sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A mulheres....

E a ilusão do Cangaço

Org. por Aderbal Nogueira

Minha opinião sobre a vida no cangaço: " Uma vida miserável " em todos os sentidos. Sofrimento físico, privações básicas, violência extrema, fome, sede, etc. Para as mulheres, então? Dessa vez não sou eu quem digo, são alguns dos próprios sobreviventes. Não endeuso cangaço, eu estudo o fenômeno do cangaço. Escutem com atenção os depoimentos e vejam a diferença entre o que eles dizem da situação no cangaço e muito do que já foi escrito.

Ao reler o livro "Sila, uma cangaceira no Divã" de Daniel Lins encontrei uma citação da biografada que retrata exatamente o que chamo de "A ilusão do cangaço".
"Sim, eu tinha medo dos cangaceiros, porém, como todas as mocinhas da minha época, eu sonhava em conhecer aqueles homens valentes. Estava dividida: atração e repúdio. Qual a jovem que não sonha com uma aventura? Apesar da crueldade atribuída aos cangaceiros, na minha imaginação pareciam sair diretamente de um conto no qual o terrível e o belo coabitavam: era o real brigando com o irreal. Valentes, ricos, marginais para uns, heróis para outros, desafiadores da ordem, os cangaceiros eram fonte de sonho e pesadelos, curiosidade e desprezo, amor e ódio."



Coletânea (fragmentos) de depoimentos de ex-cangaceiros(as) colhidos dos seguintes documentários:

- A mulher no cangaço – [Hermano Penna], Globo Repórter, 1976
- A musa do cangaço – [José Umberto], 1981
- O último dia de Lampião- [Maurice Capovilla], Globo Repórter, 1975.
- Sila – Com participação especial de Adília companheira de Canário. [Aderbal Nogueira], Laser Vídeo SBEC 1999.
- Candeeiro (depoimento do ex-cangaceiro Manuel Dantas Loiola) - [Aderbal Nogueira], Laser Vídeo/SBEC 1997.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Outra leva de novidades...

...E relançamentos que compõem a mini bienal do maior encontro de cangaceirólogos do Brasil

Lampião, morreu assim pela 4ª vez

Lampião foi envenenado? Esta pergunta tem sido feita com muita constância 
pelos pesquisadores interessados na vida de Lampião. E a resposta foi dada pelo 
médico Dr. Leandro Cardoso, durante apresentação dos resultados de seus 
estudos a este respeito, através das análises feitas sobre os prováveis venenos 
utilizáveis à época, e seus respectivos efeitos nas vitimas, contribuindo assim 
para elucidar as questões levantadas a este respeito. 

O mesmo trabalho encontra-se transcrito na integra no presente livro, e foi apresentado em primeira mão na 2ª edição do Cariri-Cangaço.


Alguém traiu Lampião?  A entrevista feita com Joca Bernardo, traz a resposta 
à esta pergunta, dada de viva voz pelo mesmo ao autor deste livro, reincidente 
entre os estudiosos do assunto.

A nova edição conta com 317 páginas.
Valor de lançamento : R$ 45 (Quarenta e cinco reais)

"Dé Araújo" será imortalizado por Geraldo Ferraz



Trata o presente trabalho, em especial, da biografia, resumida, de um cidadão sertanejo, que, achando-se injustiçado, resolveu pegar em armas para executar sua vingança. Na sua espetacular trajetória de vida, tornou-se cangaceiro – ao ingressar no grupo liderado pelo Sinhô Pereira -,  incorporou-se a Força Pública de Pernambuco, virou desertor, reassumiu as fileiras do cangaço – mais uma vez sob o comando do Sinhô Pereira e, logo  a seguir, ficou sob a chefia do temível Lampião -, até o momento que não mais compactou com os bandoleiros, e, finalmente, sendo convencido por familiares e amigos, a tentar a sorte no Sudeste brasileiro, se incorporou no Regimento de Cavalaria da Força Pública de São Paulo e tornou-se um militar exemplar.

• Valor de lançamento R$ 40 (Quarenta Reais).

Aninha e Paulo resgatam um capítulo perdido


Sítio dos Nunes de Flores, vive Saga cangaceira é o fruto da parceria entre a professora e pesquisadora Ana Lúcia Granja e Paulo Medeiros Gastão.

Um relato de crimes praticados por cangaceiros no distrito de Sítio dos Nunes, Estado de Pernambuco. O Processo é instaurado na Comarca de Flores e se passa no ano de 1928.


Este documento encontra-se na integra, sendo o primeiro a ser lançado para deleite dos leitores do cangaço em território nacional.

Lembramos aos aficionado do cangaço que a tiragem da 1ª edição é limitada. Sendo de agradável leitura e trazendo fatos nunca descritos desde o primeiro livro que retrata o cangaço.


Valor de lançamento R$ 15,00 (Quinze reais)

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Posteriormente faremos a divulgação e forma de aquisição para os rastejadores de todo país. E como bem disse o confrade Honório de Medeiros - " Preparem os corações e mentes, aficionados da história do Sertão nordestino: Vem aí o...

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Crônica

O cangaço de Boca em boca
Por: Rangel Alves da Costa(*)


Phabio Pio
Os fatos acontecem e posteriormente são interpretados e reinterpretados, produzindo conhecimento acerca do fenômeno ocorrido. Tal processo implica, necessariamente, na tomada de posições que se voltam para preservar a maior proximidade possível da realidade ou do fato ou mesmo disseminá-lo sem qualquer compromisso com a verdade. E isto, nas duas vertentes, aconteceu com o cangaço.
O que se tem hoje é uma diversidade de feições sobre o mesmo fenômeno, mas disseminadas em vias paralelas: uma que se oficializa como interpretação do cangaço, através dos estudos realizados, e outra através do senso comum, da concepção própria de cada um, das posições tomadas e que são alardeadas boca a boca. A primeira busca se aproximar da verdade histórica; a segunda produz uma verdade segundo a conveniência pessoal.


Fred Ozanan


Com relação ao cangaço, o senso comum, ou seja, aquele conhecimento que o ser humano vai adquirindo, por experiência cotidiana, ao longo dos anos, acaba se transformando num imaginário coletivo onde estão refletidas as concepções populares acerca do cangaceirismo. Desse modo, é a imaginação popular que passa a valorizar ou desvalorizar o fenômeno, a concebê-lo da forma que pressuponha ter acontecido ou mesmo buscar na inventividade um modo de dignificar ou de macular.


Weine Vasconcelos
De qualquer sorte, a noção que um estudioso ou pesquisador possui do cangaço geralmente se diferencia muito da visão que uma pessoa comum possui sobre a mesma saga sertaneja. A pessoa desprovida de análise mais aprofundada tenderá a imaginar o cangaço como um todo dentro da mataria, sem se preocupar com suas causas, motivações e percursos. Já o pesquisador procura compreender as partes desse todo.

O sertanejo comum, muito menos que um movimento de revolta, de contestação armada ou de banditismo social, ou mesmo como grupo organizado de sublevação à lei e à ordem social, proporá uma concepção que vai desde o mítico ao modo simplista de se fazer justiça pelas próprias mãos. E, diferentemente da concepção acadêmica, passa a mostrar uma clara tendência a sacralizá-lo ou excomungá-lo.


Daniel Guimarães

Longe de explicações academicistas, de refinamentos conceituais ou de arcabouços teóricos, a visão tida pela maioria das pessoas é a mais realista possível, ainda que possa não corresponder à verdade. Fruindo puro do que ouviu ou do que aprendeu, não há muito lugar para refinadas interpretações no conhecimento vulgar. A maioria das pessoas se contenta em ouvir e falar sobre o cangaço a ler sobre as versões existentes ou mesmo conhecer mais profundamente seus meandros.
Muitas vezes traz da nordestinidade, da elevação do seu herói conterrâneo, uma defesa já pronta, já na ponta da língua. Do mesmo modo que santifica a figura do Padre Cícero, a maioria dos sertanejos - estes priorizando o imaginário - poderá fazê-lo com relação a Lampião. Não é de se admirar que alguns coloquem o rei dos cangaceiros no mesmo patamar do Padre do Juazeiro, de Antônio Conselheiro e Frei Damião. Daí que aquela cruz fincada na boca da Gruta do Angico possui uma extrema significação para o nordestino.


O beijo de Lampião, Anna Anjos
E não haverá acadêmico ou pesquisador que possa fazer o sertanejo pensar de outro modo. Jamais aceitará que digam que Lampião não passou de um bandido feroz, um assassino cruel nem que o bando se prestou apenas a levar a morte, o medo e o terror por todo lugar aonde chegasse. E na ponta da língua do caboclo estará que aquele povo das caatingas teve coragem de enfrentar os poderosos e combater as injustiças sociais. E ainda que naquele tempo havia homem verdadeiramente valente para enfrentar o que de pior existia.

Neste último aspecto, o que se tem é a visão cimentada do cangaço como algo justo, necessário e que ainda hoje seria de muita serventia para combater as injustiças que se alastram. Eis o imaginário nascido da idealização do cangaço como fenômeno justificado pela injustiça se alastrando em todos os quadrantes sertanejos, fazendo preponderar aquela saga como uma luta em busca de justiça na carcomida sociedade nordestina de então. E que continua.


Cybele Varela
Para a maioria dos sertanejos, falar em cangaço é dizer da valentia e do destemor daqueles bravos errantes das caatingas, é dizer das estratégias matutas para fugir do encalço da volante perseguidora, é asseverar do romantismo daquela vida debaixo da lua e do sol, é pensar aquele modo de vida como uma grande aventura. Aquelas roupas, aqueles adornos, o ouro brilhando desde o chapéu à ponta dos dedos, tudo tão belo e atraente. Assim, não se volta para as vinditas sangrentas em si, mas sempre para os aspectos e aparatos grandiosos que envolviam os cangaceiros no seu percurso.

As explicações oferecidas através do senso comum não são consideradas pelos estudiosos por diversos fatores. Afirmam os pesquisadores que as pessoas tendem a misturar noções pessoais a um fenômeno muito mais abrangente; que procuram enxergar apenas o fato e desprezam todo um cenário que estava por trás e movia o cangaço; que geralmente se posicionam para opinar sobre o heroísmo ou o reles banditismo de Lampião.


Fagner Bispo
Com efeito, o imaginário comum sobre o cangaço não é muito diferenciado, nos tempos atuais, das concepções controversas travadas em torno da religião, do futebol, de partidos políticos e candidatos, bem como dos acontecimentos cotidianos. Cada um fala com cátedra, defende sua posição e até acirra a discussão se o outro for frontalmente contra seu posicionamento ou sua bandeira.
Nesse entremeio de paixões e abominações, eis que surge o cangaço como a luta maior de um povo sofrido ou como um bando de baderneiros e violentos que aterrorizava o pacífico sertão. Contudo, insista-se em dizer, são concepções sempre nascidas de uma tendência pessoal, de relatos ouvidos e acreditados, de suposições que foram se firmando como verdades. Daí que pouco frutificará o trabalho daquele que pretenda ensinar ao sertanejo outro modo de pensar o cangaço.

Como ocorre com toda paixão popular, não só de defensores vive o cangaço. Mesmo que a maioria dos nordestinos se orgulhe dos feitos de Lampião e seu bando, há aqueles que ainda hoje fazem o sinal da cruz só de ouvir qualquer referência. E quando maldizem sua existência vão buscar no ferro em brasa de Zé Baiano, no mito das criancinhas jogadas para o alto e esperadas na ponta do punhal, no assassinato covarde de sertanejos inocentes, dentre outras versões cangaceiras, a sua feição mais negativa.

Gontran Guanaes
Mas nenhuma forma de desonra parece ter o poder de se sobressair ao culto quase sacralizado que a maioria dos sertanejos ainda conserva com relação ao cangaço. Pouco importa se Lampião foi herói ou bandido, se o seu bando foi responsável pela morte de inocentes ou se o medo se alastrou pelos sertões durante o seu reinado. Nada disso importa quando a consciência popular já firmou o entendimento de que o cangaço, e principalmente Lampião, é o próprio Nordeste na sua bravura maior, na sua luta incessante contra todas as injustiças.

Juliana Araújo

Herói ou bandido? Depende de quem esteja do outro lado. Não é um fraco e sem motivos que sua e sangra aquela luta; mas também não é virtuoso quem tanto, além do inimigo, faz sangrar na luta. E não apenas o sangue escorrendo do ser, mas também a vermelhidão do pavor.

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(*) Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

Poeta e cronista
Pescado in www.blograngel-sertao.blogspot.com

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Missa de um mês

Convite

Acontecerá neste domingo 25/08, às 9:00h,  na Matriz de Arco Verde - PE a missa dos 30 dias de falecimento do Sr. Manoel Dantas Loiola

Manoel Dantas Loiola o ex cangaceiro Candeeiro
Foto: Cid Barbosa/DN

A Família ainda enlutada agradece o comparecimento e a participação de todos. Assim como os contatos e apoio, vindos dos diversos amigos e parentes, espalhados pelo Brasil, naquele momento de tristeza e dor.

Att Kydelmir Dantas
Mossoró - RN

Eventos históricos

O cangaceiro Lampião no banco dos réus

Por Paulo César Gomes

Lampião foi absolvido! Essa frase que é recheada de elementos que perturbam a cabeça de curiosos e estimula o trabalho de pesquisa de estudiosos do cangaço no Brasil e no mundo, foi dita em alto em bom tom no dia 13 de abril de 2002, no Sítio Passagem das Pedras, a 46 Km da cidade de Serra Talhada – PE, ao lado da casa onde Lampião nasceu. Nesta data ocorreu o julgamento (simulado) do Rei do Cangaço, um evento que foi organizado pela Fundação Cultural Cabras de Lampião, presidida pelo escritor pesquisador Anildomá Willans de Souza (Domar).

O julgamento foi conduzido pelo juiz Assis Timóteo Rodrigues, que na época atuava pela Comarca de São José de Belmonte; a defesa de Lampião foi feita pelo advogado Franklin Machado e a acusação pelo historiador e ex-prefeito Luiz Lorena (representando o Ministério Público). O conselho de sentença – que foi formado após sorteio – era composto de intelectuais, historiadores e advogados de vários estados do Nordeste. Virgolino Ferreira da Silva foi representado pelo saudoso ator, poeta e coreografo Gilvan Santos.


Antônio Amaury foi assistente da defesa.

O evento atraiu pessoas de diversas regiões do Brasil, somando cerca de 400 pessoas, inclusive estudantes de História e Turismo das universidades do Rio Grande do Norte e Pernambuco. Durante duas horas e meia, essa plateia acompanhou atentamente sob o sol da caatinga os ataques e defesas em torno da figura lendária e controversa de Lampião, o maior dos cangaceiros.

“Absolvê-lo é condenar a história da minha Serra Talhada”, apelou exaustivamente, o promotor Luiz Lorena. Já a defesa recorreu a elementos históricos, como a impunidade dos coronéis, os esbulhos de terra, a perseguição aos pobres, para apontar Lampião “como um fruto do meio”. Em determinados momentos, dava-se a impressão que Lampião estava em carne e osso no sítio, tal era o envolvimento da plateia, dos advogados e do juiz Assis Timóteo.

Após ouvirem as alegações da acusação e da defesa, cada jurado declarou o seu voto e, coube ao ex- presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) – seção Serra Talhada –, Jânio Carvalho, o voto que absolveu Lampião pelo placar de 4×3. Emocionada, a neta de Lampião, Vera Ferreira, abraçou calorosamente o ator que representou o seu avô. Após a leitura da sentença, o escritor Hilário Lucettti (Crato – CE), que fez parte do júri e pediu a condenação de Lampião, expressou o seu desejo de recorrer da sentença.

Mas o juiz Assis Timóteo esclareceu que por se tratar de um júri popular simulado, não cabiam recursos e nem apelações uma vez que essas regras não foram estabelecidas. Na verdade, Lampião já fora inocentado em outubro de 1997 pela prescrição do último processo que tramitava contra ele. O juiz Clóvis Silva Mendes, que na época ocupava a comarca de Serra Talhada e de Flores, inocentou Lampião de uma ação datada de 1928. Nesse processo o cangaceiro era acusado de matar três homens em 1925.

Adendo: Reveja um vídeo de Aderbal Nogueira com  compacto deste evento.


Independente de todas as controversas, ou não, que rodeiam o universo no qual foi edificada a figura de Lampião, uma coisa é certa, a história do cangaço e do povo nordestino é encantadora, marcada por passagem de lutas e de pioneiros. Uma expressão verdadeira da identidade cultural e social do povo brasileiro.

Lampião foi bandido sim! Praticou e o foi vítima de atrocidade, e isso ninguém será capaz de mudar, mas não podemos negar que a sua história é repleta de simbolismo e cultura, fatores que são não podem serem desprezados pela nossa população. Eventos como o que narrei aqui, ajudam a promover o nome de Serra Talhada no cenário regional, nacional e mundial, o que passar a ser uma forma legitima de recuperar todo o prejuízo econômico provocado pelo cangaço.
 Pesquei no Farol de Noticias

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Cariri Cangaço 2013

Alguns dos lançamentos já confirmados para o grande evento

Luiz Ruben reuniu todos os planos de..."Como Capturar Lampião"

Pesquisando os jornais da Bahia, começando do ano de 1928 até o final da década de 30, dentre eles, A Tarde, Diário da Bahia, Diário de Notícias, O imparcial, Nova Era, incluindo também jornais de outros estados, como, A República, de Alagoas, Diário Oficial do Poder Legislativo de Pernambuco, além dos Boletins da Polícia Militar da Bahia, para um trabalho onde parte dele publiquei em outros livros, observei que existia uma preocupação muito grande, não só do estado, mas, uma verdadeira fixação de grande parte da sociedade civil, com o extermínio do grupo de Lampião.

Foi publicado na época, além das estratégias do estado, ideias, algumas absurdas e fantasiosas de como fazer isso. Assim, resolvi extrair da minha pesquisa, a parte que encontrei sobre esse assunto e transcrevo as matérias ao longo do livro....

Preço: R$ 30,00 Livro (142 páginas)

Paulo Gastão nos diz "Quem é Quem no Cangaço"

Novo trabalho do pernambucano Paulo Medeiros Gastão, 74, trata-se de uma obra referência que funciona como ponto de partida para quem quer conhecer a ‘literatura cangaceira’.

O livro, originalmente publicado em 2012, traz uma vasta lista com nomes de autores de todo o Brasil que abordaram o tema em várias épocas – os potiguares Lauro da Escóssia, Juvenal Lamartine, Câmara Cascudo e Iaperi Araújo são alguns dos citados na obra.

 Valor: R$ 30,00

Fonte: Tribuna do Norte www.tribunadonorte.com.br



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Ciao Merlettá

A volta italiana da Muié Rendera – A interessante e inusitada História de um filme sobre o Cangaço

ocangaceirox

RESUMO
O cangaceiro é personagem marcante no cinema brasileiro, ligado a uma dada mitologia do sertão e a uma perspectiva regional. Associado ao filme de cangaço, reapropriação do western, mereceu poucas representações em cinematografias estrangeiras e por isto causa surpresa a produção, na Itália de 1970, do filme O cangaceiro,de Giovanni Fago, que pretendemos analisar à luz de algumas interfaces com elementos da cultura brasileira.  Consideramos a dupla apropriação do gênero (western, filme de cangaço, western spaguetti), e as atualizações temáticas, pensando as transgressões aos modelos canônicos, a partir de uma singular absorção de conteúdos historicamente definidos.

Como traduzir para o italiano a expressão “Olê, muié rendera”, tema musical do filme O Cangaceiro e canção popular do folclore nordestino? Foi esta estupefação de minha amiga napolitana naturalizada que me deu as coordenadas iniciais deste texto. Para chegar a Ciao merlettá ela me descreveu todo o percurso dessa transcodificação linguística: “Olê” seria “ciao”, ”salve”,  e “rendeira” é “merlettaia”: Ciao merlettaia, ciao merlettà…? O “ciao”, que em italiano significa “salve” (“oi”) e “arrivederci” (“até logo”), era muito usado em músicas populares ligadas ao trabalho ou à guerra: “Bella ciao”, “Ciao amore ciao“. O “merlettà” seria um neologismo, aceitável porque é possível cortar a sílaba final de uma palavra desse jeito, sobretudo num italiano mais popular.
Essa explicação me serve como uma luva, porque na verdade estou lidando com transferência de códigos, intertextualidades, adaptação, remake.

E me serve porque aqui temos um procedimento usual neste gênero de operação de linguagem: aproximamos sentidos, imaginamos associações, sintetizamos ou ampliamos conceitos, montamos correspondências. Tudo em nome de estabelecer uma relação de contato, diacrônica ou sincrônica, com um fato original de cultura no momento de transpô-lo a outro sistema de referências. Pois esta introdução certamente localiza nosso assunto, uma reflexão assistemática sobre o filme O Cangaceiro. Não o original escrito e dirigido por Lima Barreto, com diálogos de Rachel de Queiroz, realizado em 1953 e produzido pela Vera Cruz. Não este, premiado em Cannes como melhor filme de aventura e também como melhor trilha sonora – o clássico “Muié Rendera” – interpretado por Vanja Orico e com coro dos Demônios da Garoa, um filme que teve ampla circulação internacional.

Cartaz de um dos filmes de western dirigidos pelo italiano Giovanni Fago
Cartaz de um dos filmes de western
dirigidos pelo italiano Giovanni Fago

Estaremos falando de outro O Cangaceiro, seu sucedâneo italiano, filmado em 1970 por Giovanni Fago, chamado de Viva Cangaceiro nos Estados Unidos, com locações na Bahia e temática associada ao gênero cinematográfico inventado no Brasil, o nordestern. É ele que nos leva a pensar na questão do remake, no universo expressivo do filme de cangaço e suas apropriações e finalmente no que este filme em particular evoca.

remake, ou refilmagem, faz parte do universo das interfaces com obras pré-existentes, onde cabem também a adaptação, a referência e a alusão. Em sua proporção  industrial, o remake é associado à serie, à continuação ou ao ciclo, a domínios expressivos no interior de uma obra ou na serialização de produtos, temas ou estilos. Um campo determinado por um sistema de repetições, já institucionalizado, que integra procedimentos ligados ao universo legal, de direitos e plágios, ou referencial, de citações e iterações. Constantine Verevis se debruça sobre o assunto, e é de seu livro Film remakes que vêm as principais considerações aqui apresentadas.

Citando outros estudiosos, ele identifica três marcas para o remake: a de uma categoria industrial, que lida com assuntos de produção, que envolve estruturas de comércio e negociação de direitos; a de uma categoria textual, que lida com taxonomias e textos, enredos e estruturas; e finalmente a de uma categoria crítica, que lida com recepção, incluindo públicos, com seus processos de reconhecimento e com a consolidação de um discurso institucional. Mas é o uso da variação e da diferença (em relação aos originais) que vai levar a outras categorizações, estabelecidas por Michael Druxman e desenvolvidas por Harvey Roy Greenber: a) a refilmagem estrita, identificável; b) a refilmagem identificável, mas transformada; e c) a refilmagem não identificável, disfarçada (apud Verevis, 2006: 7).

As leituras avançam por esse caminho tortuoso, com variações sobre a similaridade entre obras, a tensão entre inovação e imitação, empréstimos, autoria, questões de autenticidade e de referencialidade, homenagem, imitação ou roubo. Mas não cabe aqui apenas articular conceitos. O que finalmente encontramos é a perspectiva, também rarefeita, de uma estética da diluição, na qual elementos de variadas formas culturais se dissolvem em outros, de maneira indefinida e inconstante, integrando- se ao universo da nova obra gestada. É de uma espécie de solução química que estamos falando aqui, dispersões que montam um sistema homogêneo, inseparáveis do dispersante. O resultado desta operação, entretanto, nem sempre é líquido e transparente. Como em qualquer obra de cinema, aliás.

A ira de Deus

O que motivou Giovanni Fago naquele longínquo 1970 a se debruçar sobre os cangaceiros foi a ideia de que eles eram “bandidos políticos”, ou seja, não apenas ladrões, mas rebeldes com posição firmada contra os latifundiários. Segundo o autor, o filme define-se, assim, pela escolha ideológica de seu objeto: uma posição política forte contra a colonização e o imperialismo. Obviamente ele já conhecia O Cangaceiro, de 1953, grande sucesso comercial na época, assim como alguns filmes do Cinema Novo. Fago argumenta que sua intenção não era fazer uma “releitura comercial” desse fenômeno, até porque respeitava certas características da cinematografia brasileira, a qual, primitiva na aparência, era, na verdade, dotada de grande refinamento e inteligência, animada por forte tensão política e impulso à rebelião. Um cinema que correspondia a suas convicções políticas e sociais, frente aos conflitos da América Latina. 1 Porém, o que define objetivamente o projeto de produção é a aquisição dos direitos da canção do velho filme O Cangaceiro.

Essa perspectiva comercial vai ser um dos únicos elementos de ligação entre a produção italiana e uma larga tradição brasileira de filmes de cangaço. Há toda uma linha de parentesco sustentando esta arquitetura, que começa nos filmes de cowboys, no bangue-bangue, nos filmes de faroeste.
Se o western – considerado o cinema americano por excelência num texto de André Bazin, publicado em 1953 (Bazin, 1991: 204) – sofreu contaminações passageiras, o que, segundo ele, não deve ser lastimado, também resistiu, mantendo os símbolos e signos que o fizeram mitológico. O cenário, a paisagem, a cavalgada e a briga, as referências históricas, “o grande maniqueísmo épico que opõe as forças do Mal aos cavaleiros da justa causa”, a Mulher em sua relação com a Virtude, até mesmo os cavalos, são todas marcas pelas quais se expressa uma ética da epopeia e mesmo da tragédia. Marcas que geram um estilo de mise-en-scène e transparecem numa composição da imagem, os grandes planos de conjunto, a quase abolição do primeiro plano, o travelling e a panorâmica que “negam o quadro da tela e restituem a plenitude do espaço” (Bazin, 1991: 206). Um gênero dotado de situações excessivas, de exagero dos fatos e de uma inverossimilhança ingênua, fundado, entretanto, numa moral que o justifica.

Cartaz do filme brasileiro O Cangaceiro, de Lima Barreto
Cartaz do filme brasileiro O Cangaceiro, de Lima Barreto


Diluindo-se pelo mundo, o western passa pelo Brasil, onde assume a forma do filme de cangaço, tematizando elementos da história local e acrescentando uma tintura cultural própria. O Cangaceiro, de Lima Barreto, é a matriz que vai moldar um longo ciclo que se condensa entre os anos 1950 e 1970, com tonalidades diversas, que vão do filme de aventuras à comédia erótica e que promove um retorno pós-modernizado na virada do milênio. 2

Walnice Nogueira Galvão (2005) associa o fenômeno da sertanização, no qual o representante mais marcante é o cangaceiro, ao regionalismo literário dos anos 1930, às artes plásticas do expressionismo social e engajado dos anos 1940 e ao faroeste americano, como de praxe, bem como a uma certa composição gráfica do cinema mexicano, com suas paisagens desérticas, seus cactos na caatinga, o gado à solta tocado por cavaleiros de sombreros. Rica iconografia calcada no inacabado Que Viva México, de Eisenstein, e suas contrafações. 3 Um circuito de referências que passa obrigatoriamente por Elia Kazan e seu Viva Zapata de 1952, e chega ao western de Lima Barreto, rodado em Vargem Grande do Sul, no interior de São Paulo, com seu contrastante preto e branco, sua luz ofuscante, seu emblemático contraluz dos cangaceiros no pôr do sol, quando o cangaço vira pura mitologia, depois de desaparecido do mundo social desde a década de 1940, com a morte de Corisco.

O Cinema Novo vai retomar o imaginário sertanejo do western, relido numa tecla nacional e popular, e vai ainda segundo Walnice Galvão, ressemantizá-lo num arco cinematográfico em vários segmentos. O primeiro segmento era aquele temporalmente próximo ao golpe militar e aí estará o também emblemático Deus e o diabo na terra do Sol, junto com Vidas secas, Os fuzis e A hora e a vez de Augusto Matraga, certamente o conjunto mais visitado e seguramente, o mais próximo do olhar de Giovanni Fago. O dragão da maldade contra o santo guerreiro, anos depois, completa o grupo (Galvão, 2005: 87).
 
Cartaz da película Deus e o diabo na terra do sol, de Gláuber Rocha, de 1964
Cartaz da película Deus e o diabo na terra do sol,
de Gláuber Rocha, de 1964

Glauber já preconizara, em 1957, a autonomia do cinema perante as outras manifestações artísticas, assim como Bazin, em 1953, caracterizara o western como “filho autêntico e puro do cinema”, no qual o herói se dilui no gênero, que progride em concentração expressiva (Rocha, 1997). Esta é certamente uma boa referência para pensarmos a relação western-cangaço-spaghetti e vermos como O Cangaceiro de Fago se comporta frente a tantas hibridações.

Compañeros 

Na Itália, o western-spaguetti chegou num momento de crise da indústria cinematográfica e dos grandes estúdios. No entanto, para que lembremos que a releitura do western expandiu-se por toda parte e não foi só uma invenção italiana, o primeiro faroeste europeu é, na verdade, alemão. Refiro-me a O Tesouro dos renegados, de 1961, as aventuras de um índio chamado Winnetou, filmado na antiga Iugoslávia por Harald Reinl (Carreiro, 2009).  De todo modo, na Itália foram rodados mais de 600 filmes nas décadas de 1960 e 1970, insuflando um pouco de oxigênio ao gênero, já desgastado, através do fomento à aparição de uma galeria de novos cineastas-autores, da composição de um elenco estelar multinacional, sem o peso da história de sua matriz americana. Boa parte dos cineastas possuía inclinações à esquerda, valendo-se das mitologias do gênero e das revoluções (principalmente da mexicana, aproveitada à exaustão), uma levada pop, uma música onipresente, expansão do campo temático das histórias, maxi-valorização da paisagem e dos recursos técnicos contemporâneos, do zoom intenso à moldura dos rostos em primeiro plano, valorizando a profundidade de campo, e mais as explosões apresentadas em uma montagem lacônica, dando sempre a impressão de faltar alguns fotogramas.

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Giovanni Fago mantém desse universo, a moldura
e a embalagem, mas vai buscar outros conteúdos.

Ele se cerca de muitos cuidados. Seu roteirista é Bernardino Zapponi, que trabalhou com Fellini em Satyricon, Os palhaços, Roma, Casanova e muitos outros. A música cabe a Riz Ortolani, compositor experiente, com participação em mais de duzentas trilhas. Conta ainda com a colaboração do fotógrafo Alejandro Ulloa, que trabalhara com Sergio Corbucci, Umberto Lenzi, Enzo Castellari e muitos outros. Uma equipe afiada! O ator principal, Tomas Milian, vinha de uma carreira marcante no western-spaghetti, e no mesmo ano participa de Compañeros, um filme de Sergio Corbucci, na companhia de Franco Nero. Esse filme que, por várias razões, guarda muitos pontos de contatos com O Cangaceiro, entre os quais o de que ambos foram co-produções ítalo-espanholas.

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Ao som de “Muié rendera”, a trama tem início com um ataque da polícia a um bando de cangaceiros, sitiados num vilarejo. O coronel Minas coordena o extermínio do bando de Firmino… e para seu azar, nesta confusão a vaca do camponês Expedito é fuzilada. Expedito é recolhido pelo beato Julião das Miragens, que lhe ensina o valor da justiça, de um Cristo que usa o chicote e pune os maus, distribuindo o que comer e o que beber entre os pobres, e lhe anuncia que ele, Expedito, é o enviado do Senhor, sob o nome de Redentor!

Um acaso, um personagem que é levado a uma situação inusitada, um protetor que o acolhe e instrui, tudo isso compõe uma situação modelar. Mas a caracterização física dos personagens é quase caricata, os diálogos são trespassados por uma ingenuidade cômica que, se não compromete a verossimilhança da narrativa, aponta para um registro de tonalidades mais associadas à comédia de costumes italiana e ecos de Brancaleone.

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Expedito prega nos vilarejos, convocando apóstolos em meio ao desinteresse da população. Mas quem aparece em sua frente é o bando do Diabo Negro, a quem Expedito se apresenta como o novo rei do cangaço, sagrado pelo arcanjo Gabriel para combater pela verdade e a justiça, a cruz e o facão na mão. Convidado a integrar o grupo, outra das situações-modelares do gênero, Expedito recusa e promete ter sua própria gente. A frase do cangaceiro soa quase como ameaça quando estabelece, metaforicamente, a hierarquia das relações sociais: “um facão é mais longo que a mão, mas um fuzil é mais longo que um facão”. E Expedito responde a ela se livrando da cruz.

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Em Angicos, na festa cívica de inauguração da bateria de canhões da cidade, com a presença do cardeal, vemos então o dissimulado Expedito na situação de paralítico, sentado sobre um carrinho de rolimã, mas seu jeito debochado vai levá-lo à prisão, determinada pelo coronel Minas. Na cadeia, ele constituirá seu bando, depois de demonstrar sua astúcia e explodir os canhões. Expedito/Redentor, com as armas que consegue, mata os que o desobedecem, parte para o sertão e ganha notoriedade, passando a ser procurado.

É então que se apresenta sua contrapartida dramática. Num vilarejo, chega um automóvel de classe, dirigido por um holandês louro e elegante, de botas de cano alto e foulard. Munido de livros, mapas e de instrumentos, o homem dirige-se à praia. A população olha com curiosidade o automóvel diferente. Voltando, o homem encontra seu carro totalmente depenado. Só sobrou a estrutura de ferro.

Enquanto ele se indaga o que teria acontecido, cresce sobre seus livros a sombra do Redentor! No contra plano, em contraplongée, Redentor aparece santificado, envolto por um halo solar. O cangaceiro intima o viajante a ler para ele um longo romance sobre o mar. E daí, deste contraste entre a força, a violência e a submissão física e a educação, a leitura e os modos cultivados do europeu vai se estabelecer o elo central da relação entre os dois homens. Esta é a trama principal, denunciada por alguns críticos como sustentada por um homo erotismo casto, demarcando um campo pouco explorado até então pelo gênero e suas derivações, normalmente pré-determinados pelo machismo e pela virilidade.

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O holandês Vincenzo Helfen aproveita-se da atração que exerce sobre o camponês analfabeto e desenvolve essa amizade de acordo com sua estratégia. Torna-se a interface do cangaço com o poder local, e mesmo internacional, do qual será o representante, como veremos, e que implica finalmente a exploração de jazidas de petróleo e a maximização de seus ganhos agregados, tais como a ocupação de mão de obra local e a mais intensa circulação financeira. O holandês é relacionado ao progresso, e o cangaceiro vai ser seu associado contra o atraso do sertão.

Essa oposição qualifica a temática da transição do rural ao urbano, do pré-capitalismo ao capitalismo de ponta, permitindo, assim, que o filme seja inscrito na representação da modernização e da evolução industrial do Nordeste brasileiro. O avanço do segmento agroexportador para o de prospector de petróleo se dará na realidade com a instalação da primeira refinaria do Brasil, a Landulfo Alves em Mataripe, no Recôncavo baiano, em 1956, operações que antecedem o futuro pólo petroquímico de Camaçari. 4 O filme expressa, portanto, uma situação alegórica e quase premonitória, já que estamos presumivelmente nos anos 1930. A pertinência da objetivação do petróleo como mote propulsor da trama, guarda, certamente, relação com o olhar contemporâneo dos anos 1970.\

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Dramaticamente, esse acerto é negociado por Helfen que vai possibilitar a ascensão de Redentor como autoridade no sertão, já que este, depois de perseguido, passa a compor com as autoridades, e extermina os bandos rivais, para que a empreitada do petróleo possa prosseguir. O Redentor torna-se a ponta de lança de um acordo que engloba o poder civil local, os militares, a Igreja e os interesses estrangeiros, representados e patrocinados não só por Helfen e sua companhia petrolífera, mas também por um inverossímil bando de gangsters, como que saídos de uma peça de Bertolt Brecht.
Não faltam emboscadas, tiroteios e mobilizações de tropas, em que, às vezes, um tom contemplativo desarruma a potência de um filme de ação. Como, por exemplo, na caminhada ao pôr do sol, onde quem se alinha na contraluz, em postura desconstrutora e modernizante, são o destacamento militar e mais tarde, o negociador Helfen, num pungente adeus à iconografia do velho sertão.

Essas são transgressões às marcas do gênero, assim como o são a repartição equânime do tempo dramático entre os dois personagens centrais, o louro europeu e o mestiço Expedito, em encontros e confrontos, negociação de armas e tratados de paz, jantares de apresentação, concessões de salvo-conduto e danças de forró em ritmo acelerado, quase de samba. É nessa ocasião que, em um rápido plano, Expedito é visto beijando uma empregada uniformizada, único acesso dramático do universo feminino em relação direta com um dos dois protagonistas masculinos. Um beijinho e só, o máximo de relação hetero permitida.

Os elementos da representação, associados ao gênero e suas diluições, são bastante completos, não faltando os duelos de facão, as feiras, com cantadores e fotógrafos, a relação de subserviência dos camponeses e da própria Igreja. Na história, então, Redentor ganha uma fazenda que quer transformar num paraíso terrestre, prova de sua entrega aos desígnios divinos.

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A trama entra em seu desenvolvimento final, que implica no jorro do petróleo e na aparição dos gangsters americanos comandados por Frank Binaccio e seus homens, fugitivos do governo republicano de Calvin Coolidge por evasão fiscal. O governador decide matar Expedito e, pagando um bom preço, pede que os gangsters lhe tragam a cabeça do cangaceiro. Sentindo-se traído, Expedito culpa o holandês, que aparece e explica que o governador mandou matar todos do vilarejo, responsabilizando-os por acolher cangaceiros.

A vila assim foi evacuada para a perfuração dos poços. Helfen assume sua parte de culpa e denuncia a negociação com Binaccio. É esta traição, que o holandês faz ao governador e ao seu país, que salva o cangaceiro. Helfen define aqui seus afetos e assume junto ao Redentor sua redenção. Esta união, movida por vingança, provoca a morte dos gangsters e do governador e o apaziguamento da região.

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Encontro na duna, Expedito e seu bando, Vincenzo Helfen partindo de vez.

Na despedida, Helfen confessa sua simpatia e cumplicidade com o cangaceiro, que admite não ser o enviado que imaginara. Mas o holandês o conforta, dizendo que ele tinha cumprido muito bem o seu papel. Happy-end. Expedito volta para a estrada, Helfen provavelmente para a Holanda.
O filme termina de modo convencional, centrado no selo da amizade entre os dois protagonistas. O grupo, finalmente conscientizado, continua a atuar e isso é uma possibilidade de novas aventuras, como num western tradicional. Vence o pressuposto violento e vingador, mas ético, do bandido, sob o arrependimento do adversário.

Giovanni Fago conta que o filme fez sucesso na Itália e no resto da Europa, mas só chegou à América Latina três ou quatro anos depois (por conta de sua perspectiva política, foi considerado perigoso). O cineasta renega a etiqueta de western, considerando-a inexata, preferindo defini-lo como um filme político de aventuras.

Jornal carioca de 1973 apresentando o filme italiano, que foi intitulado no Brasil "Rebelião de Brutos"
Jornal carioca de 1973 apresentando o filme italiano,
que foi intitulado no Brasil “Rebelião de Brutos”


A apropriação do nome O cangaceiro e de seu universo mitológico estabelece uma conexão obrigatória com a obra original e este gesto não pode ser considerado, de nenhuma maneira, como ingênuo, desprovido de intencionalidade, inclusive comercial. Os direitos da canção original5 são o aval desta operação.

Somos levados a buscar na obra italiana elementos presentes no filme de Lima Barreto, mas nos deparamos com traços soltos, pertencentes ao gênero, e quase nenhuma marca do original. O impulso criador do western clássico, de sua apropriação pelo Cinema Novo e pelo spaghetti, perde-se num pastiche sem alma. É essa estética da diluição sucessiva que leva a um processo de abrandamento das especificidades de cada forma cinematográfica utilizada, solvendo num texto comum o que foi um dia ousadia ou expressão dinâmica.

Notas

1 Entrevista do diretor, bônus do DVD O Cangaceiro, coleção L´âge d´or du cinéma européen. Wild Side films
2 O Almanaque, boletim eletrônico da jornalista Maria do Rosário Caetano dá conta, em 15/06/2010, de várias produções sobre o cangaço em andamento. Homero Olivetto, Wolney Oliveira, Hermano Penna, Geraldo Sarno e Ícaro Martins preparam filmes sobre o cangaço ou sobre cangaceiros. A filiação prossegue.
3 Filme feito entre 1930 e 1932 por Eisenstein e que gerou algumas montagens executadas sem sua presença e renegadas pelo cineasta: Thunder Over Mexico, Eisenstein in Mexico, Death Day e Time in the Sun.
4 Carta IEDI n. 201 – O Futuro do Pólo Petroquímico de Camaçari – Publicada em 31/03/2006 http://www.iedi.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2037&sid=20&tpl=printerview – acessado em 27/09/2010
5 A canção, cuja autoria foi atribuída a Zé do Norte, teve grande repercussão internacional. Foi gravada por um naipe de músicos que vai dos Demônios da Garoa, em 1953, até Joan Baez, em 1964, passando por Astrud Gilberto e muitos outros.

Referências bibliográficas

BAZIN, André. O western ou o cinema americano por excelência. O Cinema: Ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991. [ Links ]
CARREIRO, Rodrigo. Do desprezo à glória: o spaghetti western na cultura midiática. Baleia na Rede,  vol. 1, nº 6, ano VI, dez/2009 (http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/BaleianaRede/Edicao06/4_Do_desprezo_a_gloria_western_spaghetti.pdf) [ Links ]
GALVÃO, Walnice Nogueira. Metamorfose do sertão. In: CAETANO, Maria do Rosário (org). Cangaço: o nordestern no cinema brasileiro. Brasília: Avatar, 2005. [ Links ]
ROCHA, Glauber. O western: uma introdução ao estudo do gênero e do herói. Mapa, nº1, Salvador, ABES, 1957. [ Links ]
GOMES, João Carlos TeixeiraGlauber Rocha, esse vulcão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. [ Links ]
VEREVIS, ConstantineFilm remakes. Edinburgh: Edinburgh University Press Ltd, 2006. [ Links ]

Referências filmográficas

A hora e a vez de Augusto Matraga (BRA, 1965, dir: Roberto Santos)
Casanova de Fellini (ITA, 1976, Federico Fellini)
Compañeros (ITA, 1970, dir: Sergio Corbucci)
Deus e o diabo na terra do sol (BRA, 1963 , dir: Glauber Rocha)
O cangaceiro (BRA, 1953, dir: Lima Barreto)
O cangaceiro (ITA, 1970, dir: Giovanni Fago)
O dragão da maldade contra o santo guerreiro (BRA, 1969,  dir: Glauber Rocha)
O incrível exército de Brancaleone, (ITA, 1965, dir: Mário Monicelli)
O tesouro dos renegados (ALE/ITA/IUG, 1961, dir: Harald Reinl)
Os fuzis (BRA, 1964, dir: Ruy Guerrra)
Os palhaços (ITA, 1970, Federico Fellini)
Que viva México (MEX, 1932, dir: Grigori Aleksandrov, Sergei M. Eisenstein)
Roma de Fellini (ITA, 1972, Federico Fellini)
Satyricon (ITA, 1969, dir: Federico Fellini)
Thunder over Mexico (EUA, 1933, dir: Sol Lesser)
Time in the Sun (EUA, 1939/40, dir: Mary Seton)
Vidas secas (BRA, 1963, dir: Nelson Pereira dos Santos
Viva Zapata (EUA, 1952, dir: Elia Kazan)
Este artigo é dedicado a Mariarosaria Fabris. 

*Antônio Carlos Amâncio é mestre e doutor em Cinema pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) e professor associado III do Departamento de Cinema e Vídeo e do Programa de Pós-Graduação (mestrado e doutorado) da Universidade Federal Fluminense, Niterói, Brasil (tunicoamancio@gmail.com).

Para quem desejar assistir o filme na íntegra é só clicar no link que segue. Aqui temos a versão original em italiano, com legendas em espanhol. 

Fonte - Estud. hist. (Rio J.) vol.24 no.47 Rio de Janeiro Jan./June 2011 - http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-21862011000100005&script=sci_arttext

Pesquei no Tok de História

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A história por água abaixo

A igreja de batismo do menino Virgolino
 


Essa é a capela da extinta Vila São Francisco, antigo distrito de Serra Talhada. A igrejinha foi local de batismo do garoto Virgolino Ferreira, o cangaceiro Lampião. Hoje, a vila e a capela estão debaixo de 311 milhões de metros cúbicos de água, submersas pela barragem de Serrinha, construída na década de 90.

A vila São Francisco existiu como um dos distritos mais prósperos da Capital do Xaxado, com grande tino para o comércio. A vila chegou a ter uma feira por semana, onde boa parte dos serra-talhadenses convergia para o lugar para fazer compras.

Pescado no
Farol de Noticias

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Saga de Alcino pode virar livro

Um tributo que depende da sua colaboração

Atendendo o apelo de Rangel Alves Costa ( filho e autor ) viemos através deste, solicitar os préstimos dos colegas e  estudiosos do cangaço, sobretudo dos amigos  do caipira de Poço Redondo, o nosso inesquecível  Alcino Alves Costa, no sentido de solicitar uma “ ajuda financeira “, de acordo com as possibilidades de cada um, para angariar recursos, objetivando ajudar nos custos  do livro Biografia: “ TODO O SERTÃO NUM SÓ CORAÇÃOVida e Obra de Alcino Alves Costa “, conforme ilustração de capa da referida Obra..


Aqueles que se dispuserem a ajudar, poderão fazê-lo, através de depósito, na seguinte conta:

Alcino Alves Costa Neto
Banco do Brasil - AG. 2961-0
Conta Poupança 68.542-9  - Variação 51
CPF: 055.589.445-28

Agradecemos, antecipadamente, a colaboração.
Att. Rangel  Alves Costa  (Filho de ALCINO)
Ivanildo Alves  Silveira (Colaborador)

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Documentário radiofônico

Amor e renuncia: A presença da mulher no cangaço

Por Juliana Almeida


Este documentário foi o meu projeto de conclusão de curso em Jornalismo na Universidade Tiradentes. Explico logo abaixo como ele foi produzido:

Inicialmente foi realizado um levantamento de dados sobre a participação da mulher no cangaço, através de sites especializados, monografias e livros consultados na biblioteca da Universidade Federal de Sergipe e na biblioteca da Universidade Tiradentes. Após essa análise inicial do material disponível, foi possível reunir informações para aprofundar a discussão com pesquisadores sobre e cangaço e jornalistas, durante a realização da I Semana do Cangaço, realizada de 4 a 6 de junho de 2008, no Centro de Criatividade, em Aracaju.


Durante a Semana do Cangaço, foi possível fazer as entrevistas que compõe esse trabalho e ampliar as referências para a consulta de mais dados e depoimentos sobre a participação da mulher no cangaço, como a aquisição de documentários de vídeo e bibliografia específica sobre o tema proposto.

Com acesso a todo o material, a fase seguinte foi decupar as entrevistas gravadas e reunir as informações presentes neste memorial descritivo nos capítulos que tratam do fenômeno do cangaço no nordeste e a mulher no cangaço. É importante ressaltar que a qualidade de algumas entrevistas não está tão boa, mas elas foram imprescindíveis para a composição do documentário.

O documentário radiofônico foi elaborado a partir do roteiro estruturado para mostrar a influência e participação da mulher no cangaço sob diversos aspectos, sempre primando pela objetividade jornalística e coesão entre os fatos. O documentário traz elementos da literatura de cordel, trilha sonora específica, narração em off e entrevistas. O tempo de duração do documentário ficou em 17 minutos e 58 segundos e será veiculado em emissoras educativas que tenham interesse no resgate da memória de elementos da cultura nordestina

O documentário “Amor e renúncia: a presença da mulher no cangaço” traz as seguintes entrevistas:
·         Ariano Suassuna (Escritor)
·         Maria do Rosário Caetano (Jornalista e escritora)
·         Luiz Antônio Barreto (jornalista, escritor e pesquisador)
·         Jovenildo Pinheiro de Souza (professor da UFPE e pesquisador do cangaço)
·         Vera Ferreira (Jornalista neta de Lampião e Maria Bonita)
·         Expedita Ferreira (Filha de Lampião e Maria Bonita)

O documentário ainda traz os seguintes depoimentos extraídos do vídeo-documentário ’Mulheres Cangaceiras’ produzido e exibido pela TV SENAC, 1997:
·         Antônio Amaury Corrêa de Araújo (pesquisador do cangaço e escritor)
·         Ilda Ribeiro de Souza (Sila) – ex-cangaceira e mulher de Zé Sereno

A estrutura do documentário traz versos da literatura de cordel, de autoria de Franka e do jornalista Márcio Santana no formato de Martelo Agalopado, que são utilizados na abertura e encerramento e como ‘cortinas’ na separação dos assuntos abordados.

A trilha sonora contempla músicas típicas do nordeste, como o xaxado, na interpretação de Luiz Gonzaga e do ex-cangaceiro Volta Seca, além do grupo Anima.


Ouça o documentário Clique Aqui

Pescado em Audiografia

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Cordel na praça

"Lampião e Volta-Seca em Itabaiana"


Quarto livro do escritor Robério Santos, (primeiro em versos) conta as desventuras de Lampião e Volta Seca em Itabaiana-SE em 1929. Fantasia misturada com realidade tem como pano de fundo uma cidade dominada por coronéis e as ruas antigas da Velha Loba.

Conta também com uma série de ilustrações do artista plástico e arquiteto Melcíades e um mapa exclusivo de Itabaiana em 1929 confeccionado por José de Almeida Bispo.

O autor planeja para 2014 o lançamento de "O Cangaço em Itabaiana Grande", livro que já está no prelo e há tempos já vem sendo aguardado.

"Lampião e Volta-Seca em Itabaiana é a certeza de que nossa Literatura de Cordel ainda tem muito a revelar. Robério, escritor e grande agitador cultural do Agreste Sergipano – no melhor sentido possível da agitação – nos presenteia com um cordel alicerçado em vasta literatura e na rica tradição oral que persiste no interior do Brasil.

Tudo bem que o leitor desavisado pode tropeçar na linguagem coloquial que deixa de ser apenas sonoridade e se transforma em imagens, desenhos ortográficos, recriação e revitalização linguística. Entretanto, ao destravar a língua, sobrará poesia, informação, formação e prazer, muito prazer. Viva o Cordel! Viva Cordel! Viva o Cordé..."

Anderson Da Silva Almeida
(Autor de “Cordel Pra Velha Loba”)

O livro possui 60 páginas e custa R$ 20,00 (Vinte reais) com frente incluso.
Quer comprar? Ligue (79) 9969-5819
Ou envie um e-mail roberiosantos@hotmail.com

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ROBÉRIO SANTOS nasceu no município de Itabaiana, Estado de Sergipe.

Escritor, retratista, jornalista, professor e profundo amante da cultura de sua terra tem em sua história literária três outros livros: O Vendedor de Sereias (2011), Joãozinho Retratista (2011) e O Livro Branco da Fotografia (2012) e do inédito Álbum de Itabaiana (2013) em parceria com Vladimir Souza Carvalho. Membro da Academia Itabaianense de Letras onde ocupa a cadeira número 12, onde o patrono é João Teixeira Lobo (Joãozinho Retratista). Este é seu primeiro trabalho em Cordel.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

3º Congresso Nacional do Cangaço

Confira a programação das Conferências, Simpósios e Mini cursos‏


Conferência de Abertura
22 / 10 / 2013  l  Teatro Glauber Rocha l  20:00h

Se vier, que venha armado: cangaceirismo e masculinidade como definidoras das identidades sertaneja e nordestina”
Dr. Durval Muniz de Albuquerque Júnior

Doutor em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Professor do Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Autor dos livros: Nordestino: invenção do 'falo': uma história do gênero masculino/1920-1940 (2ª ed., São Paulo, Intermeios, 2013), A invenção do Nordeste e outras artes (5ª ed., São Paulo: Cortez, 2011) e História: a arte de inventar o passado (Baurú, SP: EDUSC, 2007).
Lançamento de livro - Nordestino: invenção do 'falo': uma história do gênero masculino/1920-1940 (2ª ed., São Paulo, Intermeios, 2013).

Conferência de Encerramento
25/ 10 / 2013  l  Teatro Glauber Rocha l  20:00h

“O cangaço nas batalhas da memória”
Dr. Antônio Fernando de Araújo Sá

Doutor em História pela Universidade de Brasília (UnB)
Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Autor dos livros: O cangaço nas batalhas da memória (Recife, Editora da UFPE, 2011) e Combates entre história e memória (São Cristóvão/SE, EDUFS, 2005). 
Lançamento de livro - O cangaço nas batalhas da memória (Recife, Editora da UFPE, 2011).

Simpósios Temáticos

1. CULTURA E REPRESENTAÇÕES NO SERTÃO NORDESTINO: MEMÓRIA, IDENTIDADES E RESSIGNIFICAÇÕES

José Ferreira Júnior
Doutorando em Ciências Sociais (UFCG)
Mestre em Ciências Sociais (UFCG)
Professor da Faculdade de Integração do Sertão / Serra Talhada – PE

Resumo: A cultura é objeto de investigação acadêmica; ela permite uma maior compreensão dos fenômenos sociais, em particular aos que remetem às especificidades da preservação de memórias, seu uso no processo de formação identitária e às ressignificações por que passam tais identidades. Este simpósio temático discutirá a memória e sua importância no constructo de identidades e as ressignificações verificadas nessas construções, tomando como espacialidade os sertões nordestinos em suas múltiplas representações: relações de gênero, questões familiares, relação com os lugares, expressões artísticas, religiosidade, etc. Acataremos trabalhos que tratem da temática proposta, sob as óticas da História, da Sociologia, Antropologia e ciências afins.

2. CONTOS, CANÇÕES E CENAS: O CANGAÇO EM IMAGENS, LETRAS E SONS

Caroline de Araújo Lima
Mestre em História Regional e Local (UNEB/Campus V)
Professora do curso de História da Universidade do Estado da Bahia (UNEB/Campus XVIII)
Coordenadora do Projeto de Iniciação Científica “História, cinema e ensino de História: o sertão, o cangaceiro e o beato no cinema brasileiro” (2012/2013)

Resumo: Este simpósio temático tem como proposta reunir estudantes e pesquisadores com o objetivo de divulgar resultados de pesquisas relacionadas ao tema do Cangaço. Pretendemos analisar as representações dos cangaceiros no cinema, nos folhetos de cordel, na literatura, nas fotografias jornalísticas, dentre outras linguagens. A partir de tais linguagens que deram a esses personagens contornos míticos e estereotipados, ofereceremos ricas discussões sobre identidade, representações de sertão e sertanejo, relações de poder, de gênero e de memória. O simpósio está aberto para receber propostas de temas que versem sobre o universo cultural dos sertões e sertanejos no campo do audiovisual, da literatura de cordel, na área fotográfica e da música popular.

3. LINGUAGENS E NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM HISTÓRIA: DOMÍNIOS, ABORDAGENS, ENSINO E PESQUISA

Jairo Carvalho do Nascimento (UNEB/Campus VI)
Doutorando em História – UFBA
Mestre em História Social (UFBA)
Professor do curso de História da UNEB/Campus VI

Eduardo de Lima Leite (UNEB/Campus VI)
Mestrando em Memória: Linguagem e Sociedade (UESB)
Especialização em Educação, Cultura e Memória (UESB)
Professor de História da Educação Básica/Bahia

Maria Sigmar Coutinho Passos (UNEB/Campus VI)
Doutoranda em Educação – UFBA
Mestre em Educação e Contemporaneidade (UNEB)
Professora do curso de História da UNEB/Campus VI

Resumo: Este simpósio tem por objetivo reunir pesquisadores, professores universitários e estudantes de pós-graduação vinculados à pesquisa e ao ensino no campo da disciplina História e áreas afins, propiciando um espaço para a exposição de trabalhos acadêmicos e experiências didáticas relacionados aos seguintes temas: a relação cinema/história (temas, fontes, teoria); o uso de documentos imagéticos (cinema, fotografia, iconografia) em sala de aula; a música e o ensino de História; a utilização da televisão como veículo de ensino; as novas tecnologias de informação e comunicação (TIC/computadores, internet, etc.) e suas relações com a educação. Em que medida as diferentes linguagens e as novas tecnologias de informação e comunicação contribuem para a produção do conhecimento histórico, para o trabalho do professor de História? Essa pergunta será o ponto de partida para promover o debate durante o simpósio. O simpósio estará aberto para receber, também, propostas de experiências didáticas e pesquisas de professores da educação básica e de graduandos em História e áreas afins.

4. PROCESSOS DE PATRIMONIALIZAÇÃO E SUAS REPERCUSSÕES NOS “ESPAÇOS DA TRADIÇÃO”

Bruno Goulart Machado Silva
Doutorando em Antropologia Social pela Universidade de Brasília
Mestre em Antropologia Social (UFRN) 

Jean Pierre Pierote Silva
Mestrando em Antropologia Social pela Universidade Federal de Goiás
Graduado em Ciências Sociais (UFG)

Resumo: A noção de patrimônio cultural está na agenda das ações estatais nas últimas décadas. Essas políticas se voltam muitas vezes para populações e espaços geográficos circunscritos ao campo discursivo da tradição. Sejam patrimônios materiais ou imateriais, os processos de patrimonialização trazem consequências para os atores ligados a esses bens culturais. Este simpósio temático tem como objetivo promover o debate sobre esses processos do ponto de vista dos próprios atores sociais afetados pelas políticas patrimoniais, especificamente aqueles situados nos lugares imaginados como “Sertão” pelo pensamento social brasileiro. O debate visa a contribuir para a atual discussão dos processos de patrimonialização a partir de alguns questionamentos: Como a memória dos grupos é acionada e ressignificada nestas políticas? Como os grupos as têm percebido? De que forma a patrimonialização afeta a relação dos grupos envolvidos com os bens culturais?

5. NACIONALISMO E MODERNIZAÇÃO NO DEBATE INTELECTUAL, CIENTÍFICO E LITERÁRIO NA PRIMEIRA REPÚBLICA

Renailda Ferreira Cazumbá
Doutoranda em Memória: Linguagem e Sociedade (UESB)
Mestre em Literatura e Diversidade Cultural (UEFS)
Professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB/Campus XX)

Wilson da Silva Santos
Doutorando em Filosofia e História da Educação (Unicamp)
Mestre em Educação (UFPB)
Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB/Campus XX)

Resumo: O debate intelectual travado na Primeira República no Brasil (1889-1930) polarizou-se em torno de temas como nação, ciência, raça e civilização. Na época referendada, a discussão nacionalista baseava-se numa concepção modernizadora e no cosmopolitismo que embasavam um projeto civilizador para o país, em torno de propostas idealistas que animavam as pesquisas sociológicas, históricas, políticas e a escrita literária na virada do século XIX para o XX. Escritos científicos, literários e jornalísticos na Primeira República se unificaram em torno das projeções do positivismo e do liberalismo, que motivaram um grupo de intelectuais (Tobias Barreto, Araripe Jr., José Veríssimo, Sílvio Romero, Graça Aranha, Anísio Teixeira) para a defesa e anseios de modernização e de superação do "atraso" que nos fazia um país de maioria analfabeta e miserável frente às nações da Europa. Esse debate nacionalista era também motivado pela aspiração de descoberta de parte do país ainda desconhecida – o sertão e a periferia – através de uma produção crítica e da escrita literária (Euclides da Cunha, Lima Barreto). Pretende-se com esse simpósio integrar trabalhos que retomem os debates intelectuais e literários em torno do problema da identidade nacional e da modernização durante a Primeira República no Brasil, incorporando pesquisadores das áreas de História, Geografia, Educação, Sociologia e Literatura.

6. MEMÓRIA, IDENTIDADE E PATRIMÔNIO

Aline de Caldas Costa dos Santos
Doutoranda em Memória: Linguagem e Sociedade (UESB)
Mestre em Cultura & Turismo (UESC)
Pesquisadora do grupo Identidade Cultural e Expressões Regionais (ICER/UESC)

Gisane Souza Santana
Mestranda em Letras: Linguagens e Representações (UESC)
Especialização em Estudos Comparados de Literaturas (UESC)
Pesquisadora do grupo Identidade Cultural e Expressões Regionais (ICER/UESC)
Bolsista CAPES

Resumo - Esse simpósio visa a discutir as representações identitárias e trânsitos culturais com ênfase em temas relacionados à memória e ao patrimônio cultural (SIMÕES, 2006; HALL, 2002; ANDERSON, 2008; LE GOFF, 1990; NORA, 1993). Pretende-se discutir representações comunitárias e a interface de discursos de identidade a partir dessas expressões simbólicas (memória/patrimônio), a visibilidade do patrimônio cultural e as ações políticas que a sustentam em atenção ao fenômeno dos fluxos sociais.

7. ESTUDOS EM HISTÓRIA CULTURAL: OBJETOS, PROBLEMAS E ABORDAGENS

Cleide de Lima Chaves
Doutora em História Social (UFRJ)
Professora Adjunta da área de História do Brasil (DH/UESB)

Márcia Santos Lemos
Doutora em História (UFF)
Professora Adjunta da área de História Antiga e Medieval (DH/UESB)

Resumo: A proposta deste Simpósio é uma iniciativa do Laboratório de Estudos em História Cultural (UESB). O objetivo do LEHC é fomentar a produção na área, fortalecer as linhas de pesquisa do grupo, promover ações multidisciplinares, apontar novas perspectivas de análise dos objetos da cultura e estimular a formação de jovens pesquisadores. Nesta perspectiva, o simpósio pretende reunir pesquisadores interessados na História Cultural, com o objetivo de conhecer e divulgar diferentes enfoques e leituras dentro desse campo. Deverão ser debatidos temas comuns ou complementares, como: História e Literatura; fronteiras; representações; práticas religiosas; poder simbólico; gênero; discurso e apropriação; linguagens: os mundos da escrita, da leitura, da oralidade e da imagem; identidade; cidade; memória, História e historiografia, dentre outros temas relacionados. É de interesse igualmente discutir trabalhos que contribuam para atualizar o debate sobre fontes, métodos e teorias no campo da História Cultural.

8. VIOLÊNCIA, BANDITISMO E DISPUTAS POLÍTICAS NOS SERTÕES DO NORDESTE, SÉCULOS XIX E XX

Lina Maria Brandão de Aras
Doutora em História (USP)
Professora do Departamento e do PPG História da FFCH/UFBA

Rafael Sancho Carvalho da Silva
Mestre em História Social (UFBA)
Professor Substituto do Departamento de História da UFBA

Resumo: O simpósio temático objetiva analisar as disputas políticas nos sertões do Nordeste e suas relações com banditismo e outras formas de manifestações de violência vinculadas aos conflitos políticos. São três temas que mantêm relação entre si e, dessa forma, pretendemos agregar pesquisadores interessados em analisar e debater o banditismo e seu vínculo com as disputas do mandonismo regional, bem como diversas formas de expressões de violência. Agregamos pesquisas relacionadas não só com o sertão baiano, mas como de outras áreas do Nordeste brasileiro nos séculos XIX e XX. Apesar de diferentes momentos da história do Brasil, interessa o debate sobre as disputas políticas e suas formas de expressão através da violência e do banditismo em diferentes momentos da história dos sertões nordestinos.

9. ESCRITAS DE LUGARES: HISTÓRIA E LITERATURA, PAISAGENS E SENSIBILIDADES

Clóvis F. R. M. Oliveira
Doutor em História (UnB)
Professor Assistente da UNEB/Campus II/Alagoinhas)

Valter Guimarães Soares
Mestre em Literatura (UEFS)
Professor Assistente da UEFS

Resumo: Produto de “camadas de pedras e sonhos”, as paisagens emergem como inscrições, imagens grafadas na memória e criadoras de fronteiras e identidades. As escriturações riscam linhas que ligam e desligam pontos, criam referenciais de lembranças e constroem monumentos para celebrações coletivas. Nessa trajetória de escrita de discursos, historiadores e literários, em tensos jogos de trocas, estabelecem marcos, escolhem os materiais para serem usados e descartados e, sob o pretexto de descrever, produzem e dão forma aos lugares, materializando o que antes estava disperso na forma de sonhos. Esta proposta de simpósio temático pretende acolherestudos quese dedicam a pensar espaços, memória e paisagens nas suas mais diversas figurações: litoral, sertão, urbano-rural, campo-cidade, centro-periferia.

10. RASTOS, RESTOS E ROSTOS: HISTÓRIA, LITERATURA, CINEMA E OUTRAS ARTES NA INVENÇÃO DOS SERTÕES

Alex dos Santos Guimarães
Mestre em Teoria Literária e Crítica da Cultura (UFSJ)
Especialização em Teoria e História Literária (UESB)
Graduado em História (UESB)

Joslan Santos Sampaio
Mestrando em Memória: Linguagem e Sociedade (UESB)
Especialização em Teoria e História Literária (UESB)

Resumo: O objetivo deste simpósio é conhecer experiências históricas em que a arte, em suas múltiplas formas de expressão – da literatura ao cinema, da música às artes visuais – cria representações, imagens, percepções e sensações que afetam o imaginário social e político, incidindo na memória multifacetada dos sertões. Sabe-se hoje, para além da “teoria do reflexo” que norteou as pesquisas históricas até os anos de 1960, que mais do que refletir um suposto mundo objetivo, a arte institui “realidades”, produz conhecimentos e desejos, molda comportamentos e gestos, oferece novos temas e problemáticas, abre novos espaços para a imaginação criativa, afetando a psique, a memória, a escrita da História e os seus modos de atuação. Por tudo isso, as artes têm papel fundamental na invenção discursiva “dos sertões”, imaginando o cangaço, o coronelismo, o messianismo, os movimentos sociais, políticos, religiosos e culturais.

11. MOVIMENTOS SOCIAIS: RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE

Lemuel Rodrigues da Silva
Doutor em Ciências Sociais (UFRN)
Mestre em História (UFPE)
Professor do curso de História da UERN

Marcílio Lima Falcão
Doutorando em História Social (USP)
Mestre em História (UFC)
Professor do curso de História da UERN

Resumo: A temática que envolve as discussões sobre religião e religiosidade, no que diz respeito aos movimentos sociais rurais e urbanos, tem dado ênfase na configuração de tais movimentos como formas de contestação social. Nesse sentido, o estudo sobre os movimentos sociais passa a ser visto para além de seus aspectos econômicos e políticos e, ao buscar a importância do sagrado e do simbólico na gênese e desenvolvimento de tais movimentos, abrem-se novas possibilidades e novas formas de abordar a temática. Assim, preocupado com essas questões, esse simpósio temático busca ser um espaço de discussão e diálogo entre pares que, aparentemente, são opostos como o sagrado\profano, material\simbólico, político\econômico, mas que, em nossa proposta, também são dialogais e promovem um profícuo debate historiográfico sobre os diversos aspectos e sujeitos que em suas experiências tiveram o sagrado\profano como elementos norteadores em suas formas de resistir.

Minicursos

1. A APROPRIAÇÃO E MERCADORIZAÇÃO DA MEMÓRIA LAMPIÔNICA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DE SERRA TALHADA – PE

José Ferreira Júnior
Doutorando em Ciências Sociais (UFCG)
FACISST – Faculdade de Ciências Sociais de Serra Talhada – PE

Ementa: A identidade trata de uma representação de si para si e de si para os outros. Serra Talhada, cidade sertaneja pernambucana, representa-se, nacional e mundialmente, como sendo a Capital do Xaxado e, por tabela, terra de Lampião, uma vez que, na literatura local, tornou-se lugar-comum atribuir ao cangaceiro a invenção da dança que identifica a cidade. A identidade local serra-talhadense, nada obstante experimentar cristalização, trata de uma invenção possível de se detectar início e autores, além disso, sua ascensão, em detrimento de uma outra nomenclatura que identificava a cidade (tricampeã da beleza feminina), torna-a fenômeno social promotor de atratividade a pesquisadores. A mudança identitária do lugar de nascimento de Lampião, por si só, já se revela temática viabilizadora de discussão proveitosa. Porém, essa discussão se torna mais acentuada quando se verifica, mais detidamente, o enredo que possibilitou tal mutação: a ação dos produtores culturais, a influência midiática, bem como a resistência imposta. Ademais, também se revela digna de nota a maneira por que a memória lampiônica é comercializada e, nesse comercializar, a privatização dos lugares de memória lampiônica. Somada à complexidade caracterizadora da construção da identidade local, verifica-se a fluidez identitária que perpassa o citadino serra-talhadense, revelada em seus discursos, no que se refere a identificar-se com Lampião. Este minicurso tem como proposta discutir o uso da memória lampiônica em Serra Talhada na construção identitária do lugar, as ações protagonizadas pelos inventores dessa identidade e o contributo da mídia, tomando-se como elemento de referência, além de aporte teórico histórico-sociológico, o resultado de pesquisas realizadas in loco.

Objetivos: Analisar o processo de construção da identidade serra-talhadense e sua relação com a apropriação e mercadolização da memória lampiônica; Identificar as ações promotoras da glorificação da memória lampiônica Serra Talhada; Relatar as reações caracterizadoras de resistência à glorificação da memória lampiônica na cidade; Discutir os reflexos da glorificação da memória lampiônica no cotidiano serra-talhadense; Analisar as representações dos citadinos serra-talhadenses em relação à glorificação da memória lampiônica na cidade.

2. RELIGIOSIDADE E CONFLITO NO SERTÃO CONSELHEIRISTA: A PERSEGUIÇÃO DO CLERO DA BAHIA A ANTÔNIO CONSELHEIRO E CANUDOS (1874-1897).

Leandro Aquino Wanderlei
Mestrando em História Social (UFPE)
Professor do Ensino Básico da Rede Escolar do Estado da Paraíba.

Ementa: Estudo dos fatores de ordem religiosa, política e social que explicam a perseguição da Igreja Católica, em particular da Arquidiocese da Bahia e de suas freguesias nos sertões, às prédicas, devoções e obras assistenciais dirigidas por Antônio Conselheiro, em colaboração com as populações sertanejas do nordeste da Bahia e de Sergipe, inseridos num processo mais amplo de reforma do catolicismo, empreendida sob o influxo tridentino e por meio da direção dos bispos ultramontanos no Brasil, na segunda metade do século XIX.

Objetivos: Discutir os limites da ação religiosa da Igreja frente à religiosidade leiga, predominante no catolicismo brasileiro nos tempos de colônia e ao longo do século XIX; Avaliar o controle do Estado sobre a instituição eclesiástica (regime de Padroado) e a situação política da Igreja nos primórdios do regime republicano; Estabelecer relação entre estes fatores históricos e a campanha do clero, especialmente na Bahia, contra Antônio Conselheiro e Canudos (1874-1897).

3. O CICLO DO CANGAÇO NO MUNDO IMAGINÁRIO DA LITERATURA DE CORDEL

José Paulo Ferreira de Moura
Licenciado em História pela Fundação de Ensino Superior de Olinda (FUNESO)
Pesquisador e Escritor Membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC

Ementa: O cangaço é um dos temas mais explorados na literatura de cordel, onde o cangaceiro é quase sempre retratado como herói. A literatura de cordel é, como qualquer outra forma artística, uma manifestação cultural. Por meio desta escrita eram transmitidas as cantigas, os poemas e as histórias do povo pelo próprio povo, onde os cordelistas eram os poetas que viviam (e sobreviviam) no meio das classes menos favorecidas. O objetivo do minicurso é apontar a importância que a literatura de cordel teve para o cangaço e, através dele, a visão do cangaço na ótica do povo, transformando o mundo real dos cangaceiros, através do imaginário das narrativas poéticas, em verdadeiros guerreiros que lutavam contra os desmandos dos coronéis e a favor do povo.  Como a literatura de cordel está intimamente relacionada com o ciclo do cangaço, este minicurso se justifica pela relevância de compreender até onde este imaginário poético se sobrepôs à realidade vivida naquele tempo cruel de lutas, intrigas e desmandos sociais. E é através da leitura de alguns épicos do cordel/cangaço que retrataremos a magia da recitação e o romantismo dos diálogos entrando em consonância com o imaginário.

Objetivos: Abordar o fenômeno do Cangaço na ótica dos poetas de literatura de cordel; Mostrar que a vida dos cangaceiros retratada através da literatura de cordel é completamente parecida com as dos livros de história.

4. O CANGAÇO E AS VIAGENS PELA LITERATURA, MÚSICA E IMAGEM.

Rubervânio da Cruz Lima
Graduação em Letras – Inglês e Português (FASETE-2008)
Pós-Graduação em Estudos Literários (UEFS-2009)
Pós-Graduação em Gestão Cultural (SENAC-2013)
Sócio da SBEC.

Ementa: Estudo da relação Cangaço/História apontando alguns aspectos sobre o cangaço e sua trajetória histórica, desde o principio do fenômeno até a figura de Lampião, como aspectos que apontam o modo de vida e os costumes dos cangaceiros. Pretende-se evidenciar a influência do cangaço nas expressões literárias que fazem parte da cultura popular, como o cordel e a xilogravura.
Analisaremos o cangaço e sua influência na música e nas artes plásticas da região Nordeste. Estudar as representações visuais do cangaço a partir de fotos e filmes.

Objetivos: Envolver os participantes com esse tipo peculiar de estudo, promovendo também uma discussão sobre o que vem a ser o tema, até os dias atuais e as suas influências nas várias expressões artísticas (geral); Promover um debate que aborde a questão da ligação entre o fenômeno do Cangaço e as artes, de um modo geral, além de evidenciar algumas expressões artísticas populares ligadas ao tema, mostrando-os em um estudo bibliográfico expositivo; Desenvolver o senso crítico e promover a troca de experiência através de intervenções dos participantes, a partir da exposição de aspectos que tratem da temática; Associar essa abordagem à montagem de um painel de fotos que farão parte de uma exposição realizada coletivamente ao término do minicurso cujo objetivo é oferecer a oportunidade dos participantes aplicarem o conhecimento através do desafio de tirar possíveis dúvidas dos visitantes dessa exposição.

5. UMA IDENTIDADE SERTANEJA?

Danilo Uzêda da Cruz
Graduando em Ciências Sociais, Universidade Federal da Bahia - UFBA
Graduado em História, Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS
Especialista em Educação Superior, Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC
Mestrando em Desenvolvimento Regional e Urbano, Universidade Salvador - UNIFACS

Ementa: O minicurso abordará o processo de construção da identidade sertaneja e suas dimensões sociais, políticas, econômicas e culturais, discutindo os elementos dessa identidade e as relações que estabelece com o mundo contemporâneo. De modo geral, o minicurso versará sobre os seguintes temas: construção de identidades coletivas, região, territórios e comunidades; o sertão, história e política, região e cultura; o imaginário no sertão; o sertanejo e as transformações sociais, econômicas, ambientais e políticas do século XXI.

Objetivos: Debater a construção da identidade sertaneja; Discutir elementos do imaginário sertanejo e as transformações sociais, econômicas, ambientais e políticas do século XXI.

6. ANÉSIA CAUAÇU: PIONEIRA NA PARTICIPAÇÃO “FEMININA” NO CANGAÇO

Domingos Ailton Ribeiro de Carvalho
Mestre em Memória Social (UNIRIO)
Especialista em Literatura e Ensino da Literatura (UESB)
Licenciado em Letras (UESB)
Professor da Pós-Graduação das Faculdades Euclides Fernandes (FIEF)

Ementa: Estudo da participação feminina no cangaço. O papel pioneiro de Anésia Cauaçu. Contempla abordagens sobre as raízes do coronelismo e do cangaço na Chapada Diamantina e no sudoeste baiano, além de abordar o que permaneceu na memória coletiva de tradição oral da região de Jequié sobre os Cauaçus.

Objetivos: Revelar o papel pioneiro de Anésia Cauaçu no cangaço e no processo de emancipação da mulher do sertão; Discutir as origens do coronelismo e do cangaço na Chapada Diamantina e no sudoeste baiano; Refletir sobre a memória coletiva a respeito dos Cauaçus.

7. MULHERES NEGRAS: PRÁTICAS CULTURAIS E MILITÂNCIA EM COMUNIDADES TRADICIONAIS DO ALTO SERTÃO BAIANO

Karla Dias de Lima
Especialista em Educação e Diversidade Étnico-Racial (UESB)
Professora da Rede Estadual de Ensino e Pesquisadora (GEPEECS).

Leila Maria Prates Teixeira
Mestre em História (PPGHIS-UNEB)
Professora do curso de História (UESB)

Ementa: Este minicurso pretende discutir as estratégias de sobrevivência de práticas culturais desempenhadas por mulheres negras em comunidades quilombolas do Alto Sertão da Bahia, como uma possibilidade de reconstruir vivências, afetividade, ancestralidade, memória e identidade de gênero. As concepções atuais acerca da história das mulheres e da liderança feminina nos segmentos populares colaboram para a análise das especificidades das relações vivenciadas pelas mulheres negras em comunidades tradicionais. Nesse sentido, abordaremos conceitos introdutórios relacionados à mulher negra, à liderança feminina, à cultura negra, à identidade étnico-racial e aos quilombos, privilegiando estudos concentrados nas comunidades de Tomé Nunes (Malhada/BA) e Tucum (Tanhaçu/BA), localidades pesquisadas pelas autoras dessa proposta.

Objetivos: Analisar o prestígio feminino através da marcante participação nas questões políticas e na manutenção das práticas culturais nessas comunidades; Conhecer as formas de sobrevivência e resistência criada por mulheres negras e quilombolas em comunidades do Alto Sertão baiano; Refletir sobre os conceitos de gênero e identidade na contemporaneidade.

8. O CANGAÇO COMO FENÔMENO SOCIAL

Josué Damasceno Pereira
Pesquisador da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço - SBEC

Resumo: A proposta de um minicurso voltado para a temática do cangaço como fenômeno social tem por objetivo despertar no interlocutor um olhar mais crítico a respeito das condições de vida e relações sociais nos sertões do Nordeste brasileiro na primeira metade do século XX. Para tanto, nossas atividades foram organizadas em função de quatro eixos: o banditismo nos sertões do Nordeste; cangaço e política; cangaço e religião; e o mito Lampião. Tal procedimento nos permite ponderar sobre as questões que envolvem os cangaceiros e suas relações com a sociedade sertaneja, em especial a classe política, setores do clero católico e, por fim, a construção do mito em torno da figura de Virgulino Ferreira, o Lampião. O conhecimento dessas relações constitui fatores importantes no processo de compreensão da História Regional.

Objetivos: Analisar a formação do cangaço no Nordeste brasileiro; Estudar a constituição do mito de Lampião na cultura popular do Nordeste.    

9. VEREDAS DO GRANDE SERTÃO: CRENÇA, AMOR E VIOLÊNCIA NO IMAGINÁRIO DO SERTÃO DE JOÃO GUIMARÃES ROSA

Halysson F. Dias Santos
Doutorando em Memória: Linguagem e Sociedade (UESB)
Mestre em Memória: Linguagem e Sociedade (UESB)
Graduação em Letras (UESB)
Professor do curso de Letras (UESB)

Heurisgleides Sousa Teixeira
Mestre em Memória: Linguagem e Sociedade (UESB)
Especialização em Teoria e História Literária (UESB)
Graduação em Letras (UESB)
Professora da UNEB (Campus IX/Barreiras)

Ementa: O imaginário do sertão na obra de João Guimarães Rosa. A ficcionalização das crenças, do amor e as relações de conflito entre os jagunços.

Objetivo: Apresentar e discutir o imaginário do sertão na obra de Guimarães Rosa, a partir de elementos tematizados no romance Grande sertão: veredas.

10. REVIRAMUNDO – O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE UM ENSAIO AUDIOVISUAL A PARTIR DA “ENCICLOPÉDIA AUDIOVISUAL DA CULTURA POPULAR DO SERTÃO”, DE GERALDO SARNO

Felipe Corrêa Bomfim
Mestrando do programa de Pós-Graduação em Multimeios da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Graduado em Cinema pela Universidade de Bolonha (Itália)

Glauber Brito Matos Lacerda
Mestre em “Memória: Linguagem e Sociedade” (UESB)
Professor de “Documentário” e “Técnicas de Sonorização” no curso de Cinema e Audiovisual (UESB)

Ementa: Entre os anos de 1969 e 1972, o cineasta Geraldo Sarno dirigiu uma série de curtas-metragens documentais sobre manifestações da cultura popular nordestina intitulada “Enciclopédia Audiovisual da Cultura Popular do Sertão”. Em março de 2013, Geraldo Sarno voltou à sua terra natal, a cidade de Poções (BA), acompanhado por uma equipe de filmagens que registrou o reencontro do cineasta com pessoas e lugares da sua infância que, declaradamente, influenciaram sua obra. O minicurso apresenta o processo de construção do filme-ensaio “Reviramundo” que aborda o caráter memorialista da obra de Geraldo Sarno, apresentando um diálogo das suas memórias de infância com o conteúdo e com a forma da série documental dirigida pelo mesmo.

Objetivos: Apresentar o processo de criação do filme-ensaio “Reviramundo” a partir de um diálogo com a forma e com o conteúdo dos filmes da “Enciclopédia Audiovisual da Cultura Popular do Sertão”, de Geraldo Sarno; Assistir aos filmes da Enciclopédia Audiovisual da Cultura Popular do Sertão; Discutir os aspectos formais e o conteúdo do conjunto da obra; Destacar o caráter memorialista da produção documental de Sarno; Apresentar o processo de construção do filme-ensaio.

Maiores informações: Blog da SBEC