segunda-feira, 24 de maio de 2010

Jesuino Brilhante

A gruta do cangaceiro Romântico em Patu-RN 
Messier Rostand Medeiros "pincou" o pé na na estrada um dia destes e foi em busca de um dos principais esconderijos de um Cangaceiro pouco pestigiado, nem sequer existem imagens comprovadamente suas, mas que deixou marcas indeléveis na região em que viveu sua saga. Sempre detalhista este pesquisador nos proporciona belas imagens e fatos que marcaram a presença do cabra nesta região potiguar.

 Mapa do Rio Grande do Norte, mostrando no quadrado negro, a localização da cidade de Patu

Gruta da Casa de Pedra de Patu, localizada no Município de Patu, Rio Grande do Norte, devido a sua utilização no séc. XIX como abrigo pelo cangaceiro Jesuíno Brilhante, encontra-se atualmente em razoáveis condições de preservação e com real potencial para a sua utilização dentro do contexto de turismo ecológico. Trata-se de local tradicionalmente citado por vários autores folcloristas e historiadores especialistas em cangaço, que atestam o fato em comento, sendo, porém, a cavidade nunca tendo sido abordada em estudo que integrasse o lado histórico-cultural com o qual denota a sua relevância como parte do patrimônio espeleológico nacional. Este trabalho foi realizado pela ONG SEPARN - Sociedade para Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental do Rio Grande do Norte, a SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço e a Prefeitura Municipal de Patu.
 
O povoamento esta cidade teve início em 1718, com a concessão de uma sesmaria ao padre Francisco Pinto de Araújo, na Serra do Patu. Mais tarde, em 1742, o Capitão Leandro Saraiva de Moura destacava-se como proprietário de Patu de Fora, e, posteriormente, do Sítio Boqueirão no ano de 1755. A primeira residência da localidade foi construída pelo Sr. Raimundo Basílio.

 

 Maciço rochoso granítico da Serra do Lima. A cidade de Patu fica na base desta elevação.


O principal destaque no início da criação de Patu foi o Coronel Antônio de Lima Abreu Perreira, Comandante do Regimento de Ordenanças da Ribeira do Apodi, na Serra do Patu, que no ano de 1758, fez doação de terras para a construção da Capela de Nossa Senhora dos Impossíveis, erguida na majestosa serra que ficou conhecida como a Serra do Lima. No dia 25 de setembro de 1890, através da Lei nº 53, Patu desmembrou-se de Martins, tornando-se município do Rio Grande do Norte.
 

 Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores.

Motivados pelo convite para integrar uma equipe mista envolvendo a Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC e representantes do Município de Patu/RN, a Sociedade para Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental do Rio Grande do Norte - SEPARN, em abril de 1998, iniciou uma série de levantamentos científicos iniciais na Casa de Pedra de Patu e seu entorno, tendo as pesquisas sendo repetidas em viagens ocorridas em fevereiro de 2002, março e maio de 2005, junho de 2007 e setembro de 2008.  
Nessas oportunidades se teve a chance de avaliar as condições de preservação do local, alvo de irregulares visitas que terminam por depredar o ambiente, e também produzir mapeamento topográfico do interior da cavidade, auferir sua posição exata, produzir estudos sobre a geologia da área, além de lançar as bases e diretrizes para elaboração de plano aproveitamento turístico racional da área.
 

A gruta está localizada na Serra do Cajueiro, no imóvel Fazenda Cajueiro, propriedade rural às margens da RN-078 distante 5,6 Km do centro urbano, proprietário Sr. Jorge Pereira de Castro, que responde na região por Jorge Baiano. Durante o período do ciclo do algodão no Nordeste, mais de 150 famílias chegaram a viver na propriedade, sendo um importante centro local. Atualmente ainda existem as benfeitorias da época como casa sede, capela, currais, casas diversas etc.
 

A história do cangaceiro Jesuíno Alves de Melo Calado (1844-1879), o Jesuíno Brilhante, está associada à Casa de Pedra de Patu por influências familiares, uma vez que o descobridor da gruta foi seu tio materno, José Brilhante (1824-1873), vulgo "Cabe", sendo que quando o cangaceiro passou a utilizar o local, fê-lo pela indicação do parente.
 

 Casas principais da fazenda Cajueiro. Todas com mais de um século.

A pouca bibliografia existente sobre a vida de Jesuíno Brilhante conta que o velho cangaceiro José Brilhante, Cabe, teria cortado uma grande mata para chegar até a entrada da gruta. Trata-se de um local estratégico e seguro esconderijo, principalmente devido à sua altitude média, dando visão de todo o vale, e ao difícil acesso, fatores que criavam uma imensa vantagem aos cangaceiros, pois eles tinham a total movimentação de seus potenciais perseguidores sem serem vistos, numa evidente vantagem tática.
 

 Caminhos utilizados na região de Patu.

Inúmeras informações foram colhidas da tradição oral dos moradores da região e da associação entre tais fatos e as práticas comuns daqueles que viviam da vida do cangaço. O fato de existir uma saída lateral pela remoção de blocos graníticos é tido como uma intervenção do morador/cangaceiro da gruta, que o fez para lhe proporcionar uma segunda saída do local em caso de emboscada.
 

 Serra do Cajueiro, na verdade uma continuidade geológica do maciço rochoso da Serra do Lima.

Na gruta não estão caracterizados sinais evidentes de ocupação por indígenas, mas nada impede vistos os mesmos nas redondezas e o fato de a cavidade ser um abrigo natural próximo à água.
 

Os elementos que apontam a entrada de Jesuíno Brilhante na vida do cangaço são os comuns como a injustiça social, perda da posse da terra, afronta aos valores socioculturais ligados ao meio, e consequências do fenômeno das secas. Até 1871 Jesuíno trabalhou como lavrador e vaqueiro. Era casado e possuía cinco filhos. Porém seus problemas tiveram início com o roubo de alguns de seus caprinos, fato atribuído aos seus vizinhos, a família Limão.
 

Não bastasse o sumiço dos animais, alguns dias após o acontecido, um irmão de Jesuíno foi agredido por um dos da família Limão na feira da então Vila de Patu. Movido pela defesa da honra matou o agressor de seu irmão e com poucas alternativas à sua disposição, tornou-se o cangaceiro mais famoso do Rio Grande do Norte.
 

Perseguido, seu principal refúgio era a gruta, escondendo-se com o seu bando e sua família, tendo travado diversos combates com policiais. Nunca foi capturado no local, tendo sido morto na Paraíba em 1879, no sítio Riacho dos Porcos, do município de Brejo do Cruz (PB), morreu em combate, aos 35 anos de idade.
 

 A trilha de acesso a uma fonte de água e a cavidade. 
 
São diversos os escritores e pesquisadores do fenômeno do cangaço atestam a utilização desta gruta por este cangaceiro, dentre eles Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) com o seu livro "A Flor de Romances Trágicos".

 
 Contudo, a primeira literatura publicada que faz, inúmeras vezes, alusão a esta caverna, é a do escritor cearense Rodolfo Teófilo (1853-1932) com o seu romance, "Os Brilhantes" de 1895. Depois vieram outros literatos, escritores e pesquisadores como Eloy de Souza (1873-1959), Gustavo Barroso (1888-1959).
 
 No local do olho d’água encontramos esta árvore marcada por disparos. As pessoas da região afirmam terem sido produzidas pelos cangaceiros. Mas esta versão, sem uma análise mais apurada, não pode ser confirmada.

Em 19 de janeiro de 1969, o escritor Raimundo Nonato (1907-1993) visitou a caverna com a intenção de coletar dados mais fidedignos para a realização do seu livro "Jesuíno Brilhante - O Cangaceiro Romântico".
 

O escritor Raimundo Nonato relata o quanto foi difícil o acesso e compreende a razão do cangaceiro haver resistido a várias incursões de forças do governo, dentre estas uma comandada pelo então oficial de polícia e futuro senador e ministro Amaro Bezerra Cavalcanti.
 

 

 Em 2005, este foi o estado em que os membros da SEPARN encontraram a entrada da gruta. As maiorias das pichações foram feitas com carvão e corretivo branco, modelo escolar.

Já a literatura de cordel versa muito pouco sobre o assunto, já que os poetas populares fixaram-se na figura do cangaceiro e sua vida de lutas, deixando muitas vezes de referir-se ao seu esconderijo.
 

 No interior da gruta encontramos estas duas estacas de baraúna. Segundo o pessoal da região, estas estacas estão aqui desde o tempo do cangaceiro Jesuíno Brilhante e serviam para armar uma rede. Posso garantir que desde 1998 elas estão lá, já se foram colocadas na década de 1870, aí é outra história.


Não existem registros fotográficos de Jesuíno Brilhante, contudo a sua caverna-esconderijo está muita bem conservada e é o símbolo mais importante de suas aventuras e desventuras. Restou fama de cangaceiro romântico, que não desonrava as senhoras, supostamente roubava dos mais ricos e doava aos mais pobres e protegia os sertanejos dos abusos dos coronéis.
 


Na Serra do Cajueiro, desde a base até as altitudes mais elevadas, existem abrigos criados pelo rolamento de blocos de granito. Estes blocos são formados devido ao intemperismo e falhamentos que atuam na rocha. Um destes abrigos é a caverna de Jesuíno Brilhante.
 
Durante da visita conjunta SEPARN, foi realizada uma topografia preliminar que definiu como área total de progressão da caverna de 60,46 metros, desnível de 6,72 metros, extensão norte a sul de 14,64 metros, extensão leste a oeste de 14,22 metros e altura média de 2 metros. As seções transversais são irregulares, pela acomodação dos blocos. Sua localização em coordenadas geográficas em UTM ficou definida em: área 24 648736E 9319399N. Da sede da propriedade para a caverna percorre-se uma distância de 1.800 metros. 
No alto da Gruta do Cangaceiro Jesuíno Brilhante, em 2008, ano de muita chuva. O cenário aponta em direção à sede da fazenda Cajueiro. 


Abraços 
Rostand Medeiros 

3 comentários:

Anônimo disse...

pensar que eu morei ai bem pertinho na outra fazenda que era di sr joão pereira que pór sinal era cunhado de josa baiano eu tambem fui muito ai nessa caverna quando menina a minha professora belarmina sempre fazia passeio escolar com osalunos para ai era muito gostoso,quesaudades

Anônimo disse...

Eu também fui aluno da Ilustrícia Professora Belarmina, de quem sinto muita saudade e agradeço muito pelo que sou hoje!! Eu morei na Fazenda Cajueiro do Sr. Josa Baiano, nessa época havia muitos moradores, a safra era muito grande. Tive oportunidade de visitar por muitas vezes essa Bela Casa de pedras, e recomendo a todos, vale a pena conhecer, isto faz parte da nossa cultura. Pretendo voltar a esta comunidade um dia, para relembrar a minha juventude.

maria disse...

eu me chamo maria jose sou filha de chico mago morei na fazenda cajueiro que era do sr joão pereira e gostaria muito de saber quem foi que postou esse comenterio sobre o cajueiro quem sabe no´s nos conhecemos. hoje eu moro em santos sp e tenho muitas saudades dai de patu precisamente do cajueiro, de da minha professora belarmina,