quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Pias das Panelas

Um dos cenários mais tristes da saga lampiônica

Texto e fotos Kiko Monteiro

Guiados pelo confrade Manoel Belarmino, No ultimo domingo, 22  de outubro de 2023, eu, junto com o companheiro de expedições Marcelo Rocha, pudemos finalmente conhecer as “Pias das Panelas”. Um pequeno lajedo às margens do Riacho do Quatarvo, antigo território da histórica Fazenda Paus Pretos de Antônio Caixeiro na zona rural de Poço Redondo, Alto Sertão Sergipano.
 
 

Nos anos 30 este local passou a ser um dos muitos coitos de Lampião 
e seus subgrupos naquela região. 
 

 
 
Como bem preveniu o saudoso mestre Alcino Costa, um lugar fúnebre, lúgubre, pois fora palco de tragédias e virou morada eterna de pelo menos 5 almas identificadas. Uma coincidência macabra entre as vítimas que jazem ali é que todas foram mortas pelos seus próprios “parceiros”.
 
 

Esta formação de pedras, embaixo de um velho umbuzeiro, marca a sepultura da cangaceira Lídia. Acusada de adultério, foi morta pelo seu marido, “Zé Baiano” em julho de 1934.
 
Após o veredito de Lampião, Zé deixou-a amarrada naquela mesma árvore durante toda a madrugada. Ao amanhecer, aquela que foi considerada a mais bela das cangaceiras, foi morta a pauladas.
 

 
O delator da traição, o cangaceiro “Coqueiro II”, pensou que teria a gratidão do bando, mas tombou sob a mira do colega “Gato” e por ali mesmo foi enterrado.
 
A história não esquece de Preta de Maria das Virgens. Nativa daquela mesma região que foi assassinada pelo seu namorado, Zé Paulo. Este, após descobrir que engravidara a moça, para não ser obrigado a casar com a pobre sertaneja, aplaca seu tormento com uma pedra, esmagando a sua cabeça e deixando-a ali. Localizada, é enterrada às margens do Riacho.
 
Também em um ponto atualmente impreciso, em 1937, foi morta e sepultada a cangaceira Rosinha, viúva do cangaceiro “Mariano”. Executada pelo seu colega “Pó-Corante” a mando de Lampião, só porque desejava voltar pra casa dos pais… Mas no cangaço, como em qualquer outra organização criminosa, aquilo era considerado uma deserção. Ela sabia demais e assim foi efetuada a queima de arquivo. 
 

 
E a sentença do vaqueiro e coiteiro “Zé dos Paus Pretos”
 
Aquele que em finais de 1937 acreditou ter matado o cangaceiro “Novo Tempo”, depois de encontrá-lo moribundo nas matas ao redor da Fazenda que devia ser rancho seguro dos cabras de Lampião. Mesmo baleado na cabeça “Novo Tempo” conseguiu fugir. Recuperado, relatou a traição do colaborador. Zé foi queimado vivo em uma coivara. Dias depois os vaqueiros da região encontram o corpo já em estado avançado de decomposição e o enterram-no ali mesmo nas proximidades das Pias das Panelas.
 

 
Gratidão pela atenção e companhia deste confrade que é grande conhecedor dos fatos que envolvem o Cangaço em Poço Redondo e em toda aquela região.
 
Manoel Belarmino, Marcelo Rocha e o autor.
 

 
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