Depoimento de Marcos Alexandre da Costa, vulgo Curió
transcrito por Antonio Correa Sobrinho
Preso desde 1945, Curió está na Penitenciária Agrícola de Itamaracá, trabalhando no viveiro e recebendo Cr$ 30,00 por semana, mas, antes disso passou 27 anos na antiga Casa de Detenção de Recife. Embora ele conte uma história diferente, os registros da Penitenciária mostram que Curió foi condenado por quatro crimes – e não por sua atuação no bando de Virgulino Ferreira – pois todos os crimes foram praticados após a morte de Lampião e a dispersão do bando.
Dos quatro processos que envolvem o nome do ex-cangaceiro, dois são por assassinatos praticados em Alagoas e no Maranhão e os outros dois por furto e latrocínio nos municípios, pernambucanos de Canhotinho e Nazaré da Mata. Mas Curió declara que antes de 1945 esteve preso em Alagoas porque se entregou:
- Foi no mesmo ano em que a Polícia matou Lampião – explica Marcos Alexandre da Costa – eu e mais 19 jagunços resolvemos nos entregar ao comandante do II Batalhão de Polícia de Alagoas, porque o bando tinha ficado sem chefe e nós queríamos acabar com as perseguições. Fiquei preso dois anos, até 1940, e depois o Presidente da República mandou soltar todo mundo. Aí viajei para São Paulo e foi entre as visitas que vinha fazer aqui no Nordeste que pratiquei os quatro crimes, porque faziam pilhérias comigo.
Curió acha que somente com emprego certo poderá terminar a vida tranquilo e parado num lugar porque desde menino sempre gostou de andar pelo mundo.
GANHAS O MATO
Ele entrou para o bando de Lampião em 1934, com 27 anos, mas antes morava em Recife e negociava com cereais no Mercado de São José. O desejo de viver andando pelo mundo e o fato de ter matado duas pessoas durante uma briga levaram-no a sair da capital pernambucana e “ganhar o mato”.
Em Alagoas encontrou o bando de Lampião e, através de Velocidade, Pinga Fogo e Santa Cruz todos seus amigos e cangaceiros, foi logo aceito no bando para trabalhar como cargueiro, “a pessoa que ia fazer as compras quando o bando parava em alguma cidade”.
- Com o grupo eu fiquei até o dia em que mataram o chefe. Ganhei o nome de Curió porque gostava muito de subir em árvores, feito passarinho.
Curió conta que no dia da morte de Lampião estava dormindo juntamente com 21 cangaceiros a uma distância de um quilômetro do local onde se encontrava o chefe, Maria Bonita e mais nove jagunços.
- A Polícia matou todos eles e nós, quando ouvimos os tiros e corremos para lá só tinha gente morta, as cabeças de Lampião e Maria Bonita cortadas; mas tudo foi traição do tenente João Bezerra, que se dizia amigo do chefe e tinha jogado dados com ele no mesmo dia em que cometeu o crime.
ATAQUES DO GRUPO
Com o bando de Lampião, o ex-cangaceiro viajou por quase todo o Nordeste, “desde a Paraíba até São Luiz do Maranhão e tudo feito a pé ou a cavalo”. Mas sobre os ataques do grupo às cidades em que chegava. Curió nada explica. Diz apenas: - Lampião só matou para se defender e era amigo de todo mundo, dos policiais e dos fazendeiros, andando livre por todo canto.
Para Curió, Lampião é um ídolo; honesto, corajoso “e também não gostava muito que a gente andasse com mulheres porque tinha medo que começasse a falta de respeito”.
- Dinheiro – afirma Curió – foi coisa que nunca faltou. Lampião sempre dividia tudo com os jagunços, mas nada era roubado. Sempre ganhava o dinheiro e eu acho que os fazendeiros era os que davam, sem precisar brigar. Ele não se arrepende do tempo do cangaço, somente dos crimes que cometeu depois. Acha que a vida de lutas no sertão era uma aventura onde “se matava para não morrer”.
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