamim Abrahão, representante nesta circunstância, do capitalismo tão criticado, por terem a chance de ver um pequeno trecho recuperado de sua obra e com isso conferir informações que poderiam ser consideradas imprecisas na ausência do filme. Dá para imaginar como seria bom termos o trabalho completo?
Quem julgava estar agindo com nobreza nesta ocasião eram os censores, no entanto, hoje a história não avalia tão bem o ato do autoritário regime nacionalista contra o aventureiro do cinema, o especulador.

A censura não é uma coisa do passado, infelizmente continua presente, muitas vezes disfarçada, aniquilando idéias e diminuindo a importância daquilo que os donos do poder não consideram útil. A autoridade do líder deve ser conquistada sabendo ouvir, ponderar e decidir. A liberdade de opinar e agir dentro das normas estabelecidas é fundamental para garantir o desenvolvimento. É preciso entender que a criatividade e o progresso são frutos da liberdade de dizer o que pensa, de criar, as vezes o que a princípio não parece tão útil, mas se o homem não ousar ficaremos condenados ao que temos hoje.

Adam Smith escreveu no "A Teoria" a famosa observação que ele repetiria mais tarde no "Riqueza das Nações": que os homens interesseiros, egoístas, são frequentemente "levados por uma mão invisível sem que o saibam, sem que tenham essa intenção, a promover o interesse da sociedade". Isto porque, havendo liberdade, o lucro dependerá da livre concorrência em apresentar ao público aquilo que o público espera de melhor.

Carlos Eduardo Gomes
Rio de Janeiro-RJ



Pesquei no açude do Coroné Severo: Cariri Cangaço

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns ao grande amigo Eduardo, pelo artigo. Grande legado deixou o estrangeiro Benjamin Abraão aos pesquisadores do cangaço, suas fotos e filme, nos dão hoje a noção exata de como se vestiam os cangaceiros, permitindo que os pesquisadores tenham outra fonte, que não a história oral.
Um grande abraço a todos.

Angelo Osmiro

Sérgio.'. disse...

Infelizmente é verdade. Sempre houve alguma forma de censura aqui e alhures. No Brasil, na época da chamada 'ditadura militar', era algo de doer no espírito político do mais leigo.
Há alguns anos atrás quiseram criar um Conselho Nacional de Imprensa (seus objetivos, claro, nem precisa comentar), mas a coisa era tão gritante que morreu no nascedouro.
Em suma: é sempre interessante para quem está no poder lançar mão dessa censura aqui e ali, mesmo que viva se alardeando o termo 'democracia'..
Que irônico, esse 'vai não vai', não é não??
Abraço