sábado, 7 de novembro de 2015

Um ídolo sem rosto

Where Is Billy Jaynes Chandler?


por Bárbara de Medeiros e Honório de Medeiros      



Era hora do almoço quando papai pediu que eu traduzisse uma reportagem pra ele. Nessas horas, os quatorze anos de estudo de inglês geralmente se pagavam, e foi com prazer e uma certa confusão que li para ele uma reportagem policial de uma criança, Billy James Chandler, que fora assassinada por um de seus pais. O mistério estava em qual dos dois fora o responsável pele monstruoso ato, mas os testemunhos levavam a crer que o pai, William Chandler, tinha sido o verdadeiro algoz do pequeno ser de apenas seis meses.

Claro, a minha curiosidade não podia permitir que eu realizasse tal trabalho sem perguntar o quê papai queria com aquele casal louco e seu falecido filho. Balançando a cabeça com uma expressão de decepção, ele me disse que não era isso que ele procurava, e começou a me contar acerca de Billy James Chandler, o pesquisador, que teria escrito alguns dos livros mais importantes acerca do cangaço. Era ele quem meu pai procurava.

Bastou uma rápida procurada no Google pra descobrir que o nome do historiador era, na verdade, Billy Jaynes Chandler, e obviamente ficou claro que não havia nenhuma relação entre esse homem e a notícia que ele me colocara para ler.

Eu ainda não tocara na comida.

Fui atrás do meu computador para procurar mais acerca do homem que meu pai queria encontrar na rede social. Mas uma rápida pesquisa do seu nome apenas indicava sites onde os seus livros mais conhecidos estavam disponíveis para compra.

Foi aí que meus conhecimentos das ferramentas do Google vieram a calhar. Tirando as palavras chaves relacionadas às suas obras, sobraram poucos sites disponíveis, mas que aparentemente seriam mais importantes na minha pesquisa.

O primeiro deles foi o da editora Record, responsável pelos livros de Chandler (doravante denominado BJC) aqui no Brasil. Ela mantém uma página com informações de todos os escritores que publicam pelo seu selo. Obviamente, fui para a página do historiador, mas qual não foi a minha surpresa ao descobrir que nela não havia qualquer palavra. Nenhuma. Só o nome inteiro do americano como título, o resto era completamente branco.

Meu primeiro instinto foi encontrar a página de contato da editora e escrever pedindo informações sobre Mr. Chandler. Embora sabendo que a maioria das companhias brasileiras têm o péssimo hábito de ignorar seus leitores, não custava nada pedir. Feito isso, prossegui na minha pesquisa. Nada obtive.

O próximo passo foi procurar a editora americana responsável pela primeira impressão dos seus trabalhos. Depois de pesquisar na Amazon, descobri que era a Texas A&M University Press, e foi para o site dela que parti. Não consegui achar nenhuma informação na página deles, mas me atrevi a lhes mandar um e-mail pedindo alguma informação que pudessem me conceder. Até o presente momento, nada.

Ainda mexendo nas páginas da web descobri o site da faculdade onde Billy Jaynes fez seu bacharelado em história: a Austin Peay State University. Na parte da Alumni, seu nome consta na lista de “perdidos”, e pede-se que qualquer pessoa que tiver alguma informação a seu respeito (e outros que também se encontram na lista), favor entrar em contato. Lá consta que o ano da sua graduação foi 1954. E agora eu sabia pelo menos mais uma pequena informação sobre esse homem que agora começava a me fascinar (mais pelo seu mistério, devo admitir, que pelo seu trabalho).

O próximo passo foi olhar no site da Universidade onde ele lecionou história - a Texas A&M University - Kingsville. Foi lá que descobri que o homem por quem procurávamos havia se tornado professor emérito em 1995. Dez anos atrás. Escrevi um e-mail pedindo informações, sem maiores expectativas. De todos os que eu enviara, esse era o que eu menos esperava que fosse respondido.

A única outra menção a Billy Jayne Chandler na história da Universidade na qual fora professor era em um livro de Cecilia Aros Hunter e Leslie Gene Hunter, contando a história da universidade. Algumas páginas estavam disponíveis no Google Books e foi lá que eu encontrei o nome do professor, no último parágrafo da página 155, contando que ele fizera circular uma petição para uma associação dos professores universitários americanos pedindo que um tal Robins explicasse a crise financeira que a escola enfrentava. A petição dele, segundo consta no livro, dizia que a secretaria da administração estava causando um sério declínio na moral da instituição.

Avisei papai do estado da minha pesquisa e agora só me restava esperar pelas respostas aos meus e-mails. Honestamente, a expectativa não estava alta.

Até hoje somente recebi uma resposta, um e-mail, surpreendentemente do único órgão do qual não esperava resposta: a universidade onde Chandler trabalhara. Robert C. Peña, diretor assistente de serviços da web, me respondeu dizendo que não fora possível encontrar nenhum tipo de informação de contato de Mr. Chandler, já que registros pessoais eram mantidos apenas por alguns anos. Ele sugeriu que eu tentasse contactá-lo pela Amazon (e anexou o fórum online do autor) ou pela editora que publicava seus livros.

Como já disse antes, eu já tentara essa segunda alternativa, e o fórum de Billy Jayne Chandler é constituído por duas pessoas tentando encontrá-lo: algum brasileiro, aparentemente, e alguém denominado Elizabeth, representando um antigo colega de trabalho (também ex-professor de história). Após uma conversa com papai, decidimos mandar um e-mail para essa mulher pedindo qualquer informação que ela pudesse nos repassar.

Os dias se passaram e eu não obtive retorno, mas para a minha surpresa o Robert C. Peña, da antiga faculdade onde Billy trabalhou entrou em contato novamente comigo, para me avisar que ele tentara encontrar no campus alguém que tivesse alguma informação a respeito do historiador, mas que ninguém parecia saber onde ele se encontrava.

Tendo agradecido a informação, só me restava aguardar alguém mais responder, quem sabe Elizabeth, do fórum de BJC na Amazon. E talvez por julho ter sido um mês tão bom, os meus pensamentos positivos se concretizaram e em dois ou três dias recebi uma resposta dela.

O e-mail não trazia grandes informações. Informou que ela trabalhava com esse tal professor que trabalhara com Chandler e que ele estava muito interessado em retomar o contato. Ela me avisou que não havia muito a ser dito sobre BJC, que estava na Europa, e quando voltasse responderia meu e-mail com as poucas informações às quais tinham eles acesso.

Eu preferi não responder nada por alguns dias, pois meu longo conhecimento em troca de e-mails assegurava que quase sempre as pessoas tendiam a esquecer de responder uma pergunta quando diziam que fariam isso depois. Então eu deixei para enviar um e-mail agradecendo sua prontidão em compartilhar suas informações praticamente uma semana depois, quando eu ainda não tinha recebido qualquer o retorno dela.

Foi o que fiz. E, até agora, nada.

Oh, my God, where is Billy Jaynes Chandler?



P.S. Billy Jaynes Chandler é um dos mais importantes escritores acerca do cangaço e coronelismo. Suas obras “Lampião, o Rei dos Cangaceiros”, e “Os Feitosas e o Sertão dos Inhamuns”, são canônicas, seminais. Tentando localizá-lo para uma entrevista via internet, esbarrei nessa dificuldade relatada acima, a meu pedido, por minha filha Bárbara de Medeiros. Ficou uma imensa curiosidade acerca de onde anda Chandler. Terá morrido? Por que se esconde?

Encontrei no blog http://estoriasehistoria-heitor.blogspot.com.br/2012/12/livros-em-que-familia-feitosa-e-tema.html um artigo de Heitor Feitosa Macêdo que publico abaixo, parte dele, acerca de Chandler:

“O norte americano Billy Jaynes Chandler era um doutorando em história pela Texas A & University, tendo despertado seu olhar para o Brasil, como campo de estudo, em 1963, durante o curso de Introdução à Língua Portuguesa na Universidade da Flórida, pois era pré-requisito para o doutorado pretendido.

Inicialmente o autor cogitou o México para servir-lhe de objeto para a dissertação, contudo, durante um curso de Sociologia ministrado pelo Dr. José Arthur Rios, professor visitante da Universidade da Flórida, Chandler fora dissuadido, e terminou optando pelo Brasil.

Segundo o próprio autor, o Brasil oferecia outros tópicos de maior relevo do que os Inhamuns, porém Chandler queria familiarizar-se “com um aspecto mais amplo ou pelo menos diferente da vida brasileira.” Sendo seu objetivo estudar “uma comunidade fiel às tradições”, isolada ou isenta dos avanços do século XX, “onde tudo fosse como antigamente”.

Logo, em face desse anseio por um corpo social que fosse culturalmente mumificado, o Ceará apresentou-se bastante adequado, segundo a indicação do professor Rios.

A região dos Inhamuns foi escolhida depois de leituras adicionais, porque, conforme Chandler, esse espaço sertanejo caracterizava-se por ser uma “área rural, isolada e tradicional”, além disso, também era “a terra de uma numerosa família que mais de uma vez atraíra a atenção local e até do País inteiro”.

Desta forma, depois da escolha, partiu para aquele rincão, chegando em novembro de 1965, onde foi ciceroneado gentilmente pelos filhos daquele sertão. Por isso ficando o autor admirado e agradecido pela gente que o hospedou e conduziu pelas sendas dos Inhamuns, citando-se Antônio Gomes de Freitas, Antônio Teixeira Cavalcante, Lourenço Alves Feitosa, Aramando Arrais Feitosa etc.

A obra, publicada no Brasil no ano de 1981, é considera a segunda [17] a ser forjada em moldes de verdadeira ciência, pois, em sendo tese de doutoramento em história, consubstanciou a aplicação do método científico frente a antigos fatos registrados nos alfarrábios e na oralidade. O estudo é considerado suficientemente amplo por compreender aspectos administrativos, econômicos e políticos.

A análise recai sobre o início da colonização em 1700, e vai até o ano de 1930, considerado como marco final da perda do poder hegemônico dos Feitosa sobre grande parte dos Inhamuns.

Paralelamente sob a ótica do conflito entre o público e o privado, esquadrinha as instituições sociais, sobretudo a família, e a sua relação com o poder estatal. Igualmente identificando causas e consequências, do apogeu ao declínio político-econômico, dos Feitosa no seu feudo continental.

Assim, parece que o declínio relativo dos Feitosas foi acelerado por dois fatores: a importância que davam às prestigiosas atividades pecuárias, mesmo quando outros haviam conseguido constituir uma base econômica mais sólida através da agricultura, e a destruição periódica de seus únicos recursos produtivos – os rebanhos de gado – pelas secas (Billy Jaynes Chandler)”.

Encerro fazendo minhas as palavras de Bárbara de Medeiros: “where is Billy Jaynes Chandler?

Pescado no Blog do cumpadi Honório

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Nesta sexta 6/11, na Terra da Resistência!

XI Feira do Livro em Mossoró


Dia 6 de Novembro, às 20 horas na Expocenter - Palco "Estação das Letras" Av. Jorge Coelho de Andrade, nº 2 Mossoró - RN

MESA-REDONDA
Honório de Medeiros e Geraldo Maia
Coordenação: Kydelmir Dantas
"AS HISTÓRIAS DO CANGAÇO QUE AINDA NÃO FORAM CONTADAS".

Em seguida; a partir das 21 horas Lançamentos:
HONÓRIO DE MEDEIROS LANÇA SEU LIVRO
"HISTÓRIAS DE CANGACEIROS E CORONÉIS"



GERALDO MAIA LANÇA SEU LIVRO
"AMANTES GUERREIRAS - A PRESENÇA DA MULHER NO CANGAÇO"


MAIORES INFORMAÇÕES: www.feiradolivrodemossoro.com.br e www.honoriodemedeiros.blogspot.com.br

Fonte: cariricangaco.blogspot.com.br

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

GAMES

Lampião Verde - A Maldição da Botija


Um jogo para PC de RPG em plataformas 3D com física, elementos de roguelike e ritmo.
Tudo isso ambientado num universo fantástico baseado na cultura nordestina e a história e personagens na pegada de quadrinhos de super-heróis.
Ficou curioso? Vai vendo...



Contexto narrativo

Ao resgatar uma botija mágica, Lampião deixa de ser um velho moribundo e transforma-se no Lampião Verde, um super-herói que precisa acertar as contas com o seu passado e salvar o Sertão Profundo que está sendo corrompido pelo Bando das Visagens Malassombrosas.



Mecânicas do jogo

Plataforma: Num mundo repleto de ilhas voadoras, pule de plataforma em plataforma, explorando pedras, plantas, objetos esquecidos pelo tempo, monstros e outros personagens.


RPG: Descubra seu propósito nesse mundo fantástico, resolvendo tarefas e colecionando artefatos para se tornar mais forte e conseguir ir mais longe.



Luta: Enfrente visagens (fantasmas), bois-bumbá, entre várias outras criaturas, inclusive vários boss como o Dragão da Maldade e o Galo da Madrugada que foram corrompidas pela maldição da botija.



Ritmo: Durante a batalha, preste atenção na batida do frevo, baião, maracatu (ritmos musicais) para realizar combos de golpes e usar o máximo dos super-poderes.

Plataforma alvo

O jogo será lançado para computadores, PC e Mac (talvez Linux), e não será necessário ter uma máquina de última geração. Mas se tiver, melhor ainda, os gráficos acompanharão seu ritmo.
A distribuição será digital, pelas principais plataformas (sujeito ao sucesso da campanha e empenho da comunidade), em especial Steam, GOG.com, Humble Bundle.

Mais que um jogo

Além do próprio game, também criaremos:
  • Uma revista em quadrinhos de super-herói protagonizada pelo Lampião Verde.
  • Trilha sonora orquestral original, gravada em estúdio, inclusive com orquestra completa.
  • Artbook com compilação das artes conceituais, processos, memorial descritivo, e modelos e artes finais.
  • Um universo fantástico em torno da rica porém dispersa cultura nordestina.

Achou interessante? Duvida que consigamos entregar um projeto tão ambicioso? Vamos nos apresentar.

Pescado em www.kickante.com.br

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Novidade na praça

Charges com Lampião é o lançamento de Luiz Ruben



Lendo e pesquisando tantos jornais e revistas da época em que Lampião atuava, isto é, anos 20 e 30 do século passado, não passou despercebido, de vez em quando aparecia caricaturas e charges de Lampião, mas, o que me chamou a atenção foi a utilização do personagem com a política e os políticos do poder naquele período.

Contextualizar cada charge ou caricatura seria por demais maçante, pois creio que elas não perderam o caráter atemporal.

As codificações visuais que os chargistas queriam passar ao retratar Lampião eram afetadas de acordo com a região do artista, o que determinava, até pela falta de conhecimento que tinham do caricaturado, a representação de formas tão dispares na fisionomia desenhada.


As charges com Lampião, nessa pesquisa, abrangem o período de 1926 a 1939, porém acrescentei duas de 1969, sendo a última apresentada, uma propaganda com alusão ao desenvolvimento industrial através de incentivos fiscais, citando Sudam-Sudene onde Lampeão é usado como referência de uma região. Ao todo o livro mostra 83 charges e caricaturas.

A charge tem como finalidade satirizar, descrever ou relatar fatos do momento por meio de caricaturas, com um ou mais personagens de destaque, nas áreas da política com maior frequência.

As apresentadas nesse livro abrangem personagens de prestígio nacional como o Padre Cícero, Antônio Carlos, governador de Minas, Capitão Chevalier, com a famosa tentativa de uma expedição contra Lampião no início dos anos 30, Getúlio Vargas como presidente do governo provisório após a revolução de 1930.

Após sua morte, cartazes foram utilizados como propaganda de filme da Warner, com James Cagney “substituindo o famoso cangaceiro nordestino”.

A propaganda comercial também utilizou com frequência o nome de Lampião. Como curiosidade inseri no trabalho as da Casa Mathias e O Mandarim, que apresentavam nos seus comerciais um conteúdo humorístico.


Até o conhecido compositor Noel Rosa, como Lampeão foi caricaturado. Como se fossem dois personagens ao mesmo tempo é mostrado características de identificação de Lampião com o rosto de Noel Rosa. Mesmo nas capas de famosas revistas, Careta em 1926 e 1931, O Cruzeiro em 1932, Lampeão é caricaturado.

Na contracapa desse livro, consta a foto original muito popular de Lampeão e seu irmão Antônio Ferreira, já nesta época, famigerado cangaceiro, perseguido em Pernambuco, Paraíba, Ceará e Alagoas. Foi tirada em Juazeiro do Norte, no estado do Ceará, onde Lampeão foi convocado pelo Padre Cícero a pedido do deputado federal Floro Bartolomeu, para combater os inimigos do governo de Artur Bernardes, a Coluna Prestes, em 1926. Na capa, usando a foto da contra capa, foram introduzidas as faces de Getúlio Vargas como Lampeão e Osvaldo Aranha como Antônio Ferreira.

Foi publicada pelo Estado de São Paulo em 24 de setembro de 1933, sendo Getúlio já vitorioso da revolta de 1932 em São Paulo.

O desenho era utilizado, isto é, a charge, como uma crítica político social onde as situações cotidianas são exploradas com humor e sátira. Lampião foi personagem principal dos chargistas, mas o objetivo era atacar os poderosos da época, geralmente vítima dos jornais da oposição.

Coloquei tudo numa ordem cronológica para facilitar a sequência histórica, pois, no futuro com a leitura das diversas obras publicadas sobre Lampião e o cangaço em geral, teremos uma visão não contextualizada das sátiras contra os personagens vítimas dos chargistas.

O livro tem 95 páginas, custa R$ 25 (Vinte e cinco reais) com frete incluso e você adquire diretamente com o autor pelo email luiz.ruben54@gmail.com

*Luiz Ruben F. de A. Bonfim. Economista e Turismólogo e Pesquisador do Cangaço e Ferrovias.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Lampiao em Mossoró

1927 – Um interessante artigo de Tércio Rosado Maia sobre o cangaço

Por Rostand Medeiros

Publicado na imprensa pernambucana três dias após o ataque de Lampião a Mossoró, o texto nada comentou sobre este grave episódio!


Tércio Rosado Maia foi um potiguar nascido no dia 19 de agosto de 1892, em Mossoró, sendo o terceiro filho do farmacêutico paraibano Jerônimo Ribeiro Rosado e de Maria Amélia Henriques Maia, que faleceu justamente durante o parto de Tércio. Seu pai, como era o costume comum na época, logo contraiu matrimônio com Isaura Henriques Maia, sua cunhada.
Tércio Rosado Maia - (1892 - 1960)
Tércio Rosado Maia – (1892 – 1960)
O patriarca Jerônimo inicia a partir do nascimento de Tércio uma tradição singular na família Rosado de Mossoró. Tércio em Latim significa terceiro e seus irmãos que nasceram posteriormente foram batizados com números. Alguns em latim, mas a maioria com numeração existente no idioma francês.

Tércio se mostrou um homem de extrema capacidade, onde buscou ampliar muito dos seus conhecimentos através dos estudos. Já nos primeiros anos da década de 1910 concluiu o curso de farmácia na Escola de Medicina da Bahia. Dinâmico e atuante foi um dos pioneiros do cooperativismo no Rio Grande do Norte, responsável em 1915 pela criação da primeira cooperativa potiguar; a Sociedade Mossoró Novo. Consta que passou um tempo trabalhando na Estrada de Ferro de Mossoró e em 1925 deixou este emprego e passou a morar na capital pernambucana [1]. Ainda em Recife concluiu o curso de odontologia em 1929, o de Direito em 1940 e chegou até o 4º ano de medicina.
Mossoró, primeira metade do século XX - Fonte - blogdetelescope.blogspot.com
Mossoró, primeira metade do século XX – Fonte – blogdetelescope.blogspot.com
Mas voltando para a segunda metade da década de 1920, ao realizarmos uma pesquisa na hemeroteca do Arquivo Público do Estado de Pernambuco, descobrimos que nesta época Tércio Rosado estava em Recife não apenas aprendendo sobre dentes, ele igualmente começou a escrever na imprensa do Recife e a participar ativamente da vida intelectual da cidade.

Não sei quando e em qual periódico ele começou a escrever na capital pernambucana, mas vamos encontrá-lo assinando em 10 de abril de 1927 um interessante artigo sobre a chegada do hidroavião português “Argos” a Recife. O trabalho foi publicado na primeira página do Diário de Pernambuco, um dos mais respeitados jornais do Brasil naquela época[2].

Na sequência o nome de Tércio Rosado Maia começa a aparecer ocasionalmente na coluna “Estudos e opiniões”, onde trazia principalmente temas que iam desde o folclore nordestino, até mesmo assuntos internacionais. Quase sempre esta coluna era publicada nas primeiras páginas do Diário de Pernambuco.
Recife, Ponte da Boa Vista, primeira metade do século XX - Fonte - www.luizberto.com
Recife, Ponte da Boa Vista, primeira metade do século XX – Fonte – http://www.luizberto.com
Junto com sua atuação nos periódicos, Tércio também começou a fazer parte do Cenáculo Pernambucano de Lettras, uma das várias associações literárias que congregavam grupos de intelectuais em Recife. Nesta época também fazia parte desta associação o médico potiguar Abelardo Calafange.

Na continuidade das minhas pesquisas, encontrei na edição do Diário de Pernambuco de quinta-feira, 16 de junho de 1927, na segunda página, um interessante e pouco conhecido artigo escrito por Tércio Rosado Maia sobre os cangaceiros nordestinos.
O bando de Lampião. Foto realizada após a derrota em Mossoró, em Limoeiro do Norte-CE.
O bando de Lampião. Foto realizada após a derrota em Mossoró, em Limoeiro do Norte-CE.
Intitulado “A magistratura e a prophilaxya do cangaceirismo”, inicialmente clamava por uma ação mais ativa da magistratura contra os sobas das localidades interioranas, os portentosos coronéis que tanto contribuíam para a formação e a existência dos grupos de cangaceiros. Apesar da sua formação acadêmica em Direito só haver ocorrido treze anos após o famoso ataque de Lampião a Mossoró, Tércio Rosado escreveu este interessante texto com extrema segurança e desenvoltura em relação as suas opiniões.

Também trazia a sua visão sobre os fatores que determinavam a criação dos cangaceiros, classificando-os “por índole, degenerados e perversos”. Ainda sobre os cangaceiros no texto chama atenção quando Tércio Rosado apontou a ação positiva da magistratura potiguar no combate ao cangaço. Mas confesso que desconheço completamente a qual caso ele fez referência, que envolveu a ação de magistrados no combate a cangaceiros no Rio Grande do Norte.
Fonte - cariricangaco.blogspot.com
Fonte – cariricangaco.blogspot.com
O texto de Tércio Rosado Maia suscita muitos outros questionamentos e o mais importante estava no fato dele ter sido publicado apenas três dias após o ataque de Lampião e de seus homens a cidade de Mossoró. Mas no material publicado não existe uma única referência sobre este famoso ataque, ocorrido no dia 13 de junho de 1927.
Diário de Pernambuco, primeira página, 19 de junho de 1927.
Diário de Pernambuco, primeira página, 19 de junho de 1927.
Vale ressaltar que a primeira notícia do Diário de Pernambuco sobre o ataque a cidade natal de Tércio Rosado só foi publicada no dia 19 de junho, seis dias após a ocorrência dos episódios. Era uma pequena nota na primeira página, onde a empresa Leite Bastos & Cia. informou ter recebido um telegrama de Ramiro Queiroz comentando sobre o ataque, o pavor da população mossoroense, a morte do cangaceiro Colchete e a prisão do temido cangaceiro Jararaca.
Jornal do Brasil, edição de quarta-feira, 15 de junho de 1927, página cinco.
Jornal do Brasil, edição de quarta-feira, 15 de junho de 1927, página cinco.
Apesar dos sistemas de comunicação existentes no Nordeste brasileiro em 1927 não serem tão modernos, a notícia do ataque de Lampião a Mossoró logo alcançou locais muito mais distantes do que Recife. O periódico carioca Jornal do Brasil, edição de quarta-feira, 15 de junho de 1927, na página cinco, trazia uma nota intitulada “Audácias do Banditismo” e resumia o ataque dos cangaceiros a cidade potiguar.

Apesar de não ter descoberto quer era o Sr. Ramiro Queiroz, é inquestionável o atraso do conceituado periódico Diário de Pernambuco em publicar tão grave acontecimento ocorrido em uma cidade nordestina.

Sem mais delongas o leito poderá ler o artigo de Tércio Rosado Maia na íntegra, aqui reproduzido com a escrita original. As palavras marcadas em negrito seguem o padrão original do texto conforme foi publicado em 16 de junho de 1927.
Boa leitura!
Diário de PE-26-07-1927 (1)
Diário de PE-26-07-1927 (1)
“ESTUDOS & OPINIÕES”
A MAGISTRATURA E A PROPHILAXYA DO CANGACEIRISMO

Sobre os hombros do magistrado impende a tarefa principal de sanear o Nordeste da epidemia do Cangaço.

Este acerto cathegorico, tout court[3], nasce de um exame preciso da singular instituição que tanto estorva o progresso e a estabilidade da vida regional.

E tem a sua contra-prova, decisiva, fulminante, num exemplo irretorquível e brilhantíssimo: o caso do Rio Grande do Norte.

O magistrado, aqui no Nordeste quando não é, por sua incapacidade, fraqueza, e desorganização, o principal gerador do cangaceiro, significa o melhor prophylatico de que o governo, possa lançar mão para exterminar a praga do cangaço, ao nascedouro.

O magistrado, agindo dentro das normas estrictas do Dever e conscio de suas responsabilidades, representará no organismo da Região o papel de um phagocyto, insulando e eliminando os elementos tornados deletérios, e immunizando o meio de forma a faze-lo refractario a população de taes vírus de ruina e decomposição.

A dupla interrogação supra lançada, vou tentar uma resposta, procurando de caso passado, fazer abstração e idéias e conceitos todo-formados sobre o assunpto e atirados em circulação com a impertinência de dogmas.

Norteio meu esforço em ver com meus próprios olhos, e analysar com meu proprio senso analytico o problema do cangaço. E vejo afina, desvanecido e satisfeito, que as minhas conclusões em alguns pontos coincidem, e noutras se aproximam das idéias de outros que, reputadamente, souberam distinguir claro, no confuso phenomeno pathologico que é o banditismo no Nordeste.

O cangaceiro – o profissional do Cangaço, póde ser levado a este meio extremo de vida por diversos motivos. Ora, é a explosão destruidora de latentes instictos de ferocidade sanguinaria, conduzindo ao primeiro assassinato, elo inicial de uma cadeia maldita que acrescerá continuamente até o fim da vida. Dessa forma, surge a escoria do cangaço, a mais perigosa e perversa camada da classe.
São os seus componente criminosos-natos, individuos degenerados a quem o momento sobrevindo, aproveitam gostosamente a ensancha de se encarreirarem no crime.

Um outro grupo, esquerdo e apagado, exercendo a contragosto a singular profissão com um fatalismo melancholico e resignado, é formado pelos criminosos ocasionais, de diferentes matizes, os que por uma circumstancia fortuita, inesperada, uma fatalidade, emfim, bruscamente incidiram nas disposições punitivas do Codigo; e, sem coragem para enfrentarem a perda de liberdade ou os azares do jury, abrigam-se á impunidade aleatoria do cangaço…

Uma outra divisão ainda; a dos revoltados: se os dois primeiros grupos proliferam com a responsabilidade directa do magistrado, por que os meio de acção de este dispõem nem sempre permittem reduzir á obediencia das leis os elementos recalcitantes: os revoltados constituem uma reacção directa da magistratura viciosa e indigna.

O revoltado é o homem a quem a Sociedade, pela boca expressiva de seu magistrado, negou Direito, faltou justiça. Indignado, elle tenta fazer justiça por suas mãos, justiça que não é justiça, por que esta só póde ser impessoal e equânime. Dado o primeiro passo, o revoltado segrega-se do contacto social, homisiando-se em alguma fazenda distante, sua ou de algum amigo. Se não o incommodam, elle recobrará mais tarde sua anterior personalidade. 

De alcateia, porém, durante algum tempo, elle, sendo perseguido reage, lucta. Aggrega companheiros – parentes e asseclas, mantem o pequeno grupo em pá de guerra, no cangaço emfim; o trabalho descurado, intermitente, quasi ineficaz, já não repara as brechas feitas nas pequenas economias. Os recursos se exgottam; surge então os expedientes de pedidos de dinheiro, verdadeiras extorsões que a pequena tropa nomade vae fazendo sertão em fóra. Mais tarde as depredações e tropelias. 

Ou então o grupo cae sob o patrocinio de um potentado, senhor de engenho, dono de grandes latifundios, az ou rei no baralho da politica local. Este dá aos protegidos, muitas vezes, uma occupação pacifica; outras vezes os utiliza nas suas pazzias[4], ou emprezas políticas e… financeiras. Porque atingiu em zonas do interior, v. g.[5] nos Cariris cearenses, á perfeição de uma verdadeira exploração industrial.

O potentado sertanejo é um remanescente do feudalismo medieval; negue, embora, Sylvio Romero a verdade é que o desenvolvimento da colonia recapitula, atravez de formas fustes e camufladas; a história da metropole, e assim não há que extranhar em reconhecer no grande proprietário matuto, o neto do barão feudal.

Com a preoccupação de ostentar força e prestigio, a vaidade dos chefes sertanejos leva-os a acolher e amparar esta escumalha do crime, garantindo-lhe a manutenção e a impunidade. E timbram em afrontar os balbuciantes reclames da justiça local.

Esta, desamparada do poder central, assombrado pelo prestigio politico do temido coronel, reduz-se, annulla-se, dobrando, subserviente, ao capricho dos poderosos.

Vê-se, portanto, que geralmente, de tres fontes recruta-se o exercito do cangaço: os criminosos por indole, degenerados e perversos; os assassinos occasionaes em que se incorporam os criminosos passionaes e, por ultimo, os revoltados, os que torturados pela fome e pela sêde de justiça arvoram contra a Sociedade – emulos de Miguel Kohlhaos, herói citado por Ihering[6] – bandeira sangrenta da rebellião.

Enquadrando o conjuncto, fornecendo ao meio de cultura de taes germens os elementos nutritivos substanceais. A figura bastarda de juiz pulsilaneme e desmoralizado, e a catadura bronca do despota sertanejo, chefe politico ou magnata da roça. Cabe, indiscutivelmente, á Policia Militar de todos os Estados interessados, e actuando combinadamente, como já esta se fazendo[7], a destruição de nucleos de bandidos que, exacerbados pela passagem das hordas de Prestes, e dellas tendo recebido admiraveis licções de uma tactica irreprehensivel, mostram agora uma audacia e mobilidade espantosas[8]. E tambem a esta policia impede a vigilancia manu miltari[9], sem condescendencias, e por um largo tempo ainda, de certas paragens mal afamadas que a experiencia historica assignalou como outros tantos locais habituaes de formação cangaceira.

Mas é a magistratura, que devidamente apparelhada, se antolha, principalmente, a grande e nobilitadora tarefa de sanear o Nordeste, esterilizando o ambiente social sertanejo, de maneira a tornar antecipadamente inviaveis, essas larvas monstruosas do Crime: os cangaceiros.

Pode a magistratura realizar este ambicionado desideratum[10]? Póde; dil-o com segurança, o Rio Grande do Norte.

Ouçamol-o, um pouco em sua historia.
Recife 14-6-927

Tercio Rosado Maia. 
Diário de PE-26-07-1927
Diário de PE-26-07-1927
_________________________________________________________________________

Mesmo tendo sido escrito no dia 14 de junho de 1927 e publicado dois dias depois,tenhcomo afirmar se o motivo de Tércio escrever este texto foi devido ao ataque de Lampião a Mossoró, ou outra razão. Encontrei uma referência sobre este artigo no livro “Lampião, senhor do sertão: vidas e mortes de um cangaceiro”, da francesa Elise Grunspan-Jasmin, na página 223 (EDUSP, 2006).
Considerado um dos maiores intelectuais mossoroenses, Tércio Rosado foi também professor em Mossoró, onde lecionou na Escola Normal e no Ginásio Diocesano Santa Luzia, onde seus cursos práticos de agricultura marcaram época. Já no Recife exerceu o magistério na Faculdade de Comércio, Escola Politécnica, Escola Normal Pinto Júnior, Ateneu Pernambucano, Faculdade de Farmácia da Universidade do Recife, Ginásio Pernambucano, Colégio Santa Margarida e Colégio Vera Cruz.

Tércio Rosado Maia faleceu em 8 de novembro de 1960, aos 68 anos de idade.

NOTAS

[1] Ver Diário de Pernambuco, edição de 27 de junho de 1926, página 10.

[2] Ver Diário de Pernambuco, edição de 10 de abril de 1927, 1ª página. O hidroavião português “Argos” havia realizado naquela época a primeira travessia noturna do Oceano Atlântico, era pilotado pelo militar Sarmento de Beires e havia amerissado no Rio Potengi, em Natal, poucos dias antes.

[3] Tout court – Expressão francesa que significa – sem mais nada, simplesmente, tal qual, sem nada a acrescentar. De um modo geral era comum nas primeiras décadas do século passado o uso de expressões em língua estrangeira, principalmente em francês, nos textos publicados pelos intelectuais brasileiros. Tal como acontece atualmente com o inglês.

[4] Pazzias – Em italiano, no plural, significa – loucuras, demências, insanidades.

[5] V.g. – Abreviatura da expressão em Latim verbi gratia, que significa – por exemplo.

[6] Quase certamente nesta parte deste texto houve um erro de transcrição do alemão para o português. Tércio Rosado Maia não comenta sobre uma pessoa, mas sobre um livro intitulado “Michael Kohlhaas” e escrito pelo dramaturgo, poeta e contista alemão Heinrich von Kleist (1777 – 1811). Neste livro Kleist conta a história do negociante de cavalos Michael Kohlhaas, que se engaja contra uma injustiça praticada contra ele. A história do livro se passa em meados do século XVI e a obra foi escrita em 1810, porém, apesar dos mais de 215 anos, é considerado um livro muito atual. As discussões que suscita vão desde os meios que são permitidos na busca da justiça até questões mais amplas como o ideal subjetivo versus a realidade mundana, a liberdade individual versus a opressão governamental, o povo versus o poder. Trata-se de uma história de impotência. Tanto o tema da busca fanática pela justiça quanto o estilo, espécie de crônica longa, são surpreendentemente modernos. Ver – http://www.sul21.com.br/jornal/a-necessidade-de-justica-e-a-solidao-de-michael-kohlhaas/ 

[7] Em 12 de dezembro de 1926, o advogado Estácio Coimbra assume o mais alto cargo no Poder Executivo de Pernambuco. Neste novo governo foi designado como Chefe de Polícia (cargo equivalente atualmente ao de Secretário de Segurança) o também advogado Eurico Souza Leão. Este era filho de tradicional família de plantadores de cana do litoral, morava no Rio de Janeiro, mas não recusou o pesado trabalho. Logo marcou uma reunião para promover convênios com os estados vizinhos, visando uma ação contra o cangaço, contando com o apoio do governador Coimbra. É sobre esta ação combinada entre os Estados que comenta no texto Tércio Rosado. Além desta ação conjunta, ocorreram nos primeiros meses de 1927 outras ações referentes a ação da segurança pública contra os cangaceiros no interior pernambucano que logo trouxeram resultados positivos. Quando completava seis meses a frente do cargo, no dia 11 de junho de 1927, através da imprensa pernambucana, Eurico Sousa Leão divulgou uma lista com o nome, alcunha e fatos ligados a captura ou morte de 100 cangaceiros de diversos bandos que infestavam o sertão.

[8] Acredito que se os cangaceiros receberam algumas das “admiraveis licções de uma tactica irreprehensivel” dos membros da famosa Coluna Prestes, só se foi à distância. Inexistem informações de contatos amistosos entre cangaceiros e membros da famosa coluna de revolucionários comandados por Luís Carlos Prestes, quando estes percorreram vários estados nordestinos em 1926. Neste mesmo, na cidade cearense de Juazeiro do Norte e com o beneplácito do Padre Cícero, Lampião recebeu a famosa e controversa patente de capitão. Junto com a deferência vieram muitas armas modernas, munições e fardamentos para o bando do famoso cangaceiro. O objetivo do Padre Cícero e de outras autoridades era de contar com o reforço dos cangaceiros no combate aos revolucionários de Prestes. Ao perceber o nível de comprometimento e preparo dos homens que compunham a coluna de revoltosos, de forma matreira Lampião evitou o confronto com os revolucionários e voltou à vida errante de cangaceiro, mas agora muito melhor armado e municiado. Este último fato é o que, apesar de toda repressão sofrida, tornou os cangaceiros de Lampião mais audaciosos na primeira metade de 1927.

[9] Manu militari é uma locução latina que significa, literalmente, “com mão militar”, ou seja, “com uso de força militar”. Usa-se a propósito de ações cumpridas mediante o uso da força das armas ou com emprego de força policial ou força armada.

[10] Desideratum – Palavra do Latim que significa aquilo que é objeto de desejo, aspiração, pretensão.

Pescado no essencial Tok de História

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Meca dos pesquisadores

Cariri Cangaço 2015 começa nesta quarta-feira (23)
 


Programação

23 de Setembro – Quarta-feira

CRATO –
20:00hs - LARGO DA RFFSA
Lançamento do Filme – Os Últimos Cangaceiros
Logo após a apresentação da Película,
Roda de Conversa com...
Manoel Severo - Curador do Cariri Cangaço
Wolney Oliveira - Cineasta
João de Sousa Lima – Pesquisador e Escritor
Neli Conceição - Filha dos cangaceiros,
Moreno e Durvinha

Lançamentos:
Segunda Edição da Revista GECC, de Ângelo Osmiro
Lampião e os Coronéis Baianos de João de Sousa Lima

24 de Setembro - Quinta-Feira

JUAZEIRO DO NORTE

8h30hs Visita Guiada
Memorial Padre Cícero
Capela e Cemitério do Socorro
Serra do Horto
Museu Vivo do Padre Cícero
Valado da Mãe de Deus

LAVRAS DA MANGABEIRA

12:30hs Almoço Festivo e Temático
14:30hs Painel: O Pacto dos Coronéis
Moderador: Geraldo Ferraz
Painelistas
Manoel Severo
Sousa Neto
Heitor Feitosa Macedo
Urbano Silva

16:30hs Percurso pelos principais Cenários da Invasão de Lavras por Quinco Vasques
Anfitrião: João Tavares Calixto Junior e Cristina Couto.

17:30hs Solenidade na Câmara Municipal de Lavras
Conferência: Invasão de Lavras por Quinco Vasques
João Tavares Calixto Junior

19:00h Lançamento: Considerações sobre a Invasão de Lavras em 1910 por João Tavares Calixto Junior.
Relançamento: Cangaceiros por Gentil Augusto

21:00hs Ceia Sertaneja na Residência de Dona Fideralina.

25 de Setembro - Sexta-Feira

MISSÃO VELHA

9:00hs  Solenidade na Câmara Municipal
Conferência A Força dos Coronéis do Cariri por João Bosco André
Moderador: Archimedes Marques

Presença especial de dona Orlandina; filha do Cel. Izaias Arruda

11:00hs Visita Engenho do Sítio de Santa Teresa
Moagem Especial Cariri Cangaço. Anfitrião: Cícero Landim da Cruz

12:00hs  Almoço da Fazenda
Família Olegário de SantanaA
Anfitrião Antônio Edson Sobreira Olegário

JUAZEIRO DO NORTE

19:30hs  Memorial Padre Cícero
Painel : As Várias Faces de Cícero, o Santo do Juazeiro.
Moderador: Ângelo Osmiro Barreto
Painel
Emerson Monteiro
Lailton Feitosa
Junior de Freitas

LANÇAMENTOS
Quem Matou Delmiro Gouveia? Segunda edição ampliada de Gilmar Teixeira
Charges com Lampião de Luiz Ruben
Lampião e o Nascimento de Maria Bonita de Voldi Ribeiro

26 de Setembro - Sábado

JUAZEIRO DO NORTE

9:00h  Hotel Ingra Premium
Encontro Nacional do Cariri Cangaço
Posse do Novo Conselho Consultivo
Manoel Severo

Realização:
Instituto Cariri do Brasil
Prefeitura Municipal de Crato
Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte
Prefeitura Municipal de Missão Velha
Prefeitura Municipal de Lavras da Mangabeira

Apoio:
SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
GECC - Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará
GPEC - Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço

Municípios Parceiros
AURORA - BARRO - BARBALHA - PORTEIRAS - CE
SOUSA - NAZAREZINHO - LASTRO - PB
PRINCESA ISABEL - SÃO JOSÉ DE PRINCESA - PB
PIRANHAS - AL
POÇO REDONDO - SE
FLORESTA - PE

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Lampião, de mocinho a bandido

Antonio Vilela conta a saga da valente serrinha do Catimbau contra o cangaço

Por Ronaldo Cesar


O professor e historiador Antônio Vilela está lançando seu novo livro sobre o cangaço: "Lampião - De Mocinho a Bandido - A saga de Serrinha do Catimbau contra o Cangaço". 

A obra foi produzida pela Editora Bagaço, em Recife, e tem orelhas escritas por Jairo Luiz, sócio da SBEC - Sociedade Brasileira para o Estudo do Cangaço.

É um exemplar obrigatório para quem quer saber mais sobre as histórias dos cangaceiros.Sinceramente, o melhor trabalho de Antônio Vilela, em todos os sentidos, pesquisa, escrita e edição.

O livro custa R$ 35 (Trinta e cinco reais) com frete incluso. Peça-o através do e-mail: incrivelmundo@hotmail.com

Das cores das vestes

Uma questão que se elevou é em relação às cores das vestes dos cangaceiros.


Por: Rubens Antonio

Sobre as cores das vestes dos cangaceiros afirmou-se muito pelo kaki e muito pelo azul.

Um mergulho na documentação da época, aponta, finalmente, uma luz para o caso, sendo este o estado atual do conhecimento documental da época. Ambas cores foram usadas, conforme as conveniências e necessidades.

Os registros da década de 1920, em fases de caatinga predominantes, seguem este padrão:




Já um registro de um momento da década de 1930, quando o grupo estava acoitado nas matas de Sergipe e Alagoas, surge este registro:



As antigas vestes dos cangaceiros, em suas fases baianas, foram guardadas pelos auxiliares do professor Estácio de Lima, quando das suas prisões, no final da década de 1930 e início de 1940.
Mais tarde, estiveram expostas no Museu Estácio de Lima, no Instituto Lima Rodrigues.

O professor Lamartine de Andrade Lima, testemunha que eram todas bege - kaki.

O que parece ser a melhor referência a ser seguida, neste momento, é que
- para os momentos e as ações nas áreas de caatinga, o kaki era o registro dominante.
- para os momentos vividos em Alagoas e Sergipe, quando em matas de outras características, o azul emergiu como opção mais camufladora, muitas vezes superando o antigo padrão.
- para os momentos das ações na Bahia, predominantemente em áreas de caatinga, sempre o kaki permaneceu como o registro dominante, mesmo nos estertores com Cangaço.

E esta adaptação às matas de Sergipe e Alagoas, profundamente diferentes da caatinga do Raso da Catharina, também passou a ser seguida pelas volantes. Em jornal de 1933:


Pescado no Açude do cumpadi Rubi

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Gustavo Barroso

Escritor se manifestou a favor do sepultamento das cabeças

Por Raimundo Gomes

Após ser morto em julho de 1938, Lampião e demais cangaceiros foram decapitados e tiveram as cabeças levadas pela polícia. As mesmas foram exibidas em vários locais, foram parar no instituto Nina Rodrigues em Salvador,onde após serem mumificadas, ficaram expostas à visitação pública por mais de três décadas.

Depois de algum tempo, familiares do cangaceiro,inclusive um primo advogado, entraram na justiça requerendo o direito ao sepultamento da cabeça do bandoleiro.

O que eu não sabia é que, já em 1959, Gustavo Barroso fora a favor de que a exibição pública desses restos mortais acabasse e que a cabeça de Lampião fosse entregue aos parentes para o sepultamento.

Leia abaixo a matéria publicada pelo Jornal do Brasil edição de 13 de maio de 1959.





Depois de muita luta, o objetivo dos familiares do cangaceiro será alcançado só em 1969 e a cabeça de Lampião, Maria e demais cangaceiros), será sepultada no cemitério Quinta dos Lázaros,em Salvador.

Atualmente as cabeças de Lampião e Maria encontram-se em Aracaju, sob a guarda da família Ferreira Nunes.