terça-feira, 12 de abril de 2022

O último de um clã

Lampião e a faca jardineira; entrevista com Simeão Pereira

 

No começo do ano de 1926 Lampião foi convidado pelo Dr. Floro Bartolomeu para se incorporar ao batalhão patriótico de Juazeiro do Norte Ceará. No dia 3 de Março de 1926, Lampião entra na cidade de Jardim já no estado do Ceará. Parece que Lampião premeditou passar na oficina de José Pereira grande cuteleiro cearense. Segundo o escritor e pesquisador jardinense José Márcio da Silva, ainda na juventude Virgulino junto com seu pai, trabalharam na cidade de Jardim-CE transportando mercadorias entre os Estados de Ceará e Pernambuco. 

Neste tempo os Ferreiras tinha uma Tropa de burros e eram almocreves. Foi por este motivo, que Lampião conheceu de perto estas famosas facas, que ali mesmo no comércio era usadas para cortar fumo de rolo, descascar laranja, cortar corda de Carua, cortar couro de animais e etc:, mas o papel de suma importância dessa faca era nas famosas brigas de peixeiras. Segundo o seu Simeão Pereira Filho de José Pereira o famoso cuteleiro de jardim, quando acontecia as brigas na feira de jardim, os cabras riscavam a faca no chão dizendo a seguinte frase "Aqui é língua de peba de Zé Pereira". Se referindo a faca. 

Depois do puxado de faca o desmantelo era feio. Seu Simeão Pereira já nos falou ao contrário, em uma entrevista acontecida em Janeiro deste ano (2021) o S. Simeão disse que achava bonito o duelo dos cabras na feira que acontecia com naturalidade. Segundo ele os cabras morriam mas não corriam da briga, e continuando o raciocínio do seu Simeão, ele disse que onde a jardineira penetrava não jorrava sangue de tão venenosa que as facas eram. No dia 3 de Março de 1926, Lampião entrou na cidade de Jardim sentido o caminho para Juazeiro. Ele passou pela manhã e foi direto para oficina de José Pereira que já era famoso na região, Lampião conhecia bem a fama dele. 

Lampião entrou na oficina dele, junto com dois cabras. Ele se apresentou dizendo quem era e já de imediato encomendou um punhal de 60cm que deveria estar pronto até às 3 horas da tarde. Da oficina de Zé Pereira Lampião se retirou para o sítio Juá próximo a Jardim e quando foi meio-dia Lampião, apareceu para pegar o punhal. Adivinha o que aconteceu? José Pereira acostumado a fabricar punhais usou de uma Agilidade de um gato e além de ter feito o punhal já estava terminando a bainha do mesmo. Lampião pegou o punhal e fez um teste. Ele botou o punhal no joelho e colocou força envergando para ver se quebrava mas o punhal Voltou ao estado inicial, bem reto. 

O Capitão então perguntou - "Quanto ficou o trabalho em cabra?" José Pereira não quis cobrar nada. E disse que fazer um punhal para Lampião era uma honra. Lampião impressionado com aquele homem perguntou se ele tinha algum desafeto na região para que ele mesmo desse fim a qualquer um, mas Zé Pereira disse que não tinha inimigo algum nem na cidade e nem no Estado, disse que já estava de bom grado receber Lampião na oficina dele. 

Depois da conversa Lampião montou um cavalo e retirou-se do centro da cidade. Já na curva quando Lampião desapareceu José Pereira fechou a porta da oficina, e danou-se no meio do mato onde só voltou dois dias depois. O mais interessante é que Zé Pereira fez apenas um punhal para Lampião, mas, o cuteleiro era tão bom que Lampião fez a propaganda dele por onde passou e as facas de José Pereira ganharam um patamar elevado. 

Hoje uma faca de Zé Pereira original custa entre R$ 1.000,00 e R$ 5000,00 devido a raridade. A passagem de Lampião em Jardim em 1926 foi tão marcante que José Pereira entrou para a história da cutelaria nordestina embora só tenha feito apenas um punhal para o Cangaço. Mas não fique preocupado pois ainda existe um filho de Zé Pereira trabalhando no ofício da cutelaria em Jardim. E o nosso grande amigo Simeão Pereira. 

Postado originalmente no canal Lampião Governador do Sertão (YouTube)

Descendentes

A neta de Chico Pereira

 Por Wanessa Campos

Ela nasceu no Recife, filha de mãe pernambucana e pai paraibano. Mora em Brasília desde criancinha. Optou para a área de comunicação há anos, o que faz com maestria. Deixou a TV aberta e migrou para Internet, onde tem 16,5 mil seguidores no Instagram somados a 115 mil no You Tube com assuntos diversos, indo de saúde a gastronomia. Brasília dos 60 é o seu projeto atual.

 


Seu nome: Mônica Nóbrega. E o que ela faz aqui, no meio das mulheres cangaceiras ? Ela é neta do cangaceiro Chico Pereira que fez história na Paraíba nos anos 20. Cresceu ouvindo histórias do Cangaço em casa. Pela avó, Jarda, viúva de Chico, pelo pai e, sobretudo pelo tio Francisco, que escreveu o livro Vingança Não! Ele foi a sua maior influência para agora se voltar para o assunto, pensando até em relançar o livro do tio que tanto sucesso fez anos atrás.

Chico Pereira


Recentemente, Mônica promoveu uma live com Vera Ferreira, neta de Maria Bonita e Lampião. As duas descendentes de cangaceiros famosos alcançaram sucesso total nessa empreitada. Duas mulheres bonitas, corajosas, talentosas e brabas. Têm a quem puxar….

Vamos aguardar então os novos desafios de Mônica que não tem jeito de valentona, mas é. Tal qual a Mônica da revista em quadrinhos….

 Pesquei em Mulheres do Cangaço

sábado, 9 de abril de 2022

Novidade em HQ

Al Stefano concretiza a profecia de Antonio Conselheiro, em sua nova obra “Piratas do Cangaço”
 

Por Patricia Visconti

 

 No final do século 19, em meados dos anos 1890, o beato Antonio Conselheiro profetizou uma sentença “O Sertão vai virar mar”, durante a Guerra de Canudos, o que acabou indo parar na obra de Euclides da Cunha, Os Sertões (1902). Porém, a profecia acabou não se concretizando naqueles tempos árduos de guerra civil pelo nordeste brasileiro.
 

Anos se passaram, o autor de Salseirada (2020), Al Stefano, chega com uma nova obra para mobilizar e trazer muita aventura ambientada em território Nordestino, somando tradições e histórias significativas e peculiares, a HQ Piratas do Cangaço, apresenta um universo distinto e paralelo onde o Sertão realmente virou um mar, e o cangaço tomou a forma de caravelas em disputas e pilhagens nas ilhas do Nordeste.
 


 Nesta peripécia aventuresca, três cangaceiros, Carcará, Vela Seca e Fogueteira, têm a principal função de resgatar Labareda, um antigo Capitão, das mãos implacáveis da República, em uma audaciosa e emocionante narrativa, Stefano, envolverá o leitor neste mundo colateral profetizando por Antonio Conselheiro e interpretado de forma única e característica pelo artista.

A obra encontra-se em pré-venda através do finaciamento coletivo, e deve ser lançado em breve, sob o selo Zapata Edições. Piratas do Cangaço foi viabilizado pelo ProAC LAB Aldir Blanc, com apoio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

Pescado O barquinho Cultural

sexta-feira, 8 de abril de 2022

Acadêmicos

Horas abertas, Corpos Fechados: A religiosidade do cangaço
 

Por Miguel Angelo Almeida Teles
 

De joelhos, Lampião puxa a reza para seu bando.

O escopo deste trabalho objetiva a realização de um estudo sobre a relação entre religiosidade e a crendice dos cangaceiros que permearam os sertões nordestinos desde o século XVIII até meados do século XX, considerando José Gomes Filho, o Cabeleira (1751-1776) e Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco ou Diabo Louro (1907-1940) respectivamente, o primeiro e o último chefe representante do grupo de cangaceiros.


Praticamente isolados no seu mundo, entregues aos desmandos dos coronéis e dos seus paus mandados e sem a ajuda efetiva dos poderes constituídos, os homens do sertão buscavam amparo, força e proteção no encosto do sobrenatural. Cercavam-se de signos sagrados e profanos como arma de defesa na sobrevivência perante sua fraqueza humana em lidar com os poderosos da terra.
 

Todos esses ensinamentos e religiosidade advêm de um catolicismo antigo, dos catecúmenos herdados dos colonizadores europeus, dos índios e negros que povoaram os sertões. Tal religiosidade era doutrinada nos escritos das Horas Marianas , da Missão Abreviada 4 e o do Lunário e Prognóstico Perpétuo para todos os Reinos e Províncias e...
 

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1 Trabalho apresentado no Seminário Angicos 80 anos: o Crepúsculo do Cangaço.
 

2 Miguel Angelo Almeida Teles, fotógrafo, documentarista e pesquisador de temas sertanejos como vaqueiros e cangaço. Sócio do IGHB. Aluno do VI Semestre do Curso de Licenciatura em História, UNOPAR. 

3 ROQUETE, José Ignácio. As Horas Marianas ou Ofício Menor de Nossa Senhora trazia orações e práticas alusivas às devoções da Mãe de Deus. 

4 COUTO, Manoel José Gonçalves. Editado em Portugal em 1859, além das biografias dos santos, trazia várias orações, bastante utilizadas pelos sertanejos.  

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...impulsionada por lendas, superstições, ladainhas, novenas, Santas Missões, terços na boca da noite e ofícios na madrugada. O medo do inferno, do diabo, do purgatório, do pecado carnal, da perseguição de espíritos inferiores, do feitiço, criava nesses homens um combinado de crença e religiosidade pautadas na fé, preceitos e regras de um sincretismo religioso repassado entre gerações através dos tempos.
 

A vida atribulada, repleta de arroubos, crimes e assaltos causavam no homem do cangaço um alarme doentio, repleto de agouros e presságios, acreditando em tudo, porque em tudo acreditava, e assim, nutria a sua fé a seu modo. Nas aflições e nas horas dos aperreios, o cangaceiro fazia pactos com santos de sua devoção e com espíritos protetores, assumindo os mais diversos compromissos para posteriores pagamentos das promessas alusivas aos pedidos por ele alcançados. Em um emaranhado de crucifixos e patuás e apoderando-se a tudo que lhes dava proteção, o cangaceiro prestava contas às suas diletas divindades e, convicto em extinguir a dívida, retribuíam os favores com a doação de dinheiro nos oragos das igrejas, ouvindo missas, confessando os pecados e comungando, contudo sem perder a fé na oração forte que trazia repassada por algum preto velho que lhe fechara o corpo.
 

Entretanto, nas refregas, encangotados na mesma confiança dos rosários e bentinhos, utilizavam da própria fé para rogarem aos céus por uma pontaria certeira, encomendando assim, a alma de algum desafeto ou integrante das volantes, abrindo o caminho do infeliz para o outro mundo. Eram as contas do rosário contribuindo com a mira da espingarda. Eram Deus e o diabo palmilhando os sertões nos rastos dos cangaceiros.
 

Nos sertões nordestinos, para alguns crendeiros, Deus e o diabo concorrem na força e no poder de igualdade. Nas horas tidas como abertas – seis horas, meio-dia, dezoito horas e meia-noite – o capeta anda solto no mundo arrebanhando almas para seu reinado no inferno.
 

Visando amealhar súditos, o “coisa-ruim” utiliza-se de artimanhas e tentações satânicas para
impressionar com seus poderes excepcionais aqueles que almejam força e imunidade contra
seus inimigos, no fechamento do corpo. Porém, segundo ainda se afirma por lá, o diabo dá,
mas um dia cobra! Pelo sim ou pelo não, ao bocejarem, por lá ainda fazem cruzes sobre a boca
escancarada para evitar que o diabo adentre nela. 5 

CORTÊS, Jerónimo. Orientava os leitores na agricultura, previsão do tempo, fases da lua, biografia dos santos, antídotos contra venenos de animais peçonhentos, tratamento de moléstias, eclipses solares, festas religiosas,etc.
 

Em suas anotações poéticas 6, o ex-cangaceiro Antonio Ignácio da Silva, vulgo Moreno, (2008, p. 10) sintetiza com a perspicácia de um versejador sertanejo, a vida errante dos homens do cangaço, quando descreve “todos os cangaceiros do grupo de Lampião/ andando nas matas verdes/ na sombra da solidão”, viviam sem pouso certo para o corpo e sem refrigério para a alma. Sem moradias, capelas ou sacerdotes que lhes guiassem nos ensinamentos da fé cristã e dos dogmas do catolicismo, os cangaceiros enalteciam uma religião eclética que confessavam, com desusada fé nos santos, nas rezas, nos patuás e nas promessas que faziam. Seguiam uma série de ritos e temiam os abusos que eles mesmos criavam. Nas dúvidas, esmiuçavam os acasos, confrontavam os acontecimentos e faziam
analogias para depois apurar as abstratas crenças que surgiam das suas suposições.


Diante do imaginário e das superstições que envolviam o mundo sertanejo do cangaço, o misticismo transitava livremente pelos caminhos da religião. Desta forma, esta pesquisa de cunho bibliográfico objetiva delinear a relação entre a religiosidade e a crendice de homens ditos cangaceiros, que palmilharam sertões nordestinos desde o século XVIII até meados do século XX, considerando José Gomes Filho, o Cabeleira (1751-1776) e Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco ou Diabo Louro (1907-1940) respectivamente, o primeiro e o último chefe representante do grupo de cangaceiros.
 

O FECHAMENTO DO CORPO
 

Cercados de insegurança em um espaço agressivo, brutal e atribulado, os cangaceiros buscavam proteção nas forças misteriosas do além, através de uma religiosidade heterogênea, que munida de muita fé no sobrenatural e vinculada às crendices, superstições e misticismo atuavam como supostas formas de defesa do corpo e do espírito.
 

Segundo Eliade, (1992, p. 17) “o homem toma conhecimento do sagrado, porque este se manifesta como algo absolutamente diferente do profano”. Assim, o autor sugere para esta revelação do sagrado, o termo hierofania, traduzindo apenas o que está implícito no seu conteúdo etimológico, como “algo de sagrado se nos revela”. Desta forma, ainda segundo o autor, o sagrado desponta para certos indivíduos por meios de símbolos e signos, na crença de que tais instrumentos os tornarão fortes e poderosos. 

 

Assim, Manuscrito ofertado ao autor pelo ex-cangaceiro Antonio Ignácio da Silva, vulgo Moreno. Chegara a nossas mãos por obséquio de Carla Gomes, por ocasião da entrevista concedida à pesquisadora, em outubro de 2008.

 

Santinho da 1ª Comunhão de Lampião

O homem das sociedades arcaicas tem a tendência para viver o mais possível do sagrado ou muito perto dos objetos consagrados. Essa tendência é compreensível, pois para os “primitivos” como para o homem de todas as sociedades pré-modernas, o sagrado equivale o poder e, em última análise, à realidade por excelência. O sagrado está saturado de ser. Potência sagrada quer dizer ao mesmo tempo realidade, perenidade e eficácia [...] (ELIADE, 1992, p. 18). 

 

Portanto, para os homens do cangaço, as proteções conseguidas sob a influência de rezas fortes, patuás e mandingas conferiam a esses crendeiros uma fé visceral nessa combinação mística. Acreditavam que amparados pela intercessão desses protetores sobre-humanos, que arremetiam em seu favor contra as forças malignas do universo, estariam fortalecidos e agraciados com o sortilégio do fechamento do corpo. 

Buscando a concepção da expressão “fechar o corpo”, Ferreira (1986, p. 482) nos remete a “torná-lo invulnerável a facadas, tiros e mordidas de cobra, mediante orações e feitiçarias”. Do mesmo modo, Cascudo (1972), além de pactuar com as afirmações de Ferreira (1986), reporta-se também a outras prerrogativas de imunização corporal e espiritual do indivíduo, numa combinação de rezas, regras e preceitos, onde, o corpo fechado pode resultar de amuletos conduzidos ao pescoço, livrando o portador de todos os perigos, morte súbita, águas vivas e mortas, faca fria e bala quente, agravo (injúria) ou por ter submetido o imunizado ao cerimonial do feitiço, da muamba, catimbó, macumba, de variadas formas quase dependendo de cada ‘mestre’ a maneira e cerimonial do ato. (CASCUDO, 1972, p. 294). 

Todo este processo de autodefesa do corpo e do espírito, mediante um valor pecuniário, acontece em uma cerimônia reservada entre o mestre e o aspirante, cujas formalidades rituais da cerimônia do “fechamento do corpo” são pormenorizadas por Cascudo. 

Deste modo, o cliente paga o calço da sessão, a quantia estipulada para fechar o corpo. Fecha-se a
sala, acende a velaria, o mestre abre a sessão. Depois da defumação, goladas de cauim (aguardente), o mestre sopra a água e despeja numa bacia nova de flandres. O candidato se descalça, entra na bacia, equilibrando-se, com o pé direito sobre o pé esquerdo [...]. 

Com um pé em cima do outro, dentro da bacia que tem água soprada pelo mestre, como em obediência a um rito de pajelança onde o sopro, peiuuá, é a essência, a65 materialização da força espiritual do pajé, reza o Creio em Deus Padre até a passagem morto e sepultado, substituindo pela frase guardado e fechado seja o meu corpo para todos os meus inimigos e desencarnados. O mestre, apanhando a chavezinha de aço, aproxima-se, dizendo num recitatório semi-cantado: 

 

“Fecha-te órgão, pelo Vacujá/ pra todos os males que no mundo há/ Fecha-te corpo, guarda-te irmão/ Na santa cova de Salomão.
 

E faz o gesto, de fechar com a chave, todas as articulações junta por junta dizendo em cada operação o mesmo versinho. Findando o serviço, entregam ao cliente uma garrafinha contendo um pouco da água que estava na bacia. Deverá ir jogá-la no mar à meia-noite. O mestre de outra parte fará o mesmo. Nessa noite o candidato beberá cauim legítimo, aguardente com raiz de jurema. (CASCUDO, 1972, p. 294-295).
 

Na obra “Meleagro”, Cascudo menciona mais uma variante da oração para resguardar o corpo contra todos os tipos de desgraças, ofensas, calamidades, aflições e doenças materiais e imateriais, recolhida pelo folclorista pernambucano Pereira da Costa, em sua obra Folclore Pernambucano:

 

P. 62 Livro Estrelas de Couro, Frederico P. de Melo


 

Trago o meu corpo fechado com as chaves do Santo Sacrário; dentro dele se encontra o meu Jesus Sacramentado, como no Sacrário se encerra; e assim como vós ó meu Jesus, o meu corpo será guardado, a minha alma não será maltratada dos meus inimigos e o meu sangue não será derramado, porque tenho o meu Santíssimo Sacramento para o guardar, e a Virgem Maria para me livrar de malefícios, bruxarias e feitiços; e no meu corpo não entrarão, coberto com o sagrado manto da Virgem
Maria, borrifado com o seu sagrado leite e trancado como o meu Jesus Sacramentado, com as chaves do Santo Sacrário e com o Credo em Cruz. Pax Domini, misericórdia, Aleluia. (COSTA [19--] apud CASCUDO, 1951, p. 62).
 

Além de todo o sincretismo religioso que envolvia o fechamento do corpo, os cangaceiros se valiam de uma série de benzimentos, rezas e talismãs, acreditando que tais fomentos adicionados à aludida ação, fortaleciam segundo suas crenças, a proteção do corpo e da alma. Assim, as orações fortes, bentinhos, patuás e escapulários eram utilizados pelos homens do cangaço para afastar os males, atrair sorte ou proteção, cujos signos variavam segundo a crença de cada possuidor.
 

AS ORAÇÕES FORTES, ‘BRABAS’ E AS REZAS CURADORAS
 

Embora biografados como criminosos com atributos de violentos, os cangaceiros professavam uma intensa religiosidade legada dos pais e avós com ênfase no catolicismo e nos preceitos da Igreja Católica. A vida delituosa e a incerteza do alvorecer, temendo o espectro da morte, faziam os cangaceiros buscarem nas orações a assistência divina para os males do corpo e do espírito. Por outro lado, utilizavam o suposto anteparo sobrenatural para propagarem entre os persigas a crença do “corpo fechado”, obtendo desta forma temor e respeito perante aqueles homens com fé e crendices idênticas.
 

Segundo Cascudo, [...] a oração é sempre uma fórmula de pedido a Deus. A oração forte, amuleto e
talismã, guardada numa sacola, defende de todos os males ou, lida ou rezada, abala os céus, cedendo a divindade aos rogos deprecatórios do suplicante, para o bem ou para o mal. (CASCUDO, 1972, p. 622).
 

Repletas de mistérios e de intenso ocultismo, as orações manuscritas, obra de escribas sertanejos sobre o domínio de alguma crendice supostamente poderosa, eram conservadas com zelo nos bornais ou carteiras dos cangaceiros e declamadas tão-somente em momentos de aflição extrema, como último recurso contra algum perigo ou ameaça. Outras, ensacadas em couro ou tecido, eram conduzidas como bentinhos no pescoço, com desvelo para não abrir o invólucro, incorrendo ao crendeiro o castigo de perderem as forças, abrirem o corpo e sucumbirem.
 

Conhecidas também como rezas forçosas, as rezas fortes faziam parte do grande arsenal crendeiro dos valentões, cangaceiros e salteadores que confiavam cegamente nos desmedidos poderes dessas rezas que conduziam consigo, sem a efetiva preocupação com o perigo, na confiança que tais rezas o faziam envultar7. Em viagem, fugindo de tocaias e cercos tais rezas eram pronunciadas para o livramento de encontros fatais, assim como, deter a rota do projétil, fechando e protegendo o corpo contra qualquer arma. Acreditavam que “[...] por sua virtude, nunca seriam feridos nos combates ou nas brigas, ou não morreriam em fogo, nem afogado, ou de morte súbita e que tudo lhe sucederia prosperamente”. (CASCUDO, [20--], p.156).7 

Suposta capacidade mágica de certos indivíduos que, em situações complicadas, se tornam invisíveis perante seus perseguidores e transmutam-se em pedras, arbusto ou tocos de madeira com auxílio de algumas rezas ou encantamentos.
 

Dentre as rezas forçosas mais conhecidas e consideradas como uma das mais fortes entre os cangaceiros, a Reza da Pedra Cristalina, encontrada nos pertences do rei do Cangaço, e transcrita na obra do Professor Estácio de Lima. Observamos que, assim como o catedrático, acatamos a ortografia e a pontuação do documento transcrito na integralidade na obra, corroborando com a ressalva da mantença ao respeito e ao cuidado quanto à “forma, as palavras que surgiam pela metade ou as falhas do texto”. (LIMA, 2006, p. 136).
 

"Minha pedra christalina que no mar fosse achada entre o calix e a hostia consagrada, tremo a terra mas não treme nosso Senhor Jesus Christo no altar assim treme os coração de meus inimigo quando olharem para mim eu tibenzo em cruz inão tu a mim entre o sol ialua e as Estrellas as três pessoas distintas da Santíssima tridade meu deus na travissia avistei meus inimigos meu deus oqui fasso com elles Com o manto da Virgem Maria sou cuberto e com o sangue do meu senhor Jesus Christo sou valido tens, vontade de atirar porém não atira si mi atirar agua pello cano da Espingarda correrá si estiver vontade de mifura a faca da mão cahira si miamarrar os nós dizatarão e si mi trancar as portas si abrirão. offiricimento S salvo fui salvou sou e salvo serei com a chave do sacrário e me fecho.1 PN 3 AM i 3 Gloria apatre iofereço a 5 Chagas de Nosso Senhor Jesus Christo".
(LIMA, 2006, p. 136-137).
Outra oração estimada e considerada “forte demais” pelos crendeiros era o Rosário Apressado destinado à Nossa Senhora da Conceição. Unicamente verbal era proferido de maneira célere e contínua, sem qualquer engano ou detença na pronúncia – por até três vezes, segundo o preceito da oração – era tomado como uma resposta negativa da divindade e tido como mau augúrio.
 

Ó Virgem da Conceição, Senhora Concebida, Mãe de Deus, Reino da Vida, Senhora dai-me a mão que minh’alma caída está; meu corpo estremecido sem a vossa consolação, vos aflita e ofendida fostes, Virgem e ao pé da Cruz e aflita e ofendida chamo por vós, mãe de Jesus, Ó Virgem da Conceição, vós não fostes aquela que dissestes, pela vossa sagrada boca, que quem por vós chamasse cento e cinquenta vezes por dia havia de ser valida? Pois é chegada a ocasião em toda tribulação. Valei-me, Ó Virgem da Conceição. (CASCUDO, 1972, p. 624).
 Mais adiante o folclorista potiguar cita a Oração do Rio Jordão como bastante
conhecida no ambiente do cangaço, ora transcrita.

 

Estavam no Rio Jordão ambos os dois. Chegou o Senhor São João: Alevanta-te, Senhor, que lá vem os inimigos teus! Deixa vir, João, que todos vêm atados de pés e mãos e almas e coração. Com dois eu te vejo, com três eu te ato. O sangue eu te bebo, coração eu te parto. Vocês ficarão humildes e mansos como a sola dos meus sapatos (diz três vezes batendo com o pé direito). Deus quer, Deus pode, Deus acaba tudo quanto Deus e eu quisemos. (CASCUDO, [20--], p. 642).
 

No que concerne aos sucessos causados por animais peçonhentos da caatinga, habitat natural das jararacas e cascavéis, não foi encontrada na bibliografia pesquisada, ou qualquer outra fonte, nenhum relato sobre algum cangaceiro morto ou ofendido por alguma serpente venenosa. Segundo a crendice popular, estes homens tinham “força” diante das víboras, por serem curados contra o veneno das serpentes, clamando por São Bento: “Valei-me! Meu Senhor São Bento, Valei-me! Valei-me! Valei-me! Livrai-me das cobras e dos bichos peçonhentos.” (OLIVEIRA, 1970, p. 121).
 

Ainda como exemplo de oração forte, foi recolhido em um caderno de anotações manuscrito pelo ex-cangaceiro Antonio Ignácio da Silva, vulgo Moreno, o seguinte rogo: “Jesus, Filho de Maria Santíssima, Mãe do Salvador, dai-me resistência para eu escrever as palavras do Senhor. Valei-me Jesus Mãe de Deus Salvador nas horas necessitadas na sombra dos sete amor. P. F. E. Santo. Amém.” (SILVA, 2008, p. 5).
 

Outra forma de rogo bastante utilizada no cangaço eram as Rezas Curadoras. De ação exclusiva para cura ou prevenção de doenças e males, as aludidas rezas são utilizadas até hoje por curandeiros e rezadeiras em virtude da desconfiança nutrida por alguns perante a eficácia da alopatia.
 

Estas rezas diferem das “orações fortes” e concernem apenas às rezas e aos ensalmos, como parte da terapêutica religiosa para cura das doenças e males do corpo. Ratificando, César afirma que por aquelas paragens, O termo oração nunca é proferido pelos rezadores e curadores. Aplicam sistematicamente a expressão reza com os seus derivados rezar e rezador. Chama-se o rezador para rezar a vaca engasgada; a rezadeira para rezar o mau olhado do menino; o vaqueiro para rezar no rastro de uma rês com bicheira. (CÉSAR, 1975, p.159).
 

Prevalece ainda, entre as poucas rezadeiras sertanejas, a reza da espinhela caída, bastante utilizada no cangaço. Como regra, o rezador utiliza um barbante para aferir a distância da ponta do dedo mínimo até o cotovelo e confronta com o intervalo entre os ombros 69. Excedendo na medida, o cristão está com o mal e procede-se a reza, acompanhada de três Ave-Marias, três Pai-Nossos e três Glórias ao Pai, com oferecimento às Cinco Chagas do Nosso Senhor Jesus Cristo.
 

Eu entro na palavra de Deus Padre, com as palavras de Deus Filho e de Deus Espírito Santo, espinhela caída eu te levanto com arcas e tudo, com os poderes de Deus Padre, com os poderes de Deus Filho e com os poderes de Deus Espírito Santo, Amém!.(SUSSOL, 1995, p. 213).
 

No tratamento do “impaludismo” ou “sezão,” o cangaceiro escavava o solo e depois recobria a abertura com a própria terra, pronunciando: “Sezão ti enterro aqui/ Ti afasta de mim/ Tu só torna vortá/, Si di novo eu aqui vim.” Em seguida, colocava um feixe de lenha para nunca mais retornar ao local. A eficácia da reza dependia do exato cumprimento dos preceitos e/ou da infelicidade do cristão em realizar o ato nos rastros de um corno. (MACHADO, 1974, p. 191).
 

As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) traziam aos cangaceiros grandes incômodos com as infecções que elas ocasionam. Por considerarem as doenças venéreas uma “doença do mundo” ou “doença feita”, o tratamento era realizado exclusivamente à base da farmacopéia cangaceira, pois as forças das rezas não dispunham de poderes para curá-las. (MACHADO, 1974, p. 191).
 

As orações “brabas” são as orações adversas das instituídas pelo credo cristão da fé em um único Deus, repletas de menções e segredos obscuros e que reporta exclusivamente às forças demoníacas e misteriosas do inferno. Dentre elas, encontramos duas orações brabas, temidas e condenadas pela maioria dos crendeiros nordestinos e citadas no Livro de São Cipriano: “A oração da Cabra” Preta, a qual numa mistura com Santa Justina pede auxílio às forças satânicas e ao “Credo às Avessas”, lida “de trás pra frente” numa versão contrária ao “Credo Cristão”.
 

Em alusão aos amuletos, os cangaceiros dispunham de uma infinidade desses talismãs presos ao pescoço, pelos quais nutriam uma desmedida fé. Impregnados de suor e poeira só eram retirados, via de regra, na hora do coito, sobre a pena de incorrer no crendeiro uma série de castigos e desventuras, invalidando assim, os poderes do seu patuá.
 

Constituído de um pequeno envoltório confeccionado em tecido ou couro, os patuás traziam fragmentos de hóstias consagradas, relíquias, rezas forçosas e curadoras, facultando ao crédulo o fechamento do corpo, tornando-os valentes, audazes e temidos, os quais abduziam as coisas-feitas, os malogros e as moléstias. Desta forma, segundo Eliade, Manifestando o sagrado, um objeto qualquer torna-se outra coisa e, contudo, continua a ser ele mesmo, porque continua a participar do meio cósmico envolvente. Uma pedra sagrada nem por isso é uma pedra; aparentemente (para sermos mais exatos, de um ponto de vista profano) nada a distingue de todas as demais pedras. Para aqueles a cujos olhos uma pedra se revela sagrada, sua realidade imediata transmuda-se numa realidade sobrenatural [...]. (ELIADE, 1992, p. 18).
 

Além da proteção oferecida por orações, patuás e bentinhos, deparamos na iconografia do cangaço (JASMIN, 2006), com um legado de signos e símbolos visualizados nas armas e chapéus dos cangaceiros. Postulados na superstição para proteção dos armamentos, esses homens esculpiam o Signo de Salomão na parte externa das coronhas dos rifles e fuzis, em que a cada sete dias o benziam com sete cruzes e com o polegar sobreposto no centro da figura, rezavam um Pai Nosso e uma Ave Maria. (CÉSAR, 1975, p. 172). O chapéu, além de proteger o cérebro e órgãos do sentido contra as inclemências do tempo, era ornado com ícones cabalísticos, medalhas e moedas, postulando a salvaguarda do corpo. Sede da razão e da sabedoria, a cabeça era enaltecida como guia espiritual cristã, em apologia aos santos sacramentos da Igreja Católica relacionados como batismo, comunhão, crisma e extrema-unção.
 

Obstinados em manter o físico concatenado ao espiritual e, o corpo imune aos agravos do ferro quente8 e do ferro frio9, os cangaceiros, homens de credo e religiosidade apurada, seguiam à risca os mandamentos e preceitos pertinentes à mantença do “corpo fechado”. Cismados que o universo feminino anulasse tal mandinga, temiam e respeitavam o sexo oposto com uma desmedida fobia, em detrimento a uma passagem bíblica, escriturada no Antigo Testamento, onde:
 

A mulher, a que padece o seu fluxo de sangue menstrual, estará separada sete dias. Todo aquele que a tocar estará imundo até à tarde; e todas as coisas sobre que ela tiver dormido ou sobre o que se tiver assentado, durante os dias da sua separação, serão polutos. E se, com efeito, qualquer homem se deitar com ela, e a sua imundície estiver sobre ele, imundo será por sete dias; também toda a cama, sobre que se deitar, será imunda. (BÍBLIA SAGRADA, LEVÍTICO 15:19-21).
 

Deste modo, o comportamento dos homens do cangaço relacionado às regras impostas às mulheres os levava à abstinência sexual nos três dias que antecediam um assalto ou ataque.
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8 Ferimentos causados por armas de fogo.
9 Ferimentos produzidos por armas brancas como punhal, faca, etc.


Assim, nos deslocamentos dessas empreitas, margeavam as estradas e caminhos vicinais com o firme propósito de evitar algum encontro casual com o sexo oposto ou até mesmo com certos vegetais da flora sertaneja como o mororó (Bauhinia fortificata) e as flores do maracujá (Passiflora edulis) por acharem as mesmas parecidas com a genitália feminina. Ainda nesse universo, o medo crendeiro aconselhava o exame minucioso nos arreios, receosos que algum desafeto camuflasse entre a manta e a sela alguma peça íntima das mulheres. (CÉSAR, 1975,p. 32). Ainda segundo César, (1975, p. 173), “quando se tem inimigo, não se deve viajar antes do terceiro dia que visitou uma mulher, que bebeu aguardente ou que sentou numa banca de jogo”.
 

Nessas marchas, professando outras superstições para o resguardo do corpo, os cangaceiros norteavam suas jornadas, traçada por um encandeamento de preceitos legado dos mais velhos, sobre o lado apropriado no perpassar dos caminhos. Nas encruzilhadas do caminho, pisavam sistematicamente no flanco direito e distantes do cruzamento, para não calcarem a cruz formada com a intersecção das veredas, entretanto, só ultrapassavam a sombra de uma árvore, estando à mesma do seu lado esquerdo. (CESAR, 1975, p. 53)
 

CONSIDERAÇÕES FINAIS
 

Objetivando relacionar a religiosidade e a crendice dos cangaceiros, compreendida ntre o Séc. XVIII até meados do Séc. XX, encontramos nas obras pesquisadas e referenciadas  neste artigo uma variedade de rezas e orações que associadas aos amuletos e preceitos, confirma a analogia entre a superstição e o devocionismo ao sagrado desses homens, que apesar de salteadores e assassinos, nutriam-se também de uma grande munição espiritual.
 

Assim, ficara manifesta a necessidade desses indivíduos em materializar a religiosidade, abstraindo a própria fé no espiritual e transpondo para os bentinhos e patuás a corporificação do sagrado. 

 

Ensimesmados, os homens do cangaço admitiam em suas crenças que esses aparatos além de oferecer um resguardo sobrenatural, fomentavam uma maior proximidade com o santo de sua devoção. Deste modo, acercados da fé nesses objetos consagrados, corroboravam nas suas convicções que tais talismãs e orações tinham o poder mágico de imunizá-los contra o ferro quente, o ferro frio, os achaques do corpo e os males do espírito.
 

Evidenciou-se também, nesses indivíduos, o temor com relação às mulheres, assim como tudo que evocasse o sexo oposto em razão de uma passagem bíblica concernente ao72 mênstruo feminino, visto que tal impureza deixava o corpo e a alma suscetíveis às perversidades naturais e sobrenaturais.
 

Verificou-se que o esfacelamento do cangaço, em consequência da morte do seu comandante em 1938 - Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião - implicou nas rendições e prisões de homens remanescentes dos bandos, terminando assim por criar as condições determinantes para a compreensão dos aspectos estruturais, religiosos e sociais na historiografia cangaceira. 

A facilidade na obtenção das informações, em razão do acesso e do contato direto entre historiadores e ex-cangaceiros em reclusão, proporcionara aos estudiosos uma diversidade de conhecimentos, subsídios utilizados para os capítulos da vasta bibliografia da história brasileira e nordestina sobre o tema. Entretanto, nota-se, a partir do que foi constatado, que se torna imperativo aprofundar as pesquisas sob a perspectiva da religiosidade e crendices dos cangaceiros, visto que é um tema pouco explorado e demanda um olhar crítico a esse respeito.

 

O autor

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 

BÍBLIA sagrada. Trad. Francisco Zbik. Rio de Janeiro: Delta, 1980. 1126 p.
 

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 3 ed. Rio de Janeiro: Ediouro,
1972.

______. Cinco livros do povo. 3 ed. João Pessoa: UFPB, 1994. 456 p. 

______. Meleagro. Rio de Janeiro: Agir, 1951. 196 p.

 

CÉSAR, Augusto. Crendices: suas origens e classificação. Rio de Janeiro: MEC, 1975. 280 p.
 

ELAIDE, Mircea. O sagrado e o profano. Trad. Rogério Fernandes. São Paulo: Martins Fortes,
1992. 191 p.
 

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, [1986].
73
 

HOORNAERT, Eduardo. Formação do catolicismo brasileiro: 1550-1800. Petropólis: Vozes,
1974. 140 p.

______. O misticismo moreno no Brasil. Petropólis: Vozes, 1991. 181 p.

  

JASMIN, Élise. Cangaceiros. São Paulo: Terceiro Nome, 2006. 150 p.
 

LIMA, Estácio de. O mundo estranho dos cangaceiros: ensaio bio-sociológico. 2 ed. Salvador:
ALB, 2006. 336 p.
 

MACHADO, Maria Cristina R. da Matta. Aspecto do fenômeno do nordeste brasileiro IV.
Revista de História. São Paulo: v. XLVII, n. 97, p.161-200, jan./mar. 1974.
 

MADEIRA, Paulo. Crenças incríveis. 2 ed. Brasília: THESAURUS, 2010. 304 p.
 

MARIZ, Celso. Ibiapina: um apóstolo do nordeste. Ed. Fac-similar. 3.ed. João Pessoa: SEC;
UFPB, 1997. 324 p.
 

OLIVEIRA, Aglae Lima de. Lampião cangaço e nordeste. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1970.
442 p.
 

RIBEIRO, René. Antropologia da religião e outros estudos. Recife: Massangana, 1982. 312 p.
 

SILVA, Antonio Ignácio da. [Caderneta de anotações sobre a vida, versos e orações do
cangaceiro Moreno]. Belo Horizonte: [s. n.], 1909-2010. 1 doc. (não paginado), Original, 20
cm.
 

SUSSOL, Max. O livro dos benzimentos brasileiros. São Paulo: Difusão Cultural do Livro,
1995. 416

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Armas

O cangaço e os rifles Winchester em uma reportagem nos Estados Unidos
 

Por Rostand Medeiros
 

Abordar as armas de fogo e sua relação com episódios importantes da História do Brasil é algo que se tornou um tanto raro nos últimos tempos. Acredito que isso ocorre porque em nosso país o tema ligado a armas de fogo acaba de uma forma ou outra, se mesclando com o atual e complicado debate político. Mas abordar a utilização desses instrumentos de ataque e defesa ao longo de nossa tumultuada história é algo interessante. Creio que significa simbolicamente reconhecer as maneiras pelas quais as armas surgem como instrumentos poderosos que, em determinados níveis, moldam a história, a política, a geografia, a economia, a mídia e a cultura brasileira.

 


Dito isso, acredito que a recente publicação nos Estados Unidos de uma interessante e bem ilustrada reportagem sobre a utilização dos rifles da marca Winchester pelos cangaceiros nordestinos atenua essa carência. Melhor ainda quando isso acontece através do trabalho de pessoas competentes e conhecedoras do tema.

Esse material é o resultado de uma parceria entre o pesquisador paulista Douglas de Souza de Aguiar Junior e o escritor americano Luke Mercaldo, tendo sido publicado na revista The Winchester Collector, o principal veículo de comunicação de pesquisadores e colecionadores das armas fabricadas pela tradicional empresa Winchester naquele país. Essa revista é publicada e mantida pela Winchester Arms Collectors Association (WACA – https://winchestercollector.org/ ), a maior associação de colecionadores nesse tipo de armamentos, com membros em todo o mundo e atuando desde julho de 1977. Esse texto mostra para um público especializado, os detalhes do que foi o universo do cangaço e dos cangaceiros.

 


Reconhecidamente Douglas Aguiar possui total capacidade e cabedal mais que suficiente para escrever textos e artigos que ligam armas de fogo e a nossa história. Ele é bacharel pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP) e possui pós-graduação na mesma área pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mas seu maior interesse por armas de fogo flui através do trabalho voluntário que realiza desde outubro de 2016 no Museu da Polícia Militar do Estado de São Paulo, onde atua como Diretor Jurídico da Associação de Museus e curador de armas.

Já Luke Mercaldo é um pesquisador norte-americano, nascido em Nova York e residente em Chicago, sendo autor do livro Allied Rifle Contracts in America, publicado pela Wet Dog Publishing, além de vários artigos em revistas especializadas nos Estados Unidos e Inglaterra.
 


Segundo Douglas, até o presente momento nenhuma revista especializada em armamentos nos Estados Unidos havia publicado algo sobre o cangaço e os cangaceiros. Para ele existe um grande “buraco negro” para estudiosos de outros países sobre o tema, ou que desejam saber mais sobre armamentos utilizados no Brasil durante vários episódios da nossa história.

Através do WhatsApp ele me comentou que vem investindo bastante nessa ideia de divulgar lá fora a história militar brasileira e a história dos armamentos por aqui utilizados, sempre em parceria com o Museu da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
 

Um dos materiais produzidos por Douglas Aguiar e Luke Mercaldo nos Estados Unidos, desta vez com o foco na Revolução Constitucionalista, que ocorreu entre 9 de julho e 2 de outubro de 1932.


Apesar da tarefa quixotesca de escrever sobre as armas brasileiras e da sua utilização em nossa história, os autores Douglas Aguiar e Luke Mercaldo emplacaram em revistas americanas outras matérias que giram em torno da mesma temática, ou assuntos correlatos.
 

 

Winchester modelo 1873.

Eles produziram duas matérias sobre as medalhas da FEB (Força Expedicionária Brasileira), que foram publicadas no na revista Military Trader e no jornal da Orders & Medals Society of America (OMSA – https://www.omsa.org/ ), sendo que esse último trabalho foi muito bem avaliada pela OMSA e os autores foram agraciados com a Literary Medal – a primeira vez que esse prêmio é conferido a autores que não são membros dessa Sociedade.

 

Outros artigos foram publicados junto à Associação de Colecionadores de Armas Colt (Colt Collectors Association) e na prestigiada American Rifleman – a revista da National Rifleman Association (NRA).
O autor desse texto junto com Douglas Aguiar na Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, em São Paulo.


 

O responsável pelo blog TOK DE HISTÓRIA e autor dessas linhas, fiquei muito agradecido pelo reconhecimento dos autores com a minha pequena contribuição nesse inédito trabalho.

Pescado no Tok de História

Para baixar e imprimir

Cangaço em revista, volume 1

 

 


O periódico Cangaço em Revista é uma publicação anual temática do Centro de Estudos Euclydes da Cunha – CEEC/UNEB, dedicada ao estudo do Cangaço. 

A Revista pretende contemplar dois reversos: será uma revista que tratará do cangaço, mas, sobretudo, revisitará o assunto com o objetivo de rever e reexaminar a temática, tendo, portanto, um leque de possibilidades de enfoques atuais sobre esse fato do nosso passado histórico.

👉Clique aqui para acessar o arquivo em PDF

domingo, 3 de abril de 2022

Romance baseado no cangaço

Poeira e Pólvora – Uma História no Nordeste

 


Poeira e Pólvora – Uma História no Nordeste é uma aventura escrita no formato de roteiro audiovisual. Nessa história, somos levados para o sertão nordestino, no ano de 1914, onde conhecemos Joaquim Belarmino, um homem bonito, um tanto quanto valente, não tão esperto, mas com um bom senso de justiça. Ele sempre está junto de seu melhor amigo, Isaque Augusto, que é mais inteligente que Joaquim. Os dois são uma dupla inseparável.

Nesse cenário, eles tentam conseguir dinheiro mesmo que de forma não muito honrosa. O que se esconde é que Joaquim e Isaque têm um passado grandioso, e são famosos em todo o nordeste pelos seus feitos. Quando isso vem à tona, eles precisam usar suas habilidades para resolver um conflito contra o cangaceiro Cascavel, o bandido mais famoso e procurado do país.

A história é marcada por ação, muita comédia, aventura e romance, uma versão brasileira do clássico gênero de velho-oeste. É a história de um tempo que já não existe, cheia de personagens marcantes, conspirações, viradas de enredo, gatilhos e mistérios que expandem o universo para continuações da história.

Um roteiro audiovisual/Velho Oeste de 174 páginas.

 

Para adquirir acesse o site da  editora

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Depoimentos

Projeto de Ensino Memórias do Cangaço divulga resultados do ano 2021

 Felipe Piauilino / ASCOM

 


Ao longo de 2021, o campus Ouricuri, através dos professores Uilma Maíra e Andrey Bernardes,  realizaram o Projeto de Ensino Memórias do Cangaço. Neste projeto, sete turmas do Ensino Médio Integrado estiveram envolvidas na execução, sendo 03 de Agropecuária, 03 de Edificações e 01 de Informática.

O docente Andrey Bernardes detalhou como foi realizado o projeto de ensino. Confira abaixo:

“Todas as turmas estudaram sobre o Cangaço em algum momento ao longo de 2021, como parte integrante do currículo de História da Instituição.Após isso, os estudantes das turmas mencionadas procuraram um familiar, ou conhecido da família, que conhecesse histórias ou guardasse memórias sobre o Cangaço. O objetivo era realizar uma entrevista sobre o cangaço, que seria gravada em áudio.

Para tanto, os estudantes participaram de uma oficina sobre realização de entrevistas. O propósito da oficina era fazer com que os discentes percebessem o papel ativo do entrevistador em estimular e conduzir o discurso dos entrevistados. Além disso, a oficina alertou quanto aos aspectos técnicos da gravação de uma entrevista em áudio e auxiliou cada um dos estudantes a elaborar um roteiro para a entrevista que iria realizar.

Com a oficina concluída e a pessoa a ser entrevistada escolhida, os(as) discentes passaram à gravação das entrevistas. Entre maio e setembro de 2021, foram realizadas 22 entrevistas nos municípios de Ipubi, Ouricuri, Santa Filomena e Trindade (Pernambuco), no Crato (Ceará) e em Governador Valadares (Minas Gerais).

Por fim, foi criado um site, que serve como um repositório das entrevistas gravadas. Para a construção do site, o Projeto contou com a participação da professora Shayane de Oliveira Moura, recentemente redistribuída para o Instituto Federal do Ceará, campus Cedro. 

 No site se encontram os áudios de todas as 22 entrevistas, cujo conteúdo também foi transcrito. Em breve, as transcrições estarão disponíveis para serem baixadas e lidas: 

 Clique aqui para conhecer o site e ouvir os depoimentos

Fonte: Instituto Federal Sertão de Pernambuco

Novo livro de Junior Almeida

Lampião em Serrinha do Catimbau

O escritor capoeirense Junior Almeida lançou na última sexta-feira, dia 25,  seu novo livro, ‘Lampião em Serrinha do Catimbau’. O lançamento ocorreu durante o evento Cariri Cangaço realizado na cidade de Paulo Afonso, na Bahia.



Lampião em Serrinha do Catimbau narra a investida de Lampião e seu bando a Serrinha, na época um distrito pertencente a Garanhuns e hoje município de Paranatama. O livro traz fatos novos sobre o episódio no qual Maria Bonita foi alvejada com um tiro nas nádegas, obrigando Lampião e seu bando saírem em retirada.

"Apresento ao público uma dedicada e extensa pesquisa e trago à tona a rota de fuga do bando, após o fogo de Serrinha. Escrevo sobre o local em que Maria ficou em tratamento, bem como seu algoz e seu anjo da guarda, o homem que tratou de a mulher de Lampião durante 40 dias", pontuou Júnior Almeida ao falar sobre o livro.

Este é o quarto livro publicado pelo autor. A belíssima capa de "Lampião em Serrinha de Catimbau é assinada pelo professor capoeirense Ademar Cordeiro, um verdadeiro artista.

Brevemente o livro será lançado na cidade de Paranatama e possivelmente em outros municípios da região.

Junior Almeida é autor dos livros "A Volta do Rei do Cangaço"; “Lampião, o Cangaço e outros fatos no Agreste Pernambucano” e “Capoeiras, Pessoas, Histórias e Causos’.

 

Junior reside na cidade de Capoeiras,PE. Além de escritor é comerciante.

Para adquirir entre em contato com o autor: (87) 99824-4582 WhatsApp

Pescado em Roberto Almeida