sexta-feira, 26 de julho de 2019

No Monumento Natural Grota do Angico

22° Missa do Cangaço acontece neste Domingo


Foto Kiko Monteiro (Lampião Aceso)


No próximo dia 28 de julho será realizada a 22ª Missa do Cangaço, celebração que acontece no Monumento Natural Grota do Angico (Mona) − unidade de conservação gerida pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano (Sedurbs/SE) e administrada pela Superintendência do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SERHMA), na divisa dos municípios de Poço Redondo e Canindé de São Francisco, Sertão do Estado.

O evento que tem início às 8h, marca o 81º aniversário da morte de Virgulino Ferreira da Silva, popularmente conhecido como Lampião, que foi executado na grota ao lado de sua esposa, Maria Bonita, e [parte] de seu bando, depois de emboscada policial. A missa é organizada pela neta de Lampião, Vera Ferreira, e integrantes da [Sociedade do Cangaço], com apoio do Governo do Estado por meio da SERHMA.

De acordo com o Superintendente Especial de Recursos Hídricos e Meio Ambiente, Ailton Rocha, o Estado apoia de forma logística a celebração. “Para receber as pessoas na celebração o Departamento Estadual de Infraestrutura Rodoviária de Sergipe, DER, já melhorou as estradas de acesso ao local do evento. Além disso recepcionamos a população que vem por terra, para isso melhoramos e identificamos as trilhas de acesso à Grota, além de há 12 anos fazermos a preservação ambiental da área com a gestão da Unidade de Conservação da Natureza”, explica.



Foto: Kiko Monteiro (Lampião Aceso)

Grota do Angico

O Monumento Natural (MONA) Grota do Angico que fica no Alto Sertão Sergipano, em Poço Redondo, é uma unidade de conservação estadual criada através do Decreto 24.922 de 21 de dezembro de 2007, a região abriga 2.221 hectares remanescentes florestais da Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro e quase em sua totalidade nordestino. O local, além de deter de elementos culturais importantes para o Estado, mantém a integridade dos ecossistemas naturais da Caatinga, sendo campo de desenvolvimento de pesquisa científica, educação ambiental e ecoturismo.

Segundo o último relatório do Ministério do Meio Ambiente, a Reserva Monumento Natural Grota do Angico, abriga 25 espécies de mamíferos; 150 de aves; 45 de répteis e anfíbios; e 180 de vegetais. A reserva criada pelo Governo do Estado, é administrado pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade (Sedurbs), por meio da Superintendência Especial de Recursos Hídricos e Meio Ambiente, (Serhma).

“O Monumento Natural da Grota do Angico é uma unidade de conservação criada e mantida pelo governo do Estado, que tem uma importância fundamental para a preservação da nossa Caatinga e da fauna também daquela região, ou seja, da biodiversidade. As ações de conservação empenhadas ali mostram o compromisso do Governo com o meio ambiente e com a nossa caatinga, disponibilizando estrutura e área de reserva para a sociedade, para os que fazem estudos pesquisa e, também, para os amantes do ecoturismo”, explica o Superintendente, Ailton Rocha.

Fonte Agencia Sergipana de Notícias

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Opinião

Cangaço comentado em meados do século XIX

Transcrito por Guilherme Velame Wenzinger

Citação do termo "cangaço" no livro "O cativeiro", de Dunshee de Abranches [1867-1941]. Há a  transcrição de parte de uma carta redigida pela avó do autor, por volta de 1841, onde ela fala sobre o término da Balaiada, com a prisão de Cosme Bento, o Negro Cosme.

"Mais influiu, porém, para a pacificação, foi sem dúvida a declaração da maioridade do jovem monarca. Lima prometeu logo perdoar os que depusessem incondicionalmente as armas. Mas o fez só em parte [...] quanto ao negro Cosme, como bem previ e te anunciei, foi metido a ferros na cadeia, aqui, na capital. Garantem os cabanos que seguirá em breve para o Itapicuru onde será solenemente enforcado em presença de numerosos escravos da região para que o seu suplício sirva de exemplo aos que ainda sonham fugir das fazendas para os quilombos. Bela anistia, meu caro Censor! E dizerem por aí que ela foi a morte do cangaço! Do cangaço? Não: da Balaiada...

O cangaço é a alma bravia dos sertões. E as almas bravias não se dominam pela força; domam-se só pelos influxos do ensino e da fé!"

terça-feira, 23 de julho de 2019

Simão Dias na história

Candeeiro e a cidade que não queria deixar os cangaceiros passarem

Manoel Dantas Loyola o "Candeeiro" narrou para Aderbal Nogueira sua prisão, da escolta de Zé Rufino e de uma cidade no Centro-Sul de Sergipe que não queria estar no trajeto dos condenados.

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segunda-feira, 22 de julho de 2019

Jararaca

O cangaceiro enterrado vivo que virou milagreiro em Mossoró

Por: Everton Dantas

Conheça a história de José Leite Santana, integrante do bando de Lampião que renasceu no imaginário popular como santo capaz até de fazer uma pessoa ganhar na loteria.
 


Em 19 de julho de 1927, numa noite clara, José Leite Santana, na época com 26 anos, foi retirado de uma cela onde estava preso na cidade de Mossoró. A informação que lhe deram foi que ele seria transferido para Natal, onde receberia cuidados médicos: ele havia sido baleado próximo ao pescoço e na perna.

No caminho, coincidentemente, o veículo quebrou em frente ao cemitério São Sebastião. José então foi conduzido por soldados armados até uma cova aberta. Lá, foi baleado e jogado no buraco.

Em algumas versões dessa história, teria sido enterrado vivo. Em outras, antes de morrer, fez questão de afirmar que era “um dos homens mais corajosos que já havia pisado no…”. A frase jamais foi terminada, pontuada por um tiro na cabeça ou uma coronhada.

Há ainda outras versões nas quais ele próprio teria cavado sua cova e que além dele também pensaram em matar o coveiro, que viu tudo.

De um modo ou de outro, todas as histórias têm em comum o relato da crueldade com a qual foi morto. E isso acabou semeando sua história num terreno ocupado por poucos, o dos milagreiros nordestinos.

Imagem da prisão de Jararaca, feita em 1927. 
Foto: Reprodução/J. Otávio

Mas isso não seria possível se José fosse só mais um, sem carinho ou discurso. José floresceu santo na morte porque em vida foi um dos cangaceiros mais temidos de Lampião, o Jararaca, preso durante a tentativa do bando de invadir Mossoró, em 1927.

Há relatos de que ele foi baleado quando tentava despojar outro cangaceiro, Colchete, esse sim morto durante o conflito. Depois de ter sido ferido, foi capturado e ficou para trás após o grupo de cangaceiros ser derrotado pelos moradores de Mossoró.

A forma cruel como foi morto e sua coragem diante da cova aberta – esse relato – ganhou credibilidade graças a uma entrevista dada por um dos policiais que participou do assassinato. Diante da valentia do cangaceiro, a ação policial acabou sendo tachada de covarde.

Com o tempo, a tradição oral e a imprensa escrita espalharam os feitos de sua vida e o relato de sua morte. Quando esse efeito encontrou-se com o das orações feitas por sua alma, erigiu-se o culto.

Em 1976 túmulo de Jararaca já era o mais procurado


Há muitos anos, seu túmulo, destaque no cemitério de São Sebastião, é o mais visitado. O registro mais antigo dessas visitações encontrado no acervo do extinto jornal Diário de Natal é do dia 5 de novembro de 1976. Foi feito numa reportagem sobre o Dia de Finados em Mossoró, com o título “Muita gente foi rezar no túmulo do cangaceiro”.

No texto é relatado que das cerca de 20 mil pessoas que foram ao cemitério São Sebastião, milhares visitaram o túmulo do cangaceiro. E que “de alguns anos pra cá” a popularidade da sepultura teria crescido “depois das primeiras manifestações tidas como milagreiras”.

Nos dias atuais, nos dias de Finados, são tantas pessoas orando, pagando promessa e pedindo graças que o local se tornou ponto obrigatório para qualquer jornalista que trabalhe no dia dos mortos.

Há relatos de que algumas vezes foram tantas velas colocadas acesas que o Corpo de Bombeiros precisou ser chamado.

Literalmente, Jararaca ainda arde em Mossoró.

Cangaceiro apareceu em sonho e disse os números da loteria
As pessoas que passam por lá trazem suas histórias de graças atendidas para si ou para outras pessoas. Há inclusive histórias de riqueza obtida.

Uma delas foi contada à pesquisadora Eliane Tânia Freitas, doutora em Antropologia pela UFRJ. Ela é autora da tese “Como nasce um santo no cemitério: Morte, memória e história no Nordeste do Brasil” e, em 2000, entrevistou aos pés do túmulo do cangaceiro uma mulher de 46 anos identificada como Terezinha de Jesus.

De acordo com o relato dela, Jararaca lhe apareceu num sonho. “Eu pedi um teto a ele, que eu não tinha. Morava em casa alugada há muitos anos. E ele foi e me mostrou assim um letreiro de luz. ‘Tá aqui! Agora, você não diga a ninguém’. Ele atirava assim com o revólver, aí eu via numa pedra os números da loteria”, contou.

Ao acordar, ela anotou os números, jogou e ganhou. “Deu pra mim comprar um carro, uma casa boa. (….) Ele é bem moreno. Fiquei em choque, porque eu queria falar, mas não podia, só podia escutar”, contou, há 18 anos.

Pescado em Op9

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Diário de Notícias (RS), edição de 13 de novembro de 1956

Exibidos num museu de cera os grandes vultos do crime 

Transcrição de Antonio Correia Sobrinho


Como é do conhecimento público, está em exposição em Porto Alegre, um museu de cera, do qual fazem parte grandes vultos do crime. Integram a admirável exposição a cabeça de Lampião, Maria Bonita e outras tantas personalidades que ocuparam páginas da imprensa nacional.

Detalhes anatômicos perfeitos, no museu que funciona na rua dos Andradas, defronte ao Cine Ópera, podem ser apreciados diariamente pelo nosso público.

 Cabeça de cera de Maria Bonita

Vemos, acima, Maria Bonita, a fiel companheira de Lampião, que também teve a sua cabeça decepada e carregada como troféu.

A reprodução foi feita por técnicos italianos, dias depois da morte dos cangaceiros."

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Cabrochas sergipanas

As moças da Maranduba

Por Sálvio Siqueira
Foto com as cangaceiras Àurea e Rosinha (Irmã de Adelaide).
                                                    
Na fazenda Maranduba, fincada no município de Poço Redondo, Estado sergipano, morava o casal Lé e Pureza. Lé, como tantos outros homens da época, era vaqueiro, assim como seus dois irmãos, Josias e Luiz. Pureza era filha do agricultor João Januário, que manipulava sua enxada nos barros da localidade Curralinho.
 
 Umbuzeiro da Fazenda Maranduba - grupo LCN
                     
O casal, cumprindo a “Lei’ escrita no livro Maior, fez com que crescesse e multiplicasse sua prole. Tiveram seis filhos amados. Criados como todos da região, com muita dificuldade e sacrifício. Segundo a obra literária do ilustre Alcino Alves Costa, “LAMPIÃO ALÉM DA VERSÃO – MENTIRAS E MISTÉRIOS DE ANGICO”, na página 137, ‘Ele’ nos relata que os nomes dos amados filhos do casal Lé e Pureza, eram Adelaide, Rosinha, Cidália, Arabela e seu único filho homem, Zequinha.

                                                   
Zequinha, como tantos, só via-se como adulto, quando 'lá' chegasse, um bom vaqueiro, imitando seu velho pai e tios, pois todos eram afamados vaqueiros em toda aquela região.


As meninas, também como tantas da época, tinham em seus sonhos seus ‘príncipes, encantados, seria querer de mais, mesmo, simplesmente um príncipe, já estava de bom tamanho. A vida era dura para os meninos que logo, logo, tinham que exercerem funções de adultos sem nem mesmo passarem, ou melhor, viverem suas adolescência. Para as meninas a coisa era mais dura ainda. Não podiam, muitas das vezes, nem se quer estudaram, para não ficarem sabidas, pois mulher ‘sabida’ era um perigo.

                                                               Cangaceira Rosinha

Naquele tempo, por aquelas bandas, começaram a circularem em volta da casa de Lé dois cangaceiros. Mariano e Criança. O Primeiro, após perder Otília, apaixona-se por Rosinha. O segundo, há muito estava loucamente apaixonado por Adelaide, irmã de Rosinha.

Sendo, na época quem dava as ‘cartas’ por aquelas terras, os dois cangaceiros não tiveram dificuldades de levarem para as tristes fileiras do cangaço as irmãs. Ficaram distantes por os dois atuarem em grupos e áreas diferentes. Mariano vivia e praticava seus crimes pras bandas de Porto da folha. Já Criança, atuava nas redondezas de Poço Redondo.


E o esperado acontece. Adelaide engravida. Sua gravidez, como de todas as outras mulheres que fizeram parte do cangaço, não foi moleza. Levanta daqui, corre pra li, debaixo de sol e chuva, durante o dia ou mesmo a noite, eram uma constante em suas vidas.
                                                                                   Cangaceiro Mariano
                                                     
Segundo a obra citada, Criança tem grande amor e carinho por Adelaide, resultando firmeza e lealdade para com a sua companheira.

Quando aproxima-se o momento da sua companheira parir, Criança, conversa com Mané Moreno, e vão para um coito, distante, conhecido e aconchegante, se podermos dizer que haviam coitos assim, para que Adelaide ‘ganhasse seu filho.
                                                                 Cangaceiro Criança
As horas passam, as contrações há muito iniciaram-se e, com o passar do tempo, seu retorno começa a ficar quase sem intervalos. Não tem jeito. A criança do Criança não vem ao mundo, e sua companheira já tem bastante tempo que sofre.

Mandam buscar uma parteira que morava nas imediações, e esta, já prevendo complicações, já trás outra para lhe ajudar. Tudo em vão. O sofrimento da cangaceira aumenta com o passar das horas e a criança resolveu não vir ao mundo.


Em uma rede, a transportam para uma localidade que tivesse algum recurso como ajuda, nada. Não tem como parir a companheira de Criança.

Valendo-se novamente da rede, os cangaceiros procuram outro lugar para que Adelaide desse a luz... Um local que tivesse uma pessoa para ajudar, terminando assim com tão longo sofrimento. No caminho, alguém verifica e diz que o feto já está morto... Adelaide, de tanto sofrer, talvez não tenha escutado que seu filho estava sem vida em seu ventre. 

Embaixo de uma frondosa árvore, Adelaide, dentro da rede começa a perder suas, já tão fracas, forças... Criança, percebendo que irá perder sua amada fica louco. Grita, chora, fala, urra palavrões na tentativa de amenizar a angústia que lhe invade... Seu ‘compadre’, Mané Moreno, vendo que o amigo estava em estado complexo, sem noção do que fazia, tenta evitar uma catástrofe maior, retirando o ferrolho do mosquetão do amigo, assim como retira também, o carregador da sua pistola.

 Sua amada dá seu último suspiro. Sem despedir-se do companheiro, parte para o outro ‘lado’, onde, talvez, seu filho a esperasse. Fazem seu enterro. A dor, ainda visível no semblante do cangaceiro, não quer ir-se. Naquela vida não havia tempo pra isso... Guardar dores e sentimentos por alguém que tenha morrido.
                                                         Cangaceiro Mané Moreno

Seu compadre, Mané Moreno, compra várias garrafas de aguardente e diz que ele precisa beber até embriagar-se, para esquecer o que aconteceu.


Assim faz Criança. Após o enterro de Adelaide, ele toma um dos maiores porres de sua vida e, de certo tempo pra frente, junto aos companheiros, começam a dançar e cantar até que o dia raiasse... Nas quebradas do Sertão.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Agenda Cultural

Eventos para rememorar os 81 anos da morte de Virgulino

Missa do Cangaço
28 de Julho Grota do Angico - Poço Redondo/SE





Seminário Sertão Cangaço 2019
de 26 a 28 de julho de 2019 em Piranhas /AL

O Seminário Sertão Cangaço 2019 irá reunir grandes pesquisadores da temática Cangaço na cidade de Piranhas /AL de 26 a 28 de julho de 2019.

Nesse ano o Seminário Sertão Cangaço abordará a Cultura Popular e História Oral, além de exibição de documentários com a participação de documentaristas e uma roda de conversa onde o público irá interagir com perguntas e contribuições.


Tributo a Virgolino 
(de 24 a 28 de Julho, Serra Talhada/PE)


Serra Talhada se prepara para o TRIBUTO A VIRGOLINO – A CELEBRAÇÃO DO CANGAÇO, onde constará na programação shows musicais, mostra de cinema do cangaço, feira de artesanatos, feira de livros, mostra gastronômica, grupos de danças, violeiros repentistas, bacamarteiros, banda de pífanos e o espetáculo O MASSACRE DE ANGICO – A MORTE DE LAMPIÃO.

Em breve será lançada a programação completa e detalhada.

SERVIÇO:

TRIBUTO A VIRGOLINO – A CELEBRAÇÃO DO CANGAÇO
🌵Dias 24, 25, 26, 27 e 28 de julho de 2019.
🌵Local: Estação do Forró em Serra Talhada – Acesso Gratuito.
🌵Produção: Fundação Cultural Cabras de Lampião.

🌵Incentivo: Funcultura / Fundarpe / Secretaria de Cultura / Governo de Pernambuco.

10ª Edição do Seminário Cariri Cangaço
De 24  a 28 de Julho (Ceará)


Quarta-Feira
Dia 24 de Julho 


18h – Solenidade de Abertura
Salão Nobre da URCA
Universidade Regional do Cariri - Crato,Ceará


Mestre de Cerimônia
ROSSI MAGNE, Propriá-SE

18h20min – Formação da Mesa de Autoridades e Hino Nacional
Prefeitura Municipal de Crato
JOSÉ AÍLTON BRASIL
Instituto Cariri do Brasil
MANOEL SEVERO BARBOSA
URCA - Universidade Regional do Cariri
FRANCISCO LIMA JUNIOR
Assembléia Legislativa do Ceará
DEPUTADO HEITOR FERRER
Assembléia Legislativa de Alagoas
DEPUTADO INÁCIO LOIOLA
SBEC- Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
BENEDITO VASCONCELOS
Conselho Alcino Alves Costa
ELANE MARQUES
ICC - Instituto Cultural do Cariri
HEITOR FEITOSA MACEDO
GECC-Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará
ÂNGELO OSMIRO BARRETO
GPEC - Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço
NARCISO DIAS
Academia Lavrense de Letras
CRISTINA COUTO
IHGP - Instituto Histórico e Geográfico do Pajeú
AUGUSTO MARTINS

Entrada do Estandarte do Cariri Cangaço
CÉLIA MARIA E QUIRINO SILVA, João Pessoa-PB

18h40min – Apresentação do Cariri Cangaço
Por Conselheiro
JOÃO DE SOUSA LIMA, Paulo Afonso-BA

18h50min - Fala das Autoridades

19h15min - Posse de Novos Conselheiros Cariri Cangaço
MANOEL SEVERO BARBOSA, Cariri Cangaço

19h20min - Entrega de Diplomas a Instituições
URCA-Universidade Regional do Cariri
ICC-Instituto Cultural do Cariri
Associação de Cordelistas do Crato
Museu de Luiz Gonzaga – Pedro Lucas Feitosa
Por Conselheiros e Pesquisadores
HONÓRIO DE MEDEIROS, Natal-RN
VALDIR NOGUEIRA, São José de Belmonte-PE
WESCLEY RODRIGUES, Sousa-PB
RODRIGO HONORATO, Exu-PE

20h - Palavras das Instituições Homenageadas
Representados pelo Escritor
HEITOR FEITOSA MACEDO

19h40min - Comendas de Mérito do Conselho Alcino Alves Costa
NAPOLEÃO TAVARES NEVES
Por Conselheiro
LEANDRO CARDOSO FERNANDES, Teresina-PI

19h45min - Comendas do Mérito Cultural a Personalidades
HUBERTO CABRAL
ESPEDITO SELEIRO
ANTONIO VICELMO
FRANCISCO JOSÉ DE BRITO

Por Conselheiros
ADERBAL NOGUEIRA, Fortaleza-CE
ANTONIO VILELA, Garanhuns-PE
RANGEL ALVES DA COSTA, Poço Redondo-CE
JORGE REMÍGIO, Custódia-PE

20h - Palavras dos Homenageados
Representados pelo Jornalista
FRANCISCO JOSÉ BRITO

20h -  Comenda ao Coronel João Bezerra da Silva
"in memoriam"
"Personalidade Eterna do Sertão"
PAULO BRITTO
Por Conselheiros
IVANILDO SILVEIRA
PROFESSOR PEREIRA

20h10min -  Comenda ao Pesquisador Paulo Medeiros Gastão
"in memoriam"
"Personalidade Eterna do Sertão"
MARIA DAS GRAÇAS E PATRICIA GASTÃO
Por Conselheiros
MANOEL SEVERO e JULIANA PEREIRA
Cordelistas
ROSÁRIO LUSTOSA E NEZITE ALENCAR

20h15min – Lançamento da Revista Itaytera
Edição Especial 10 Anos do Cariri Cangaço
EMERSON MONTEIRO, Crato-CE

20h30min – Lançamento da Revista da Academia Lavrense de Letras
Edição 10 Anos
JOÃO TAVARES CALIXTO JUNIOR, Juazeiro do Norte-CE

21h - Entrega da Medalha Fideralina Augusto Lima
Academia Lavrense de Letras
Apresentação
CRISTINA COUTO
Homenageados
MADRE FEITOSA
OTONITE CORTEZ
DIVANI CABRAL
Por Acadêmicos
DEPUTADO HEITOR FERRER
EMERSON MONTEIRO
JORGE EMICLES


QUINTA-FEIRA
Dia 25 de Julho


8h - Saída para Visita Técnica
Missão Velha-CE

8h45min - Jamacaru
Casa  do Coronel Liberato Manuel da Cruz
Descerramento de Placa da Rota Turística Cariri Cangaço

10h30min – Câmara Municipal de Missão Velha
Missão Velha-CE

10h35min - Lançamento da Música "Cariri Cangaço"
CECÍLIA DO ACORDEON, Redenção-CE

10h40min – Formação da Mesa e Hino Nacional

10h50min – Fala das Autoridades
Prefeitura Municipal
DIEGO GONDIM FEITOSA
Instituto Cariri do Brasil
MANOEL SEVERO BARBOSA
Conselho Alcino Alves Costa
JOÃO BOSCO ANDRÉ

11h30min - Homenagens às Personalidades
PREFEITO DIEGO GONDIM FEITOSA
DR WASHINGTON FECHINE
CHARLES CRUZ
Por Pesquisadores
LÍVIO FERRAZ, Fortaleza-CE
MANOEL BELARMINO, Poço Redondo-SE
NOÁDIA COSTA, Teresina-PI

"Quinco Vasques - O Bravo Caririense"
LUIZ AÉLIO VASQUES e HERNESTO VASQUES
Por ConselheiroLUIZ RUBEN, Paulo Afonso-BA


"Cel. Liberato Manuel da Cruz"
GERALDA FURTADO
Por Conselheiro ARCHIMEDES MARQUES, Aracaju-SE

12h -  Almoço em Missão Velha

13h45min - Visita a Casa de Isaías Arruda
Entrega de Comenda ao Cel. Isaias Arruda
"in memoriam"
DONA ORLANDINA ARRUDA
Por Conselheiro e Pesquisador
HONÓRIO DE MEDEIROS, Natal-RN
JOÃO TAVARES CALIXTO JUNIOR, Juazeiro do Norte-CE

14h30min - Visita à Fazenda Padre Cícero
Entrega de Comenda a Sinhô Dantas
"in memoriam"
JOSÉ IVO DANTAS FILHO
Por Conselheiros
JUNIOR ALMEIDA, Capoeiras-PE
EDVALDO FEITOSA, Água Branca-AL

"O Início da Querela entre os Paulinos e os Arruda"
JOÃO TAVARES CALIXTO JUNIOR
Juazeiro do Norte-CE

15h30min - Visita à Fundição Linard
Entrega de Comenda a Antônio Linard
"in memoriam"
MARATON LINARD
Por Conselheiro e Pesquisador
GERALDO FERRAZ, Recife-PE
GETÚLIO BEZERRA, Brasília-DF

"O Torno de Lampião"
AMÉLIA LINARD

16h - Engenho Santa Tereza

(Berço dos Terésios)
Dr. CICERO LANDIM CRUZ

16h30min - Visita à Carnaúba dos Vasques
LUIZ AÉLIO VASQUES e HERNESTO VASQUES
FAMÍLIA VASQUES

NOITE

19h30min - Auditório do Hotel Lagoa Lazer

Lançamento e Aprovação da Ata de Criação
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS E ARTES DO CANGAÇO
ARCHIMEDES MARQUES, Aracaju-SE

"Lampião em Paulo Afonso" e
"Lampião e os Coronéis Baianos"
JOÃO DE SOUSA LIMA, Paulo Afonso-BA

Conferência e Debate
"O Tiro que Matou Lampião"
IVANILDO SILVEIRA, Natal-RN
LEANDRO CARDOSO FERNANDES, Teresina-PI
ADERBAL NOGUEIRA, Fortaleza-CE
SABINO BASSETTI, Salto-SP

SEXTA-FEIRA
Dia 26 de Julho


8h - Saída para Visita Técnica à Lavras da Mangabeira

9h40min – Fazenda São Domingos
Lavras da Mangabeira-CE

"Passagem de Lampião por Lavras da Mangabeira, em 1927"
JOÃO TAVARES CALIXTO JUNIOR, Juazeiro do Norte
VICENTE FERRIER TOMAS FERRER
RAIMUNDINHO AUGUSTO, Lavras da Mangabeira

11h45min - Almoço Fazenda Pau Amarelo
Lavras da Mangabeira-CE
GUSTAVO AUGUSTO LIMA BISNETO

Homenagem ao Vaqueiro das Caatingas
QUIRINO SILVA E CÉLIA MARIA, João Pessoa-PB

"Coronel Gustavo Augusto Lima"
JORGE EMICLES PINHEIRO, Crato-CE

14h30min - Câmara Municipal de Lavras da Mangabeira
14h35min - Palavras de Boas Vinda
CRISTINA COUTO, Academia Lavrense de Letras

14h45min - Entrega da Comenda do Mérito Cultural
DEPUTADO HEITOR FERRER, Fortaleza-CE
ALEMBERG QUINDINS, Casa Grande Nova Olinda-CE
Por Conselheiros
EMMANUEL ARRUDA, João Pessoa-PB
MANOEL SERAFIM, Floresta-PE

15h10min - Lançamento e Debate

"Lampião e o Nascimento de Maria Bonita"
VOLDI RIBEIRO
Paulo Afonso-BA

"Lampião e Sua Falsa Patente de Capitão"
DANIEL WALKER, Juazeiro do Norte-CE

17h - Visita à Casa de Dona Fideralina Augusto Lima
Lavras da Mangabeira-CE

Comenda à Matriarca Fideralina Augusto Lima
"Personalidade Eterna do Sertão"
ACADEMIA LAVRENSE DE LETRAS
HEITOR FERRER
Por Conselheiros e Pesquisadores
CRISTINA COUTO
Lavras da Mangabeira-CE
FÁTIMA LEMOS
Lavras da Mangabeira-CE

SÁBADO
Dia 27 de Julho


7h30min - Saída para Visita Técnica à Brejo Santo

8h30min - Recepção dos Pesquisadores.
Local: CineTeatro Professor Júlio Macêdo Costa
Brejo Santo-CE

8h50min - Formação da Mesa

9h - Saudações do "Menino do Cordel e do Baião"
PEDRO POPOFF, Bauru-SP

9h15min - Fala das Autoridades
 Secretária de Cultura de Brejo Santo
MIRAN BASÍLIO
Instituto Cariri do Brasil
MANOEL SEVERO BARBOSA
Câmara Municipal de Brejo Santo
CARMEM MARTINS
Prefeita Municipal de Brejo Santo
TERESA LANDIM

9h40min - Diplomas a Personalidades
DR. MIRAN BASÍLIO
DEPUTADO GUILHERME LANDIM
PREFEITA TERESA LANDIM
Por Conselheiros:
SOUSA NETO, Barro-CE
MÚCIO PROCÓPIO, Natal-RN
CELSINHO RODRIGUES, Piranhas-AL

9h50min - Diplomas
"Personagens da História do Sertão"
ANTONIO DA PIÇARRA
Ivanilda Teixeira Ferreira e Wilton Santana Filho
CHICO CHICOTE
Djalma Inácio de Lucena
ANTONIO MORENO
Neli Conceição e Familiares
ARLINDO ROCHA
Arlindo Rocha Filho
FAMÍLIA DO MAJOR ZÉ INÁCIO
Maria do Socorro Martins Cardoso

Por Conselheiros e Pesquisadores
SOUSA NETO, Barro-CE
LOURO TELES, Calumbi-PE
HERTON CABRAL, Fortaleza-CE
BETINHO NUMERIANO, Floresta-PE

10h30min - Visita Técnica à Nascença, antigo Sítio Nascença,
Local assaltado pelo então Virgulino.

12h - Almoço - Local:Projeto ABC
Lançamento do Cordel
"José Inácio do Barro-O Coiteiro Cangaceiro"
Baseado no livro José Inácio do Barro de Sousa Neto
PAULO DE TARSO
O Poeta de Tauá

13:30 - Visita Técnica: Gruta de João Calangro.

14h -  Visita ao Tumulo Major Firmino
 Filho do Major Zé Inácio do Barro -  Vila Cachoeirinha.        

17h - Retorno a Juazeiro do Norte

NOITE

19h30min - Auditório do Hotel Lagoa Lazer

"Dom Quixote como Arquétipo da Saga dos Beatos e Cangaceiros"
DAMATA COSTA Natal-RN

DOMINGO
Dia 28 de Julho


9h - Congratulações de Encerramento

Realização
INSTITUTO CARIRI DO BRASIL
Co-realização
ACADEMIA LAVRENSE DE LETRAS


Apoio
PREFEITURA MUNICIPAL DE MISSÃO VELHA
PREFEITURA MUNICIPAL DE BREJO SANTO
URCA-UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI
SBEC- SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DO CANGAÇO
GECC - GRUPO DE ESTUDOS DO CANGAÇO DO CEARÁ
GPEC-GRUPO PARAIBANO DE ESTUDOS DO CANGAÇO
ICC - INSTITUTO CULTURAL DO CARIRI
IHGP - INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO PAJEÚ

terça-feira, 9 de julho de 2019

Róseo Moraes falou a Revista Cruzeiro...

"Eu não matei Delmiro Gouveia"

Reportagem de Antônio Sapucaia com fotos de Paulo Cavalcante publicada na revista O Cruzeiro de 23 de março de 1968 com o título original Cinquenta anos depois: “Eu não matei Delmiro Gouveia”.



“Eu não matei Delmiro Gouveia e até hoje ignoro o motivo pelo qual me apontaram como responsável por este crime que não cometi. Não guardo rancores de ninguém, mas, apesar de haver cumprido a pena que me foi imposta, só morrerei tranquilo se antes ver a Justiça apontar o verdadeiro assassino de “seu” Delmiro.”



Quem diz isso é um homem de cabeça branca, 72 anos de idade, e que esteve preso na Penitenciária de Maceió durante 14 anos, 9 meses e 15 dias, após ter sido condenado a 30 anos de prisão. Chama-se Róseo Morais do Nascimento e, juntamente com José Inácio Pia (Jacaré) e Antônio Félix, foi processado e condenado como autor do assassinato de Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, acontecimento que repercutiu em todo o Brasil, particularmente no Nordeste, onde era tido como um rei, sobretudo pelo seu espirito realizador e pioneiro.

Róseo é um homem que não sabe rir, e em cada palavra que pronuncia deixa transparecer a revolta de injustiçado. Não acusa, apenas se defende. Fala com assombrosa segurança, sobretudo quando alude a datas, e não cai em contradição, mantendo sempre uma conversa equilibrada.

 

Recorrerá à Justiça


Embora não tenha ainda batido à porta da Justiça, protestando inocência e pedindo que seja restaurada a verdade, Róseo está disposto a fazê-lo o mais breve possível e, já agora, reúne elementos para a batalha judicial. Diz que não quer morrer e deixar essa herança para os filhos e netos — a de ser apontado como criminoso —, quando vive de consciência tranquila, embora constrangido e inconformado. O crime realmente existiu, entretanto — diz ele —, eu e compadre Jacaré, que morreu inocente, nada tivemos com ele. Apenas fomos vítimas de um erro forjado, que tanto prejuízo nos causou, deixando em liberdade o verdadeiro matador de Delmiro. E muita gente boa sabe disso, embora teime em fazer segredo — acrescenta, em tom de revolta.

Para a luta que vai travar, conta principalmente com o apoio e incentivo de uma filha com quem vive — Laurentina Morais do Nascimento —, que diz incisivamente: “Cedo ou tarde, todos irão saber que meu pai é inocente. Se ele morrer antes de tudo ser devidamente esclarecido, continuarei a luta, pois, apesar dos pesares, ainda acredito na Justiça. E estou certa de que a verdade verdadeira há de aparecer de qualquer modo, doa a quem doer”.

 

O assassinato de Delmiro

 


Róseo afirmava ter as mãos limpas

Consta que no dia 10 de outubro de 1917, exatamente uma quarta-feira, Delmiro Gouveia encontrava-se lendo jornais no alpendre de sua essa, quando, inesperadamente, apagaram-se as luzes e, logo a seguir, foram ouvidos três tiros, deflagrados contra Delmiro. Residindo a uns 50 metros da casa de Delmiro, o capitão Firmino Rodrigues, tão logo ouviu os tiros, correu para lá e à margem da calçada, viu que três homens altos corriam; e indagou:

— Rapazes, que tiros foram esses?

Um deles respondeu:

— Foi tapa em cara de homem…

O desaparecimento de Delmiro Gouveia, denominado “Rei do Sertão”, repercutiu no Brasil inteiro, particularmente no Nordeste, onde ocasionou terrível abalo social e econômico. Dotado de larga visão administrativa, foi o primeiro homem a aproveitar a força hidrelétrica da Cachoeira de Paulo Afonso e foi quem primeiro usou automóvel nas terras sertanejas, semeando civilização onde outrora apenas existiam terras sáfaras e esturricadas. Até hoje, positivamente, não se sabe quem foi o responsável (ou responsáveis) pela sua morte. Dizem uns que a iniciativa partiu de trustes estrangeiros, outros afirmam que se trata de um crime com raízes em vingança por questões amorosas, dentre outras versões.

Do mesmo modo, há dúvida quanto aos verdadeiros mandatários. Róseo Morais do Nascimento, por exemplo, diz que nada teve com o fato e chegou até a ser insinuado pelo capitão Pedro Nolasco, da Policia de Alagoas, a afirmar que a Iniciativa do assassinato havia sido do coronel José Rodrigues, então residindo em Piranhas, e um dos inimigos de Delmiro.

— “O pior é que eu e Jacaré — acrescenta Róseo — nem sequer conhecíamos o coronel José Rodrigues. Entretanto, depois de termos sido barbaramente seviciados e espancados, e prevendo que íamos mesmo morrer, resolvemos confessar um crime que não praticamos, apesar dos nossos depoimentos serem cheios de contradição, como não poderia deixar de ser.”

Sobre Delmiro Gouveia, Róseo diz que era um dos melhores homens deste mundo. Gostava da ordem e do respeito e jamais teve a menor queixa dele. “Seria melhor — diz ele — que a metade do povo de Alagoas tivesse morrido, mas que o “seu” Delmiro estivesse vivo!”
Conta que trabalhou na Fábrica da Pedra durante um ano, tendo saído de lá simplesmente porque “o ordenado não dava para ganhar minha vida”.

 

O álibi

 


Róseo e Jacaré, com a mão no queixo.

Róseo Morais do Nascimento narra com riqueza de detalhes que no dia 10 de outubro de 1917, exatamente no dia em que Delmiro Gouveia foi assassinado, ele se encontrava em Japaratuba (Sergipe), juntamente com Jacaré, pois, viajando de trem de Propriá para Aracaju, rumo à Bahia, dormiram naquela localidade em virtude de um desarranjo no comboio, que pernoitou ali. E Róseo invoca o testemunho do coronel Manuel de Sousa Brito (Neco de Brito), proprietário de uma fábrica de tecidos em Propriá, onde ele e Jacaré trabalharam e pediram demissão no dia 9 de outubro, por causa do salário, que era insuficiente. E lembra, também, vários outros testemunhos, além de haver exposto documentos ao capitão Nolasco, quando preso, provando a sua inocência, documentos estes que foram rasgados sob a alegação de que nada valiam.

Recorda ainda que, ao ser interrogado pelo juiz que presidia ao inquérito, o capitão Firmino Rodrigues, que vira os matadores de Delmiro correndo após o crime, afirmara incisivamente que os três indivíduos não pareciam de maneira alguma com nenhum dos réus presentes. Mas as suas declarações de nada valeram.

 

O verdadeiro criminoso


— “Trabalhei 50 anos, até que vim a descobrir o verdadeiro matador de “seu” Delmiro”, declara Róseo. “Trata-se de Herculano Soares Vilela, filho de Antônio Soares Vilela, morador na Serra dos Cavalos, município de Água Branca. E muita gente boa e importante aqui do Estado sabe disto, embora não queira assumir a responsabilidade de publicar a verdade.”

Esta declaração de Róseo foi confirmada ao repórter pelo sr. Cícero Torres, ex-deputado estadual e ministro aposentado do Tribunal de Contas do Estado, acrescentando que realmente fora Herculano o assassino, uma vez que os seus irmãos moram numa propriedade sua, em Água Branca, e não negam o fato. Adiantou mais que a dita confissão havia sido feita pelo próprio Herculano, antes de morrer, tendo a família guardado o segredo. O sr. Cícero Torres é filho do dr. Miguel Torres, à época Juiz de Direito de Água Branca, que não quis funcionar no processo, tendo sido substituído pelo dr. Nestor dos Santos Selva.

Sabe-se, por outro lado, que a causa do assassinato teria sido um espancamento sofrido por Herculano por parte de Delmiro Gouveia.

 

Revisão criminal

 


Róseo não quer legar aos seus netos herança de um crime que afirma não ter cometido.

Embora não tenha ainda constituído advogado, Róseo Morais do Nascimento e sua filha Laurentina estão no firme propósito de recorrer à Justiça, requerendo a revisão do processo. Já estão reunindo material e — afirmam — “Só descansaremos quando vermos tudo colocado em pratos limpos”. Acrescentam que, apesar de pobres, não estão preocupados com a indenização que o Estado possa lhes pagar. O mais importante para Róseo e a família é a questão moral, é tirar-lhe a pecha de criminoso, quando está de consciência tranquila e certo de que nenhum crime cometeu.

 

Detento bem-comportado


No contato mantido com o repórter, Róseo evoca sua vida carcerária, onde tivera um comportamento digno de nota. Salienta o indulto a que teve direito, dadas as suas qualidades pelo que, posteriormente, se tornou funcionário público estadual, lendo sido nomeado servente e depois contínuo, servindo no Palácio do Governo. Ao se aposentar, no ano de 1963, recebeu do governador da época major Luís de Sousa Cavalcanti, a seguinte comunicação: “Maceió, 7 de março de 1963. Sr. Róseo, participo-lhe que, atendendo a seu pedido acabo de assinar o ato de sua aposentadoria pelo que agradeço sua valiosa colaboração prestada ao Estado durante tentos anos de bons serviços.  Na oportunidade apresento-lhe meus votos de felicidade. Atenciosamente, Luís Cavalcanti, Governador”.

Publicada originalmente no Portal História de Alagoas

Lampião e Zé Rufino

Os marechais do sertão e outros valentes

Por Raul Meneleu




A comparação desses dois homens que se engalfinharam mortalmente nas caatingas nordestinas, feita por Alcino Alves Costa, em livro bastante controvertido, - Mentiras e Mistérios de Angico - onde teceu algumas argumentações a respeito da história do cangaço, com raciocínios excelentes, desenvolvidos para colocar conflitos nas mentes dos estudiosos da saga. São bastantes criteriosas quando efetua um confronto paralelo de duas personalidades violentas em lados opostos. Um representava a lei e o outro a desordem.

Qual dos dois era mais violento?

É a aproximação dos dois, em termos entre os quais existiu alguma relação de semelhança, a violência, como metáfora. A comparação, porém, é feita por meio de um conectivo (os homens violentos de além mar) e busca realçar determinadas qualidades do meio termo (liderança, coragem e inteligência) desses dois grandes homens, que viveram uma vida de sobressaltos.

Vamos então mostrar como foi que esse famoso autor da saga cangaceira levou a termo, sua apreciação por esse dois comandantes guerrilheiros:

Na história deste velho mundo, sempre haverá um lugar reservado, um espaço para os predestinados, excepcionais mortais que se destacam em suas atividades e tornam-se históricas personagens que o passar dos anos não consegue levar para o esquecimento; homens que receberam da divindade este DOM que os caprichos da mãe natureza delega aos seus prediletos filhos.

Em todos os campos da atividade humana existem as sumidades: química, física, medicina, enfim em todos os caminhos da vida, e, como não poderia deixar de ser, também existem aqueles que foram sumidades do crime e da violência. Não sei se podemos classificar Lampião e Zé Rufino como astros do crime e da violência. Sou de opinião que ambos deveriam ser classificados como gênios táticos de uma luta onde foram mestres, em uma arte onde eram insuperáveis, heróis que possuíam uma rara e sem igual habilidade em conduzir seus homens nas mais difíceis empreitadas, exercendo uma liderança sobre seus comandados que era qualquer coisa de fazer inveja aos exércitos mais disciplinados.

Os cabras de Lampião e os contratados de Zé Rufino lhes obedeciam cegamente. Eram realmente inacreditáveis as façanhas dos dois chefes, homens praticamente incultos, sem a mínima experiência militar, que mantinham sob seus comandos homens rudes que mais pareciam feras, filhos do sertão bravio, onde a maior lei era o chicote do coronel. Quase todos perversos criminosos, nascidos e criados naquela região hostil, onde não se conhecia o mais elementar costume de boas maneiras e educação, levados por uma estranha e misteriosa força, acatavam até as últimas consequências, até se possível à morte, as ordens e as vontades emanados dos dois grandes comandantes.

Ao acompanharmos, com os detalhes e as minúcias que a complexa história do cangaço requer, e em particular a odisseia Lampião e Zé Rufino, iremos claramente perceber, através dos tempos, os violentos eventos que abalaram o mundo e que mereceram destaque por seus extraordinários efeitos e causas. Muitos desses, ou todos eles, originados pela doentia mente de seus idealizadores, não os retiram da categoria de homens de brilhantes inteligências, tais como Napoleão Bonaparte, Adolf Hitler e tantos outros que levaram a humanidade aos clamores da guerra, guerreiros que implantaram a tirania escudados pelos fluidos negativos de suas raríssimas inteligências.

Exemplo disto é a guerra particular disputada pelos inigualáveis Erwin Vom Rommel, o famoso e genial marechal de campo do África Korps do exército alemão e o não menos brilhante marechal Bernard Law Montgomery, o célebre Montgomery of Alemain, do exército britânico, que no deserto da África travaram o mais espetacular duelo no jogo de xadrez da guerra nazista, vendo-se de um lado o fenomenal Vom Rommel, com suas temidas e afamadas divisões Panzer, e de outro a refinada técnica do insuperável Mont.

Em que pesem os tributos pagos com vidas humanas, não se pode esquecer a excepcional habilidade dos dois marechais. A luta dos titãs dos países do além-mar, era uma dimensão sem limite, do tamanho do próprio mundo, mas, guardadas as devidas proporções, luta igual foi travada nos campos ressequidos do sertão brasileiro, com bravura, coragem, sabedoria e maestria pelos marechais caboclos Lampião e Zé Rufino.

É claro que não se pode fazer comparações entre as duas causas. Uma a do sertão, era a luta dos fracos, dos injustiçados que, ao sofrerem as piores humilhações, as mais injustas perseguições, rebelaram-se e enfrentaram os donos do sertão de igual para igual, levando, na maioria das vezes, a melhor. A outra, a guerra nazista, o destempero e a loucura de um ensandecido homem, que não titubeou em empapar de sangue toda a humanidade. Verdade seja dita: o sertão, — pode-se perfeitamente dizer, — tem ou teve o privilégio de ter dado ao Brasil e, possivelmente, ao mundo dois de seus maiores estrategistas e guerreiros. É fora de qualquer dúvida que Lampião e Zé Rufino foram, na acepção da palavra, dois gênios na ciência dos combates e na tática de ataque e defesa; dois mágicos conhecedores profundos dos segredos da dura guerrilha que participavam.

Em suma, possuíam os dois fenomenais sertanejos toda a clarividência dos grandes e lendários guerreiros dos remotos tempos. Não se pode, também, desconhecer os anos de suas lutas particulares, quando os dois bravos mestiços travaram o mais espetacular duelo da sangrenta guerra do cangaço nordestino; cangaço que teve seu início nas primeiras vinditas dos clãs povoadores dos sertões, desde os tempos do Brasil Colonial indo até os colonizadores do Inhamuns, nas barrancas do Jaguaribe, em terras do Ceará, passando pelos sertões do Piauí e Paraíba até chegar aos campos desertos e bravios de Pernambuco.

Além desse fator primordial, as vinditas e pendengas, que geraram desafrontas por anos sem fim, varando toda a sertania com esta feroz e sanguinolenta disputa de força, poder e domínio, havia também aquelas disputas pessoais onde o único motivo era o despeito e vaidade de determinado potentado contra o outro.

E assim, todo o sertão foi palco de extraordinárias medições de forças e demonstrações de inimagináveis bravuras que, apesar de muitas vezes trágicas, eram ao mesmo tempo belas, heroicas e românticas. Ficaram nos livros da história sertaneja a valentia desses sanhudos e embravecidos sertanejos que não se cansaram de mostrar todo o valor de suas nunca desmerecidas coragens e o valor e peso de suas temidas armas.

Lamentavelmente, os protagonistas dessa tenebrosa luta, como Lampião e Zé Rufino, não percebiam que viviam a se matar em uma luta sem o menor sentido e sem nenhuma razão de ser; eram heróis, gigantes, verdadeiros titãs que viviam a porfiar, carregando nessa esteira um grande número de inocentes caatingueiros que não atinavam e nem percebiam os perigos a que se expunham nessa tremenda luta.

Infelizmente a matutada não sabia que estava sendo marionete que, a cada dia, mais ficava a mercê dos coronéis, os senhores do sertão.

É difícil imaginar tudo isso no sertão do Padre-Mestre lbiapina, o lendário Padre José Antônio de Maria Ibiapina, antes Juiz de Direito de Quixeramobim e velho protetor dos Maciéis, na luta desses com os Araújos. Deixando a vida de magistrado para tornar-se sacerdote e protetor dos pobres no dia 14 de novembro de 1835, Ibiapina tinha-se demitido de sua condição de Juiz no dia 10 de dezembro de 1834, um ano depois de ter sido nomeado, no dia 12 de dezembro de 1833.

Também é o sertão do grande peregrino Antônio Vicente Mendes Maciel, o Bom Jesus Conselheiro, de Canudos; sem se falar naquele que foi o maior dos sacerdotes dos sertões, o padre Cícero Romão Batista, o protetor do Juazeiro, pelos quais toda a sertanejada nutria o nobre conceito de santos.

Espanta como os sertanejos ainda se deixavam envolver por pequenas intrigas que só beneficiavam os grandes e poderosos coronéis e fazendeiros. Ora, nesse sertão, apesar de inculto e primitivo, havia a palavra altamente acreditada dos pregadores.

Portanto, a fé era criteriosamente programada e intensamente voltada para a fanatização dos ingênuos mateiros, e o que é de se estranhar é que homens, como esses missionários, com tamanho carisma, não tenham conseguido afastar Lampião, Zé Rufino, Luís Mansidão, Cassimiro Honório, Antônio Matilde, Tenente, Sabino Gomes e uma legião de facinorosos e valentões que espalharam o terror e o medo nos campos nordestinos; mesmo sabendo-se que todos esses enegrecidos homens guardavam no fundo de seus corações o mais puro, mesmo que primitivo e embrutecido, sentimento religioso.

A verdade é que todos sentiam verdadeira admiração, respeito e veneração pelos mensageiros de Deus, como assim eles julgavam os pregadores. Era realmente belo e romântico ver os bravos e heróicos bacamarteiros assistirem contritos e ajoelhados, embevecidos e humildes, aos fulgurosos e apaixonantes sermões de então.



Pescado em Caiçara dos Rios dos Ventos

És sócio da SBEC?

Atenção a este comunicado



A SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço) através da Comissão de Eleição informa que estão abertas as inscrições de chapas para eleição de sua Diretoria Executiva.

As inscrições podem ser realizadas até o dia 05 de Agosto de 2019 através dos e-mails : aobrr@bol.com.br / aderbalnog@terra.com.br

A eleição será feita em alguns grupos do Facebook que serão divulgados posteriormente e se realizará no dia 15 de agosto próximo. Todos os sócios da SBEC poderão votar e o voto será aberto e não secreto.

A posse da nova diretoria ocorrerá no dia 31 de Agosto no Museu do Sertão em Mossoró-RN.

Contamos com a participação de todos e esperamos que a nova gestão faça um bom trabalho em memória a nosso fundador Paulo Gastão.

Att. Comissão de Eleição



sexta-feira, 5 de julho de 2019

Claude Eylan

A jornalista francesa que desejou encontrar Lampião

Transcrito do “Diário de Pernambuco” – 23/01/1938 por Antonio Correia Sobrinho


Henri KAUFFMANN
(Para os “Diários Associados”)




- Como foi a viagem?

Ao formularmos a pergunta banal, quando a poucos dias, Claude Eylan desembarcou de Pernambuco, esperávamos, de certo, alguns detalhes pitorescos, observações justas e profundas palavras amáveis.
Nossas previsões, porém, foram de muito ultrapassadas e verificamos mais uma vez que ver e ouvir não são apenas sentidos. São dons, e dons raros. Todo mundo registra uma vista ou um som; somente os privilegiados recebem das visões e dos sons a emoção que, segundo os casos, se transforma em obra de arte, página de literatura ou “impressões” no sentido mais completo e mais elevado da palavra.

Claude Eylan manifesta sua alegria.

- Tenho tantas coisas para lhe contar – dia a jornalista e escritora francesa. – Pensava até telefonar-lhe, não que eu julgasse ter novidades para contar sobre uma terra já muito visitada, mas porque quero agradecer publicamente a fidalguia com que me trataram no Recife e no sertão, todas as atenções que recebi de todos, desde o governador até o mais humilde dos caboclos.
A escritora da “Revue des Deux Mondes” pronuncia com amor essa palavra “caboclo”, e um ligeiro sotaque, a par da ternura da voz, dão a essa palavra nossa o sabor inesperado e raro d’uma fruta da selva num ambiente de luxo.

Havíamos preparado algumas perguntas mas deixamo-las de lado.
O entusiasmo da Baronesa de Boccop (verdadeiro nome da escritora) externa-se de tal forma – calor e sinceridade – que toda tentativa no sentido de canalizá-lo entre os paredões dum questionário lhe prejudicaria a espontaneidade.

A GENTE PERNAMBUCANA

Holandesa, pelo seu casamento, Claude Eylan não podia deixar de ligar a visão de Pernambuco a certo período de seu passado:

- Compreendendo – assevera – porque os holandeses sentiram a atração dessa região que recorda suas paisagens: os canais, frequentemente o próprio céu, lembram o ambiente dos Países Baixos. Não falarei, porém, da paisagem tantas vezes descrita, mas sim da gente pernambucana, pouco conhecida, ao que me parece, e injustamente mal apreciada. Disseram-me, quando preparava minha viagem, que o Norte não progredia e que faltava ao nortista o espírito empreendedor e o gosto do trabalho. É absolutamente falso, pois, somente encontrei em Pernambuco, gente ativa e trabalhadora.
- Conheci as cidades e percorri o interior; estive em contato com intelectuais e operários, homens políticos e gente do sertão, ricos usineiros e modestos empregados, e encontrei em todos as mesmas características que revelam uma civilização várias vezes centenária; uma atividade que não é febril nem espalhafatosa, mas que repousa na vontade de vencer e encontra motivo de satisfação nas realizações do passado, nos empreendimentos do presente e nos planos para o futuro.
Outra característica de Pernambuco, e isso também se aplica a todas as classes, é a educação. Mesmo em pleno sertão, entre três caboclos e a natureza ainda rebelde, a gente se sente num ambiente de fidalguia. O pernambucano é um “gentleman”.

EXCURSÃO À CACHOEIRA DE PAULO AFONSO

Claude Eylan, a todo momento, fazia referência ao sertão e aos sertanejos. Visivelmente, nosso interior impressionou-a, e seu entusiasmo desperta nossa curiosidade. Perguntamos onde foi, quando e como.

- Por iniciativa de um grupo de amigos, foi organizada uma excursão à cachoeira de Paulo Afonso. Acompanhou-me o escritor pernambucano Mario Melo, grande conhecedor do sertão e dos índios da região.

Partimos de automóvel, com um itinerário que incluía uma visita a várias vilas do interior e a diversos acampamentos de índios. Passamos a primeira noite em Caruaru, uma cidadezinha que achei muito interessante, mais pitoresca, para nós, que as do Sul, porque conservou seu caráter e dela emana a tradição do passado e da civilização pernambucana.

A escritora continua:

- Daí fomos a Garanhuns, onde tivemos a sorte de chegar num dia de feira, espetáculo curioso em que aparecem ao olho do estrangeiro muitos detalhes que são outras tantas revelações sobre os usos e costumes.

Que vida e que cores! Como teria gostado de ser pintora e poder fixar essa visão. Bem entendido, não fugi às praxes turísticas; comprei uma porção de coisas que achei curiosa e também, por uma espécie de pressentimento (podemos ter uma pane – disse ao doutor Mario Melo) adquiri uma rede.

- Seguindo viagem, paramos em Águas Belas, onde fica um acampamento de índios. O que o governo faz para adaptar os silvícolas à nossa civilização é admirável. É uma grande obra, mas não esconderei que o espetáculo desses índios, na fase transitória em que se encontram, me deixou uma impressão de tristeza, já não são mais índios e ainda não são nossos iguais, quanto à civilização. Perderam sua personalidade, estão se desfazendo de suas características, mas não são assimilados; deixaram seus costumes e não adquiriram outros. Não podem ser defendidos, porque ainda não se definiram.

A escritora francesa teve visivelmente a sensibilidade despertada, e sua admiração pelo esforço gigantesco e pelas realizações tinge-se de piedade. Mas a narrativa é como a viagem: uma pequena pausa e, novamente, a marcha rumo a outros horizontes.

A SOMBRA DO FACÍNORA

Passaram a segunda noite da excursão ao sertão num pequeno hotel, cuja dona, segundo a expressão de Claude Eylan, a recebeu “como uma dama”.

No dia seguinte, chegaram à Cachoeira de PAULO Afonso. Espetáculo grandioso, em que a escritora se esforçou por não ver a usina.

- Aprecio demasiadamente a natureza – explica.
O regresso foi cheio de peripécias.

- A estrada não era das melhores – diz Claude Eylan com indulgencia – e, durante a noite, veio a inevitável “pane”. Estávamos em pleno sertão, e nas povoações que havíamos atravessado disseram-nos que Lampião estava nas proximidades. Que perspectiva, mas que bela reportagem. Aliás tudo bem pensado, esse “bandido” não deve ser muito perigoso: a gente sertaneja é tão amável.

- Mesmo assim, eu e minha rede abandonamos o carro e depois de uma hora de marcha, ao luar, encontramos uma choupana. Estendi a rede e dormi uma das minhas noites mais belas. O luar sobre o sertão, as carícias do ar. Mesmo assim, a ideia de Lampião voltava por vezes a me preocupar, tanto mais que havia um pássaro, ou uma ave (cujo nome esqueci), que, de vez em quando, fazia “hou.. hou... hou...” com uma vez igual a das pessoas quando se chamam umas às outras. Com certeza era pessoal de Lampião – pensava eu – mas não fazia mal, não; a gente do Norte é gente tão boa. Aliás que venha o Lampião. Tenho na bolsa o recorte duma entrevista que dei a O JORNAL. Ele a lerá.

Compreenderá que sou uma jornalista estrangeira e não deixará de me tratar bem. É capaz até de me pedir para publicar sua fotografia na “Revue des Deux Mondes”.

Creio que será difícil; eles lá são muito conservadores. “Hou... hou...” dizia a ave; a lua projetava, em feitios estranhos, a sombra dos cactos sobre o deserto; os passos do chofer, que chegava do carro à busca de ferramentas, ressoavam no silêncio da noite sertaneja. Mas Lampião não apareceu. É pena teria gostado de encontra-lo; não deve ser tão ruim quanto dizem. Não há gente ruim no Brasil. E com esse pensamento consolador e reconfortante, tornei a dormir até o romper do dia.

OUTRA PARADA INVOLUNTÁRIA

- Mal tínhamos começado a nova etapa, houve outra pane. Mas uma vez abandonamos o carro e caminhamos à procura de uma habitação. Dessa vez a casa era de um rico caboclo, casa de luxo para o lugar. Ofereceram-me tudo quanto havia e foram procurar tudo quanto podia ser encontrado de frutas e verduras para não me fazer infringir meu regímen vegetarinário.

Claude Eylan percebe nosso sorriso.
- Sei, vegetarianismo no sertão...

E sem transição:

- Vivi pensando no Portinari. Não podia ver caboclo algum ou negro sem pensar no retrato que Portinari teria feito dele. Aprendi muita cousa com Portinari, principalmente a ver. Assim como há escritores que nos fazem descobrir nossos próprios sentimentos, assim os pintores como Portinari abrem literalmente nossos olhos sobre o mundo. Conheci-o em Ouro Preto; foi uma revelação: entendi, então, as formas e as cores.

RECIFE

Indagamos das impressões da escritora quanto à cidade do Recife.

- Uma capital em pleno desenvolvimento – respondeu – grande centro de atividade, com exata noção dos valores, inclusive da do tempo. Notei, com prazer, que a cultura francesa era ali muito de perto acompanhada. O pernambucano, aliás, ficou muito latino; a civilização americana não o atingiu tanto quanto ao brasileiro de outras regiões. Admirei, sem dúvida, os belos edifícios modernos, os parques e os jardins, as usinas com seus aperfeiçoamentos, o “Hospital de Crianças” grande realização médico-social. A curiosidade de viajante fez, porém, com que me detivesse mais nas velhas construções, nas casas-grandes e nos mocambos. Já conhecia umas e outras através da literatura brasileira e da pintura. Os mocambos surpreenderam-me pelo seu asseio e pela satisfação de seus moradores por ali residirem: água bem pertinho, peixes à vontade. Visitei, também, muitas igrejas que contêm tesouros de arte, e muito apreciei as casas revestidas de azulejos, que transportam a gente três séculos atrás, embora frequentemente estejam entre dois prédios modernos.

Nome quase masculino, uma vida ativa de jornalista como poucos homens a têm, Claude Eylan não deixa, por isso, de ser mulher.

Assim concluiu nossa conversação e suas impressões do Recife:
- E isso, hein? (apontava o elegante tailleur de linho azul, que trajava com chique). Pois foi feito no Recife, meu caro senhor. Mandei fazer três outros. E vou usá-los em Paris, sabe?

Diário de Pernambuco, edição de 11 de Novembro de 1979

Morreu solitário o homem que Lampião mais temia

Por Marco Túlio
Ilustração e correções Lampião Aceso

Manoel de Souza Neto nasceu no dia 01 de novembro de 1901, num lugar denominado Ema no município de Floresta do Navio. Não tendo estudado no período de infância em virtude da falta de professores no Sertão, dedicou-se ao trabalho agrícola. Era destemido, demonstrando desde cedo tendências para a vida militar. Apreciava com muita curiosidade o movimento de tropas e cangaceiros na região, transformando-se mais tarde num justiceiro, que combatia impiedosamente os cangaceiros que assolavam os sertões nordestinos.


Acervo Lampião Aceso


Durante toda a adolescência conservou-se um rapaz igual aos outros sertanejos, cuidando da agricultura, do gado e comovendo-se com a paisagem e o pôr-do-sol. Um dia, no entanto após uma caminhada a pé pelo município de Rio Branco, consegui uma passagem para vir ao Recife, onde com a ajuda de Antônio Boiadeiro, ingressou na Força Pública.

Inicialmente foi destacado para servir em Santo Amaro, bairro conhecido na época, pelos altos índices de criminalidade e onde prestou relevantes serviços.

No dia 24 de janeiro de 1925 foi mandado para Vila Bela atualmente Serra Talhada/PE, a fim de participar da Força Volante naquele município para dar combate ao cangaço.

Os primeiros combates

Dias após ter chegado à Vila Bela o então Soldado Manoel Neto comandado pelo Pedro Cavalcanti foi a cidade de Triunfo/PE, onde Lampião e seu bando havia cercado a Fazenda de Clementino de Sá. Destacando-se no combate. Manoel Neto foi elogiado por seu superior e considerado o Soldado mais corajoso da Volante. Nessa batalha Lampião foi obrigado a fugir, sendo perseguido até a fronteira da Paraíba, de onde a Volante teve de regressar, pois o governo paraibano não permitiu que os Soldados pernambucanos entrassem em seu território, o fato que contribuía para Lampião se reorganizasse e voltasse a atacar.

Em 10 de novembro de 1925 na localidade Cachoeira, distrito de São Caetano, ocorreu outro combate contra Lampião. Na ocasião morreram ou fugiram da luta o Sargento José Leal e o seu auxiliar direto José Terto. Manoel Neto assumiu então o comando da Volante, conseguindo uma vitória surpreendente contra Lampião que passou a se interessar pela valentia do “macaco” que conseguira lhe infligir tão grande derrota. Em função da façanha, Manoel Neto foi promovido ao posto de Anspeçada, isto é, intermediário entre Soldado e Cabo.

Outras bravuras

A partir desse episódio, Manoel Neto passou a ser o terrível perseguidor de Lampião, sempre lhe mandando recados, desafiando-o para que lutassem de homem para homem numa batalha para pôr fim aos crimes no Sertão.

No tiroteio da Fazenda Favela, localizada no município de Floresta, Manoel Neto foi emboscado pelo bando de Lampião, ficando gravemente ferido, com duas pernas quebradas. Segundo contam, sempre ia à frente de seus comandados, alegando que como comandante cabia a ele receber ou disparar o primeiro tiro.


Certa ocasião, foi chamado pelo Tenente João Bezerra da Policia Militar de Alagoas, para arquitetarem o plano da morte de Lampião por envenenamento. (Fato que carece de maiores esclarecimentos).

Manoel Neto mostrou-se imediatamente contrário àquele tipo de assassinato. Dizendo para o Tenente:

- Lampião é meu inimigo pessoal e ele também me considera assim. Se eu puder pegá-lo no ponto do meu Mosquetão, acabarei com ele. Porém não o matarei envenenando a água que beba, pois Lampião sabe que o rastejo e nunca envenenou a água que eu bebo, mesmo lhe perseguindo.

Certa vez no município de Triunfo, vários bandoleiros que habitavam uma serra, resistiram a ação da Polícia Militar. Sem condições de subirem a montanha, os Soldados eram duramente repelidos a tiros de rifles. Ao tomar conhecimento do fato, o Capitão Manoel Neto, fazendo acompanhar de oito Soldados subiu a serra e aproveitando o silêncio da noite, foi invadindo casa por casa. Ao amanhecer todos estavam amarrados e desmoralizados.

O relógio de um dos apartamentos do Hospital da Policia Militar de Pernambuco,marcava exatamente sete horas e quarenta e cinco minutos do dia 3 de novembro [de 1979], quando falecia um dos maiores heróis da história do combate ao cangaço em Pernambuco. Tratava-se do coronel Manoel de Souza Neto, conhecido em seis estados do nordeste como "Mané Neto" e apelidado por Lampião como "Mané fumaça", pois, segundo a lenda, aparecia repentinamente de vários locais ao mesmo tempo.



Manoel Neto viva sozinho, residindo em um dos hotéis da cidade de Ibimirim [PE] quando foi acometido de uma doença renal.

Ao tomar conhecimento de que o coronel era portador da moléstia incurável,o comandante da Polícia Militar de Pernambuco, João Lessa, determinou a sua remoção imediata para o Hospital Geral do  DERBI. Lá, o velho combatente do cangaço faleceu aos 78 anos, após 14 dias de internamento. Seu corpo foi trasladado para o município [distrito] de Carqueja, onde foi sepultado com honrarias militares.

Além da luta ao bando de Lampião, Manoel Neto também participou de Revoluções, chegando inclusive a ser o homem de confiança dos governadores: Carlos de Lima Cavalcanti [1892 – 1967] e Estácio Coimbra. [1872-1937]. Perdeu a farda por ocasião da derrota do partido que defendia, mas conseguiu voltar a ativa em virtude do reconhecimento do seu trabalho e atos de bravura. 




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