quarta-feira, 29 de abril de 2009

Cangaço é arte "2"










Incentivo para turismo "Lampiônico" em Sergipe

Caravana Brasil chega nesta quinta-feira a Aracaju para avaliar o setor turismo de Sergipe.

Por Diógenes Brayner para a coluna Plenário em: 29/4/2009 FaxAju

A Caravana Brasil Nacional, projeto da Braztoa - Associação Brasileira das Operadoras de Turismo estará em Aracaju nesta quinta-feira (30). Os técnicos da Caravana Brasil realizam uma apresentação de avaliação e resultados da visita feita no período de 18 a 22 de março a Mangue Seco, Aracaju, Canindé do São Francisco e outros municípios que possuem potencial turístico. O encontro acontece no auditório do Sebrae, a partir das 13h.

Chamada de “viagem devolutiva”, o encontro consiste em uma apresentação aos fornecedores e representantes institucionais locais das avaliações feitas pelos dez operadores de turismo que participaram da visita. “Os técnicos e operadores de turismo farão apresentação dos destinos e produtos visitados. É uma excelente oportunidade para Sergipe saber o que tem de bom turisticamente e o que precisa ser melhorado”, explica Emanoel Sobral, superintendente do Sebrae.

Participaram da viagem a Sergipe em março representantes da Carpe Diem Turismo, Compass Brazil, Intercontinental, Luxtravel, MMT Gapnet Operadora, Nordeste Off-road, SPBT Turismo, Superior Plus, TAM Viagens, Terra Brasilis e Travel Brazil.

Nos cinco dias que a Caravana passou pelo Estado, os participantes visitaram muitos equipamentos hoteleiros, conversaram com os empresários da região e puderam conhecer alguns dos principais atrativos, como por exemplo realizar um passeio de catamarã pelos cânions do Rio São Francisco, visitar o Museu de Arqueologia de Xingó (MAX) e até a Usina Hidrelétrica de Xingó.

Para a analista de produtos da TAM Viagens, Renata Barra, Sergipe possui um grande potencial hoteleiro e pessoas com disposição para negociar. “Fiquei feliz com o que vi, encantada com os atrativos naturais e culturais da região e sem dúvida irei desenvolver novos roteiros. Eu procurava uma identidade para o destino, da forma como as outras cidades do Nordeste possuem e achei a cultura. Irei focar nossos pacotes na cultura de Aracaju, na história de Lampião, agregando a beleza das praias intocáveis”, reforça Renata, lembrando que a operadora já comercializa o Sergipe.

Quem também gostou do que viu foi Fladner Cruz, da Nordeste Off Road. “Nossa empresa já vendia o destino Sergipe, mas eu particularmente não conhecia. Não vendemos o destino de forma massiva, trabalhamos com turismo personalizado e muitas vezes privativo. Com toda a certeza esta viagem serviu para aprofundarmos nosso conhecimento sobre a região e ampliarmos nossas opções de pacotes”, relata.
Já Rosangela Marçal, diretora da Travel Brazil, teve oportunidade de voltar a Sergipe e ficou satisfeita com as mudanças. “O destino mostrou-se bastante amadurecido, com um aumento sensível da rede hoteleira, e todos de forma geral procurando melhorar. A orla marítima totalmente renovada e com várias opções de lazer; o litoral sul surpreende pela ampla valorização mobiliária, belos condomínios residenciais e ótimas opções de barracas de praias para que o turista possa usufruir com conforto de seu momento de lazer”. A operadora lembra também que “o cangaço desperta muita curiosidade de todos, quem já não ouviu falar de Lampião e Maria Bonita?”, pergunta.

O que é o projeto

A Caravana Brasil Nacional tem o objetivo de promover a realização de viagens para que os agentes de viagem e operadores de turismo tenham a oportunidade de conhecer destinos e produtos turísticos, novos ou já comercializados e, ao mesmo tempo, visitem feiras e eventos comerciais de destaque no setor turístico brasileiro. Por meio dessa visita a destinos nacionais, torna-se possível também aproximar operadores turísticos, agentes de viagens e a cadeia produtiva do turismo local.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Um click árido sobre o cangaço


Uma centena de imagens estão em exposição no Centro Cultural do Banco do Nordeste, em Sousa, no Sertão da Paraíba; 14 delas passaram por processo de restauração e podem ser vistas pela primeira vez no Estado.

Um cartão de visitas com fotografia na frente e mensagem no verso, escrito a mão e assinado por Virgolino Ferreira da Silva, vulgo: Capitão Lampião’; Volantes em pose oficial para a posteridade; Uma dança de cangaceiros no meio do Sertão. Estas e outras imagens inéditas ou, no mínimo, inusitadas, estão entre as novas restaurações que vão compor a exposição fotográfica ‘Cangaceiros’, a primeira grande retrospectiva sobre Lampião e seu bando (1922-1938), no Centro Cultural do Banco do Nordeste, em Sousa, no Sertão da Paraíba.

A exposição é composta de 100 fotografias pertencentes ao Acervo Abafilm e Sociedade do Cangaço, sendo mais da metade de autoria de Benjamin Abrahão, que fotografou e filmou o bando de Lampião com equipamento e orientação de Adhemar Albuquerque, fundador da Abafilm. As demais fotografias são de Lauro Cabral de Oliveira, Pedro Maia, João Damasceno Lisboa, Pedro Uchoa, entre outros anônimos que, por meio de suas lentes, possibilitaram a confirmação de momentos históricos do cangaço.

Entre as 100 imagens expostas, 14 foram restauradas recentemente para esta mostra e poderão ser vistas pela primeira vez. As demais 86 compuseram a exposição ‘Cangaceiros na França’ em 2006 e em São Paulo, entre 2006 e 2007. Na França, permaneceu durante três meses em Montpellier, entre junho e setembro, quando foi vista por cerca de 12,5 mil pessoas. Em Paris esteve durante o mês de novembro do mesmo ano na Maison de l’Amérique Latine. Em São Paulo, a exposição foi aberta em outubro de 2006 no Museu da Imagem e do Som (MIS), onde deveria ficar até dezembro, mas devido o grande número de visitantes, permaneceu até abril de 2007.

Exposição dividida em etapas do bando de Lampião e Maria Bonita

‘Cangaceiros’ é dividida em etapas da vida de Lampião, seu bando e o cangaço. Começa com o cangaceiro na companhia de sua família em Juazeiro do Norte, em março de 1926. Passa por registros diversos de seu bando, entre 1927 e 1937; chega à repressão, nas fotografias das volantes, que eram as milícias armadas para o combate ao cangaço; e à morte, com os corpos e as cabeças decapitadas expostas como provas das capturas, em 1938. Há registros também da rendição de outros cangaceiros em 1939.

Objetos, jornais e filmes

Além das fotografias, ‘Cangaceiros’ conta ainda com 10 painéis de recortes de matérias sobre Lampião e seu bando, publicadas na época pelos jornais ‘A Noite Ilustrada’ e ‘O Povo’. Objetos pessoais, como jóias, óculos, luneta, cantil, bússola, vestimentas e armas brancas e de fogo também compõem a exposição. No local, haverá ainda a exibição ininterrupta do filme feito por Benjamin Abrahão junto ao bando de Lampião, com duração de 1h30. Uma mostra de 10 filmes, longas, curtas e documentários com a temática do cangaço também acontecerá ao longo da exposição.

A abertura da mostra contará com palestra/debate de Expedita e Vera Ferreira Nunes, respectivamente filha única e neta de Lampião e Maria Bonita, Antônio Amaury e João Souza, pesquisadores do cangaço.

Editoração: Júnior Damasceno

FONTE: A União- PB

Exposição - Cangaceiros - em Sousa PB 
De 04 de Abril a 30 de maio de 2009.
Centro Cultural Banco do Nordeste - Sousa/PB 
Rua cel Jose Gomes de Sá 07 , Centro. 
Tel. (83) 3522 - 2980 Fax 3522 - 2926

A polêmica da "suposta" paternidade.

Meu nome é Ananias, filho de Lampião e Maria Bonita!
Morador da zona leste fará teste de DNA. Se estivesse viva, rainha do cangaço teria feito 99 anos ontem.


SÃO PAULO - O centenário do Dia Internacional da Mulher, celebrado ontem (8) marcou também o centenário de nascimento da primeira mulher a ingressar no cangaço, Maria Gomes de Oliveira, ou simplesmente Maria Bonita.

E no ano em que ela completaria cem anos é possível que seja esclarecida uma curiosa história envolvendo Maria e o marido, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião: afinal, o ex-pedreiro e morador da zona leste de São Paulo, Ananias Gomes de Oliveira, de 79 anos, o "Seu Pretão", é filho dos reis do cangaço? Um exame de DNA, a ser realizado até junho, dará o parecer final sobre o assunto.

Os registros históricos atuais indicam o contrário. A única filha reconhecida de Lampião e Maria Bonita é Expedita Ferreira Nunes, de 76 anos que hoje vive com a família em Aracaju. É sabido também que, nos oito anos ao lado de Virgulino, Maria Bonita teria sofrido três abortos.

Porém, recentes pesquisas sobre a árvore genealógica do casal levantaram a hipótese de outros filhos. Há quem defenda a existência de pelo menos treze herdeiros de Virgulino, alguns deles até mesmo fora do casamento com Maria Bonita. Em nenhum dos casos houve comprovação da paternidade de Lampião.

Em 2005, surgiu o mais recente caso e com grande possibilidade de ser real, segundo alguns especialistas. A suspeita recai sobre Ananias, um dos onze filhos de Maria Joaquina da Conceição, conhecida como "Dona Déa", e José Gomes de Oliveira, o "Zé Filipe". Acontece que Dona Déa e Zé Filipe são pais de Maria Bonita. Ou seja, em vez de irmão, Ananias seria filho de Maria Bonita.

A descoberta surgiu nos estudos sobre o cangaço do dentista e um dos maiores especialistas no assunto, Antônio Amaury Correia. Correia ouviu o relato do major reformado do Exército José Mutti, um "ex-volante" (polícia) e que foi casado com uma das irmãs de Maria Bonita, Antonia Oliveira. Mutti disse ter ouvido de Dona Déa que Ananias era filho do "homem", uma referência entre os cangaceiros a Lampião.

A possibilidade foi reforçada na biografia sobre Maria Bonita, com o título "A Trajetória Guerreira de Maria Bonita, a Rainha do Cangaço", publicada pela editora Fonte Viva. O autor da biografia, o escritor João de Sousa Lima, afirma que Dona Déa e Maria Bonita deram à luz na mesma semana.
Após o parto, Maria Bonita deixou Ananias sob os cuidados de Dona Déa, que criou o neto como seu verdadeiro filho e também como irmão gêmeo de Arlindo de Oliveira – esse, sim, irmão de Maria Bonita.

"Ouvi de ex-cangaceiros, familiares de Lampião e Maria Bonita e pessoas ligadas ao cangaço que Ananias é filho do casal. Eles chamaram a atenção para as diferenças físicas e a cor dele em relação aos outros irmãos, além da estranha diferença de dois dias no nascimento dos gêmeos Arlindo e Ananias", disse Sousa Lima.
Para Sousa Lima, o abandono de Ananias estaria relacionado a uma questão estratégica do bando e não à ausência de carinho do famoso casal. Segundo o pesquisador, essa prática era comum entre os cangaceiros. "Seria difícil fugir dos volantes com uma criança no colo. Até mesmo Expedita foi criada por outra família e só teve contato com Lampião em, no máximo, três oportunidades."

Com a publicação de livros que revelavam o suposto "novo" filho de Lampião, a notícia logo chegou aos ouvidos de familiares de Ananias, que, curiosamente, foi o último a saber sobre a possível paternidade. A descoberta aconteceu em maio de 2005, durante uma visita de Ananias a um dos irmãos de Maria Bonita, Oséas, em Santa Brígida (BA). "Tinha parente e amigo que sabia da história e não contava nada. Quando percebi, a cidade inteira sabia, menos eu", disse Ananias.

Inicialmente, Ananias desconfiou da história e até se irritou com a família. Passado o choque, ele saiu à procura de Expedita para propor a realização de um exame de DNA. A filha legítima de Lampião não forneceu a amostra de sangue e disse que estava cansada do surgimento repentino de tantos supostos filhos de Lampião e Maria Bonita. Depois de muitos desentendimentos, o caso foi parar na Vara da Família de Sergipe.

CHATEADO:
"Não tenho interesse em nada de Lampião, apenas a verdade. E se eu for filho de Lampião vou ficar chateado, pois é uma coisa ridícula abandonar o filho. Jamais faria isso com a minha família", disse Ananias.
Nos quatro anos do andamento do processo em Sergipe, Ananias adoeceu e até cogitou encerrar o processo. No final do ano passado, já bastante debilitado, ele teve a grande surpresa: a Justiça determinou que Expedita forneça a amostra de sangue e até já marcou a data do exame. Por ser um processo sob segredo de Justiça, o dia não pode ser divulgado, mas deve ser até o fim de junho.

Para o jornalista e especialista em cultura popular Assis Ângelo, é "inocência" acreditar que Virgulino teria tido apenas uma filha ao longo dos 39 anos de vida. "Ele andou por vários lugares do sertão nordestino e, com certeza, deixou herdeiros pelo caminho".

O também jornalista Glauco Araujo, que há quatro anos acompanha o caso de Ananias para a filmagem do documentário "Sangue de Cangaceiro", resolveu adotar a cautela: -"Prefiro esperar o exame de DNA".

Fonte: Ivan Ventura
Dcomercio EDIÇÃO de 08/03/2009.


NOTA: O jornal Recifiense comete erro primário para a história legendando uma foto da Cangaceira "Inacinha" companheira de Gato como sendo Maria Bonita.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Fotos raras inéditas na web.










O meu confrade Ivanildo Silveira com sua louvável disposição, criou uma modalidade de tópicos nas comunidades que administramos. Material que enriqueceu e muito o acervo iconográfico de todos os participantes, estas fotos compoe alguns de seus "raríssimos" livros outras fazem parte do arquivo pessoal de familiares.

Clique para ampliar, copie e bom proveito.

Legendas:
- Cangaceiros abatidos: Jureminha , Jurema e Nevoeiro.
- O famoso Joca Bernardes.
- Luiz Gonzaga Ferraz de São José do Belmonte-PE. Primeira vítima "de grande repercussão" de Lampião.
- O Cangaceiro Massilon Benevides, (Mentor do frustrado ataque à Mossoró).
- O cangaceiro Chico Pereira.




quarta-feira, 22 de abril de 2009

Convite


Lançamento do livro Conversas do Sertão

Olá a todos!

Sou Rubervânio Lima.
Gostaria de informar aos leitores do Blog Lampião Aceso que já está a venda o meu livro de contos, cujo Título é "Conversas do Sertão"

Uma reunião divertida de várias histórias, cujo cenário é o sertão. São vários relatos imaginários que trazem, além do falar característico dos sertanejos e da magia desse povo, muita fantasia, "Causos" matutos, histórias de cangaceiros, figuras folclóricas, e muito mais.

Essas histórias nos levarão para àquele cenário do entardecer na roça, no terreiro, à ouvirmos o vovô, a vovó contarem-nos coisas impressionantes, alumiados pelo candeeiro...

Interessados em adquirir o livro, entrem em contato por e-mail ou telefone.

SERVIÇO
Livro: "Conversas do Sertão"
Autor: Rubervânio Rubinho Lima
Editora: UEFS
Ano: 2009
ISBN: 9788573951837
Nº de páginas: 115 páginas (Ilustrado)
Valor: R$ 15,00 (Frete incluso)

Peça já o seu pelo e-mail rubinholim@hotmail.com ou acesse: Estante Virtual
Tel.: (75)3281-3083(75)8807-3930

Correio indigesto

Um dos famosos e temidos bilhetes de Lampião, endereçado a determinado fazendeiro, exigindo-lhe 3 contos de réis. 

Veja, abaixo, a reprodução e tradução do referido escrito.

"Ilmº Sr. 
Suas saudações com todos. 
lhe faço esta somente para 
lhe pedir 3 contos de reis, apois  
seio qui o senhor não ignora  
eu pedir e so peco a quem 
tem. por este motivo espero
sem falta a resposta. entregue 
a seu vaqueiro. 
Agora faca pouco e alarmi 
a pulicia, 
Resposta com toda urgença. 
Eu Capitão  
Virgulino Ferreira, Lampião."

Analisando esta pequena grafia feita pelo Rei do Cangaço, constatamos, a grosso modo, o seguinte:

1º) O Rei Vesgo dominava, a grosso modo, o idioma pátrio, comunicando-se, de forma clara, precisa, apesar dos erros gramaticais que cometia. Inclusive, ás vezes, empregava pronomes de tratamentos de forma correta.

2º) A grafia de seus famosos bilhetes, era perfeitamente entendível;

3º) Essa forma de conseguir dinheiro , através desses bilhetes, era baseada na fama, terror e consequências graves, que Lampião imprimia aos grandes e pequenos proprietários rurais do nordeste. Era uma forma altamente eficaz, e, se traduzia num baixo risco para o famoso cangaceiro.

4º) Agindo dessa forma (bilhetes), Lampião poupava balas e a vida de seus comandados, pois não havia confronto.

5º) Essa forma de crime de extorsão, foi muito praticada por Lampião, principalmente, no final de sua carreira de cangaceiro.

Créditos: Ivanildo Silveira

Cangaço de Barro









Eis ai algumas belas e irreverentes peças do artesanato revelando várias visões da figura de seus protagonistas. A maioria é decoração de hotéis, pousadas restaurantes pelo Nordeste.

Vai pras banda de Paulo Afonso?

Não deixe de conhecer o Museu Casa de Maria Bonita



A casa de Maria, situada no Povoado Malhada da Caiçara, Zona Rural, distando 38 km do município de Paulo Afonso/BA, foi totalmente reformada, guardando a mesma linha arquitetônica (casa de reboco), de outrora. Agora, lá funciona o "Museu Casa de Maria Bonita", aberto a visitação pública.

HORÁRIOS:

- Sábado, Domingo e Segundas-feiras, manhã e tarde.
- Nos demais dias, a visita deve ser agendada na Secretaria de Turismo e Cultura da cidade de Paulo Afonso.-


Taxa para visitação: R$ 2,00 (Estudante) e R$ 3,00 (Turista)
A taxa é para manutenção do Museu.


Maiores informações: Secretaria de Turismo de Paulo Afonso/BA
Av. Apolônio Sales, 2º andar (Gráfica dos Padres)Fone: (75)-3281 - 3011 Ramal: 204 e 250.


Créditos: Ivanildo Silveira

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Punhais e adagas.

Fábio Carvalho escreveu algumas linhas a pedido de um confrade sobre facas, apesar de não ser bem área dele (cutelaria), que agora repassamos aos amigos do blog Lampião Aceso.

A cutelaria nacional (como toda a nossa história) tem poucos registros, mas é bem certo que vieram cuteleiros ou ferreiros de Portugal nos primeiros anos de colonização, pois é óbvio que facas, machados, pregos, fechaduras, martelos e na época espadas, sempre foram objetos necessários no dia a dia e importar qualquer coisa da colônia demorava meses. No nordeste especialmente se instalaram fabricas já no século XVIII, segundo consta, no Ceará na cidade de Abreu e Lima.


Na minha opinião o isolamento cultural e econômico do nordeste deve ter contribuído para a criação destas facas tão específicas com a função de PERFURAR, como eram as antigas espadas rapieiras, adagas e punhais medievais portugueses (seriam estes os primeiros modelos disponíveis para cópia?)... Assim teremos saídas das mãos dos hábeis artesãos e ferreiros nas pequenas localidades facas estreitas e longas com a especifica função de perfurar grandes massas de carne (ou pelo menos nos levam a pensar isso, pelos seus enormes comprimentos de até 60 cm), com gume pouco afiado, merecendo mesmo a designação de punhais. Assim teremos em uso pelo cangaço (mas anteriores a ele com certeza) as famosas (nome genérico) Facas de arrasto (receberam este nome porquê segundo o povo eram tão longas que tinham de ser arrastadas das bainhas), ou ainda Parnaíbas (por serem modelos naturais da cidade de Parnaíba/Pi), com suas longas lâminas de ± 50 cm e uma guarda de mão bem peculiar, são bem antigas, e ao que parece vem do Brasil colônia. A “Língua de peba” um punhal de gume triangular (dizem que igual à língua do tatu peba, daí o nome) de ± 30 cm de lâmina, dizem que estes também são feitos desde o séc. XIX.

A Faca de Pajeú.


Feita em grande quantidade pelos famosos cuteleiros de Baixa Verde/RN (ao que parece havia outra vilarejo de Baixa verde que era distrito de Água Branca/AL, sendo que as facas e punhais de lá também era afamados), sendo conhecida pelo nome desta cidade também. Esta já é uma faca de lâmina mais curta, larga, com de ponta bem fina. Destas “pajeuzeiras” (assim também se chamam) se citam variedades de folha de lâmina larga ou mais estreita.Havia ainda outros tipos de punhais menores que imitavam as facas maiores, estes geralmente eram escondidos na roupa, e usados nas cidades por elementos mal-intencionados nos bordeis e butecos, me lembro de ter visto alguns com um risco no centro e ao longo do comprimento da lâmina, o chamado “canal de sangria”.


Desnecessário dizer que vez ou outra, algumas destas armas brancas tinham lâminas cortadas e reaproveitadas de espadas do império (ou mais antigas) ou porventura do gume de facas de procedência estrangeira (mais raro no nordeste e mais comum no Rio grande do sul, que no final do séc XIX importava muita cutelaria belga e alemã). A qualidade variava muito, sendo que algumas eram verdadeiras obras de arte com cabos compostos por diversas esferas metálicas revestidas de madeira de lei, prata, ou outro material. A maioria tinha o pomo arredondado.


Abraços

terça-feira, 14 de abril de 2009

Um estudo pseudo-psicológico


A pistola Parabellum no imaginário popular
Por Aurelino Fabio Carvalho Costa.


Pistola Parabellum do Contrato Brasileiro de 1906
Em matéria de indústria e comércio, com o passar dos anos, algumas marcas escaparam da simples condição de objetos e passaram a ser sinônimos da classe de produtos a que elas pertencem (no Brasil são bem conhecidos exemplos típicos disso, como certa marca de cerveja, ou uma lâmina de barbear que designam respectivamente estes produtos). Outras ainda conseguem ultrapassar esta já importante condição de marcos sinalizadores, e chegam à condição de legítima lenda, se tornando em objetos de desejo, símbolo de status social, econômico, ou sinônimo de bom gosto (Freud explica?).

Entre as armas de fogo, esta nuance da psique humana também está presente. Assim teremos as armas mais caras, dignas de marajás indianos com apliques em ouro, prata, marfim, cheias de trabalho artesanal, feitas por encomenda em maisons tradicionais (como as espingardas da Holland & Holland), ou em afamados armeiros custom. Objetos cuja função social e psicológica mais compreensível, é a de demonstrarem socialmente a opulência, a riqueza, e o requinte (ou até o extremo mau gosto a depender do caso) de seu possuidor. Bem como as feitas de maneira descuidada, com materiais inferiores, de pouca tecnologia, próprias para as classes menos favorecidas e despojadas materialmente, chegando algumas a ser também marcos ou sinônimos de coisa ruim, de baixa qualidade.

Mas há outras que apesar de feitas em seqüência industrial, com acabamentos absolutamente normais entram para este rol seleto das “lendas de aço”, unicamente pelo apelo popular, ou pelas suas boas características técnicas de confiabilidade, ou pela construção cuidadosa (apesar de puramente comercial). Assim poderíamos citar as Mauser C-96 (chamadas de "mausa caixa de pau" por causa do seu coldre/coronha), as Colt 1911, as pistolas da FN, e dentre dezenas de modelos e fábricas que não citaríamos por ser enfadonho, a arma que agora nos ocupa, baseada na pistola Borchardt C-93 modificada e melhorada por Georg Luger, e transformada na pistola D.W.M. Parabellum em 1900 (conhecida também como Luger por causa do desenhista).

A temida e desejada pistola Parabellum entra na história oficial do Brasil em 1906, com um contrato do Governo Brasileiro com a firma D.W.M. - Deutsche Waffen und Munitionsfabriken (Sociedade Alemã de Armas e Munições), sendo encomendado naquela feita 5.000 pistolas em calibre 7,65mm Parabellum, com capacidade de 8 cartuchos, segunda trava de segurança na empunhadura, sem engate de coronha e cano de 4 3/4", e acabamento esmerado com oxidação brilhante de um lindo tom azul veludo. Era a virada do século XX, sendo isso por si só bastante apelo comercial, técnico, e psicológico, pois as pistolas “automáticas” significavam a última palavra, afinal o debute do automatismo em armas portáteis era bem recente (iniciado com a experimental pistola Schönberger, em 1892), como vantagens visíveis portavam mais munição, e eram mais rápidas no tiro que os tradicionais revólveres.

Temos talvez aí a primeira das pistas de seu sucesso subjetivo na cultura popular: a modernidade que representavam. O potente e veloz, mas pouco eficaz em poder de parada calibre 7,65 mm Parabellum, é logo seguido por um 9 mm mais eficaz já em 1902, e embora armas neste calibre não tenham sido adotadas pelo governo federal do Brasil (mas ao que parece a polícia da Bahia na época comprou algumas Lugers em calibre 9 mm Parabellum, e talvez outras, embora a falta de documentos de época seja um entrave a pesquisa séria), os civis sim, estes usavam muito estas armas em 9 mm, sendo as poucas 7,65 mm vistas em mãos de colecionadores nacionais eminentemente militares.

Temos aí a segunda pista do seu sucesso centenário: Poder, tanto o poder subjetivo, o de usar a mesma arma que os representantes do governo usavam (tanto o federal representado pelo Exército Nacional, ou os estaduais representados pelas suas tropas policiais “volantes”), quanto ao poder palpável, real, obtido pela força dos disparos dos cartuchos dos calibres 7,65 mm e 9 mm Parabellum, mais potentes que os dos revólveres em uso corrente entre policiais e cangaceiros da época. Isso se fixou no imaginário popular como quase um axioma, que um disparo da Parabellum podia furar um trilho de trem, “olho de enxada”, apesar da excelente penetração que estas armas tinham, isso é um grande exagero, sendo desmentido até por testes práticos de uma revista de armas anos atrás.

Misturando-se a tudo isto, ainda temos a mítica do desenho, a empunhadura (cabo) possuía uma curva sinuosa, sensual, quase feminina, garantindo a ergonomia de uma pega adequada a mão do atirador, poucas vezes conseguida, mas muito imitada em outras armas. A própria exótica operação com o manejo do ferrolho subindo (o nome técnico de ação de joelho - ou “toggle-joint action” já diz tudo), mais o preço elevado da arma, pela cuidadosa fabricação e acabamento (mais um item adicionado à lista: status, riqueza), bem como a quantidade de modelos e opções, e estava feita em parte a receita do sucesso e da popularidade deste tipo.

Os diversos modelos da Luger puderam ser vistos em mãos de todo tipo de gente, popularizou-se entre policiais e cangaceiros, que depois de 1930 usavam os modelos 1906 e 1908 – sendo que a pistola que Lampião usava quando foi morto era uma Parabellum P-08 de 9 mm (mas antes disso ao que parece, usava uma em 7,65 mm, e exigia toda a munição desse tipo que encontrasse). Essa Parabelum 9 mm de Lampião segundo dizem, foi comprada pelo mesmo na cidade de Capela no estado de Sergipe, em 1929 na casa comercial de Jackson Alves de Carvalho, sendo aparentemente a mesma arma que foi encontrada com ele em seu fim trágico em Angicos (aliás na famosa foto das cabeças cortadas – pode-se contar nada mais nada menos do que 7 pistolas Parabellum, sendo bem visível uma do mod. 1906, as outras menos visíveis pois estão coldreadas).

Ainda sobre personagens que usaram as Parabellum, os Coronéis, seus Jagunços e Pistoleiros de aluguel também a apreciaram, tendo chegado ao meu conhecimento pelas divertidas estórias do meu finado Tio Zeca, que lá pelos anos 40 trabalhou na fazenda de um rico fazendeiro na fronteira da Bahia/Minas Gerais. Ele me contou que na casa da sede tinham caixas fechadas com dezenas de carabinas Winchester e 8 pistolas Parabellum, além de outras armas curtas!!

Para economizar tempo na hora de limpar eles simplesmente jogavam óleo por cima e fechavam a caixa. Tem também a popular e hilária estória de um camarada que ao ir à casa de uma “mulher da vida” em Bom Jesus da Lapa/Ba, guardou a pedido da desconfiada “moça” que o “atendia”, a sua Parabellum num Bocapiu (sacola de palha)... que não tinha fundo... Ao cair no chão a arma (que por certo como diz o povo estava com “bala na agulha”) começou a disparar sozinha até ficar sem munição (típico defeito de pistolas, numa peça chamada fiador), ambos ficaram agachados num canto do quartinho da “moça”, agarrados e muito assustados, já se isso foi verdade é outro caso...

Mas a realidade técnica longe do mito é bem outra. A bem dizer a Luger em parte não justificava a sua boa reputação (mundial, pois foi arma de coldre padrão de dezenas de nações, lutou nas duas guerras mundiais, e é uma das mais procuradas por colecionadores até os dias de hoje), sim, de fato é uma arma precisa, mas por causa de seu desenho peculiar era cara de se manufaturar, tolerava poucas variações nas cargas dos cartuchos, tinha muitas peças pequenas, era bastante sensível à poeira, gelo e lama encontráveis em quase todo teatro de operações, pois o mecanismo não é coberto por inteiro, o seu carregador tinha tendências a encravar no 2º cartucho por causa da inclinação da mesa elevadora e da mola fraca, e o 1º era muito duro de se introduzir manualmente, mesmo assim foi um tremendo sucesso de vendas.

Mas em nossas terras longe de tecnismos, a fama da lendária pistola corria de norte a sul, notadamente no Nordeste das primeiras décadas do século XX, onde entrou sorrateira no imaginário popular (o famoso Parabelo) como uma das estrelas principais de uma época tão difícil de medo e violência: o ciclo do cangaço.

Debutou num ambiente onde a falta de esperança no futuro e na justiça transformava por vezes a apatia em revolta, em mote da vingança. Numa terra de homens e mulheres destruídos moralmente e materialmente pela pobreza e pela fome (há relatos de vendas de pessoas e até macabras histórias de canibalismo), onde a tragédia humana da seca diuturna, que fazia as caveiras dos animais branqueando no pasto inexistente, a rir com suas mandíbulas desencaixadas, lembrando aos homens que os seus natimortos, os menores, e os seus mais velhos em breve os seguiriam na jornada da qual não se volta.

A política e o poder asfixiante dos coronéis, a grilagem de terra, a imensidão das caatingas sem lei, a pretensa liberdade dos bandoleiros, e isso tudo num caldeirão social em ebulição, permeado por fanáticos. Creio modestamente que a junção destes fatores contribuiu para que o mito da Parabellum se perpetuasse como uma arma potente e bela, símbolo de status social, instrumento de morte precisa e de poder. Poder esse que era ao mesmo tempo opressor e transformador, pois se a Parabellum era a arma dos odiados volantes e coronéis, também era a do “Capitão” Virgulino Ferreira e dos cangaceiros.

Os projéteis das Parabellum, rápidos como o vôo do carcará, e mortais como a cascavel, percorreram os ambientes hostis (tanto o natural como o social) das caatingas, e suas histórias como arma coadjuvante nas mãos de homens que primaram pelo heroísmo, traição ou covardia, mantidas pela tradição oral, chegaram aos nossos dias fascinando os pesquisadores modernos, que evidentemente tem de separar o joio do trigo...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Cadê o filme?

'Tamo inté' agora esperando?
O curta-metragem "Cangaceira", de Iziane Mascarenhas, está sendo filmado até o próximo domingo no Sertão Central cearense, nas cercanias de Quixeramobim. O Vida & Arte foi ver o que uma câmera faz com as pessoas.

As gravações do curta-metragem Cangaceira, da cearense Iziane Mascarenhas, começaram no último domingo, ainda muito cedo, na Fazenda Salva-vidas, ao pé de um dos monólitos do Sertão Central cearense, a Pedra da Gaveta, no município de Quixeramobim.

O cenário montado era o de uma tragédia. À vista, os despojos de um ataque de cangaceiros a uma casa arrodeada de pés de tamarindo. Coronel, jagunços e mulheres mortos, e uma adolescente viva, de corpo exaurido, arrastada por dois cangaceiros em direção a Zé Baiano, um dos mais cruéis do bando de Lampião, interpretado no filme pelo ator baiano Lázaro Machado (Ó Paí ó e A Pedra do Reino). De cócoras, próximo a uma fogueira, o cangaceiro esquentava um ferro com suas iniciais (JB), moldadas para o serviço de ferrar mulheres, por vezes no rosto.

"Silêncio! Vai rodar!", gritou um, e todos ficaram assim assistindo, mal mexendo os pés. Os comandos de cena vinham do diretor de fotografia Antônio Luiz Mendes, marido de Iziane, que, entre seus mais de 30 longas-metragens, já assinou também produções cearenses como Lua Cambará - nas escadarias do palácio (2002), de Rosemberg Cariry. As cenas foram repetidas várias vezes. "É difícil, é difícil, uma filmagem. Complicado, porque a coisa tem que ser exata mesmo", comentou de voz baixa o agricultor Francisco Sátiro, 48 anos, vestido todo de cangaceiro, selecionado para figurar em algumas cenas do filme.

"O grito da menina foi pouco, tem bezerra que só falta morrer quando a gente marca", argumentou pela verossimilhança Ricardo Porto, proprietário da Fazenda Parelhas, ali perto, onde a maior parte da equipe de filmagem está hospedada. "Sim, mas se tu antes estuprar a bezerra por quatro ou cinco horas?", emendou firme Iziane Mascarenhas, 44 anos, atriz e diretora do curta, premiado pelo Governo do Estado do Ceará através do edital de Cinema e Vídeo de 2007. O filme ainda é um ensaio para um possível primeiro longa de Iziane, que já teve a produção do roteiro patrocinada pelo Ministério da Cultura.

A enredo do filme é a história da cangaceira, por opção, Lídia, executada depois de trair seu marido, o mesmo Zé Baiano, com um outro amor passado, o cangaceiro Bem-te-vi, que encontrou nas fileiras do bando de Corisco, sub-grupo de Lampião. Os dois amantes foram flagrados por outro cangaceiro, Coqueiro, que chantageou Lídia para não delatar: ou dá ou morre. Quando Lídia foi delatada na frente de todos, Lampião deu voz a ela, que não negou o ocorrido e acrescentou: Coqueiro não delatou por lealdade.

"Eu sempre me interessei por esse tema, porque minha avó dizia: 'Eu quase conheci Maria Bonita'. Ela contava que meu avô tinha alguns encontros com Lampião, não sei aonde, e ela pedia para conhecer Maria Bonita. Por três vezes quase foi", relembra Iziane a infância no Crato. "Lídia foi alguém que lutou racialmente pelo direito de existir. Nesse momento em que parece que tudo tá sendo negociado, eu sinto vontade de contar essa história, que também não é a história de uma santa", fala a diretora que também interpreta a protagonista.

Outros atores

Enquanto as câmeras se ocupavam na cena de Zé Baiano ferrando a adolescente no rosto, alguns recém atores aguardavam a vez. Quase todos agricultores da região selecionados nas últimas semanas para interpretar algum papel maior ou menor no Cangaceira. "Na minha família tem gente que toca na banda Mastruz com Leite. Vamo vê se essa oportunidade vinga", diz Francisco das Chagas, 53 anos, morador da Fazenda Gávia, no papel do coronel assassinado e pretenso ator profissional. A mãe, Dona Antônia, chegou a ir no set de filmagens para assistir a participação do filho: "Tô é com pena dele, será que ele já comeu?".

Francisco Valmir, 34 anos, também estava de olho na profissão de ser outros. "Já tinha participado do teatro da paixão de Pacatuba. Depois que descobriram que Quixeramobim dá pra fazer filme, não vai faltar oportunidade", disse esperançoso. A cidade, a 206 quilômetros de Fortaleza, foi escolhida como locação para dois outros filmes de diretores cearenses: Rifa-me, de Karim Ainouz), e Joaquim Bralhador, de Márcio Câmara.

"O que eu percebo em Quixeramobim é uma paisagem exuberante e não filmada, que tem que ser mostrada. É uma cidade também bem estruturada. E, ainda, muito mais interessante do que só receber, é haver as trocas. Nada impede, que depois, os próprios moradores de Quixeramobim passem a criar seus projetos", fala, crente numa utopia cinematográfica.

*A notícia foi publicada no jornal Cearense O POVO em 18 de Junho de 2008, até o momento não tomamos conhecimento da estreia ou divulgação deste trabalho.
 

Créditos: Geziel Moura, Belém - PA e comunidades do Orkut.