domingo, 26 de fevereiro de 2012

Guerreiros do Sol em sua 5ª Edição



Guerreiros do sol, em nova edição, é um estudo fiel e detalhado do cangaço no Nordeste brasileiro. O assunto é apresentado sob vários aspectos, entre eles o condicionamento socioeconômico gerado pelo ciclo do gado. O autor, Frederico Pernambucano de Mello, considerado um dos grandes especialistas no assunto, utilizou extensa documentação histórica para pesquisar o cangaço, além de coletar informações em jornais, depoimentos escritos e orais e na poesia sertaneja.

Neste livro, que conta com prefácio de Gilberto Freyre, são mostrados tipos humanos que encontramos hoje e que surgiram já nos primeiros dias da colonização - o valentão, urbano ou rural, o cabra de bagaceira, o jagunço, o cangaceiro. Mas o autor não descreve apenas na particularidade o reflexo da violência que há muito tempo se manifesta em nosso país; analisa também o que chama de "cangaço meio de vida", "cangaço vingança" e "cangaço refúgio".

Ariano Suassuna define assim a obra do autor: "Sem sombra de dúvida, a teoria do escudo ético de Frederico Pernambucano foi a única que, até o dia de hoje, me pareceu convincente: foi a única que explicou a mim próprio os sentimentos contraditórios de admiração e repulsa que sinto diante dos cangaceiros".


512 pág. Preço: R$ 60,00 (Sessenta Reais) com frete já incluso para qualquer canto do país. Adquira o seu agora com o professor Pereira através do E-mail franpelima@bol.com.br
Ou pelos tels. (83) 9911 8286 (TIM) - 8706 2819 (OI).


A propósito, o Professor Pereira acaba de atualizar o catálogo dos seus livros a venda, são mais de 300 títulos sobre Cangaço, Canudos, Padre Cícero, Coluna Prestes, entre outros. Solicitem pelo e-mail indicado acima.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Personagens

Coronel Aristides Simões de Freitas

O artigo Lampião em Itiúba do nosso confrade e colaborador Ivanildo Silveira é um dos mais acessados e comentados no emborná deste blog. Vamos reforçar o interesse dos cidadãos desta cidade baiana com mais esta sublime e ilustrada matéria do C.S.I. Rubens Antonio.


Nascido em 1865, o coronel Aristides Simões de Freitas tornou-se a figura exponencial de Itiúba, em termos de vida política, nas décadas de 1910 e 1920. Configurava-se como o grande representante representante local do governo estadual.


O governador da Bahia Goes Calmon visitando Itiúba, 
ciceroneado pelo coronel Aristides Simões.

Com o início da campanha contra o Cangaço, tornou-se, na sua região, uma das principais referências de confronto aos cangaceiros. Nos anos de 1929, 1931 e 1932, comandou a preparação de Itiúba, Bahia, para o confronto com o bando de Lampeão.

Isto após receber o bilhete enviado pelo cangaceiro através do vaqueiro "Zézinho, do Licuri Torto", exigindo que enviasse uma soma vultosa. Ao mesmo pediu que fosse responder a Lampeão fosse buscar o dinheiro. Coisa que Zézinho, sangrando de saúde, recusou-se a fazer, caindo no mundo.

 Aspecto de Itiúba, quando do assédio pelos cangaceiros.

Ato contínuo, o coronel Aristides armou cerca de sessenta jagunços e os posicionou nos três sítio entendidos como entradas da cidade. Traçou a estratégia de uma primeira pseudo-resistência ao bando, com fuga dos defensores do sítio. Nesta, o próximo passo seria uma fechada da entrada por onde teriam já passado, numa estratégia de cerco do bando dentro da cidade, que estava preparada para tal.

Ficou na memória da cidade a coordenação firme que a sua figura, com seu 1,9 metro de altura, exerceu.

 Coronel Aristides

Alguns indicam que a sua própria residência, além de outras da cidade, foram preparadas para a luta contra os cangaceiros. Daí, na parte inferior vêem-se as denominadas “torneiras”, que seriam aberturas para a passagem do cano das armas, caso tivesse que se entrincheirar neste último ponto.

Robério Pinto de Azeredo, que viveu a época do cangaço em Itiúba e a estudou após esta, contesta essa visão deste uso, ao menos nesta cidade. Para ele os orifícios inferiores, no caso, seriam meros artifícios arquitetônicos de circulação de ar.

No alto da sua residência aparecem as suas iniciais “ASF”. Ao lado da mesma, na cor amarelo, aparece o antigo Itiúba Plaza Hotel, propriedade atualmente comprada pela Prefeitura Municipal. Na verdade, trata-se de outra residência referencial, pois pertenceu, nos tempos do cangaço, a Berlarmino Pinto de Azerêdo, que, com a influência e apoio de Aristides, tornou-se o primeiro prefeito de Itiúba, quando da sua emancipação, em 1935.


 Residências, à direita do coronel Aristides, à esquerda, de Belarmino Pinto

Nos anos 1930, coordenou o processo de transferência do seu poder para a liderança de Belarmino Pinto de Azerêdo. O coronel Aristides veio a falecer, em 1948, em Salvador, sendo enterrado no cemitério da Quinta dos Lázaros. Três anos após, sua nora cuidou do translado dos seus restos para Itiúba, sendo inumado no mausoléu familiar.


 Sepultura familiar - O nicho do coronel Aristides é o mais alto.

 Detalhe da Carneira do coronel Aristides.


 Vavá Simões - neto do coronel Aristides, em 2011.

Os estudos desenvolvidos peço autor deste blog, com o acordo do estudioso Robério Pinto, indicam que as passagens de 1929 e 1931, efetivamente, foram do bando comandado por Lampeão. Já a passagem de 1932 foi por um sub-grupo comandado por "Corisco".

 Pesquei no essencial Cangaço na Bahia

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

João Torquato X Corisco

Encontro de Gigantes

Por: Alcino Alves Costa

Outrora, Poço Redondo era um arruado pertencente ao vasto município de Porto da Folha. Com sua emancipação em 25 de novembro de 1953 quase todas as fazendas nascidas nos escondidos daquelas brenhas caatingueiras passaram a pertencer ao novo município. Dentre elas uma fazenda chamada Pia Nova. Nos idos do cangaço o proprietário da Pia Nova era um caboclo de “boa cepa”, “raiz de braúna”, verdadeira “madeira de lei”, “homem atutanado”, sertanejo de “peso e medida”, chamado Torquato José dos Santos.


João Torquato

Já caindo para a idade seu Torquato cuidava com esmerado carinho e zelo de sua terrinha, de sua família, especialmente de sua numerosa filharada. No meio dela um rapazinho saindo da puberdade, chamado João. Este jovem caboclo carregava orgulhosamente o nome de seu pai junto ao seu nome de batismo. Vindo, com o passar dos anos, a se tornar no célebre João Torquato, o homem que derrotou Corisco, o “Diabo Louro”, na famosa medição de força acontecida na fazenda Queimada de Luís.

O sofrimento, dores e provações de João Torquato começaram acontecer naquele entardecer do triste dia 02 de maio de 1937, quando chegou a sua casa um bando de malvados cangaceiros comandados por Zé Sereno e Mané Moreno.Numa atitude injusta e perversa, os cruéis cangaceiros assassinam o velho Torquato e seu genro Firmino. Medonha tragédia que destroçou a vida de João e todos da família.

Desatinado com tamanha injustiça, João Torquato só pensava em vingar a morte do papai amado e de seu cunhado Firmino. Só lhe restava uma alternativa. Mesmo sabendo que sua mãe iria acrescentar ainda mais as suas dores e sofrimentos se decidiu por procurar uma das “forças do governo” que combatiam Lampião e nela se engajar. Só assim teria oportunidade de caçar e se vingar dos monstros que tiraram a vida de seu pai.

Foi o que fez. Procurou a volante comandada pelo famoso Zé Rufino e nela deu início a uma nova e inesperada etapa de sua vida; a vida de caçar cangaceiro. Pouco se demora sob o comando de Zé Rufino. O seu destino é a volante do temido Antônio Recruta, onde perseguiu cangaceiro por longo tempo. Nesta volante, João Torquato participou de vários confrontos com os cangaceiros.

Um deles, no entanto, se tornou célebre. Aquele em que sozinho enfrentou a cabroeira de Corisco, baleando-o e tirando a vida dos cangaceiros Guerreiro e Roxinho.

Como se sabe Corisco, após a morte de Lampião, ficou “atuleimado” e “atarantado” da cabeça, sem tino e sem razão. Ensandecido, cometeu diversas atrocidades, dentre elas as monstruosas execuções e degolamento de Domingos Ventura e mais cinco pessoas da família do vaqueiro da fazenda Patos, nas Alagoas, e como requinte final, após cortar as cabeças de suas desventuradas vítimas, as enviou para a cidade de Piranhas, aonde foram entregues ao prefeito João Correia Britto. O mesmo acontecendo, já em Sergipe, na fazenda Chafardona, em Monte Alegre de Sergipe, quando em mais um ato brutal assassinou Sinhozinho de Néu Militão, cortou a sua cabeça colocando-a em uma gamela e a enviando para o então povoado de Monte Alegre, por um rapaz chamado Santo e entregá-la ao cabo Nicolau que ali destacava.

Foi logo após esse crime que Corisco se deslocou até as caatingas da linha divisória entre Sergipe e Bahia. Existem duas versões sobre o local em que aconteceu o extraordinário combate travado por João Torquato e Corisco.

O notável historiador Antônio Amaury, em seu livro “Gente de Lampião: Dadá e Corisco”, no capítulo “Agonia do cangaço”, páginas 113, 114 e 115, seguindo as acreditáveis informações de Dadá, diz que este confronto entre Corisco e João Torquato, aconteceu na fazenda “Lagoa da Serra”, residência do coiteiro Geraldo. Ocorre que João Torquato afirmava convicto que o seu embate com Corisco se deu em uma fazendinha abandonada chamada “Queimada de Luís”. Está em muitos livros a história deste confronto. Como se sabe o cangaceiro Guerreiro foi morto pelas balas do fuzil de João Torquato quando caminhava ao lado de Dadá e Roxinho pela malhada da fazendinha.

Imaginando que Guerreiro fosse Corisco, João Torquato faz pontaria em seu corpanzil e dispara a sua mortífera arma. O bandido tomba gravemente ferido. Não é Corisco é o cangaceiro Guerreiro. Corisco e os que lhe acompanhavam pensaram ser uma volante. A cabroeira corre e se ampara no paredão de um tanque. Prepara-se para enfrentar os agressores. Assim pensando, Corisco grita raivoso:
“- Macacos covardes! Venham! Vamo brigar. Vocês tão pegados é com Corisco” 
Jamais poderia imaginar que estava sendo atacado apenas por um soldado. João se surpreendeu ao ouvir aquela possante voz. Pensava que o bandido que havia derrubado na malhada da fazenda fosse justamente Corisco, mas estava enganado. Os cangaceiros estão amparados no paredão do tanque. No outro lado do paredão está João Torquato que os enfrenta como desmedida coragem. Troca tiros com os bandidos. De repente divisa um cangaceiro que como se fosse uma cobra – e cobra ele era – se arrasta cautelosamente a sua procura. Sem perda de tempo o “contratado” dispara seu fuzil e o assecla despenca, rolando em sua direção. O “cabra” é muito jovem. Mais parece um menino. É Roxinho, o mesmo que estava ao lado de Guerreiro e Dadá na malhada da fazenda.


Grupo de Zé Rufino, primeiro a esquerda.

O menino é valente. Tenta pegar a sua arma que havia escapado de suas mãos. Não consegue. João Torquato com o coice de seu fuzil esbagaça a sua cabeça.Temendo o cerco da volante, assim imaginava Corisco, o mesmo e sua Dadá deixam o paredão do tanque e procuram a proteção da caatinga. João Torquato grita para o “Diabo Louro”:
- Tá correndo covarde? Num diz que é valente, cabra frouxo. Num corra! Vamo brigar”.  
O famoso alagoano escuta as palavras desafiadoras do soldado. É um valente. Vira-se para enfrentar a volante. Surpreso se depara apenas com um inimigo. Cadê os outros? Fica a se indagar por segundos. É a sua perdição. João Torquato aproveita aquela momentânea indecisão e dispara a sua arma. Naquele dia o filho de seu Torquato estava totalmente protegido pela sorte. Uma bala atingiu justamente os dois braços de Corisco deixando-o fora de combate.

O balaço fez com que o fuzil do companheiro de Dadá caísse por terra. Sem forças para segurá-lo o cangaceiro se desespera e procura se proteger na mataria. Percebendo a situação do famoso bandoleiro, João Torquato grita desafiador:
“- Não corra covarde. Espere pra morrer”.
Mesmo com os braços destroçados Corisco pára. Mostra o quanto é valente. Sabe que irá morrer, mas morrerá como um verdadeiro homem. João Torquato aponta-lhe a sua mortífera arma. Será o fim de um dos mais famosos companheiros de Lampião.


Dadá e Corisco

É neste instante tão decisivo que entra em cena a figura de Dadá. Sem temer o inimigo o enfrenta com inusitada coragem. Nele atira, fazendo-o desviar a sua atenção em Corisco e ter que trocar tiros com ela. Dadá não pára de atirar. Atira no feroz inimigo e empurra Corisco na direção de uma baixada protetora ali nas proximidades. As balas de sua arma se acabam. Eis que numa atitude gigantesca e inesperada, a companheira de Corisco o defende jogando pedras em João Torquato, o homem dos olhos grandes e “abotecados” como ela dizia.

Continua empurrando o companheiro. Escorrega e cai. O vingador da morte do pai sorriu. Apontou-lhe o seu fuzil. Iria matá-la sem piedade. Errou o alvo. Com raiva se prepara para o segundo tiro. Percebe então que a sua arma estava sem munição. Enfia uma das mãos no bornal. Tem que recarregar rapidamente o seu fuzil. Ao retirar a mão do bornal com as balas o nunca esperado aconteceu. Seus companheiros vinham chegando e sem medir as consequências atiraram justamente em João Torquato ferindo-o na mão que ele segurava as balas. Os pedidos que naquela agonia Dadá rogava a Nossa Senhora foram atendidos. Na confusão que reinou no meio dos da volante, Corisco e sua valente companheira conseguiram se salvar.

Como se sabe, Corisco deixou esse mundo no dia 25 de maio de 1940, assassinado pelas armas de Zé Rufino. Baleada, Dadá teve a sua perna amputada.


João Torquato deixou à volante e retornou a sua amada Pia Nova, onde viveu até o final de seus dias. Em 1958 vamos encontrá-lo ao lado de Zé de Julião. (Foto à direita) Havia se tornado um de seus fiéis aliados, naquela famosa disputa política entre o antigo cangaceiro Cajazeira e o seu oponente Artur Moreira de Sá, quando os dois eram candidatos a prefeito de Poço Redondo.

Desesperado com a monstruosa perseguição que lhe movia o governador do Estado, Zé de Julião roubou a urna no dia da eleição, ou seja, em 03 de outubro de 1958, e João Torquato ali estava de arma em punho, pronto para matar ou morrer defendendo um dos antigos “cabras” de Lampião, cangaceiros que ele tanto odiava.


-------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Para conhecer mais detalhes sobre essa história de sofrimento do povo sertanejo de Poço Redondo, em especial da família Torquato, leia-se os capítulos “Combate da Arara – morte de Zepelim”, página 249; “Os cangaceiros se vingam e matam Torquato e Firmino”, página 259; “A traição se consuma”, página 261; “Um milagre salva a volante”, página 265; e “A vingança de João Torquato, o filho de Torquato e o tiroteio com Corisco”, página 273, da terceira edição do livro “Lampião além da versão – Mentiras e mistérios de Angico”, que se encontra a venda com professor Pereira, em Cajazeira, na Paraíba. através do E-mail fplima1956@gmail.com
Ou pelos tels. (83) 99911 8286 (TIM) - 98706 2819 (OI)


Alcino Alves Costa
Caipira de Poço Redondo
Sócio da SBEC, Conselheiro Cariri Cangaço

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Pais e filhos

A filha de Luiz Pedro e Nenê 

Por Rubens Antonio

Material levantado de fontes documentais pelo pesquisador Orlins Santana de Oliveira, Membro do Instituto Historico da Bahia, gentilmente disponibilizada por este estudioso através do Blog Cangaço na Bahia.

Em março de 1934, uma criança foi entregue ao chefe da estação de Jurema, no Distrito de Juazeiro, na Bahia. Este se incumbiu de encaminhá-la para Salvador. Na capital, chegaram duas, ambas relacionadas como filhas de cangaceiros. Na pequena menina juntada no caminho, tinha um bilhete esclarecia. Chamava-se ¨Maria¨ e era filha do cangaceiro Luiz Pedro.


Nenê e Pedro

Enviada para Salvador, foi colocada em 28 de maio de 1934 na roda do Asylo dos Expostos, na capital.


Transcrição do registro de entrada:



"Livro n.28 do Asylo dos Expostos. 
De 10 de Maio de 1934 á 21 de Novembro de 1935 1934 

Maio – 28


Pelas 14 horas 1/2 foi posta na roda do Asylo de N.S. da Misericordia uma menina parda, com 3 mêses de edade, em bom estado de saúde.
Trouxe os seguintes objectos:
1 – Vestido com renda de bilro
2 – Fralda de morim velha;
3 – Touca branca com renda de bilro
e a seguinte declaração:
Maria – com 3 mêses de edade, filha do bandido.
Pae – Luiz Pedro
Mãe – desconhecida, vinda do Nordeste"


A menina foi batizada Maria de Matos, no dia 29, Morreu de pneumonia, a 8 de julho de 1934.

Registro de batismo e de falecimento:



Transcrição:
Maria de Mattos Baptisou no dia 29 de Maio de 1934
Falleceu de pneumonia, em 8 de Julho de 1934.

Yvone, filha de Emídio e de Verônica de Jesus

A outra, precisamente a que fora entregue ao chefe da estação, era identificada como Yvone. Um bilhete a referenciava como filha de um cangaceiro cujo nome real era Emidio ou Ymidio Ribeira da Silva, do bando de Arvoredo. A mãe da criança estava indicada como se chamando Veronica de Jesus. O cangaceiro foi citado, dado o sobrenome, como sendo parente de Sérgia Ribeiro da Silva, a Dadá.


Estação de Jurema - foto fornecida por Orlins Santana de Oliveira.

Enviadas as crianças para Salvador, foram colocadas, em 28 de maio de 1934, na roda do Asylo dos Expostos, em Salvador.


Santa Casa de Misericórdia, em Salvador, atualmente:

Situação atual da antiga localização da Roda dos Expostos, da Santa Casa de Misericórdia, em Salvador:

Situação antiga com a Roda dos Expostos, na Santa Casa de Misericórdia, em Salvador:
Atualmente, a roda original encontra-se no Convento do Desterro.

Registro de batismo e de falecimento:


Transcrição:

Yvone de Matos Baptisou-se no dia 24 de abril de 1934.
Está no Asylo.
Falleceu de bronco-pneumonia, no dia 1 de abril de 1935.

Pescado no Açude de Cumpadi Rubens

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Vai um filminho aí?

Pra quem não troca o aconchego do lar pela folia de Momo!




Sinopse: Em 1929, um cangaceiro é protegido por um coronel latifundiário, o homem forte da região. Mas é dado como morto por seu bando, que organiza uma desforra. O filme mostra com impressionante realismo o cenário de horror e ódio pelo qual passou o Nordeste brasileiro na época do cangaço.

Elenco: Alberto Ruschel, Milton Ribeiro, Aurora Duarte, Ruth de Souza, Leo Avelar, Edson França, Lyris Castellani.


Faustão, 1971.





Sinopse :

Henrique, filho do coronel Pereira, é salvo pelo cangaceiro Faustão, um negro feroz e generoso, beberrão e amante das mulheres, quando o rapaz é atacado pelos jagunços do Coronel Araújo, inimigo tradicional de sua família. Faustão estipula um resgate para o rapaz, mas desiste, resolvendo adotá-lo. Henrique desenvolve o conhecimento da vida de cangaceiro no bando de Faustão. Os companheiros deste são todos dizimados pelo Coronel Araújo e por seu capanga Anjo Lucena. Sobram apenas Faustão, Henrique, Silêncio e Ponto Fino. A chance da desforra surge com o ataque do coronel Araújo à fazenda do coronel Pereira. Faustão luta ao lado deste, mata o coronel Araújo, mas perde, para sempre, seus amigos Silêncio e Ponto Fino. O coronel Pereira também morre, e Henrique assume o controle da fazenda e casa com sua antiga namorada, Vaninha. Os caminhos dos dois ex-amigos agora são diversos. Faustão forma novo bando e é perseguido pela volante do agora coronel Henrique. No final, os dois têm de se enfrentar em duelo, onde nenhum pode sair vitorioso.

Direção: Eduardo Coutinho
Produção: Leon Hirszman

Elenco: Eliezer Gomes, Jorge Gomes, Anecy Rocha, Gracinda Freire, José Pimentel, Valquíria Mamberti, Roberto Ney, Antônio Albuquerque, Taise Costa, Cosme dos Santos, Valquíria Mamberti, Roberto Ney, Rubens Teixeira, Samuca, Leandro Filho, Cleiton Feitosa, Chico Couro, Damião José, Josué Euzébio, Laércio Alves, Paulo Guimarães, Kátia Mesel, Maria Áurea, José Cláudio, Walter Mendes, Rafael dos Santos...



Fonte: TV Cangaço, YouTube
Créditos para: Guilherme Velame  Comunidade Lampião, Grande Rei do Cangaço

Tu já tem?

Guerreiros do Sol em sua 5ª Edição



Guerreiros do sol, em nova edição, é um estudo fiel e detalhado do cangaço no Nordeste brasileiro. O assunto é apresentado sob vários aspectos, entre eles o condicionamento socioeconômico gerado pelo ciclo do gado. O autor, Frederico Pernambucano de Mello, considerado um dos grandes especialistas no assunto, utilizou extensa documentação histórica para pesquisar o cangaço, além de coletar informações em jornais, depoimentos escritos e orais e na poesia sertaneja.

Neste livro, que conta com prefácio de Gilberto Freyre, são mostrados tipos humanos que encontramos hoje e que surgiram já nos primeiros dias da colonização - o valentão, urbano ou rural, o cabra de bagaceira, o jagunço, o cangaceiro. Mas o autor não descreve apenas na particularidade o reflexo da violência que há muito tempo se manifesta em nosso país; analisa também o que chama de "cangaço meio de vida", "cangaço vingança" e "cangaço refúgio".

Ariano Suassuna define assim a obra do autor: "Sem sombra de dúvida, a teoria do escudo ético de Frederico Pernambucano foi a única que, até o dia de hoje, me pareceu convincente: foi a única que explicou a mim próprio os sentimentos contraditórios de admiração e repulsa que sinto diante dos cangaceiros".


512 pág. Preço: R$ 60,00 (Sessenta Reais) com frete já incluso para qualquer canto do país. Adquira o seu agora com o professor Pereira através do E-mail franpelima@bol.com.br
Ou pelos tels. (83) 9911 8286 (TIM) - 8706 2819 (OI)

Bote pegado pareia!

Novos moderadores

Desde a última Segunda-feira o Lampião Aceso passa a contar com a participação ativa  dos confrades Narciso Dias e Ivanildo Silveira.

A nossa rotina de trabalho, inclusive nos finais de semana comprometia as atualizações, alguns comentários e artigos demoravam a ser aceitos e publicados, vide caso mais recente do falecimento de Aristéia, fato do qual só tomamos conhecimento no dia seguinte. Ora sem acesso a web, ora fora da área de telefonia móvel.

Essa parceria que já era notória na comunidade do Orkut 'Lampião Grande Rei do Cangaço' agora se estende até o blog. Por total confiança e condições preestabelecidas eles passam a ter autonomia no controle geral das "ações".

(Se um dia este humilde blog passar a valer tanto quanto o Facebook... Tô lascado, terei que repartir o bolo com os confrades).


Narciso Dias

Ivanildo Silveira
Foto: Manoel Severo

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

"Lembranças de uma Guerra".

Saudades de meu amigo Pompeu Aristides de Moura. Um homem de valor.



Atenciosamente
Aderbal Nogueira

Sátira

Fotos que intrigam...


Estaria Benjamim, falando ao celular em pleno 1936?!


OBS. Não levem a sério, é apenas brincadeira com as semelhanças. Se tiverem outras sugestões enviem para lampiaoaceso@hotmail.com

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Volante em ação

O estudo de fontes documentais é básico, para os que contemplam a história. 

Por Rubens Antonio




Transcrição

De Bomfim, 10-12 de Março de 1929. 

Dr. Madureira de Pinho Chefe Policia Bahia. Confirmando telegramma dirigi hontem vossencia foram presos João Agostinho Silva conhecido Nonato e irmão Saturnino Roberto da Silva vulgo Juca, o primeiro na fazenda Morro Branco, pelo Sargento Flavio, o segundo em Carrapichel, pelo 1o Sargento Octacilio Alves Senna, os quaes estão aqui presos pt Estes individuos são os mesmo conhecidos como gente de Lampeão que anno passado ordenado vossencia apresentei-os com tres Irmão delegado regional Petrolina donde fugiram pt. Baldados cerco casa e batidas Matto Catuny para captura bandido criminoso Faustino ou Fausto Gomes, vulgo Banzé, informando mulher mesmo elle e filhos apareceram e voltaram logo dizendo virem pegar em armas pt. Este vcriminoso é pae bandido Hortencio Silva, vulgo arvoredo, pertencente grupo Lampeão e meu conhecimento por José Lima, em Jaguarary, quando anno passad alli estive, continúo xxx em outras observações. Saudações. 
(a) Capitão José Galdino

Falando nisso...
Bernardino Madureira de Pinho

 


Nasceu a 30 de agosto de 1879, filho de Virgílio Tourinho de Pinho e Mariana de Senna Madureira. Em fevereiro de 1893, ainda menino, discursou, no Teatro Politheama, em Salvador, pedindo a Ruy Barbosa para realizar uma conferência no Theatro São João, em benefício de 50 órfãs do Asilo de Nossa Senhora de Lurdes de Feira de Santana.
 

Apreciador da Antiguidade Clássica, deu aos seus filhos os nomes de Demósthenes, Péricles e Demades. Bacharel em Direito, fez campanha presidencial para o mesmo Ruy Barbosa. Participou com Ruy Barbosa do seu périplo pelo sertão baiano, em 1919. Quando este esteve em Senhor do Bonfim, em 5 de dezembro de 1919, acompanhou-o, aparecendo na foto à entrada do palacete em que se hospedaram, pertencente, então, ao coronel Antonio Felix Martins.
 


Madureira de Pinho é o calvo de bigode, à direita. 

Acompanham-no nesta fotografia também, além de Ruy Barbosa, Antonio Felix Martins, Salustiano Figueiredo, Cordeiro de Miranda e Francisco Esteves da Silva Bernardino.

Foi nomeado Secretário da Polícia e segurança Pública, pelo Governador Góes Calmon, em outubro de 1925, permanecendo no governo Vital Soares. Foi o nomeador e grande apoiador dos comandantes militares na estratégia baiana de confronto ao Cangaço.
 

Nelson Pinto, em palestra sobre sua Biografia, no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, quando do centenário do seu nascimento, a modo de “Elogio”, lançou:
“Lampeão era um fruto do Nordeste brasileiro e, no seu tempo, tudo no sertão era seu aliado: a topografia, a distância, a caatinga, o pavor das populações, a falta de estradas e de transportes etc., etc. Basta que se registre que Madureira “não poupou sacrificios, numa luta que não dependia da eficiência das autoridades policiais”. Igualmente, foram “notórias as qualidades de resistência, de arguta inteligência e de bravura do soldado baiano”.”
O avanço dos eventos da Revolução de 1930, fez com que se exonerasse, “a pedido”, em 8 de outubro de 1930, sendo subistituído pelo bacharel em Direito Francisco Prisco de Souza Paraíso. Preso e processado pelos vitoriosos, após liberto, reintegrou-se apenas moderadamente na vida social e política baiana.
Desestimulado a permanecer na Bahia, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde já viviam seus filhos.
 

Faleceu a 15 de maio de 1950.


Mais um achado do CSI Rubens Antonio disponibilizado em seu Cangaço na Bahia

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Era a última

Dona Mocinha, irmã de Lampião, morre em SP aos 102 anos

Maria Ferreira Queiroz foi internada com problemas respiratórios, nesta sexta, 10.


Por Glauco Araújo Do G1, em São Paulo

Dona Mocinha com chapéu de cangaceiro
no reencontro com parentes do Recife em São Paulo, em 2009
(Foto: Glauco Araújo/G1)
   
Maria Ferreira Queiroz, conhecida como dona Mocinha, morreu na tarde desta sexta-feira (10), em São Paulo, aos 102 anos. Ela era a única irmã viva de Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião. Segundo a família, ela foi internada horas antes de falecer com problemas pulmonares, mas não resistiu. O corpo será levado ao Velório Salete, em Santana, na Zona Norte de São Paulo, e o sepultamento será feito no Cemitério Chora Menino, às 12h deste sábado (11).

A idade de dona Mocinha sempre foi motivo de discussão entre estudiosos do cangaço. O documento de identidade da irmã de Lampião indica que ela nasceu em 8 de janeiro de 1906, portanto, ela teria completado 106 anos, mas ela sempre se recusou a afirmar que tivesse essa idade, alegando que não era por vaidade. Ela tem outro documento que aponta a data de nascimento em 11 de janeiro de 1910. Era por este documento que dona Mocinha costumava se identificar, de acordo com o neto Marcos Antonio Tavares, 53 anos.

Ela vivia em um apartamento com os filhos Expedito e Valdeci, em Santana, na Zona Norte de São Paulo. Os parentes mais próximos que também moram em São Paulo, além dos dois filhos, costumavam visitá-la, principalmente na data de aniversário dela.
"Ainda não sabemos onde será o velório e nem o sepultamento. Ela estava doentinha, vez ou outra ela era internada para cuidar da saúde. Já tinha muita idade. Acreditamos que foi insuficiência pulmonar", disse Tavares.
Dona Mocinha tem dois documentos com duas datas de nascimento. 
RG de dona Mocinha mostra uma das datas de nascimento dela 
(Foto: Glauco Araújo/G1)

O pesquisador e historiador Antônio Amaury Correia, que mora perto de dona Mocinha, foi um dos responsáveis por descobrir a segunda data de nascimento da irmã de Lampião. "Ela tinha dois documentos. Até hoje não sabemos com certeza qual era a idade dela", disse ele ao G1.


Açude:  G1 São Paulo

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A casa caiu, senhoritas!

Cangaceiras aprisionadas
 Manchete de 18 de maio de 1935, no jornal “Diário de Noticias” BA

As meninas Anna e Otilia

A presença de cangaceiras aprisionadas foi uma das marcas do momento. Anna Maria da Conceição, nascida em Jeremoabo, era companheira do cangaceiro "Jurema". Caminhava com Jurema, Juremeira, Beija-Flor e Nevoeiro, quando a volante do sargento Vicente caiu sobre o subgrupo. Foi alvejada com dois tiros de fuzil, que lhe atingiram os braços, sendo capturada.

Já o seu parceiro e companheiros não tiveram a mesma sorte...


Jurema, Jureminha e Nevoeiro
Foto não compoe a matéria original
Cortesia do amigo Sergio Dantas

Otilia Teixeira Lima, de Poços, era companheira de "Mariano". Adentrou o Cangaço em 1931, depondo que constituíam o bando, naquele momento em que adentrou, Lampeão, Mariano, Zé Bahiano, Pó Corante, Gato, Bananeira, Volta Secca, Maçarico, Cajueiro, Balisa, Cabo Velho, Nevoeiro, Luis Pedro, Virgínio, Suspeita e Medalha, além de Maria Bonita e algumas mulheres que não indicou os nomes.

Deslocava-se, em 1935, junto com Mariano, Criança, Pai Velho e Pau Ferro, quando foi o subgrupo cercado pela volante do sargento Rufino. Cerrada brigada, foi cercada, não conseguindo Mariano romper o seu cerco para libertá-la. Acabou entregando-se.

“Lampeão” não quer negocios com a policia da Bahia

Dois minutos de interessante palestra com as mulheres de Mariano e “Jurema”, chegadas, hontem, presas .. .A vida, para o banditismo, “no outro lado”, está melhor... 

O DIARIO DE NOTICIAS offerece, hoje, aos seus innumeros leitores, a opprtunidade de uma entrevista com as mulheres de Mariano e “Jurema”, dois dos peores scelerados que teem palmilhado a zona escaldante e longinqua do nordéste bahiano.

São ellas Anna Maria da Conceição, com 23 annos de idade, mestiça, nascida nas Baixas, no município de Geremoabo, e Otilia Teixeira Lima, parda, de 25 annos, estatura média, procedente das caatingas de Poços, distante 15 leguas daquella cidade.

Fomos encontra–las, hontem, na delegacia Auxiliar. Momentos antes, haviam chegado do nordéste, pelo trem do horario, devidamente escoltadas por seis praças da Policia Militar.

Como foi presa a primeira

Anna foi presa nas caatingas do logar denominado São José, tendo, nessa occasião, recebido dois tiros de fuzil, que lhe perfuraram os braços. Estava ella em companhia de “Jurema”, “Beija–Flôr”, “Nevoeiro” e “Juremeira”, quando surgiu, inesperadamente, a força volante do sargento Vicente, que, de ha muito, vinha sequindo as pégadas do bando sinistro. Logo que viu os policiaes, “Jurema” rompeu cerrado tiroteio contra os mesmos, que, reagindo valentemente, puseram em fuga os cangaceiros. No embate, que durou poucos minutos, caiu ferida Anna Maria. “Jurema” quis, ainda, soccorre–la, mas, acossado pelas balas, teve que fugir, deixando a companheira nas mãos dos seus perseguidores.

A outra “descansava”...

Otilia estava com o bando de Mariano, na Fazenda “Mucambo”, junto com “Páo Ferro”, “Criança” e “Pai Velho”. Minutos após a chegada do grupo, dois cáibras fôram escalados para arranjar montadas na vizinhança. Foi quando appareceu, de surpresa, o contingente do sargento José Rufino, que, com 15 praças, vinha procurar pousada na alludida fazenda.

Reconhecendo os bandidos, a força entrou a tiroteiar contra os mesmos, pondo–os em fuga, depois de cerca de duas horas de fogo. Otilia estava descansando na casa da fazenda, quando começou a fuzilaria.
Receiosa de ser attingida pelos projectis, alli deixou–se ficar, sendo finalmente presa e conduzida para esta Capital, onde se encontra. Mariano, seu velho companheiro conseguiu, habilmente, cortar a rectaguarda da força, fugindo á chuva de balas que se despejava sobre elles.

Contando a sua vida...

– E ainda dois graças a Deus, de estar aqui! Pensei que a força me fuzilasse, no momento em que fui presa. Ha cerca de quatro annos, ingressei no bando de “Lampeão”. Por essa occasião, o “Capitão” andava lá pelo Raso da Catharina, acompanhado de José Bahiano, “Gato”, Pó Corante”, Mariano, “Bananeira”, “Volta Secca”, “Maçarico”, “Cajueiro”, “Balisa”, “Cabo Velho”, “Nevoeiro”, Luis Pedro, Virginio, “Suspeito” e “Medalha”. Viajava para Poços, com meus dois irmãos, quando deparei o bando do “Cégo”.
Mariano botou os olhos em cima de mim e me ordenou que o acompanhasse. Não tive outro jeito senão seguir. Juntei–me ás outras mulheres e comecei a andar pelo matto, sem pouso, passando fome e sêde, até o dia em que fui presa.

Como ciganos

– E como vivem os bandidos?
Pelos mattos, dormindo hoje aqui, amanhã alli, comendo carne do sol e ás vezes, um pouco de farinha. Agua arranja–se nas raizes de umbú. Á noite, todos se deitam no chão e embrulham–se com as suas cobertas. Quem tem mulher dorme separado, debaixo de algum pé de paó... É uma vida desgraçada... – concluiu Otilia.

Anna Maria assistia á conversa, com o corpo descansando sobre os calcanhares.

Uma historia de amôr...

Vivia com a minha familia nas Baixas, cerca de onze leguas de Geremoabo. Um dia, a força do tenente Macedo appareceu por lá e, sabendo aque alli moravam os parentes de “Jurema”, queimou tudo. Até as roças de feijão! Eu era noiva de um irmão de Jurema, que estava no bando de Lampeão, e tinha o mesmo appellido. Vendo–o, a força prendeu–o. E já iam longe, quando o meu noivo, conseguindo intimidar os dois soldados que o escoltavam, fugiu. No caminho, convidou–me para fugir com elle. Aceitei. Dias depois, estávamos no meio do bando de Lampeão. Quis voltar. Não tive mais jeito. Ordem era ordem. Tinha que acompanhar obando. Assisti a innumeros combates, durante estes tres ultimos annos.

... E o peor tiroteio

O peor, porém, – continúa – foi o de Maranduba, onde morreram “Sabonete”, “Quina–Quina” e “Catingueira”. Foi um tiroteio que durou varias horas. Quase fiquei surda. Eramos seis mulheres e estavamos separadas do bando. Dois caibras ficavam de sentinella comnosco, sempre que havia um combate. Depois, com os córtes da rectaguarda, Lampeão abria caminho e assim podiamos fugir.

Lampeão luta como uma féra!

– E Lampeão vai tambem para a frente?
Sim, senhor. Lampeão é uma féra. Não tem mêdo de nada. É o primeiro que atira e vai ba frente. Quando eu entrei no bando, Lampeão estava com duas marcas de bala. Uma, no pé, e outra no braço. Foi nessa occasião que “Gato” foi ferido tambem...

Falando sobre o “Capitão”...

Queremos alguns informes sobre Lampeão...
O Capitão é de estatura média, bem moreno e cabello castanho. Usa oculos amarellos, pois é cégo de um olho. Traja sempre uma roupa mescla, chapéo de couro e alpercatas. Carrega um mosquetão, uma “parabellum” e tres cartucheiras, além de varios bornaes cheios de bala. Atravessado na cintura, um grande punhal.

Não quer nada com a nossa Policia

Deixei elle agora do outro lado, com varios cáibras, pois a coisa está preta no nordéste.
E onde é o outro lado?
Lá, em Alagôas e Sergipe. As coisas lá não são como aqui. Vive–se mais tranquillo e mnos perseguido. Estávamos satisfeitos.

A verdade, ainda uma vez...

Effectivamente, a situação do nordéste é outra, hoje. O bandido não tem para onde se mexer. Difficilmente, desloca–se de um ponto para outro. A sua acção tornou–se quase nulla. Vive, agora, passando uma vida de miserias...

As novas directrizes traçadas pelo Cap. João Facó e executadas pelos seus auxiliares, na campanha contra o banditismo, lograram, felizmente, verdadeiro exito. Hoje, já se respira nas caatingas. Não ha mais aquelle pavor de outr’ora, quando pairava nas caatingas o espectro sinistro da morte.


Cap João Facó
Cortesia de Ivanildo Silveira


Pescado no  Açude do confrade Rubens
Que mais uma vez promove um belo trabalho de resgate de fatos e fotos históricas na web. Ao transcrever não deixe de citar que, foi o C.S.I. Rubens Antonio quem fuçou! Leia aqui o tutorial.

Jornal "A Tribuna", Santos, SP de 18 de janeiro de 1987

Maria vira heroína de capitão japonês 

Por José Carlos Silvares


O nome é uma homenagem da armadora japonesa à companheira de Lampião
e o navio fará a linha entre o Japão e portos brasileiros.
Foto: Rubens Onofre

Não seria nada de mais um navio ganhar o nome de Maria Bonita se fosse uma embarcação brasileira. Não é o caso. O navio é japonês, com bandeira do Panamá e tripulação coreana.

Nada, a bordo, lembra o sertão nordestino. Mas o Maria Bonita existe, está no porto, e vai passar por Santos a cada três meses, em linha regular ligando o Brasil ao Japão e portos do Oriente.

É um navio bonito, lançado ao mar no dia 11 de novembro do ano passado (N.E.: de 1986), ainda virgem. Faz a sua primeira viagem. Foi batizado com esse nome em homenagem a Maria Bonita, companheira de Lampião, o rei dos cangaceiros, herói-vilão que a história oficial insiste em esquecer. Maria Bonita, heroína popular, descrita em folhetos e cantada nas feiras, acabou virando nome de navio japonês. E é uma heroína para o capitão Sumio Matsumoto, o Lampião de seu navio.

A única mulher a bordo é uma delicada gueixa, vestida com seda vermelha e aplicações de dourado, uma boneca japonesa, de cabelos negros e esticados, e que decora o escritório do comandante, numa caixa de vidro.

"Nome de mulher dá sorte", diz o capitão Matsumoto, sorridente, explicando que conhece a história de Lampião e Maria Bonita e que o nome foi escolhido para o navio exatamente porque será empregado na linha Brasil e Japão. "É um nome muito famoso no Brasil e minha companhia, a Mitsui O.S.K. Line, pretendeu fazer uma boa impressão ao escolher esse nome".

A escolha, segundo o comandante, foi minuciosa. Um diretor da armadora esteve no Rio de Janeiro, durante um mês no ano passado, especialmente para estudar a história de Lampião e Maria Bonita. Quando escolheu o nome, o submeteu à apreciação dos agentes da armadora no Brasil e a decisão foi unânime: era um bom nome. Tanto que o diretor-presidente da armadora, T. Yano, durante a cerimônia de batismo do navio, no estaleiro da Mitsubishi Heavy Industries, em Kobe, no Japão, fez um breve histórico do significado desse nome e do que foi o cangaço no Brasil. Batismo de navio também é cultura, pelo menos no Japão.

Os dois lados - Mas o capitão Matsumoto sabe que a história do cangaço tem dois lados. "Há um lado de herói e um lado que não é bom", diz, acionando um gatilho imaginário com o indicador direito, para lembrar que o bando de Lampião também matava.

"Ele tirava dos ricos para dar aos pobres", insistiu, quase que fazendo uma pergunta sobre a veracidade dessa informação. E comentou: "Todo o mundo deveria ser assim".

Inicialmente, o comandante havia esquecido o nome de Lampião - o que pode ser considerado uma coisa normal para um oriental que não está acostumado com esse tipo de nome -, mas depois de dizer que conhece a história fez uma divertida comparação entre as lendárias aventuras no sertão nordestino do início do século e o seu navio: "Este também é um navio forte".

O lado heróico de Lampião e Maria Bonita existe, para o comandante, "porque os dois são muito populares no Brasil". Ao saber que Lampião não é um herói oficial, como Tiradentes e outros, faz uma observação perspicaz: "Ele é um herói underground".

De qualquer forma, Matsumoto gosta do nome do seu navio. Mas diz com orgulho que esta é a primeira vez que a armadora põe um nome feminino em navio da frota.

Não é o primeiro navio, porém, que leva o nome de Maria Bonita, companheira de Lampião. O livro de registro de todos os navios do mundo, editado pelo Lloyd's de Londres, informa que há um outro Maria Bonita, um pesqueiro de 143 toneladas registrado no Texas, Estados Unidos, e que pertence à empresa com o sugestivo nome de Ojos Negros Inc.

Capitão Matsumoto conhece a história e assume: "Eu sou o Lampião"
Foto: Rubens Onofre

Velho conhecido - O capitão Matsumoto esteve em Santos pela primeira vez há cerca de 20 anos, como 2º oficial do famoso Brazil Maru, que transportava carga e passageiros. Mas é comandante há cinco anos, sempre nos navios da Mitsui. O último que comandou, antes do Maria Bonita, foi o Barzan, um enorme navio-contêiner que faz a linha entre Nova Iorque e os tumultuados portos do Golfo Pérsico.

No início de outubro, Matsumoto foi deslocado para Kobe, para acompanhar de perto o final da construção do Maria Bonita e fazer uma verificação geral nas instalações.

É um navio próprio para o transporte de contêineres, moderno, com equipamentos sofisticados a bordo. Pertence a uma empresa registrada no Panamá, a Ocean Harmony S.A., controlada pela Mitsui, que aparece como afretadora do navio. Tem 14 mil toneladas de porte bruto, 155 metros de comprimento por 25 de largura e calado que chega aos 10 metros. Viaja à velocidade de 15,3 nós horários.

A tripulação é composta por dois japoneses - o capitão e o 1º oficial - e 29 coreanos, inclusive sete membros da oficialidade. Os coreanos, hoje, na navegação internacional, tomaram conta de postos que anteriormente eram ocupados apenas por oficiais do país da bandeira do navio ou da nacionalidade da armadora. São força de trabalho mais barata e à disposição das empresas.

O Maria Bonita - agenciado em Santos pela Wilson Sons - estava com saída prevista para o início da noite de ontem, rumo ao Sul. Em Santos deixou grande quantidade de maquinaria, produtos químicos, produtos industrializados e carga geral embarcada nos portos de Cingapura, Hong Kong, Keelung, Nagoya, Kobe, Yokohama, passando ainda nos portos de Colombo (Ceilão), Galets (em Reunião, uma ilha francesa do Oceano Índico) e nas Ilhas Maurícios (também no Índico).

Vai a Montevidéu, Buenos Aires e retorna por Rio Grande, Paranaguá, Rio de Janeiro, Santos - de onde segue em linha reta, via Sul da África, para Brisbane, Austrália, em viagem de 23 dias de céu e mar até chegar de novo aos portos japoneses. Na próxima viagem ao Brasil o navio virá via Canal do Panamá, encurtando o percurso. E a cada três meses cumprirá sua rota entre Japão e América do Sul.

Depois de falar com orgulho de seu navio, o capitão do Maria Bonita faz questão de vestir seu uniforme branco, para a foto. Pronto. Agora ele é o capitão. E corrige, sorridente: "Agora eu sou o Lampião".

O presidente da armadora falou de Maria Bonita no dia do batismo do navio.
Foto: Divulgação

Maria de Oliveira, Maria de Déa, Bonita

Pouco se sabe da companheira de Lampião e de suas aventuras no sertão nordestino. Muita coisa é folclore. Maria Bonita virou mito, como Lampião e os cangaceiros. Virou filme, livro e história de cordel. Era uma mulher destemida. Era apenas Maria, Maria de Oliveira, e de bonita tinha os traços marcantes de mestiça, olhos ligeiramente puxados, ar maroto.

Era também Maria de Déa, porque filha de Déa, mulher do lavrador José Felipe de Oliveira, que tinha um sítio no Norte da Bahia, onde Maria teria nascido. Aos 17 anos casou com um pacato sapateiro, José de Neném. Ficou com ele até conhecer Lampião. As histórias contam que Maria abandonou José e também que foi José quem abandonou Maria. Teorias machistas de lado, a verdade é que Lampião namorou Maria: passou três vezes pelo sítio, até que um dia os dois se encontraram para viverem juntos por cerca de nove anos, entre 1929, ano do encontro, até a morte na caatinga, a 28 de julho de 1938.

Antes e depois da morte, Maria foi chamada de tudo nos jornais: facínora, amásia de bandido, amante de bandoleiro etc. Até de ciumenta, conforme trecho de matéria publicada no dia 3 de agosto de 1938 por A Tribuna, com base em noticiário fornecido pelas agências de notícias: "Maria de Déa, como se chamava ela, não era uma figura feminina traçada na suavidade e no sentimentalismo do sexo. Ciumenta, sobretudo muito ciumenta. Desde que se colocou ao lado do facínora, jamais teve este coragem de dirigir sequer um olhar mais atrevido para outra".

E prossegue: "Maria de Déa era a companheira de Lampião em todas as circunstâncias. Na hora da luta, era um rifle a mais ao lado dos bandidos. Um combatente que se ombreava entre os mais destemidos e mais decididos. Atirava admiravelmente. Sabia adivinhar os planos do amante e auxiliar-lhe a execução. Não conhecia sentimentos humanos nos momentos difíceis. Matava e saqueava, como os mais cruéis bandidos".

A matéria diz, ainda, que o amor de Maria Déa por Lampião "teve uma origem de romance". E que foi a primeira mulher do bando.

Nem tudo o que se diz dela, porém, é verdadeiro. Há muitas lendas misturadas a fatos reais, divulgados por cantadores nas feiras e, depois, nos folhetos de cordel. Maria Bonita virou mito. Virou exemplo de mulher arrojada, forte, decidida, a mulher nordestina. É sinônimo de companheira. Está nas cantigas populares. Virou heroína.

E foi citada no Exterior, aplaudida nos filmes, ganhando ares de sensualidade na interpretação de Tânia Alves, em especial da Globo.

Até o jornal francês Paris Soir fez uma referência elogiosa a ela, apesar de indireta, na edição que divulgou o massacre de Angicos, local da morte do bando de Lampião. A notícia termina exatamente assim: "Lampião, o invulnerável; Lampião, o cruel, também amava".

Heroína popular, decidida, corajosa, ciumenta, malfalada. Maria
Foto: Reprodução


Pesquei em: Novo Milênio

Por onde flutuaria o "Maria Bonita" ?

Pesquisando sobre esta homenagem descobri através da edição online do Jornal da Orla em matéria do mesmo José Carlso Silvares que:  O “Maria Bonita” existiu com esse nome até o dia 30 de dezembro de 1999. Ele foi vendido para outra armadora e já no dia 31 ganhou a bandeira da ilha de Malta (no Mediterrâneo) e um novo nome: “Gant Star”. Navegou assim até recentemente, 1º. de janeiro de 2010. No dia 2 já estava com a bandeira das ilhas São Vicente e Granadinas (no Caribe) e com o nome “Smart Sail”, a singrar os sertões marítimos de sua linha.