quarta-feira, 31 de julho de 2013

8 de fevereiro de 1994, no “A Tarde”:

Dadá, última musa do cangaço

Transcrito por Rubens Antônio

Sob muitas lágrimas das duas filhas, dos três que teve com Corisco, dezenas de netos e bisnetos, todos chorando convulsivamente, e aplausos de um bom número de admiradores, que acorreram ao Jardim da Saudade, foi sepultado ontem, às 18h10min, o corpo de Sérgia Silva Chagas (Dadá), que morreu, aos 78 anos, na madrugada de ontem, no Hospital São Rafael, vitimada por um câncer generalizado, de acordo com a informação do historiador Carlos Cleber, que, em março próximo, vai relançar o livro “Dadá, a Musa do Cangaço”, da Editora Vozes.


O corpo de Dadá foi velado na capela do Jardim da Saudade, onde o capelão do cemitério, padre Afonso Gomes, celebrou missa de corpo presente. O filho Sílvio Hermano, que mora em Alagoas, não chegou  a tempo de assistir ao sepultamento de sua mãe. Entre os admiradores, estiveram no cemitério o jornalista e juiz classista Oleone Coelho Fontes, autor de um livro sobre o cangaço, e a ex– vereadora Geracina Aguiar.

AOS 13 ANOS
Nascida em Belém de São Francisco, Pernambuco, em 1915, e uma das filhas do casal Vicente R. da Silva / Maria R. S. da Silva, Dadá entrou no cangaço aos 13 anos de idade. Numa entrevista que concedeu em 1977, ela contou que Lampião chegara na sua casa, “onde fez uma baderna danada”. Na época, Dadá morava na fazenda Macucuré, entre os municípios de Glória e Paulo Afonso, no interior do estado da Bahia.

De repente, disse Dadá, Lampião chamou Corisco e, em tom de brincadeira, disse para ele: “Como é? Você não quer desmamar esta menina?” Corisco deu uma gargalhada, me pegou no colo, me colocou na sela do seu cavalo e saiu a galope. Depois, lembrou, “foram 12 anos de luta, correndo ou enfrentando a Policia por toda parte”. Sérgia, que ficou conhecida pelo apelido de Dadá, tinha, apenas 13 anos.

MUITO AMOR
Apesar da violência do contato inicial, Dadá sempre falou de Corisco com muita ternura, afirmando: “Nos amamos muito”. Dadá que teve três filhos com Corisco (Maria do Carmo, Maria Celeste e Sílvio Hermano), todos vivos, também elogiava Lampião, dizendo que ele era um homem bom. “Um homem de palavra, que só falava uma vez e não contava vantagens. Fico triste – confessou – quando vejo escreverem coisas que Lampião nunca fez. Os livros que têm saído sobre o cangaço só apresentam – dizia Sérgia da Silva Chagas – vantagens da Polícia e coisas terríveis que nunca aconteceram.”

OUTRO MARIDO
Dadá assistiu a morte de Corisco, em 1940, numa localidade próxima ao município de Miguel Calmon, varado de balas de metralhadora, mesmo aleijado e já tendo deixado o cangaço. Ela também foi baleada, teve uma das pernas estraçalhadas e amputada posteriormente. Casou–se com um velho pintor de paredes, já falecido, com quem não teve filhos. Criou, no entanto, muitos meninos e meninas, que considerava como seus filhos. Mesmo com uma perna só, Dadá costurava muito, chegando a aposentar–se como costureira. Com sua morte, fecha–se uma das últimas páginas do cangaço no sertão nordestino.

Pescado em: Cangaço na Bahia

Um comentário:

Gracinha disse...

Sou fascinada pelas histórias do cangaço e não sei porque. Talvez tentando entender a vida dura, perigosa, difícil de viver fugindo, guerreando, vivendo pelos matos a vida toda. Gostei do relato do filho de Dadá.