O culto histórico ao banditismo no Brasil e o esquecimento dos heróis de ontem e de hoje
Por Filipe Bezerra*
Poucos personagens históricos são tão simétricos quanto o Capitão João Bezerra e o Xerife americano Wyatt Earp. Ambos – heróis do mundo real – foram os policiais responsáveis pelo combate ao que seria o primeiro caso de crime organizado em seus países.
Wyatt Earp enfrentou a sanguinária gangue dos chamados “Cowboys” que provocava pânico, destruição e assassinatos nas cidades do velho oeste americano. João Bezerra foi o homem que se embrenhou no sertão nordestino e escolheu como missão de vida acabar com o flagelo do Cangaço. Em ambos os casos o assombro da criminalidade desenfreada, regida pelo desprezo à vida e ao patrimônio alheios como também movida pela ação de bandidos violentos, mostrou a incapacidade do estado da época de proteger seus cidadãos das ações destes bandos armados.
Foi a coragem pessoal destes dois homens, que enfrentaram à época estas quadrilhas à bala – e com enorme risco pessoal -que permitiu que a paz voltasse a reinar aos lares de gente humilde do interior.
Mas enquanto os americanos celebram até hoje Wyatt Earp como uma lenda digna de produções hollywoodianas, João Bezerra foi relegado ao mais absoluto ostracismo histórico no Brasil. Mesmo os integrantes das forças de segurança pública sequer ouviram falar deste homem cuja biografia seria motivo de orgulho e celebração de qualquer mentalidade nacional sadia. Todos ouviram falar do bandido Lampeão, mas quase ninguém conhece a história dos vários anos de caça aos cangaceiros nos secos e espinhosos sertões nordestinos promovidos por aquele legítimo herói brasileiro, e a épica operação anfíbia capitaneada por ele que deu cabo ao mais perigoso bandido da história do Brasil.
A opção flagrante da classe falante nacional pelo banditismo, sobretudo na mídia e na academia, é um produto direto do marxismo cultural. A polícia, tenha ou não razão, sempre foi vista historicamente como uma instituição burguesa que existe apenas para reprimir os “excluídos da sociedade” e manter o status quo demandado pelas “elites”. Já para os bandidos, do facínora Lampeão ao menor estuprador e assassino cruel Champinha, toda a complacência é pouca!
A promoção desta esquizofrênica mentalidade que inverte os papéis dos mocinhos e dos bandidos, demonizando os primeiros e canonizando os últimos não veio de hoje e o cangaço, celebrado nos filmes de Glauber Rocha, é apenas mais um exemplo disso. Não é de se estranhar que o bandido tenha virado ícone histórico e o grande herói dessa história se mantenha deliberadamente esquecido, ao contrário do seu congênere americano.
Na semana em que o presidente argentino Maurício Macri foi ao hospital visitar um policial baleado( mostrando involuntariamente aos brasileiros que ainda existe bom senso na vizinhança) nos resta trabalhar para que a normalidade da mentalidade nacional seja restaurada, o que pode ser iniciado inclusive ao fazer, neste momento, uma singela manifestação de justiça histórica(ainda que tardia):
Que Deus guarde bem a alma do bravo e valente Capitão João Bezerra, herói brasileiro!
*Filipe Bezerra é Policial Rodoviário Federal, Bacharel em Direito pela UFRN, Pós-Graduado em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera-UNIDERP, Bacharelando em Administração Pública pela UFRN e membro da Ordem dos Policiais do Brasil.
Pescado em Ótica Policial
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