Por Rubens Antonio
Aproveitando a puxada dos nossos amigos Guilherme Machado e Robério Santos no grupo cangaceirólogos, aqui cenas do mais antigo filme realizado sobre o Cangaço... 1ª matéria Publicado em 27 de novembro de 1929, no “Diario de Noticias”, Salvador, Bahia..
Ele procurava mostrar ações do bando de Lampeão já ocorridas, até então, na Bahia. A equipe de filmagem e atores se deslocaram até os locais dos eventos e, com base nos testemunhos locais, filmaram. Não sei onde foi parar, mas parece que chegou a ser apresentado em Salvador.
A Cinematographia grava os crimes do Bandido
Nesta imagem, à esquerda, a câmera, à direita, reconstituição de um tiroteio.
Estamos numa epocha em que factos de tamanha sensação não podem ter a sua descripção limitada ao registro da imprensa; elles, graças á divulgarização da cinematographia, são mostrados, ao vivo, ao povo.
Em todo o mundo civilizado assim occorre, com a modernização dos novos processos de reportagem. Todo o mal que o bandoleiro faz ás nossas populações sertanejas é salientado, mediante uma reconstituição de scenas verdadeiras, honestamete feitas, nos proprios locaes onde ellas se verificam e mediante o testemunho de pessoas sabedoras dos factos. A empresa Nelli–Film, bahiana, se incumbe da organização dessa pellicula sensacioal.
É dificil distinguir–se qual o crime mais perverso
O reporter soube da confecção desse “film” e tranto investigou que acabou encontrando o sr. José Nelli, chefe da empresa. Palestraram. O industrial relatou as difficuldades que teve de vencer, da deficiencia de personagens aos trabalhos de reconscituição.
– Qual o crime de maior sensação?A enguia da caatinga
Fica–se na duvida. Virgolino tem cem requintes de malvadez. E não é um valente nem um heroe. Assassina covardemente, para roubar ou por mero prazer.
– Posso, porém, dissenos o sr. Nelli, dizer–lhe que a morte da mulher queimada que se avantaja a tudo. Pretendera ella envenenar Lampeão, que, desconfiado, descobriu o ardil e ordenou que, amarrada a uma arvore, della fizessem uma tocha humana. Realizou–se, assim o homicidio. No cinema, isso é de grande effeito.
– E por onde andou filmando:27 de novembro de 1929, no “A Tarde”:
– Pela zona do Rio do Peixe, Queimadas, Serrinha, etc. Apanham–se os factos “in loco”, sob o rigor da verdade.
– Que diz da acção da policia?
– Que procura atacar o grupo.
Essa caça faz–se com grandes sacrificios, porque Lampeão é como a enguia: some–se sempre na caatinga, fugindo.
– Tem reproduzido combates?
– Oh! diversos, bem como passagens curiosissimas, a que serve de moldura uma excellente natureza, prodiga em scenarios. E claro que teremos de solicitar o auxilio da Policia. Mostrado o bandido, é indispensavel divulgar o que tem sido a acção dos seus perseguidores implacaveis."
No Rastro dos Bandoleiros. As proezas de Lampeão e de seu sinistro bando num film
O sr. José Nelli, conhecido operador cinematographico, resolveu fazer um grande film de divulgação das façanhas de Lampeão e do seu terivel bando.
O intuito do sr. Nelli é, revivendo os moticinios e scenas de vandalismo do faccinorara apresental–o tal qual elle é: simplesmente um animal senguinario. Para isso o sr. Nelli esta percorrendo todo o nordeste reconstituindo os crimes de Virgulino. Os clichês acima mostram a estação de Rio do Peixe e uma scena do film.
Os clichês acima mostram a estação de Rio do Peixe e uma scena do film.
Pescado no Cangaço na Bahia
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Adendo Lampião Aceso
O título deste filme não foi citado na matéria do jornal pois estava em fase de produção. Concluído, ele foi batizado de LAMPIÃO, A FERA DO NORDESTE e outra remetência foi LAMPIÃO, O TERROR DO NORDESTE. Tratou-se de um longa-metragem silencioso.
Chegou a ser exibido em São Paulo no ano de 1931: de 20 a 22.de novembro no Royal; 1º de dezembro no Colombo; 2 de dezembro no São José; a 03.de dezembro no Cambuci; 04 de dezembro, no Glória. e nos dias 22 e 23.março de 1932 no Oberdan.
Sinopse
"... Meia dúzia de apanhados da capital (Salvador) atoamente. Uma vista de Ilhéus da mesma forma. Um horrível apanhado da feira de gados em Feira de Santana. Um cafezal. Um canavial. Uma locomotiva chegando a Juazeiro. Um apanhado do Rio São Francisco. Uma vista péssima de Bom Jesus da Lapa. (...) Lampião ataca um rancho qualquer. Ataca Riacho Seco. (...) Outra cena Lampião cerca uma fazenda. Aparece a casa do 'coronel'. O coronel e a filha estão na sala de visitas. Ele de pés descalços, assentado num frangalho de cadeira, lê um retalho de jornal. A moça lava roupas num caixão de gasolina. Lampião entra na sala. O coronel protesta. Assassinam-no pelas costas. Lampião entra para um quarto. Vem lambendo os beiços...". (Cinearte, 16 de Abril de 1930)
As locações foram: Salvador; Ilhéus; Feira de Santana; Juazeiro; Rio São Francisco; Bom Jesus da Lapa; e Riacho Seco cidades do estado da Bahia.
Observações e resenha:
A revista Cinearte de 30 de Abril de.1930 informa que o filme estava programado para o Teatro Olímpia, de Salvador, mas teve a sua exibição proibida pela polícia. "Filme de enredo e cenas documentárias, com um ator no papel do Capitão Virgolino". muito provavelmente o primeiro filme de enredo rodado na Bahia".
A revista ainda publicou o seguinte comentário:
“Tudo filmado com a pior fotografia do mundo, sem noção alguma de arte e realidade. A interpretação é pavorosa! Tudo horrível! Como filme Lampião é mais prejudicial à Bahia que o próprio bandoleiro”.As pesquisas de Dídimo em seu livro "O cangaço no cinema Brasileiro" não apontaram referências aos nomes dos atores que trabalharam na obra. Em alguns sites há uma referencia de direção para Guilherme Gáudio porem o Dicionário de Filmes Brasileiros (longa-metragem), de Antônio Leão Neto, traz apenas a menção de José Nelli como produtor e Antônio Rogato na fotografia.
Pioneiros do tema cangaço
Quem pesquisar sobre os primórdios do cinema de cangaço vai identificar o filme Filho sem mãe, de Tancredo Seabra no ano de 1925, o primeiro em que aparece um grupo de cangaceiros e alguns de seus sinais de identidade, tais como trajes, armas, acampamentos etc.
Sangue de irmão de Jota Soares em 1926.
Segundo Luiz Felipe Miranda em “Cinema e Cangaço – História” (1997), houve ainda um curta,chamado Lampião, o banditismo no Nordeste, “do qual se desconhecem autoria e procedência [...] apresentado por volta de 1927” (1997, p.93).
Em Lampião, A fera do Nordeste, uma ficção com cenas documentais. o rei cangaceiro já teria o papel de protagonista e, provavelmente, é o primeiro filme a abordar o cangaço como tema central. O filme relata o episódio da chacina do Rio do Peixe, na Bahia, mostrando Lampião monstruoso e sanguinário que matava ate criancinha, lançando ao ar e aparando com seu punhal.
Estes quatro títulos citados estão infelizmente desparecidos.
Fontes:
1) Cinemateca.gov.br
2) NORDESTE: MISERABILISMO LOCAL/SUMMA NACIONAL
Estudo de Sebastião Guilherme Albano da Costa.
Disponivel no: Razony Palabra
3) Revista Fenix O cangaço no cinema brasileiro: Um olhar panorâmico estudo de Anderson R. Neves - Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Disponível na: Revista Fênix
Um comentário:
o nome do ator do coronel era generino
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