Informes confusos sobre as mortes de alguns cangaceiros
Por Helton Araújo-  Cangaço Eterno
Na matéria do jornal  " A Noite  " edição de 14
 de Dezembro de 1932 ", o periódico traz o seguinte título : " O 
BANDITISMO NO NORDESTE ", com o subtítulo " A campanha vae ser feita por 
mais de tres mil soldados -  " Antônio de Engracia " morreu mesmo, e foi
 comido pelos corvos (seguindo a escrita da época).
 
Apesar da 
péssima resolução da matéria, vou passar para vocês um resumo da 
publicação e fazer algumas observações em seus principais tópicos.
A
 matéria tem início informando que a campanha contra o banditismo está 
na região tranquilizando a população que vem sofrendo com as incursões 
de Lampião e seu bando nas regiões do sertão baiano e sergipano.
 
O
 periódico informa que há poucos dias a volante comandada pelo tenente 
Justiniano travou ríspido combate contra o bando de Lampião, nas 
proximidades de Juá, em Santo Antônio da Glória, nessa ocasião foi  
morto o cangaceiro Baliza e presa a sua companheira. Aqui fazemos nossa 
primeira observação, o periódico não informa o que a tradição oral diz 
sobre a história de Baliza, que o mesmo teria sido surpreendido por 
Justiniano e seus homens, no momento em que estava em relações sexuais 
com sua companheira.
A Tradição oral ainda diz que o tenente 
Santinho ( Ladislau Reis ) quando se encontrou com a volante do " cabo "
 Justiniano ( o jornal diz tenente ) solicitou ao mesmo por ter a 
patente maior a condução e recambiamento do cangaceiro. Daí popularmente
 sabemos o que aconteceu com Baliza, que foi torturado e morto em uma 
fogueira por Santinho e seus homens.
Fica claro que o periódico 
não apresenta essas informações, destaco ainda, que na tradição oral a 
data do acontecimento seria março de 1933, mas o jornal relata que o 
fato se deu em dezembro de 1932, ficando aí a inconsistência.
Cabe
 aos pesquisadores buscarem mais informações se de fato Santinho 
torturou e matou Baliza ou se essa história é mais uma entre tantas 
outras que caiu nos contos e folclores populares sobre o cangaço.
A
 matéria segue com mais uma excelente informação, segundo o jornal,  as 
colunas volantes descobriram que de fato o cangaceiro Antônio de 
Engrácia estava morto, cujo acontecimento deixava dúvidas sobre a 
veracidade da morte do cangaceiro.
Um coiteiro de Chorrochó 
preso, disse que Antônio foi gravemente ferido pelo contratado 
Hermógenes, sobrinho do fazendeiro sergipano José Ribeiro. Segundo o 
coiteiro, Antônio veio a falecer em decorrência de seus ferimentos em 
sua própria residência, ainda segundo o coiteiro, seu corpo ficou 
insepulto, vindo a ser devorado pelos "corvos".
Ele prossegue 
informando que as ossadas do cangaceiro foram levadas até Jeremoabo ( 
não informando quem a levou ), onde ficou em exposição. Aqui faço mais uma
 observação, o jornal fala de Antônio de Engrácia, porém segundo as 
informações que temos nas pesquisas do cangaço, quem teria sido morto 
por Hermógenes, seria o cangaceiro "Antônio de Seu Naro", sendo assim, 
acredito eu, que houve apenas uma confusão de informações, pois Antônio 
de Seu Naro também era um Engrácia e também lhe caberia a apresentação 
como Antônio de Engrácia.
Diante dos fatos, creio eu que a 
matéria refere-se ao cangaceiro Antônio de Seu Naro e não de seu parente
 Antônio de Engrácia. Nos tempos atuais, aqueles que fazem pesquisas, se
 não cruzarem as informações podem fazer uma grande confusão histórica 
entre os fatos acontecidos e seus personagens.
Gostaria de 
associar essa informação das ossadas levadas para Jeremoabo com aquela 
matéria que também roda por aí, dos ossos e crânios dos cangaceiros " 
Antônio de Engrácia " e Ponto Fino (Ezequiel Ferreira), diante dessa 
matéria, acredito que aquelas ossadas sejam de fato Antônio de Seu Naro e
 do suposto Ponto Fino.
A matéria traz mais algumas ótimas 
informações, a primeira é que o sertão baiano contará com o reforço de 
mais de 3 mil soldados na campanha contra o banditismo.
A 
segunda, o Capitão João Miguel conseguiu auxílio mensal de 20 contos de 
réis  para ajudar os flagelados da seca. Além de mandar construir 
estradas de rodagem por vários locais da região.
 
Vale lembrar que 
isso contradiz o que a tradição oral conta sobre a ação do capitão João 
Miguel, o mesmo teria mandado os sertanejos abandonarem suas casas em 
uma tática irresponsável na tentativa de dificultar as ações dos 
cangaceiros na região, Isso não só favoreceu os cangaceiros como causou 
mais sofrimento para os pobres sertanejos, esse fato relatado  ficou 
conhecido como " A seca de João Miguel "
E para finalizar, a 
matéria relata que foi aprendido na casa de um coiteiro a metralhadora 
que Lampião conseguiu no confronto no Tanque do Touro (onde 
supostamente teria morrido Ezequiel Ferreira) contra a volante 
comandadas pelo tenente Arsênio Alves, além de outros armamentos e 
muitas munições.
Encerro esse texto sem querer desmerecer o 
trabalho de nenhum dos companheiros de pesquisa, pelo contrário, 
reafirmo aqui meu respeito a cada um, meu intuito com essa postagem é 
apenas elevar a história ao mais próximo possível da realidade. Deixo 
claro também, que não sou dono da verdade e que posso estar errado em 
minhas observações, mas fica aí o material para confrontação de 
informações e esclarecimentos e dúvidas.

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