terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Neo Cangaço?

Quadrilhas agem como cangaceiros para roubar cidades 
Bandidos escolhem cidades com cerca de 20 mil habitantes e segurança frágil.

Em Pedra Branca, sertão do Ceará, nesta semana, bandidos armados com fuzis tomaram as ruas, fizeram reféns e assaltaram dois bancos ao mesmo tempo.

“Eu nunca tinha visto nem arma, o tanto que eu vi”, comenta um morador.

As cenas têm se repetido em pequenas cidades do interior e lembram os tempos de Lampião, o rei do cangaço. O Fantástico investiga: quem são esses novos cangaceiros?

Só esta semana, além do assalto em Pedra Branca, os novos cangaceiros atacaram em Canarana (MT) e Santa Bárbara (BA). São várias quadrilhas que atuam da mesma forma. Escolhem cidades com cerca de 20 mil habitantes e segurança frágil. Chegam com artilharia pesada, capaz de derrubar até um avião. A polícia não tem como reagir.
“Geralmente, o armamento é terceirizado de outras quadrilhas, e eles atuam de uma forma muito bem coordenada”, aponta o sociólogo da UNB Antônio Flávio Testa.
O sociólogo compara a tática de cercar e saquear cidades do interior com a ação dos antigos cangaceiros, liderados por Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião. Nas décadas de 20 e 30, Lampião e seu bando eram rebeldes com motivações políticas, mas que também roubavam, matavam e violentavam mulheres.
“Eles levavam de fato o terrorismo”, confirma Testa.
Os cangaceiros do século 21 também espalham o medo. Nova Mutum (MT) viveu um dia de pânico em fevereiro do ano passado, como mostrou a reportagem do Fantástico. Cerca de 60 pessoas que estavam no banco foram usadas como escudo humano. É mais uma característica desse tipo de assalto.

“As ações desse grupo causam um grande trauma às localidades em que atuam”, diz o procurador de Justiça de Minas Gerais André Ubaldino.

Fomos a Pedra Branca, município a 260 quilômetros de Fortaleza. Os assaltantes praticamente fecharam a cidade durante uma hora. Ninguém entrava e ninguém saía. O comércio teve que baixar as portas.

Terça-feira passada era dia de pagamento. Os bancos estavam lotados. Imagens de um cinegrafista amador mostram um dos 15 assaltantes, de capuz e fuzil, cercado de reféns. Enquanto a agência era roubada e as pessoas mantidas reféns, parte da quadrilha agia na mesma rua, a poucos metros dali. Os ladrões roubaram os dois bancos da cidade ao mesmo tempo.

Ao todo, 19 pessoas ficaram sob a mira dos bandidos, como reféns. A professora Eliane de Abreu foi uma delas:  
“Eles já entraram anunciando o assalto, que todo mundo deitasse no chão. Eu lembrava primeiro de Deus e depois da minha filha”, conta Eliane.
Foram mais de 50 tiros, dizem os moradores.

Pedra Branca só tem nove policiais, somando civis e militares. Ninguém quis dar entrevista.
“A polícia não tem arma para lutar com uns bandidos daqueles”, destaca o aposentado Chico Miguel.
As quadrilhas têm usado nos assaltos metralhadoras e fuzis .50, que entrariam pela Bolívia e pelo Paraguai. Foi uma arma do mesmo calibre que derrubou o helicóptero da Polícia Militar no Rio de Janeiro, há três meses.

Cláudio Alves da Costa, preso mês passado, é um dos novos cangaceiros suspeitos de trazer esse tipo de armamento. Com tamanho poder de fogo, eles também estão se especializando em outro tipo de ataque.
“Em nossas investigações, em conjunto com a Polícia Civil e o Ministério Público de Minas Gerais, ficou evidenciado que quadrilheiros atuam no roubo aos carros-fortes”, avisa o delegado Wanderson da Silva.
Minas Gerais já prendeu 52 cangaceiros nos últimos cinco anos. Entre eles, João Ferreira Lima. Com frieza, o bandido revela como atirava em carros-fortes:  
“Primeiro dá um tiro no motor, na frente do motor, e fura o motor para ele parar. Depois você mira e dá no canto do vidro. Não mira no meio do vidro, porque quando você mira no meio do vidro pega no peito do motorista. Então, você dá em cima para ele saber que perfurou, para ele ter a ciência que perfurou. Enquanto para, aí o pessoal desce, vai lá e manda abrir”.
A polícia prendeu João Ferreira Lima em fevereiro passado, em Tocantins. No carro, uma metralhadora antiaérea e munição. Ele planejava roubar uma tonelada de ouro na Venezuela. Foi condenado a 113 anos de prisão por roubo, sequestro e assassinato.

Em 2009, os novos cangaceiros agiram em 11 estados, principalmente no Maranhão, e roubaram pelo menos R$ 5 milhões.
“Eles crescem porque o mercado é potencialmente muito rico”, afirma o sociólogo Antônio Flávio Testa.
Em Pedra Branca, os criminosos levaram cerca de R$ 500 mil, de acordo com a polícia. Duas pessoas ficaram feridas e dois suspeitos foram presos. Os aposentados estão desde terça-feira sem receber o dinheiro do mês. As agências só reabrem nesta segunda-feira.
“Eu moro a 49 quilômetros e agora eu fico parado aqui, até segunda-feira. Sei nem se tem segunda-feira, né?”, reclama o aposentado Evaristo Pereira.
A paz da cidade de 42 mil habitantes deu lugar ao medo.
“Estou assustada com tudo, tomando remédio. Tão cedo não vou ao banco. Não sei se eu tenho coragem”, diz a professora de educação física Eliane de Abreu.

Matéria do programa Fantástico no ultimo domingo (Foto: reprodução TV Jangadeiro)
Assista ao vídeo no site do Programa Clicando Aqui

2 comentários:

  1. KIKO< IGONORE O PRIMEIRO. PUBLIQUE ESTE:

    Furto-me a comentar, pois qualquer coisa que seja dita em contrário, já vai ser rebatida, uma vez que esta associação das atividades do tráfico com o cangaço ou com quadrilhas de 'arrombadores de banco' já está enraizada na mentalidade até dos leigos.
    Dizer que não há relação entre um e outro é perda de tempo e de neurônio.
    Como diriam os antigos romanos:
    "Plus est in opinione quam in veritate" (Há mais na opinião do que na verdade).
    Acrescente-se, pois, mais essa 'verdade' às muitas enraizadas pela análise tosca do fenômeno do cangaço: os cangaceiros de ontem, são os traficantes ou 'arrombadores' de hoje. E acabou-se!
    Adiante discutir? Não, pois a GLOBO já deu a palavra final. Como muita gente forma opinião através do que ouve por ali, é perda de tempo insistir no contrário.
    Abraço
    Sérgio.'.

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  2. Caríssimo Sergio estamos em comum pensar.
    é uma alienação da mais alta hipocrisia.
    Quando assaltam um banco no Sul ou no Sudeste... São quadrilhas especializadas, certamente facções ligadas ao PCC com suporte das FARC, mas se é no Norte Nordeste... Ah aí estão os Neo Cangaceiros agindo novamente sob os ensinamentos de Lampião.

    Tenham paciência estes jornalistas e principalmente este sociólogo vá ler mais sobre cangaço.

    Coerdiais saudações.

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