quinta-feira, 20 de outubro de 2011

As voltas que o mundo "lampionico" dá

Maria já era centenária desde 2010, e não nasceu no dia internacional da Mulher

Comemorando 3 anos de atividade, apresentamos o primeiro resultado de uma minuciosa pesquisa gentilmente cedida pelo seu autor, nosso amigo e confrade Voldi, na ocasião do ultimo Cariri Cangaço.

A presente Nota Prévia tem como objetivo dar conhecimento público aos seguidores do Blog Lampião Aceso da localização e do registro do ASSENTAMENTO DO BATISMO de MARIA BONITA contendo a exata indicação das datas: de realização da cerimônia religiosa e do seu nascimento.

Resultado de pesquisa documental e oral, operada a partir de abril de 2011, quando da realização do III Seminário do Centenário de Maria Bonita, promovido pela Prefeitura de Paulo Afonso-BA e, principalmente, realização da exposição Maria Bonita em Nós, promovida pela empresa Cria Ação Comunicação e Arte Ltda., sob a curatela e criação do padre Celso Anunciação, que contou também com a nossa assessoria técnica.

Uma questão muito emblemática para todos, incluindo muitos pesquisadores e historiadores, era a exata confirmação da data de nascimento de Maria Bonita. As imprecisões começavam quando comparávamos: para Virgulino Ferreira da Silva, o capitão Lampião, se encontrou o assentamento do batismo católico e o registro civil de nascimento – é mister que se esclareça – desencontrados em datas, meses e anos. Contudo todos os estudiosos consensam ser o ano de 1898 com o do seu nascimento.

A pergunta que não calava era: por que para Maria Bonita só nos restaram imprecisões de anos ou a única indicação de data, mês e ano - 08 de março de 1911 – sem que se tenha apresentada qualquer evidência documental?

1. Os Registros Históricos do Nascimento de Maria Bonita na Voz dos Autores.

O quadro a seguir sintetiza de modo rápido as diversas indicações quanto à data de nascimento de Maria Bonita:



A primeira indicação da data somente foi encontrada na 9a referência, contida no livro “O Espinho do Quipá – Lampião, a História”, publicado em 1997, 87 anos após seu nascimento e, coincidentemente, 60 anos após sua morte, contudo sem prova documental. Esta constatação, portanto, é o que despertou e moveu nosso interesse em desvendar tão logo e grande mistério da historiografia do Cangaço.

Com o apoio e direta colaboração de Celso Anunciação, com o qual tivemos acesso aos registros eclesiásticos da Paróquia de São João Batista de Jeremoabo e também da Paróquia de Santo Antônio da Glória, cujos livros se encontram arquivados na Cúria Diocesana da atual Diocese de Paulo Afonso-BA.

Justiça seja feita. Com relação a Celso Anunciação, por mais insistência que tenha sido feita à co-autoria da presente Nota Prévia e do futuro livro a ser concluído em brevíssimo tempo, respeitando sua vontade não posso deixar de afirma que sem sua direta colaboração, possivelmente perderíamos a chance de encontrar o assentamento de batismo de Maria Bonita. Os livros consultados se encontram por demais comprometidos tanto na conservação quanto no factível dando físico se forem manuseados.

Também não posso suprimir a providencial orientação e anuência prévia do resultado desta pesquisa, obtida com o grande historiador e amigo pessoal Frederico Pernambucano de Mello.

2. A Missiva de 1971 ao Bispado de Bonfim

A terceira referência que faz referência ao ano do nascimento de Maria Bonita se encontra no registro do pesquisador Antônio Amaury Corrêa de Araújo, quando no ano de 1971, uma missiva foi remetida à sede do Bispado de Bonfim no estado da Bahia, endereçada ao padre Vicente O. Coutinho, referido como secretário do citado Bispado (Diocese). Esta missiva é de particular importância no presente estudo. Os termos da mesma demonstram a busca pelas informações do pesquisador referido.

Não é de se estranhar que após 40 anos, em 2011, se tenha encontrado a carta datada de 16 de março de 1971, aparentemente sem resposta daquele Bispado, com os seguintes dizeres conforme fac-símile a seguir:


Frente

 Verso



È explicável o motivo pelo qual não tenha havido resposta à missiva de Antônio Amaury por parte do Bispado de Senhor do Bonfim/BA, senão vejamos: há a imprecisa indicação dos nomes próprios do pai e da mãe e de Maria Bonita. Nada de mensurar criticamente o pesquisador. Na época, é de se imaginar com os dados disponíveis, que qualquer um poderia cometer tais equívocos. Vale, no entanto a intenção positiva do pesquisador hoje já consagrado.

3. Registros das Paróquias de Santo Antônio da Glória e de São João Batista de Jeremoabo e dos Cartórios do Registro Civil de Santo Antônio da Glória e de Jeremoabo/BA.

Dado o precário estado de conservação em que se encontram os livros consultados a pesquisa, além de difícil requereu a adoção de cuidados especiais para que os registros não fossem danificados.

Os registros paroquiais consultados foram os seguintes: assentamentos de batismos do período compreendido entre os anos de 1901 a 1922 e para os assentamentos de casamentos do período compreendido entre os anos de 1907 a 1940.

Os registros cartoriais e civis consultados foram os seguintes: termos de nascimentos do período de 1902 a 1937 e para os termos de casamento do período de 1900 a 1940.

4. O assentamento de Batismo.

Nas primeiras consultas foi identificado o que veio no final da pesquisa a ser confirmado como o Assentamento de Batismo de Maria Bonita, encontrado na Paróquia de São João Batista de Jeremoabo no Livro do período de 1909 a 1915, de número 04 e na folha 30 verso, conforme se encontram a seguir a imagem em substrato da folha fotografada e a Certidão emitida em 22 de agosto de 2011:


Imagem fotografada em substrato da folha pelo autor.

Transcrição



Na consulta ficou evidenciada a utilização dos termos “filha (o) legítima (o)” somente quando compareciam à cerimônia do batismo o pai e a mãe respectivamente.

Quando ocorria de comparecer à cerimônia apenas a mãe os termos utilizados eram “filha (o) natural”. Não foi encontrado nenhum assentamento de batismo com o comparecimento somente do pai.
Estes formatos de registros nos assentamentos de batismos são comuns nos livros consultados com distintos párocos e períodos.

Imagem da certidão escaneada na íntegra.


As confirmações encontradas podem ser assim relacionadas:  
a. A coincidência do nome civil da mãe, Dona Déa – Maria Joaquina da Conceição”;
 b. A celebração da festa religiosa anual consagrada a Nossa Senhora das Dores realizada no arruado de Santa Brígida, no mês de setembro, quando o vigário da paróquia de Santo Antônio de Jeremoabo, em período denominado “desobriga” atendia às celebrações religiosas de missas, batismos e casamentos. Confirmação obtida com entrevista realizada com Ozéas Gomes de Oliveira (irmão mais novo de Maria Bonita) e sua esposa Dona Abelízia, quando em visita realizada na sua residência na Malhada da Caiçara;
 c. Confirmação obtida com a Sra. Abelízia, esposa de Ozéas, da existência passada de um cidadão denominado “AGRIPINO”, morador do Sítio do Taráe, localidade vizinha à Malhada da Caiçara;
 d. A não identificação nos assentamentos de batismos pesquisados nas Paróquias de Santo Antônio da Glória e São João Batista de Jeremoabo, de nenhum registro que indicasse qualquer semelhança com o registro encontrado e fotografado e a certidão emitida e assinada pelo Padre José Ramos Neves;
 e. A não identificação dos registros civis dos termos de nascimentos dos cartórios de dos municípios de Santo Antônio da Glória-BA e Jeremoabo-BA, de nenhum registro que indicasse qualquer semelhança com o registro encontrado e fotografado e a certidão emitida e assinada pelo Padre José Ramos Neves.

5. Breve Conclusão.

Dada a evidência do Registro e da Certidão extraída e das confirmações relacionadas, bem como de se ter também encontrado o assentamento do casamento de Edvaldo Ferreira Dias e Joanna Maria d’Oliveira (irmã de Maria Bonita), realizado não na Matriz, no dia 18 de abril de 1936, pelo Vigário e Padre José Magalhães e Souza da Paróquia de São João Batista de Jeremoabo, se pode afirmar com segurança que MARIA BONITA NASCEU AOS 17 DE JANEIRO DE 1910.

As conclusões e outras possíveis novidades estarão impressas no nosso trabalho que se encontra no prelo, aproveitamos para apresentar a capa deste.



Crato, Ceará, 22 de setembro de 2011.
Voldi de Moura Ribeiro
Sociólogo e Pesquisador

3 comentários:

José Sabino Bassetti disse...

Olá amigo Kiko.

Desta vez nosso amigo Voldi matou a pau. Da maneira que ele apresentou sua "descoberta", não há o que contestar.
Parabéns ao amigo Voldi

Abração
Sabino Basseti

Anônimo disse...

Kiko,

Só um pesquisador do quilate do Voldi poderia nos dar de presente uma descoberta que ficará na história do cangaço e principalmente da cidade de Paulo Afonso, me refiro a descoberta da verdadeira data de nascimento de Maria Bonita.
Esse achado é um marco para os próximos eventos que tratem sobre a Rainha do Cangaço e deixa felizes todos os pesquisadores sérios.
Obrigado ao Voldi por ter compartilhado esse achado.
Saudações cangaceiras,
Abraços,
Luiz Ruben

Anônimo disse...

Para muitas pessoas, o tema cangaço em livros já se esgotou. Já deu o que tinha de dar.
Alguns afirmam que livros sobre o cangaço que valem a pena serem lidos, são aqueles escritos com informações obtidas diretamente com os protagonistas dos fatos. Como a grande maioria deste pessoal passou para um plano superior, o que tem se escrito nos últimos anos é “lixo”.
Afirmam que viajar para os locais onde ocorreram os episódios é “perda de tempo” apenas “turismo em terra seca”. Partem do princípio que “como quem viu morreu”, não vale a pena o esforço.
Colocam que obras sobre o cangaço realizadas através de pesquisa documental não serve. Pois em jornais e processos existem muitas “mentiras”, já que “papel aceita qualquer coisa”.
Talvez para muitos, o que o pesquisador Voldi fez com a conclusão de sua pesquisa, seria apenas a mudança de um pequeno detalhe na biografia desta mulher de bandido e que talvez nem valesse a pena escrever um livro sobre isto.
Concordo que nos último anos, o mercado editorial sobre o tema cangaço ficou extremamente povoado de material produzido por oportunistas. Pessoas que possuem até uma certa titularidade, mas que, sem viajar para realizar pesquisas de campo no sertão e sem efetuar pesquisas documentais em arquivos, partem para o descarado “Ctrl C” x “Ctrl V” de muita coisa que já foi feita e nada trazem de novo.
Mas não podemos esquecer que muitos livros escritos sobre o cangaço na época que existiam as testemunhas, que estas estavam lúcidas, são extremamente tendenciosos, povoados de mitos, “causos” e pura mentira.
Neste sentido, só posso parabenizar Voldi de Moura Ribeiro (a quem não conheço, com quem nem sequer conversei e muito menos tenho dele algum tipo de procuração para falar em seu nome), pelo esforço e trabalho despreendido nesta pesquisa.

O seu exemplo é para ser seguido.

Rostand Medeiros: BLOG TOK DE HISTÓRIA