Por Giuliano de Méroe (publicado originalmente em 2016)
“José Saturnino foi um ser humano com virtudes e defeitos como qualquer pessoa normal. Um homem honrado, um cidadão de bem, honesto e respeitado que teve a desventura de ter sido o primeiro inimigo de Virgolino Ferreira da Silva, O Lampião.”
Escritor Antônio Neto, poderia dizer- nos como surgiu a ideia de escrever “Pegadas de um Sertanejo – Vida e Memórias de José Saturnino”?
Antonio Neto - Surgiu de uma conversa com o historiador José Alves Sobrinho, neto da irmã de José Alves de Barros, no inicio do ano de 2009, sobre a construção de uma biblioteca na Fazenda Pedreira, onde nasceu José Saturnino. A ideia foi concebida e o livro "Pegadas de Um Sertanejo. Vida e Memórias de José Saturnino" foi publicado em junho de 2015. Todo o dinheiro arrecadado com a venda dessa obra está sendo utilizado para a construção da referida biblioteca.
Quem foi José Alves de Barros, conhecido como José Saturnino?
José Saturnino foi um ser humano com virtudes e defeitos como qualquer pessoa normal. Um homem honrado, um cidadão de bem, honesto e respeitado que teve a desventura de ter sido o primeiro inimigo de Virgolino Ferreira da Silva, O Lampião. O livro "Pegadas de Um Sertanejo. Vida e Memórias de José Saturnino" traz sua verdadeira história, inclusive a genealogia de sua família e depoimentos, até então, inéditos, de Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião e de José Saturnino.
Como nasceu a amizade entre José Saturnino e Lampião?
Seus pais eram amigos e vizinhos. Saturnino Alves de Barros e Alexandrina Gomes de Moura, pais de José Saturnino eram padrinhos de batismo de Antônio Ferreira, irmão de Lampião e testemunhas do casamento civil dos pais de Virgolino Ferreira da Silva. Foram criados brincando juntos e foi nesse contexto que nasceu a amizade entre os dois e permaneceu firme até a primeira desavença entre eles, em 1914.
Qual foi o motivo para o desentendimento inicial entre os dois?
Antonio Neto - A primeira desavença entre José Saturnino e Virgolino Ferreira aconteceu no início do ano de 1914, tendo como principal motivo a quebra, por parte José Saturnino, de um acerto entre eles, na pega de uma novilha indomada. Depois desse episódio, vários outros se sucederam que foram narrados no livro "Pegadas de Um Sertanejo.Vida e Memórias de José Saturnino".
Por que José Saturnino é considerado injustiçado?
Zé Saturnino sentia-se injustiçado quando o seu nome era citado em livros, jornais e revistas como sendo o responsável pelo ingresso de Virgolino Ferreira no Cangaço e pelo fato de alguns escritores e jornalistas não publicarem as entrevistas feitas com ele e, quando o faziam, suas palavras eram distorcidas com objetivo de colocá-lo na condição de vilão e Lampião na de herói.
Fale-nos sobre a colaboração das autoridades oficiais para a pesquisa e/ou obtenção de cópias dos documentos relativos aos eventos pesquisados.
Em minhas pesquisas sobre esse tema tive boa receptividade e expressiva colaboração por parte dos responsáveis pelos arquivos públicos detentores dos acervos da história do cangaço, tais como cartórios, arquivos públicos, memoriais da Justiça, arquivos gerais das Policias Militares dos diversos estados do Nordeste. Sempre fui cordialmente recebido e bem orientado pelos guardiões desses acervos, inclusive não havendo nenhum obstáculo na obtenção de cópias de documentos referentes aos eventos pesquisados.
Quais os possíveis impactos de “Pegadas de um Sertanejo – Vida e Memórias de José Saturnino”, na opinião pública corrente e nos historiadores?
Esse é dos poucos livros que tenho conhecimento de ter sido escrito baseado em documentos oficiais e em processos-crime da Justiça contra Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião e o seu bando. Os possíveis impactos da opinião pública residem no fato de descobrir a outra face do Rei do Cangaço e de saber que ainda existem documentos que podem preencher as paginas em branco da historiografia do Cangaço. Quanto aos historiadores, creio que o impacto será de reflexão, no sentido e atualizar os seus escritos sobre esse tema, uma vez que teve acesso essa documentação histórica, na época de suas publicações.
O livro foi escrito em parceria com o autor e pesquisador José Alves Sobrinho, conte-nos como foi a dinâmica para escrita do livro?
Foi muito boa e com muito entusiasmo. Eu e José Alves Sobrinho caímos em campo na busca de dados reais que resgatassem a história verdadeira de José Saturnino, desde o seu nascimento, em 15 de maio de 1894 até a sua morte, em 5 de agosto de 1980. José Alves direcionou seu trabalho para a obtenção de dados indispensáveis para a construção da genealogia da familia Alves de Barros, pesquisando e escrevendo sobre o tema. Enquanto enveredei pelas pesquisas em arquivos públicos, bibliotecas, memoriais da justiça, cartórios e arquivos gerais das policias militares dos estados do Nordeste. A cada avanço na pesquisa, uma surpresa agradável com achados inéditos, como os depoimentos de José Saturnino e de Virgolino Ferreira, o Lampião, às autoridades de direito nos ditames da lei.
O que mais o encanta nesta rica obra literária?
É a seriedade como foi escrita, considerando fontes verdadeiras e oficiais, tais como documentos antigos dos processos da justiça e boletins da Policia Militar de Pernambuco, enriquecendo o conteúdo do livro "Pagadas de Um Sertanejo. Vida e Memórias de José Saturnino".
Nossa entrevista está chegando ao final. Somos gratos por conhecer seu belo trabalho, que muito a enriqueceu. Qual a mensagem que você deixa para nossos leitores?
"Pegadas de Um Sertanejo. Vida e Memórias de José Saturnino" foi escrito no intuito de resgatar a verdadeira história de José Saturnino. Essa obra é uma biografia regulada em critérios da vida real do biografado. Os textos estão fundamentados, em processos judiciais, documentos cartoriais, e em livros de pesquisadores renomados e de estudiosos do cangaço.
Agradeço antecipadamente às criticas e opiniões que vierem a ser manifestadas sobre a nossa obra, e ao mesmo tempo o nosso apelo ao leitor especializado para assinalar e comunicar erros e omissões que por ventura forem constatados. Estarei à disposição do leitor para quaisquer esclarecimentos. Desejo a todos uma boa leitura.
Antonio Neto é Pernambucano de Serra Talhada, Graduado em Engenharia Civil e Pós - graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho pela UFPE. Membro efetivo da Cadeira nº 28 da Academia Serratalhadense de Letras, da União Brasileira de Escritores(UBE-PE) e da Cadeira nº 40 da Academia Recifense de Letras. Autor de vários livros, entre estes, descatacam-se o Dicionário do Engenheiro(3 edições); Manual de Fiscalização de Cargas de Madeira; Um Punhado de Poesia; Pintando o Sete de Poesia; Cordel Cidadão; Engenharia Civil. Turma 1976; Solidônio Leite. “Vida e Obra de Um Gênio(2 edições); Pegadas de Um Sertanejo. Vida e Memórias de José Saturnino(2 edições); Participou de diversas antologias nas categorias: conto, crônica e poesia. Organizou e coordenou o I e II Encontro Pernambucano de Escritores pela UBE/PE. Quando Diretor Cultural do Clube de Engenharia de Pernambuco, organizou e coordenou a 1ª Semana de Arte e Literatura do Clube de Engenharia, em dezembro de 2010, ainda promoveu o concurso literário “Menção Joaquim Cardozo” versão 2010 e foi coordenador editorial da revista” 90 Anos de Engenharia no Brasil. Escreveu artigos para as revistas "90 Anos do Clube de Engenharia de Pernambuco". Editor e redator do informativo literário "Correio do Pajeú". Colunista da Revista de Literatura "Novo Horizonte" e do site www.caderno1.com.br, "Um dedo de Prosa", onde revela elementos dos autos judiciais contra Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião. Enfim, escritor, pesquisador, biógrafo e poeta.
Pescado em: Revista Academica
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Um comentário:
Fantástico
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