O Centro Cultural do Banco do Nordeste promove hoje (23/2/2010) dentro do Projeto Ouvi Dizer, leituras dramatizadas do ator Odilon Camargo em torno dos cordéis de Arievaldo Viana, escritor, poeta sócio da SBEC. O evento terá início as 15:30hs no Espaço Cultural do Banco do Nordeste (Rua Floriano Peixoto, 941, Centro. Fortaleza-CE)
Maiores detalhes, inclusive com entrevista de Arievaldo Viana nesta matéria abaixo colhida no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste.
Cordéis encantados
Todo cordel é encantado, mas na tarde de hoje as poesias de Arievaldo Viana estarão ainda mais, em leituras dramáticas de Odilon Camargo.
Odilon Camargo promove o encantamento dos cordéis de Arievaldo Viana em leituras dramatizadas que acontecem hoje à tarde, no Centro Cultural Banco do Nordeste. Linguagem tradicional da literatura oral, o cordel continua tendo sua expressividade atualizada.
Apesar da atualidade que o cordel ganhou graças a uma única banda que o levou ao universo da música pop, a pernambucana Cordel do Fogo Encantado, ainda é muito difícil entender como a linguagem sobrevive aos tempos. Perdido na imensidão de apelos das mídias digitais, o folheto que melhor traduz a oralidade da identidade nordestina, assim como a cantoria de viola, parece estar sempre produzido para os turistas, pouco valorizado, de fato, pelos leitores locais, tanto os de mais idade como os que só ouvem falar dele através da banda de Lirinha. No entanto, a atividade segue seu caminho. E busca novas formas de manifestar-se. O que não é bem o caso da aproximação com a dramatização, que, embora pouco difundida em nosso Estado, é uma destas alternativas mais tradicionais. Então, as leituras dramáticas que o ator Odilon Camargo promove hoje à tarde, no Centro Cultural Banco do Nordeste, dentro do projeto Ouvi Dizer, em torno dos cordéis de Arievaldo Viana Lima, podem ser uma forma "nova" para o público cearense reativar este contato.
Dedicado à revitalização da palavra verbal, o projeto Ouvi Dizer também busca incentivar a leitura das obras interpretadas. O que pode representar uma prática bastante recomendável, não apenas para a disseminação da literatura de cordel, mas para a apropriação da linguagem por outras como a música, o teatro e até o cinema. As leituras dramatizadas, inclusive, irão fazer parte de um acervo sonoro a ser disponibilizado pelo Centro Cultural Banco do Nordeste. Já passaram pela dramatização de Odilon textos de José de Alencar, Quintino Cunha, Leonardo Mota e José Albano.
Trajetória bonita
Poeta popular, radialista, ilustrador e publicitário, o quixeramobiense Arievaldo Viana é, aos 43 anos, ao lado de seu irmão Klévisson Viana e de nomes como Rouxinol do Rinaré, Zé Maria de Fortaleza e Anchieta Dantas, um dos mais importantes difusores, no Estado, dos encantamentos em forma de cordel. Folhetos de que ele se aproximou ainda na infância, quando sua avó, Alzira de Sousa Lima, escolhia as rimas e métricas da linguagem para promover sua alfabetização. A verve poética foi exercitada desde então, mas os primeiros cordéis só foram publicados na década de 90. Desde então, foram mais de cem, o mais famoso, talvez: "A Peleja de Zé Limeira com Zé Ramalho da Paraíba", com apresentação do próprio cantor e compositor.
Com Klévisson, e depois Rouxinol, Zé Maria, Geraldo Amâncio e Evaristo Geraldo, Arievaldo criou o Acorda Cordel na Sala de Aula, projeto hoje apoiado pelo Ministério da Educação, que utiliza a poesia popular na alfabetização de jovens e adultos. Com edições em livro, obras como "A ambição de McBeth e a maldade feminina" e "A Raposa e o Cancão" foram indicadas pelo Ministério para o Programa Nacional de Bibliotecas Escolares (PNBE). Em 2005, "Acorda Cordel..." virou um livro-CD, com participações de Mestre Azulão, Geraldo Amâncio, Zé Maria de Fortaleza, Judivan Macedo e Gonzaga da Viola. "São 10 poemas musicados. Cinco são de minha autoria. Os outros são de Rogaciano Leite, Alberto Porfírio, Zé da Luz e outros poetas. Além do CD, saiu também uma caixa com 12 folhetos de diversos autores. Hoje o cordel está gozando de excelente aceitação", considera.
Membro da Academia Brasileira de Cordel desde 2000, Arievaldo já difundiu o cordel em vários estados e tem inédito "A verdadeira história do navegador João de Calais" (FTD), "Mala da Cobra - Almanaque Matuto" e ainda uma obra sobre o maior dos cordelistas, o paraibano Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Ele também estará, no próximo dia 8, em Salvador, falando sobre a presença de Maria Bonita no cordel, nas comemorações pelo centenário da cangaceira, a convite de Vera Ferreira, neta de Maria e Lampião. Por enquanto, é conferir o palavreado de Arievaldo ganhando outros sons encantados pela boca do Odilon.
Entrevista - Arievaldo Viana*
- A literatura de cordel, ao longo de sua existência, enfrentou várias crises. No tempo de Sílvio Romero, há mais de 100 anos atrás, já se falava na morte do cordel e, no entanto, aí está ele, firme e forte. A arte de contar histórias não morre jamais. Mudam os formatos. E o cordel está buscando novas formas. Além do folheto tradicional, estamos apostando também no Cordelivro, um cordel ilustrado, no formato de livro infanto-juvenil. A aceitação está sendo muito boa. Os locais de se vender cordel também estão mudando. Antigamente ele era comercializado nas feiras, mercados, ou no interior de trens. Agora é comum encontrá-los nas livrarias e também nas bancas de revista.
Por que as dramatizações dos cordéis são mais comuns em outros estados?
- Agora mesmo, um folheto da dupla Klévisson-Rouxinol ganhou uma bela dramatização, que foi premiada no Festvale (Festival de Teatro do Vale do Jaguaribe). É uma biografia em versos de Lampião e Maria Bonita. Em 2006, o Grupontapé de Teatro, de Uberlandia-MG, recebeu um prêmio da Funarte com a adaptação de um folheto meu, "O Batizado do Gato". Essas adaptações para o teatro estão se tornando cada vez mais frequentes, sendo uma ótima maneira de popularizar os nossos textos.
O que o público poderá esperar desta experiência?
- O Odilon Camargo é um ator fabuloso. Ele consegue enxergar coisas nas entrelinhas que um leitor comum geralmente não vê. Ele irá fazer a interpretação de alguns textos selecionados, no meio de 10 livros e mais de 100 folhetos. Em dado momento, ele interage com o público, e a coisa pega fogo. Vou levando também alguns folhetos para distribuir gratuitamente com a plateia, a fim de estimular uma leitura coletiva em voz alta. Com certeza será um espetáculo muito bonito.
Cordelista e escritor
Mais informações
Ouvi Dizer - Leitura dramatizada de Odilon Camargo em torno da obra do cordelista Arievaldo Viana Lima. Hoje, de 15h30 às 16h30, no Centro Cultural Banco do Nordeste (Rua Floriano Peixoto, 941, Centro). Grátis. Inscrições para a programação do centenário de Maria Bonita, em Salvador, podem ser feitas até 4 de março. Esclarecimentos: Acorda Cordel e Miolo de Pote
Dedicado à revitalização da palavra verbal, o projeto Ouvi Dizer também busca incentivar a leitura das obras interpretadas. O que pode representar uma prática bastante recomendável, não apenas para a disseminação da literatura de cordel, mas para a apropriação da linguagem por outras como a música, o teatro e até o cinema. As leituras dramatizadas, inclusive, irão fazer parte de um acervo sonoro a ser disponibilizado pelo Centro Cultural Banco do Nordeste. Já passaram pela dramatização de Odilon textos de José de Alencar, Quintino Cunha, Leonardo Mota e José Albano.
Trajetória bonita
Poeta popular, radialista, ilustrador e publicitário, o quixeramobiense Arievaldo Viana é, aos 43 anos, ao lado de seu irmão Klévisson Viana e de nomes como Rouxinol do Rinaré, Zé Maria de Fortaleza e Anchieta Dantas, um dos mais importantes difusores, no Estado, dos encantamentos em forma de cordel. Folhetos de que ele se aproximou ainda na infância, quando sua avó, Alzira de Sousa Lima, escolhia as rimas e métricas da linguagem para promover sua alfabetização. A verve poética foi exercitada desde então, mas os primeiros cordéis só foram publicados na década de 90. Desde então, foram mais de cem, o mais famoso, talvez: "A Peleja de Zé Limeira com Zé Ramalho da Paraíba", com apresentação do próprio cantor e compositor.
Com Klévisson, e depois Rouxinol, Zé Maria, Geraldo Amâncio e Evaristo Geraldo, Arievaldo criou o Acorda Cordel na Sala de Aula, projeto hoje apoiado pelo Ministério da Educação, que utiliza a poesia popular na alfabetização de jovens e adultos. Com edições em livro, obras como "A ambição de McBeth e a maldade feminina" e "A Raposa e o Cancão" foram indicadas pelo Ministério para o Programa Nacional de Bibliotecas Escolares (PNBE). Em 2005, "Acorda Cordel..." virou um livro-CD, com participações de Mestre Azulão, Geraldo Amâncio, Zé Maria de Fortaleza, Judivan Macedo e Gonzaga da Viola. "São 10 poemas musicados. Cinco são de minha autoria. Os outros são de Rogaciano Leite, Alberto Porfírio, Zé da Luz e outros poetas. Além do CD, saiu também uma caixa com 12 folhetos de diversos autores. Hoje o cordel está gozando de excelente aceitação", considera.
Membro da Academia Brasileira de Cordel desde 2000, Arievaldo já difundiu o cordel em vários estados e tem inédito "A verdadeira história do navegador João de Calais" (FTD), "Mala da Cobra - Almanaque Matuto" e ainda uma obra sobre o maior dos cordelistas, o paraibano Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Ele também estará, no próximo dia 8, em Salvador, falando sobre a presença de Maria Bonita no cordel, nas comemorações pelo centenário da cangaceira, a convite de Vera Ferreira, neta de Maria e Lampião. Por enquanto, é conferir o palavreado de Arievaldo ganhando outros sons encantados pela boca do Odilon.
Entrevista - Arievaldo Viana*
"Mudam os formatos, mas a arte de contar histórias não morre jamais"Você já lançou mais de 100 cordéis. Como o cordel sobrevive nos dias de hoje, no seu caso e de modo geral?
- A literatura de cordel, ao longo de sua existência, enfrentou várias crises. No tempo de Sílvio Romero, há mais de 100 anos atrás, já se falava na morte do cordel e, no entanto, aí está ele, firme e forte. A arte de contar histórias não morre jamais. Mudam os formatos. E o cordel está buscando novas formas. Além do folheto tradicional, estamos apostando também no Cordelivro, um cordel ilustrado, no formato de livro infanto-juvenil. A aceitação está sendo muito boa. Os locais de se vender cordel também estão mudando. Antigamente ele era comercializado nas feiras, mercados, ou no interior de trens. Agora é comum encontrá-los nas livrarias e também nas bancas de revista.
Por que as dramatizações dos cordéis são mais comuns em outros estados?
- Agora mesmo, um folheto da dupla Klévisson-Rouxinol ganhou uma bela dramatização, que foi premiada no Festvale (Festival de Teatro do Vale do Jaguaribe). É uma biografia em versos de Lampião e Maria Bonita. Em 2006, o Grupontapé de Teatro, de Uberlandia-MG, recebeu um prêmio da Funarte com a adaptação de um folheto meu, "O Batizado do Gato". Essas adaptações para o teatro estão se tornando cada vez mais frequentes, sendo uma ótima maneira de popularizar os nossos textos.
O que o público poderá esperar desta experiência?
- O Odilon Camargo é um ator fabuloso. Ele consegue enxergar coisas nas entrelinhas que um leitor comum geralmente não vê. Ele irá fazer a interpretação de alguns textos selecionados, no meio de 10 livros e mais de 100 folhetos. Em dado momento, ele interage com o público, e a coisa pega fogo. Vou levando também alguns folhetos para distribuir gratuitamente com a plateia, a fim de estimular uma leitura coletiva em voz alta. Com certeza será um espetáculo muito bonito.
Cordelista e escritor
Mais informações
Ouvi Dizer - Leitura dramatizada de Odilon Camargo em torno da obra do cordelista Arievaldo Viana Lima. Hoje, de 15h30 às 16h30, no Centro Cultural Banco do Nordeste (Rua Floriano Peixoto, 941, Centro). Grátis. Inscrições para a programação do centenário de Maria Bonita, em Salvador, podem ser feitas até 4 de março. Esclarecimentos: Acorda Cordel e Miolo de Pote
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Por Henrique Nunes / REPÓRTER
Abraços
Angelo Osmiro
Escritor e presidente da SBEC
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