sábado, 28 de outubro de 2023

A Noite " edição de 14 de Dezembro de 1932

Informes confusos sobre as mortes de alguns cangaceiros

Por Helton Araújo-  Cangaço Eterno

Na matéria do jornal " A Noite " edição de 14 de Dezembro de 1932 ", o periódico traz o seguinte título : " O BANDITISMO NO NORDESTE ", com o subtítulo " A campanha vae ser feita por mais de tres mil soldados - " Antônio de Engracia " morreu mesmo, e foi comido pelos corvos (seguindo a escrita da época).

 


Apesar da péssima resolução da matéria, vou passar para vocês um resumo da publicação e fazer algumas observações em seus principais tópicos.

A matéria tem início informando que a campanha contra o banditismo está na região tranquilizando a população que vem sofrendo com as incursões de Lampião e seu bando nas regiões do sertão baiano e sergipano.

O periódico informa que há poucos dias a volante comandada pelo tenente Justiniano travou ríspido combate contra o bando de Lampião, nas proximidades de Juá, em Santo Antônio da Glória, nessa ocasião foi morto o cangaceiro Baliza e presa a sua companheira. Aqui fazemos nossa primeira observação, o periódico não informa o que a tradição oral diz sobre a história de Baliza, que o mesmo teria sido surpreendido por Justiniano e seus homens, no momento em que estava em relações sexuais com sua companheira.

A Tradição oral ainda diz que o tenente Santinho ( Ladislau Reis ) quando se encontrou com a volante do " cabo " Justiniano ( o jornal diz tenente ) solicitou ao mesmo por ter a patente maior a condução e recambiamento do cangaceiro. Daí popularmente sabemos o que aconteceu com Baliza, que foi torturado e morto em uma fogueira por Santinho e seus homens.

Fica claro que o periódico não apresenta essas informações, destaco ainda, que na tradição oral a data do acontecimento seria março de 1933, mas o jornal relata que o fato se deu em dezembro de 1932, ficando aí a inconsistência.

Cabe aos pesquisadores buscarem mais informações se de fato Santinho torturou e matou Baliza ou se essa história é mais uma entre tantas outras que caiu nos contos e folclores populares sobre o cangaço.

A matéria segue com mais uma excelente informação, segundo o jornal, as colunas volantes descobriram que de fato o cangaceiro Antônio de Engrácia estava morto, cujo acontecimento deixava dúvidas sobre a veracidade da morte do cangaceiro.

Um coiteiro de Chorrochó preso, disse que Antônio foi gravemente ferido pelo contratado Hermógenes, sobrinho do fazendeiro sergipano José Ribeiro. Segundo o coiteiro, Antônio veio a falecer em decorrência de seus ferimentos em sua própria residência, ainda segundo o coiteiro, seu corpo ficou insepulto, vindo a ser devorado pelos "corvos".

Ele prossegue informando que as ossadas do cangaceiro foram levadas até Jeremoabo ( não informando quem a levou ), onde ficou em exposição. Aqui faço mais uma observação, o jornal fala de Antônio de Engrácia, porém segundo as informações que temos nas pesquisas do cangaço, quem teria sido morto por Hermógenes, seria o cangaceiro "Antônio de Seu Naro", sendo assim, acredito eu, que houve apenas uma confusão de informações, pois Antônio de Seu Naro também era um Engrácia e também lhe caberia a apresentação como Antônio de Engrácia.

Diante dos fatos, creio eu que a matéria refere-se ao cangaceiro Antônio de Seu Naro e não de seu parente Antônio de Engrácia. Nos tempos atuais, aqueles que fazem pesquisas, se não cruzarem as informações podem fazer uma grande confusão histórica entre os fatos acontecidos e seus personagens.

Gostaria de associar essa informação das ossadas levadas para Jeremoabo com aquela matéria que também roda por aí, dos ossos e crânios dos cangaceiros " Antônio de Engrácia " e Ponto Fino (Ezequiel Ferreira), diante dessa matéria, acredito que aquelas ossadas sejam de fato Antônio de Seu Naro e do suposto Ponto Fino.

A matéria traz mais algumas ótimas informações, a primeira é que o sertão baiano contará com o reforço de mais de 3 mil soldados na campanha contra o banditismo.

A segunda, o Capitão João Miguel conseguiu auxílio mensal de 20 contos de réis para ajudar os flagelados da seca. Além de mandar construir estradas de rodagem por vários locais da região.
 

Vale lembrar que isso contradiz o que a tradição oral conta sobre a ação do capitão João Miguel, o mesmo teria mandado os sertanejos abandonarem suas casas em uma tática irresponsável na tentativa de dificultar as ações dos cangaceiros na região, Isso não só favoreceu os cangaceiros como causou mais sofrimento para os pobres sertanejos, esse fato relatado ficou conhecido como " A seca de João Miguel "

E para finalizar, a matéria relata que foi aprendido na casa de um coiteiro a metralhadora que Lampião conseguiu no confronto no Tanque do Touro (onde supostamente teria morrido Ezequiel Ferreira) contra a volante comandadas pelo tenente Arsênio Alves, além de outros armamentos e muitas munições.

Encerro esse texto sem querer desmerecer o trabalho de nenhum dos companheiros de pesquisa, pelo contrário, reafirmo aqui meu respeito a cada um, meu intuito com essa postagem é apenas elevar a história ao mais próximo possível da realidade. Deixo claro também, que não sou dono da verdade e que posso estar errado em minhas observações, mas fica aí o material para confrontação de informações e esclarecimentos e dúvidas.

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