quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Pedro Jeremias vem ai

Romancista da PB retrata saga de um suposto cangaceiro do bando de Lampião

Por Severino Lopes (PB Agora)


Entre os séculos 19 e meados do 20, um tipo específico de banditismo se desenvolveu no sertão nordestino: o cangaço. Os cangaceiros saqueavam fazendas, povoados e cidades, impunemente e impondo sua própria lei à região em que atuavam. Um dos mais famosos cangaceiros do clamado ciclo do banditismo, foi Virgulino Ferreira, mais conhecido como Lampião. As últimas horas de Lampião, e o surgimento de um novo líder foi retratado pelo escritor paraibano Efigênio Moura na trilogia do cangaço “Pedro Jeremias”.

 


A saga começa no Sertão de Alagoas no ano de 1938. Naquele ano, o ciclo do banditismo estava em alta. Em meio a triunfos e embates, a saga de Lampião, o mais conhecido cangaceiro brasileiro, chega ao fim. Virgulino Ferreira da Silva e parte de seu bando morreram na Grota de Angicos, no sertão sergipano, depois que uma força volante descobriu onde eles estavam acampados. Naquele fatídico 28 de julho,segundo o romancista paraibano, Pedro Jeremias assistiu das margens do Rio São Francisco todo o massacre de longe, ao lado do temível Corisco, inclusive, o cortejo macabro realizado com as cabeças dos cangaceiros, que percorreram cidades e vilarejos, sendo expostas para visitação pública.

Esse é o enredo inicial de uma ficção que se apresenta em três livros e tendo Pedro Jeremias como  nome principal da trama.

Com a morte do líder, Pedro Jeremias, no comando de seu grupo resolve parar com aquela vida,  mas somente entrega suas armas a Padre Cicero  e passa a percorrer vários sertões tentando chegar no ‘Joaseiro do Cariri’. Pedro Jeremias é o personagem fictício da trilogia escrita pelo paraibano de Monteiro, Efigênio Moura, ambientado no cangaço pós Lampião.

Os livros publicados com o selo das edições Eita Gota e Leve  atingem um total de oito publicações do  escritor Efigênio Moura. A obra mistura ficção e realidade numa linguagem tipicamente da região e riqueza cultural inestimável. Pedro Jeremias teria chegado atrasado a uma reunião marcada por Lampião com os seus subchefes, José Sereno, Labareda e Corisco, e apenas ouvido os estopidos que dizimaram o bando.

Embora comece em 1938 na Fazenda Emendadas, Pão de Açúcar em Alagoas, a história ganha destaque no ano de 1935, na cidade de Bonito, na Zona da mata de Pernambuco, precisamente na Fazenda Serra Verde, quando o agricultor Paulo Rubem mata um policial, batizado pelos cangaceiros de“macaco”, e desperta os olhares de Lampião.

Paulo Rubem que ao entrar para o bando adota o nome de Pedro Jeremias, vive o auge do cangaço quando o bando de Virgulino Ferreira ainda espalhava medo e derrame de sangue nos sertões nordestinos. A população vivia aterrorizada. Os ataques de Lampião e seu bando eram sempre cruéis. Em meio ao clima seco e hostil da região, Lampião estava se preparando para mais um ataque, e .o alvo desta vez seria a cidade de Bonito (PE).

Só que a pedido de Pedro Jeremias, Lampião desiste de invadir a cidade. Mais um ataque sanguinário foi evitado. Aliás, evitar o ataque a Bonito foi a condição de Pedro Jeremias para se juntar ao bando e se arriscar nos combates com as “volantes”. Efigênio observa que a tentativa de Lampião de invadir Bonito foi fictícia, já que a região não era um terreno favorável para os cangaceiros, que só sabiam andar na caatinga.

Ambientado no ano de 38, ano da morte de Lampião, o livro percorre os sertões de Alagoas e Pernambuco e encerra-se em Alagoa de Baixo, atual Sertânia, região do Moxotó. “Pedro Jeremias” tem sangue, a coragem e as indumentárias de cangaceiro. Em sua trajetória, se tornou um dos cangaceiros mais fiéis a Virgulino Ferreira. O livro é uma cachoeira de datas, de momentos que marcaram a saga do cangaço na região no século passado. Fatos históricos enriquecem o enredo, como a criação do primeiro campo de concentração do mundo, em Fortaleza em 1915; a Quebra de Xangó em Maceió em 1912 entre outros eventos.

Para elaborar a história dá vida a seus personagens, o escritor realizou uma pesquisa de seis  anos sobre traços históricos e linguísticos da época. “A geografia e a oralidade do livro são de 1938.

O encontro entre Pedro e Lampião resulta no “cangaço refúgio”, no qual a pessoa entrava para o bando para não ser perseguida pelas autoridades. Um dos destaques da obra, é o romance inevitável entre Pedro Jeremias e Maria de Jesus. O romance se torna ainda mais complicado devido à perseguição iniciada por um parente do policial que o protagonista matou.

“Mesmo já tendo mulheres no bando, ele não quer levar Maria para salvaguardar a vida dela. Quando ele manda buscar ela, arruma uma maneira para trazer ela para junto dele e aí também é outra peleja que tem dentro do livro”, pontuou.

No primeiro livro, o Efigênio narra a formação do bando de Pedro Jeremias, a fuga das “volantes” com destaque para perseguição do capitão Miguel Eugênio, que também é um personagem fictício.


 


“O que temos de verdade nessa história, são os combates que aconteceram com Lampião e eu coloco os meus personagens naqueles combates. É verdade também a geografia e a oralidade da época” destacou.

A história de Pedro Jeremias ganhou vida e inspirou um curta-metragem, gravado em Cabaceiras, no Cariri da Paraíba. O filme dirigido pelos cineastas paulistas Antônio Fargoni e Tiago Neves, e .protagonizado pelo jornalista Hipólito Lucena, foi realizado em forma de literatura de cordel.

2º Livro – “Pedro Jeremias dentro dos Cariris Velhos”. A Saga continua. O segundo livro da trilogia, editado pela editora de Campina Grande, Leve Editora, foi ambientado em Monteiro de 38 e cercanias, terra natal do autor. Começa com o cerco da política na casa de Isabel Torquato na tentativa de prender Maria de Jesus. O bando inicialmente formado por 4 cangaceiros, foi refeito nesse novo livro, devido ao aumento do cerco policial.

Na fuga das volantes especialmente, a peleja com o capitão Miguel Eugênio, Pedro Jeremias percorre o Cariri, atravessa o Sertão da Paraíba. Entre a ficção e os romances históricos, parte da peleja acontece em, São Sebastião de Umbuzeiro, Prata, Ouro Velho, Amparo, Camalaú e São Thomé que hoje é Sumé. No segundo livro, lançado em 2019, o autor procurou explorar a religiosidade e as crendices da região como as histórias do “corpo fechado” entre outros elementos culturais do povo nordestino. Um dos destaques da obra, é crescimento da Polícia Militar da Paraíba entre os anos de 38 e 39 e as estratégias do coronel José Vasconcelos para sufocar o cangaço.

Traz citações a Guerra de Doze entre Augusto Santa Cruz e o governo da Paraíba, a fuga pelo Cariri paraibano e volantes no seu encalço não impedem de Pedro Jeremias de ter uma folga para ‘fechar o corpo’. É outra situação do livro: o misticismo, a religiosidade, as crenças, a fé inabalável e  os encantos. No segundo livro a força da mulher nordestina é explicitada através de personagens que viveram a rigidez do cangaço sem demonstrar inferioridade ou inteira submissão.
O segundo livro foi lançado em 2019, pela Editora Leve.

A história encerra com a perseguição das volantes em torno do bando e mais uma escapatória do cangaceiro.

3ª Livro – “Pedro Jeremias nos Cariris Novos”. A saga de Jeremias terá o fim no terceiro livro da trilogia que terá um caráter mais político. Efigênio aproveitou o enredo para mostrar como os coronéis usavam os cangaceiros em favor próprio, beneficiando-se da lei do bacamarte e do fuzil. O livro será lançado no primeiro semestre de 2020.

A história se passa entre Misericórdia, hoje Itaporanga, e Piancó, no Sertão da Paraíba. Naquela região, aconteceu o célebre ataque ao bando de Lampião. Nessa fase, a presença da Polícia Militar é mais forte, dentro dos combates com os cangaceiros, trazendo os resquícios de 1930 na Guerra de Princesa.

Nos embates de Pedro Jeremias com a polícia, o autor transporta o personagem principal para as terras do Ceará. Nesse novo solo, ele relata a vida dos beatos e romeiros e o sentimento de Juazeiro e dos Romeiros, pós morte de padre Cícero.

A ideia de Efigênio é contar no 3ª livro, o sentimento dos nordestinos pós Lampião que culminou com o fim do cangaço em 1940 com Corisco. O último livro fala de ambientes históricos como as guerras de Canudos e do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, relata o luto do dia da morte de padre Cicero, traz respingos da Guerra de 30 em Princesa Isabel, mostra como a política se utilizava do cangaço e a força da policia Militar da Paraíba no combate ao banditismo. Editado pelo Leve, o livro contará com quase 400 páginas.

O fim de Pedro Jeremias -que já escapou de duas emboscada, só se vai saber ao adquirir o livro.
O terceiro livro tem lançamento previsto para o primeiro semestre deste ano. Todas as capas da trilogia foram feitas pelo jornalista e cartunista Júlio Cesar Gomes.

Natural do Cariri paraibano, Efigênio Moura tem a verve do povo nordestino e se aproveita de sua terra para extrair a riqueza do lugar e dá vida a seus personagens. Em sua obra ele busca valorizar o regional e as coisas do Cariri paraibano, numa linguagem típica da região.

O escritor romancista é autor de oito livros, lançados a partir de 2009, e que têm como cenário a Paraíba, sendo esses “Eita Gota! Uma viagem paraibana”, “Ciço de Luzia”, “Santana do Congo”, “Caderneta de Fiado” que está esgotado, “Apurado de Contos” e Pedro Jeremias ( trilogia). O livro Ciço de Luzia teve tradução para o inglês publicado em 2019..


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