segunda-feira, 27 de maio de 2013

E o tal do Calibre 28?

Ele existe, porem...


A revista Aventuras na História na edição de Maio teve enorme procura por parte dos cangaceirólogos. Mas seu conteúdo causou descontento aos estudiosos. O autor cometeu alguns erros cronológicos e outros menos relevantes como os de grafia.

No intuito de barrar a disseminação destas informações ( revista tem aceitação acadêmica, já um mero blog não tem) João de Sousa Lima elegeu e publicou em seu blog um artigo apontando vários tópicos. Espie Aqui

Um em especial nos chamou a atenção, o que citava o calibre "28" que segundo o autor era utilizado pelas cangaceiras. Certamente muitos confrades nunca sequer ouviram falar deste. Na duvida dei uma pesquisada e descobri sua existência através do site Belga Little Gun Clique Aqui

Antes de publicar nosso parecer consultei o estimado amigo e especialista em armas de fogo Fábio Carvalho Costa que nos diz o seguinte:

Caro Compadre Kiko, sobre a reportagem da revista Aventuras na História que causou esta celeuma toda, creio que deve ter sido um mero erro de revisão, pois o autor cita 32 e 28, certamente queria dizer 32 e 38.
 

Quanto a ter existido um calibre 28, sim certamente existiu. Pois em termos de calibres para armas curtas, já existiram praticamente todos os diâmetros imagináveis: dos inacreditáveis 2,7 mm de uma minúscula pistola de bolso de colete, até os enormes cartuchos de revólveres e pistolas, com calibres que alcançavam quase meia polegada (12,7mm).
 

Aliás, o primeiro revólver de sucesso comercial (e mecânico)  o Colt Paterson de 1836, tinha uma versão inicial de 5 tiros e... Calibre 0,28 (por volta de 7,12 mm), seguido depois por versões em calibres  0.31 e 0.34. Porém este Colt de 1836 era uma arma de percussão, ou seja, um revolver  que primitivamente (como a maioria da mesma época) era carregado com balas e espoletas em separado (como se fosse uma garrucha de socar), só que usava um tambor de 05 tiros! Uma alavanca, geralmente situada embaixo do cano, era encarregada de ajustar a carga/bucha/projétil dentro das câmaras.

Raro exemplar de revólver americano de percussão, Patente James Warner de 1851. 
(Fonte http://www.littlegun.info/arme%20americaine/a%20a%20images%20armes%20americaine%20gb.htm)

Assim foram os revólveres até a chegada do cartucho de metal (o cartucho de Lefaucheaux um dos primeiros)! Este tipo de arma - revólver de percussão- teve pouquíssimo uso aqui no Brasil (importamos mais armas da Europa, onde se adotou cedo o cartucho de metal). Era mais comum nos EUA, onde foram muito usados na guerra civil norte-americana (1861 a 1865), e depois marcharam na cintura dos pioneiros e cowboys para fazer a conquista do oeste selvagem. Mesmo com a popularização do cartucho de metal (que ficou mais comum nos Estados Unidos com a importação de milhares de revólveres Europeus tipo Lefaucheaux pra uso do Sul Confederado), sendo alguns dos mais famosos e clássicos revólveres americanos calibrados para cartuchos metálicos,  lançados na década de 1870 (como o Colt Peacemaker, SW nº 3, Remington 1875, etc.). 

Os exemplares originais de percussão, ainda foram usados por alguns anos, sendo muitos deles convertidos para os cartuchos modernos de metal, através de “kits” econômicos. Pessoalmente não creio que estas armas, tampouco modelos em cal. 28 devem ter sido usados por cangaceiros (Aliás, quem usaria uma arma de “socar“ em 1920? Tendo pistolas semiautomáticas Parabelllum e FN, e fuzis Mauser nas mãos).
 

Quanto a armas que usaram cartuchos metálicos ao redor do diâmetro .28 (medida neste caso expressa à inglesa em  centésimos de polegadas, equivalendo à europeia ao redor de 7,12 mm, assim destas duas maneiras geralmente se expressam os nomes e medidas de cartuchos), houveram uma meia dúzia de modelos nos fins do sec. XIX e inicio do XX (alguns pouco conhecidos do grande público). Muitas destas eram munições experimentais como as .28 BSA, e a .28 Browning, que não chegaram a linha de produção. 

Estas munições 7mm/.28 via de regra, não obtiveram sucesso comercial sendo esquecidas, eclipsadas por outras mais efetivas, geralmente de maior calibre (embora muitos fuzis tivessem esta medida de calibre, sendo usados alguns até hoje como as .280 Remington, .284 Winchester etc., mas isto já é outra história).

Abraços.
Fábio

2 comentários:

Unknown disse...

Caro Kiko,

As academias não dão o devido valor às histórias contadas neste e outros blogs, pois ainda veem os vultos como os únicos que fizeram a história sozinhos. O cangaço é recheado de pessoas que precisam ser lembradas e agraciadas com suas percepções históricas.Este blog faz o papel essencial de divulgar todas essas ações passadas e que ainda são latentes. Mas um dia, tudo isso será objeto de grande estudo muito mais do que é hoje.Mesmo assim, parabéns por suas observações.

Thomaz Araújo.

Unknown disse...

Na maioria ninguém sabe que José Virgulino era financiado por políticos e coronéis da época , servia como peça importante na região onde atuava por assim dizer ,social e economicamente , quando não tinha mais valor para estes foi deixado de lado e entregue as volantes que o mataram exibindo sua cabeça como troféu , mascarando a verdadeira história por trás do cangaço.