quinta-feira, 1 de maio de 2025

Desmontado

 𝐎 cavalo do "𝐂apetão"

Por Jaozin Jaaozinn


Fotografia do capitão Osório (ou Ozório) Cordeiro da Silva — comandante da força baiana —, após guerrear com o grupo de Lampeão no Raso da Catarina, região baiana, no início do mês de janeiro de 1932. Dentre os espólios, entra em destaque o cavalo que pertenceu ao Rei Cangaceiro, agora em posse do militar. Registro batido por repórteres do jornal Diário da Noite/RJ, em 1932.

Na reportagem afirma que após esse confronto, o grupo cangaceiro se dirigiu para o Estado de Sergipe, se aproximando das terras pertencentes à antiga Aquidabã/SE, tocando o terror nos habitantes e moradores locais. Depois, no dia 6 de janeiro, invadem a cidade de Canindé/SE (conhecida Canindé de Baixo), onde depredam e queimam casas/comércios e são ferradas, por Zé Baiano, três mulheres (Maria Marques, Anízia do Forno e Isaura): duas por usarem cabelos curtos (Anízia e Isaura) e uma por ter parentesco com volante (Maria).

(Obs: questão essa, da saída do Raso para Sergipe, que difere das informações publicadas por outros pesquisadores, porém, no momento não vem ao caso)

Ademais, ainda no periódico, cita a estadia do coronel João Felix de Souza, comandante das tropas da Bahia, nos sertões com o intuito de avaliar as diligências contra os bandidos e propor uma perseguição dura contra os coiteiros. Disse, com toda razão, que um dos motivos da polícia não conseguir chegar "de vez" no "Capetão", é pela forte rede de proteção e informação que este tem através de seus coiteiros. Podemos dizer que foram a base principal do cangaceirismo; sem eles, certamente grupos ou bandoleiros solos não iriam resistir por tanto tempo. Em comparação, o resultado do trabalho do coronel João Félix com os sertanejos foi maior do que as atribuladas ações do sangrento tenente Dourado (ou Douradinho) — que defendia também uma dura retaliação contra os protetores de cangaceiros; todavia, praticava crueldades em excesso contra os acusados e contra sertanejos que não tinham nenhuma ligação com o cangaço —, que torturava, matava e espancava sertanejos inocentes.

Outro fato de suma importância e que é pouco relatado, é o êxodo de famílias sertanejas dos sertões, em específico daquele ano, da Bahia e Sergipe. Após os abusos praticados por ambos os lados (volantes e cangaceiros), bem como suas moradias serem destruídas, muitos clãs decidiram sair de suas terras e migrarem para a Capital do Estado ou então para cidades e/ou povoados que estivessem longe da área de atuação de Virgolino. Querendo ou não, o cangaceirismo contribuiu e muito para a fuga de inúmeros sertanejos de sua terra natal para cidades grandes; consequentemente, aumentou-se também o número de nordestinos nas regiões do "sudeste modernizado", boa parte deles morando na rua. 

Ou seja, nem sempre o motivo era seca e fome, mas também a exagerada violência nos "grotões do Norte" que quase acabou com famílias inteiras, obrigando-as a largarem tudo o que tinham para salvarem as suas vidas. De qualquer forma, a saudade do seu rincão perdura, e agora o novo inimigo é a xenofobia impregnada na "sociedade inovada"; e em momentos, certas palavras dirigidas para os retirantes feriam mais que as pontas finas dos punhais nas costas ou as bofetadas de chicote no rosto ou nas mãos.

𝐹𝑂𝑁𝑇𝐸𝑆: 𝐽𝑜𝑟𝑛𝑎𝑙 𝐷𝑖𝑎́𝑟𝑖𝑜 𝑑𝑎 𝑁𝑜𝑖𝑡𝑒/𝑅𝐽 — 𝟏𝟗𝟑𝟐; 𝑟𝑒𝑣𝑖𝑠𝑡𝑎 𝑂 𝐶𝑟𝑢𝑧𝑒𝑖𝑟𝑜/𝑅𝐽 — 𝟏𝟗𝟑𝟐; 𝑍𝑒́ 𝐵𝑎𝑖𝑎𝑛𝑜 — 𝑅𝑜𝑏𝑒́𝑟𝑖𝑜 𝑆𝑎𝑛𝑡𝑜𝑠.

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