sexta-feira, 27 de março de 2020

A pisada em Alagoas

Cangaço lampiônico em Pão de Açúcar 

 Por Hélio Fialho

Particularmente, no município de Pão de Açúcar, os cangaceiros escondiam-se em fazendas da chamada Região de Cima, principalmente em coitos localizados em Novo Gosto, Emendadas, Bom Nome, Beleza e outras, cujos proprietários eram fiéis protetores  e, por esta razão, os coitos eram bastante frequentados pelos grupos de Lampião e Corisco.

Em razão da permanência desses cangaceiros no município de Pão de Açúcar muito fatos ocorreram, sendo alguns destes registrados em livros publicados e outros apenas narrados por pessoas idosas que presenciaram ou ouviram de pessoas da família, as quais já faleceram.

A nível de Pão de Açúcar, os livros “Histórias e Efemérides” e “Um lugar no Passado”, dos respectivos autores pão-de-açucarenses  Aldemar de Mendonça e Gervásio Francisco dos Santos, são obras que narram um pouco da história da passagem dos cangaceiros por Pão de Açúcar, sendo a invasão de Lampião ao Povoado Meirus a que mais se destaca, principalmente pelo teor de violência praticada pelos cangaceiros quando abateu 102 cabeças de gado, incendiou fazendas e também uma unidade de beneficiamento de algodão.


Aspecto de Pão de Açúcar em 1910
In História de Alagaoas



Segundo narra o livro Um Lugar no Passado,  o que provocou a ira de Lampião foi uma carta escrita pelos senhores Mário Soares Vieira, José Alves Feitosa (Juca) e Manoel Campos, em que em um de seus trechos tinha o teor seguinte:

“Se quisesse tirar raça de homem valente, mandasse a mãe dele aqui para Pão de Açúcar”.

Esta célebre carta foi escrita em resposta a duas cartas enviadas por Lampião aos senhores Luiz Gonzaga e Luiz Henrique, nas quais o Rei do Cangaço exigia a importância de quatro contos de réis.

Outro fato bastante relevante foi o nascimento de Silvio Bulhões, um dos filhos dos cangaceiros Corisco e Dadá, que nasceu em uma fazenda localizada no Sítio Novo Gosto e, em seguida, foi dado para criar ao Padre Bulhões, naquela época, pároco de Santana do Ipanema. Este filho do casal de cangaceiros é considerado hoje um dos maiores historiadores do cangaço no estado de Alagoas.

Fotografias tiradas naquela época, hoje mostram o incêndio praticado por Lampião à casa de beneficiar algodão, localizada no Povoado Meirus e pertencente ao senhor João Pereira de Mello, conhecido como “ Seu Pereirinha”, no dia 15 de janeiro de 1927.





Histórias narradas por alguns moradores dos povoados Meirus e Rua Nova, a exemplo da Mestra Dadá, confirmam a passagem por estas localidades do grupo de cangaceiros comandados por Corisco, inclusive com práticas de sequestro de um morador (fato ocorrido no Povoado Meirus), espancamento de uma mulher por ter cortado os cabelos (fato ocorrido na estrada que liga Rua Nova a Boqueirão) e a extorsão ao fazendeiro Lucilo de Carvalho Mello, cuja fazenda ficava localizada no Povoado Rua Nova.

Outros registros históricos em livros, jornais, etc. confirmam a passagem dos cangaceiros Lampião e Corisco pelas fazendas Emendadas, Novo Gosto, Bom Nome e Beleza, pois nestas propriedades eles contavam com a proteção de seus proprietários, os quais eram considerados fiéis coiteiros.

Pescado Portal Minuto Sertão

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