quinta-feira, 19 de abril de 2012

Contos do além-cangaço

Jorge  Amado e o fantasma de Corisco
Capítulo do livro A casa do Rio Vermelho, da escritora Zélia Gattai (esposa de Jorge) -

Zélia e Jorge em foto de Carlos Namba
Pescado in Veja acervo digital

Sabedor da amizade e do carinho de Jorge por Dadá, tempos depois do enterro de Corisco um cidadão telefonou: queria, em nome de Dadá, falar com Jorge Amado um assunto da maior importância. Sendo em nome de Dadá, Jorge marcou entrevista com o cavalheiro. Ele apareceu, a vigarice estampada no rosto:

Seu Jorge Amado — foi dizendo —, tenho uma proposta a lhe fazer, empreitada que pode nos dar muito dinheiro.  

Jorge não mostrou curiosidade pela proposta, perguntou-lhe:

Como vai Dadá? Esteve com ela?

Não é bem isso — confessou o cara. — Andei entrevistando Dadá...

Não foi preciso ouvir mais nada, Jorge entendeu tudo, foi levantando. O sujeito estava ansioso para explicar a que vinha.

Veja bem, seu Jorge — insistiu —, tenho um belo material, material precioso das entrevistas com Dadá e das pesquisas que fiz sobre o bando de Lampião, de Corisco, o amor de Dadá. Pode dar um livro e tanto.

Já está escrevendo o livro? — perguntou Jorge

Bem, a minha participação no livro será apenas de pesquisador, essa é a minha especialidade. Pensei que o senhor poderia, com a prática que tem, escrevê-lo em três tempos. Nós dois o assinaríamos. Que tal?

Vendo Jorge calado, cara de poucos amigos, ele ainda ousou:

A gente pode até dar uma coisinha à Dadá, o que acha? Jorge já não achava mais nada, perdera a paciência. Levantou-se, despediu-se:

A sua proposta não me interessa. Me desculpe, tenho o que fazer. — Chamou Aurélio, pediu que acompanhasse o cidadão até a porta.

Dias depois, o "pesquisador" voltou à carga, uma, duas, três vezes, tentando, por telefone, convencer o escritor a ser seu sócio no livro. Cansados dos repetidos telefonemas, resolvemos não atender mais, deixamos que a secretária eletrônica gravasse as mensagens. Uma delas, creio que a última, porque depois ele desistiu, foi tarde da noite. Uma voz de além-túmulo dizia:


Jooorge Amaaado, hóóó Jooorge Amaaado! Quem fala aqui é a alma de Corisco... ouviu bem? Coooriiiscooo... Faça o livro de Dadáaaa, Jorge Amado! Faça o livro de Dadáaaa... ouviu bem? Hó! Jorge Amado... senão eu vou aí com Lampião te puxar os pés...

Créditos: Felipe Gitirana, Comunidade do Orkut Lampião, Grande Rei do Cangaço

2 comentários:

Anônimo disse...

Não é de hoje que pesquisadores do cangaço são atrevidos.

C Eduardo

Anônimo disse...

Mas e daí? O nosso saudoso escritor escreveu ou não o romance em parceria com o tal sujeito? E se não escreveu, os fantasmas dos facínoras vieram cumprir o prometido? Ou será que o fantasma dos oficiais de Policia João Bezerra e Zé Rufino, ouviram o tal telefonema ameaçando o nobre escritor e regressaram do além para dar lhe toda a proteção com suas volantes celestiais.Meu Deus! como é fantástico o extraordinário mundo dos literatos, eu que também sou escritor lendo este texto,já me
inspirei em inúmeras historias." Nem mesmo os poetas entendem o poeta".

FRANCISCO CARLOS JORGE DE OLIVEIRA Cabo da POLICIA MILITAR DO PARANÁ.