Zé Olímpio (Rui Ricardo Diaz) é um destes cangaceiros. Ele sabe que não terá um minuto de paz enquanto o Sargento Isidoro (Edlo Mendes) estiver em seu encalço. Para ele, a única saída é abandonar a fazenda de sua família e tentar vida nova em São Paulo. Ao lado da esposa Lucia (Emanuelle Araújo) , Zé Olímpio engrossa o coro dos milhões de nordestinos que migram para o sudeste brasileiro e conseguem um emprego na construção civil.
Agora, Zé Olímpio começa outras lutas. Contra o preconceito, o subemprego e a intolerância. E onde a construção de Brasília pode despontar como uma nova esperança.
Esperança que o leva a entrar na política e viver as consequências da fragilidade de nossas instituições que fazem da justiça um mero sonho voltado… aos ventos que virão.
Com duas datas já programadas para a pré-estreia e lançamento em Sergipe, “Aos Ventos que Virão” (direção e roteiro de Hermano Penna) será exibido em Aracaju e no município de Poço Redondo nos dias 10 e 11 de julho, respectivamente. Em Aracaju – o lançamento acontecerá no Cine Vitória, às 19h e no município de Poço Redondo, será realizada na Praça de Eventos, às 20h.
Além da presença do diretor Hermano Penna, estão confirmados: o ator Rui Ricardo Diaz (que faz o papel de Zé Olimpio e também protagonizou o personagem principal em Lula, O Filho do Brasil ); a atriz Emanuelle Araújo (no papel de Lúcia, esposa de Zé Olímpio); Luiz Miranda (como Nêgo de Rosa); Orlando Vieira (como Zé de Antão) além de membros da equipe que ajudaram na realização do filme.
O filme que teve diversas cenas gravadas no sertão sergipano e trata da trajetória do ex-cangaceiro “Zé Olímpio”. O diretor que tem intimidade com as paisagens e histórias dos sertões e interior Brasileiro – um dos seus clássicos “Sargento Getúlio” também foi filmado Sergipe adentro – considera importante lançar o filme não só em Aracaju como no município de Poço Redondo, pois será um retorno a toda comunidade que participou do filme. O personagem central da trama, Zé Olimpo, migra para São Paulo após sobreviver ao cangaço e depois de um tempo decide entrar para política. O contexto do filme nas décadas de 40 e 50 marca também a construção de Brasília e as esperanças que eram provocadas no imaginário popular. A película conta ainda entre elenco diverso como Edlo Mendes (no papel de Sargento Isidoro); Gideon Rosa (Filemon) e atores sergipanos.
Rui Ricardo Dias na pele do cangaceiro "Cajazeira".
Um mosaico de memórias e histórias escutadas em andanças pelo universo do sertão. Essa é apenas uma das possíveis definições do diretor Hermano Penna para “Aos Ventos que Virão”. E um desses fragmentos tem no cerne na história do ex-cangaceiro Zé de Julião.
Trechos de uma entrevista com Hermano Penna:
Hermano Penna |
Hermano Penna – A primeira ideia de fazer este filme eu tive quando comecei a realizar “A Mulher no Cangaço”, em Poço Redondo, isso em 1976. Foi quando conheci o historiador Alcino Alves, que me contou a história de um certo Zé de Julião, que foi o cangaceiro Cajazeira, do bando de Lampião, subgrupo do bando de Zé Sereno.
Trata-se de uma história oral, que na época não constava em nenhuma literatura. Ele e Enedina, sua mulher, formaram o único casal legalmente casado da história do Cangaço. Zé de Julião era filho do maior fazendeiro da região e Poço Redondo, alto sertão sergipano, o que derrubou de uma vez por terra a tese que o Cangaço era apenas um fenômeno das camadas pobres e do pequeno lavrador revoltado. Hoje sabemos que tinha até neto de barão entre os cangaceiros.
Após a tragédia de Angicos (na qual morreram Lampião, Maria Bonita, e outros cangaceiros, inclusive Enedina) e o fim do cangaço, Zé de Julião sai do cangaço e vai retomar a vida. Mas por ódio, por vingança e pelo ouro que os cangaceiros haviam amealhado, ele passa a ser perseguido. Foge para o Rio de Janeiro, e mesmo sendo letrado – fato raríssimo em todo o Cangaço – vai trabalhar na construção civil. Primeiro como ajudante de pedreiro, depois como mestre de obras e por fim como um pequeno empreiteiro. Retorna ao sertão para assumir a herança deixada pelos pais. Com o tempo engessa na política e vive intensamente suas contradições.
O seu personagem, Zé Olímpio, é baseado neste Zé de Julião?
Hermano Penna – Num primeiro momento era, mas com o tempo foram feitos tantos tratamentos de roteiro que hoje, no máximo, podemos dizer que alguns episódios do filme são fatos reais, e apenas alguns deles vividos por Zé de Julião. “Aos Ventos que Virão” é um mosaico de lembranças pessoais e de muitas histórias escutadas em andanças e vivências. A do Zé de Julião é apenas uma destas histórias.
Só para dar uma ideia, o primeiro tratamento de roteiro foi aprovado pela Embrafilme em 1982. Fui fazendo vários tratamentos de roteiro, cada vez mais abandonando a história real de Zé de Julião, e cada vez mais incorporando as minhas próprias imagens, vivências e ideias do sertão. O filme é uma mistura de memórias… das minhas e das deste cidadão. Especificamente sobre o Zé de Julião, estou fazendo um documentário que vai se chamar “Muito Além do Cangaço”.
Mas o filme começa exatamente quando o Cangaço acaba. Não é um filme sobre Cangaço.
Hermano Penna – Exatamente, não é sobre o Cangaço nem sobre cangaceiros. Sempre evitei marcar o filme com símbolos visuais que o ligasse a um regionalismo tradicional, e principalmente ao Cangaço. O filme dialoga com o fracasso histórico de nossas instituições em construir uma ordem social que contemple, através da justiça para todos, a plena cidadania. Sei que só os mais atentos espectadores terão essa leitura do filme, mas creio também que é da opacidade da obra de arte que surgem as mais ricas e variadas leituras.
Os lançamentos contam com o apoio do Governo de Sergipe, secretarias de Estado da Comunicação e da Cultura e Banese. O Cine Vitória que será reinaugurado hoje funcionará na Rua do Turista (antiga Rua 24 Horas), localizada à rua Laranjeiras, 307, centro da capital sergipana.
Pesquei no: Portal Infonet
e no Blog do Filme
VALEU AMIGO PELA POSTAGEM...
ResponderExcluirESPERAMOS QUE ESSE FILME, REALMENTE, RETRATE A SAGA DO CANGACEIRO CAJAZEIRA / ZÉ DE JULIÃO, NÃO DISTORCENDO A REALIDADE DOS FATOS...
PELAS FOTOS, JÁ VI QUE O FIGURINO DEIXA UM POUCO A DESEJAR, JÁ QUE ELES NÃO USAM EMBORNAL...
ABRAÇO
IVANILDO SILVEIRA
COLECIONADOR DO CANGAÇO
NATAL/RN
ZÉ OLÍMPIO, ZÉ DE JULIÃO, A PRÉ-ESTREIA NO CINEMA DO CABRA DE LAMPIÃO (Crônica)
ResponderExcluirRangel Alves da Costa*
Desde muito que eu esperava por esse momento, ansiava para ver na tela a história baseada na saga de José Francisco de Nascimento, ou Zé de Julião, ou ainda Cajazeira, alcunha recebida quando, ao lado de sua esposa Enedina, integrou o bando de Lampião. Sua amada acabou sendo uma das vítimas da Chacina de Angico, a 28 de julho de 38. Ele conseguiu e escapar, mas daí em diante viveria outros martírios.
Por diversas razões esperava a estreia do filme do Penna. Em primeiro lugar, porque abordando a vida de um ex-cangaceiro e seu reencontro com um mundo não menos injusto daquele vivenciado no bando do Capitão; em segundo lugar porque quase totalmente filmado nas terras de meu berço de nascimento, minha querida Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo, ou apenas Poço Redondo, como tantas vezes é citado na película. E contando com a participação de muitos conterrâneos. Zé Olímpio/Zé de Julião (Rui Ricardo Diaz) Em terceiro lugar - e primordialmente - porque naquele filme e naquela trama estavam muito de meu pai Alcino Alves Costa. Ora, foi ele quem foi buscar nos escondidos da história a saga desse seu conterrâneo e a trouxe, nas letras de primorosa pesquisa, para o conhecimento da geração da desmemória e do esquecimento. Foi ele quem fez reviver Zé de Julião para o mundo e chegar ao conhecimento de Hermano Penna.
Com efeito, foi a partir de conversas entre Alcino e o cineasta que este tomou conhecimento da saga desse sertanejo de família abastada, sonhador, e que um dia resolveu entrar para a vida cangaceira como forma de mostrar sua insatisfação com as injustiças e perseguições policiais de então. Ao sobreviver à morte do líder cangaceiro, buscou na política dar voz aos seus anseios de transformação. E pagou com a própria vida o sonho de ser prefeito de seu recém criado município.
O cineasta, que em Poço Redondo filmou o documentário “A mulher no cangaço” (1976) e o premiadíssimo longa “Sargento Getúlio”, ouviu de Alcino aquela história e prometeu que se debruçaria num projeto para transformar em filme as desventuras desse jovem sertanejo. Assim surgia o renascimento, dessa vez cinematográfica, daquele que percorreu os caminhos do idealismo, da vida cangaceira e da política. Chegou a ser candidato a prefeito por duas vezes, e nas duas sendo perseguido e fraudado pelas forças políticas de então. Mas cuja persistência o levaria a ser covardemente assassinado.
Contudo, não é essa história, ao menos na sua inteireza e realidade, que é mostrada no filme “Aos ventos que virão”. É sabido que o cineasta encontrou diversos problemas para levar adiante seu projeto, e dificuldades criadas por alguns familiares do próprio Zé de Julião e também para evitar reacender rixas e suspeitas antigas, vez que as causas do assassinato ainda não foram totalmente reveladas. Todos conhecem a verdade, mas preferem não mexer em palheiro adormecido no silêncio das vinditas.
Os problemas encontrados para filmar fizeram com que Penna modificasse sensivelmente a história. Zé de Julião se transformou em Zé Olímpio; no filme, o seu casamento se dá após o fim do bando de Lampião, quando já estava acompanhado de sua esposa na vida cangaceira; o seu destino sulista é o Rio de Janeiro, mas a película opta por São Paulo; foi candidato a prefeito por duas vezes, quando apenas uma é considerada por Penna; não morreu assassinado na prisão, mas nas caatingas de Poço Redondo, enquanto retornava do sul do país para retomar sua vida política, vez que continuava sendo perseguido pela sua condição de ex-cangaceiro e, principalmente, como forte liderança partidária.
Os que se debruçam sobre a história na tela sem conhecer mais profundamente a verdadeira saga de Zé de Julião, certamente que encontram um filme perfeito, refletindo a maestria do cineasta. Contudo, quem já enveredou pela trama verdadeira sente um pouco de desapontamento. Principalmente porque a história verdadeira é mais bonita e intrigante.
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