segunda-feira, 14 de março de 2011

Rodrigo Nunes apresenta...

Forró pra gente de bem

Rodrigo Nunes é paraibano de Campina Grande e trabalha como editor de imagens na TV Itararé, CG) e é claro com música. Dentre os seus trabalhos mais expressivos, produziu alguns documentários: sobre literatura de cordel "Manoel Monteiro, em vídeo, verso e prosa", sobre um grande cordelista contemporâneo de origem pernambucana, mas radicado na Paraíba, este trabalho foi subsidiado pelo concurso Doc TV III, TV cultura. Atualmente e de maneira independente, produziu o "AZ de Copas", título de uma música do Rei do Duplo Sentido, o grande compositor paraibano João Gonçalves.

Neste trabalho com João, teve contato com muitas pérolas do seu repertório, menos conhecidas do grande público, e resolveu montar um espetáculo musical, baseado na sua experiência em várias bandas e estudos nesta área musical.

Aí surgiu o show Forró pra Gente Bem, com repertório exclusivo do cantor e compositor João Gonçalves e que tem o cenário e figurino baseados no Cangaço.

Como o Cangaço passou a ser um componente do Show?


Como bom nordestino sempre me interessei pelo fenômeno em questão. Já havia lido alguns livros, tido acesso a fotografias com as quais produzi as primeiras montagens coloridas a partir das matrizes preta e branca, aquelas fotos clássicas, Lampião e Maria Bonita, Lampião e sua família em Juazeiro... dai surgiu uma série de pequenos trabalhos plásticos que fiz pra presentear alguns amigos,

E durante a montagem do meu show, me deparei com o livro "Cangaceiros" de Élise Jasmim, que tem uma grande iconografia. Após muito pesquisar, observar vamos dizer assim devorar a publicação, me veio o insight de que um figurino e cenografia era exatamente o que faltava para completar a performance.



Comecei a observar que as roupas e o modo de vida dos cangaceiros tinham muitos paralelos
com a cultura nordestina e contemporânea de maneira geral. Por exemplo, o visual dos cangaceiros não podia ser mais Heavy Metal/Punk, se a gente observa esse universo, da pra ver muitos elementos ligados, de repente até de maneira mais inconsciente, ao tema guerra(combate), cintos de balas, guitarras em posturas performáticas além das letras e do tipo de clima típicos do Rock.

Como no meu trabalho, fiz os arranjos mais fiéis possíveis aos originais, porém com uma roupagem mais atual e com os instrumentos que toco, guitarra, contrabaixo e percussão eletrônica, casou que foi uma beleza.

Então tentei montar uma personagem, cenografia e figurinos com elementos da minha cultura, meclados ao cangaço, porém que tivessem relação com outras culturas contemporâneas.

Escolhi os seguintes elementos:



O punhal - Que é um símbolo do cangaceiro, que está presente nas duas forças antagônicas, cangaceiros e volantes e é um símbolo ligado a afirmação da virilidade e a ritos de passagem do nordestino e de várias outras culturas, como por exemplo, os ciganos que presenteiam o menino com o punhal na sua passagem à vida adulta.

O Lenço - No inicio da concepção do show, eu usava terno e gravata e percebi a beleza dos lenços dos cangaceiros e seu uso tanto nos trajes militares dos mesmos, como quando usados com o próprio terno. Vide a foto de Lampião em Juazeiro, o misto de traje policial da época - o terno - mas ornamentado com os elementos típicos do cangaceiro.

O couro marchetado- Cintos, cartucheiras e diversos ornamentos metálicos do Jack Le Claire do Sertão e sua escola estilística, reinventada e dominada pela grande Dadá, foi um coisa que caiu como uma luva no nosso trabalho. Foi quando percebi que esses elementos influenciam várias culturas e vi que pra Lampião e seus cangaceiros virarem uma banda de Heavy Metal, da mais pesada possível era só mostrar uma guitarra elétrica pra eles, que sendo de certo modo os guerreiros revolucionários e tão festeiros num instante já estaria composto no conjunto com os instrumentos típicos... 

Só falta o chapéu...

O chapéu, só não usei à moda cangaceira, pois acho que este símbolo já foi devidamente atribuído e lindamente sacado pelo velho Lua, que inclusive em meus planos pretendo montar outros repertórios no mesmo estilo só que com outros clássicos como o próprio Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, sem deixar de usar os mesmos elementos do cangaço, buscando uma maneira permanente de costurar tudo. Certamente quando montar o repertório de Gonzagão, pretendo usar também um chapéu a moda cangaceira.

O cenário - Percebi que precisava de apoio visual no palco, pois no show eu toco sozinho gravei as músicas (só a base, guitarra, contrabaixo, bateria eletrônica e backing vocal), e faço outra guitarra ao vivo, canto e danço (dois pra lá e dois pra cá o tempo todo).

Então montei quatro grandes painéis com fotografias em ladrilhos. Escolhi uma imagem de Lampião e uma de Maria Bonita, como símbolos da força do cangaço. Enquanto um movimento que incorporou a mulher e a vida conjugal, como um de seus valores. Escolhi a foto das cabeças cortadas dos ornamentos e ferramentas do (armas, máquinas de costura, bornais), como símbolo de sua tragédia poética.

Escolhi uma foto do bando de Corisco, como símbolo do fim de uma era, pois Corisco sendo considerado marco do final do cangaço, e seu chapéu com as três vistosas estrelas de oito pontas (inclusive, não sei se já observaram, é a estrela que aparece em maior quantidade e variedade de formas nos chapéus dos cangaceiros em geral).

Pesquisei sobre esta estrela e descobri que sua simbologia está ligada em várias culturas, a fechamentos de ciclos, não pude deixar de notar essas "coincidências" de símbolos.


Além disso, eu trabalho em um programa da área cultural, chamado Diversidade, que tem um canal bastante acessado no Youtube e tive outro insight para trabalhar visualmente o nosso show: No palco fica posicionada uma TV de 40', passando imagens que ilustram as músicas, no estilo videoclipes, Estas imagens são um intercalado de recortes de documentários sobre o cangaço. Escolhi falas de Dadá, Zé Rufino, Ângelo Roque, Saracura e o tenente Leonildo, além da própria narração original do filmes.

Estarei publicando a abertura do show no nosso blog, confiram. www.forropragentebem.blogspot.com

Um grande abraço!

Um comentário:

José Mendes Pereira disse...

Amigo Rodrigo Nunes:

Você foi abençoado por Deus sobre a sua vida. Veio ao mundo já com o dom de ser artista, e que nesta terra, não existe outra atividade mais bonita do que o mundo artístico, quer seja cantor, músico, ator, ou outras atividades relacionadas com o mundo artístico.
Parabéns e agradeça muito a Deus, por ter passado a mão sobre a sua cabeça.
Muitos recebem de Deus o dom de fazer shows para o mundo, mas não o valoriza. Enquanto outros tentam, tentam e não conseguem agradar nem uma minoria de pessoas.
Valeu o seu dom!

José Mendes Pereira - Mossoró-Rn.