Por Kiko Monteiro
É notório para alguns e confuso para outros, mas no cangaço uma das práticas mais comuns era a de um membro recém chegado escolher ou ser batizado com o vulgo de uma cabra morto ou desertor. "Azulão" foi um destes vulgos que se multiplicou. A pesquisa de Alcides Niceas citada pela pesquisadora Lúcia Gaspar em seu artigo "Cangaceiros: alcunhas e nomes próprios" nos informa que o primeiro Azulão era integrante do bando de Antônio Silvino, o segundo era do bando de Sinhô Pereira, o terceiro e o quarto pertenceram ao bando de Lampião.
Desses dois primeiros só conseguimos dados sobre o comandado por Silvino:
Que se chamava Félix José da Costa, um negro alto, forte e valente, nascido na Fazenda Dominga, localizada nas proximidades da Caverna da Caridade, distrito de Caicó, RN. Após famoso combate ocorrido entre o grupo de cangaceiros de Antônio Silvino e polícia paraibana, na Fazenda Pedreira, do coronel Janúncio Salustiano, no dia 15 de fevereiro de 1901 o cangaceiro Azulão consegui fugir, conhecia a localização da Caverna da Caridade e sabia que no local havia água. A ideia do foragido era “dar um tempo” e procurar os amigos que tinha naquele setor e assim escapar daquela situação. Na caverna, junto com Azulão, estava o cangaceiro conhecido como Moreninho.
Consta que após o tiroteio na Pedreira, os dois cangaceiros vararam o sertão em direção Norte/Nordeste, passando pela região onde hoje se encontra o Açude Itans, mantendo a cidade de Caicó a esquerda deles. Seguiram então pelas proximidades das Serra da Bernarda e da Formiga, até a região da Serra da Cruz, em um estirão comprido, mas que o desespero ajudava a amenizar a distância.
Antes dos fugitivos chegarem a caverna, passaram na casa de conhecidos, se abasteceram e seguiram para Serra da Cruz, onde passaram cerca de dez dias e noites na cavidade, logo no salão frontal do local.
No dia 25 de fevereiro eles saíram do abrigo rochoso e foram em busca da Fazenda Dominga, do tenente-coronel Gorgônio Ambrósio da Nóbrega, algum apoio. Mas o que encontraram foi bala. A polícia, avisada pelo pessoal da propriedade, deram cabo dos dois homens.
Notícia da morte de Azulão na Fazenda Dominga.
Segundo Seu Nelson Soares de Medeiros, em depoimento ao pesquisador Rostand Medeiros, ele sabe bastante desta história pois um dos um dos homens que participaram da ação foi seu pai. Ele comenta que sabe até mesmo onde os homens estão enterrados a sombra da Serra da Cruz.
Viveiro de Lampião
Mais centrado nas personagens dos domínios lampionicos realizei uma varredura na web e consultei um livro dedicado a nomeclatura da turma, recém lançado. E localizamos (que pretensão, qualquer um poderia) mais um, além dos dois citados por Niceas.
No artigo de Lúcia Gaspar há uma relação em ordem alfabética, mas não cita nenhum dos cabras com o vulgo. Este terceiro Azulão - devidamente identificado - ficou ao nosso critério, podendo ser o pernambucano morto em 1927 no Rio Grande do Norte, ou o Sergipano que conseguiu escapar do cerco a Angico em 1938.
Mas o que me intrigou e levou-me a compartilhar este tema com os amigos foi me deparar com uma curiosa matéria de um jornal carioca disponibilizada pelo site DocVirt.com . De repente nossa pesquisa constatou mais um, ou seja um 4º Azulão no cangaço de Lampião, ou de repente o que fez o terceiro Azulão após sua saída da prisão. Fato ou farsa que lhes apresentarei mais adiante. Vamos tratar por ordem de atuação:
O Azulão I
Pernambucano de Serra do Monte, Patrício de Souza era irmão do também cangaceiro "Serra D´umã". Tanto Sérgio Augusto de Souza Dantas, quanto Raul Fernandes e Raimundo Nonato, os principais autores que trataram do ataque de Lampião a Mossoró, nos relatam que no dia 10 de junho de 1927, após o bando do Rei do Cangaço haver cruzado a fronteira potiguar, seguiu em direção norte, visando a cidade de Mossoró.
Próximo à povoação de Vitória, atual município de Marcelino Vieira, atacaram as primeiras casas do sítio conhecido como “Caiçara, ou “Caiçara dos Tomaz”. Travou-se um combate com a volante comandada pelo tenente Napoleão de Carvalho Agra , morreu um soldado o cangaceiro "Azulão" que foi enterrado em cova rasa. Ainda não conseguimos foto que o identificasse.
O Azulão II
"Mariano" é a única informação que temos sobre seu nome próprio. Baiano de Várzea da Ema, (localidade no centro do Raso da Catarina e não em Sergipe como sugerido por alguns autores), primo do célebre cangaceiro "Balão" foi um dos "doze mais de Lampião". Dotado de eximia pontaria, mas que no dia 14 de Outubro de 1933 junto com sua companheira Maria, tombaram na Lagoa do Lino, local na divisa entre os municípios de Várzea do Poço e Serrolândia no estado da Bahia, pelas volantes dos sargentos José Fernandes Vieira e Zé Rufino.
O Prof. Lamartine Lima que foi assistente de Estácio de Lima relatou ao pesquisador e também médico Leandro Cardoso Fernandes aspectos médico-legais da cabeça deste e dos outros. Trechos de entrevistas que colheu, como por exemplo: O soldado que o matou Azulão, conta que após acertá-lo na coluna deixando-o tetraplégico, degolou-o vivo.
No dia 16 de Outubro de 1933 o Diário da Tarde, "de Aracaju" transcrevia a seguinte noticia.
Arquivo pessoal
Sgtº José Fernandes Vieira, comandante de Volante baiana, que participou de 5 combates com grupos de cangaceiros, inclusive, no que dizimou o grupo de "Azulão".
- Cortesia de Ivanildo Silveira -
Cabeças de Maria e Azulão
- Cortesia de Rubens Antonio -
Túmulo de Azulão e companheiros no cemitério Quinta dos Lázaros em Salvador.
- Cortesia de Sergio Dantas -
O Azulão III
De acordo com a pesquisa de Bismarck Martins em seu livro Cangaceiros de Lampião – de A a Z. O sergipano Luis José da Silva ou Luis de Maurício, natural do distrito de Serra da Guia no Poço Redondo de Alcino, ingressou no cangaço em 1934 e atuou no grupo de Zé Sereno. Estava em Angico em 28 de julho de 1938. Escapou do fogo, entregou-se a policia na cidade de Jeremoabo em Outubro de 1938. Condenado a 30 anos de prisão cumpriu 19, foi indultado em 6 de novembro de 1957 aos 68 anos. Até aqui temos a segurança de afirmar que foram 5 e não quatro os Azulões do cangaço.
Zé Sereno, Azulão e Mané Moreno
- Foto de Benjamin Abrahão 1936 -
Cangaceiros que se entregaram em Jeremoabo recém chegados capital baiana
em Novembro de 1938 . Azulão II está entre eles.
- Cortesia de Rubens Antonio -
Até aqui temos a segurança de afirmar que foram cinco e não quatro os Azulões do cangaço...
E este quarto Azulão?
Já em 19 de Março de 1962 passados pouco mais de 20 anos do fim do cangaço o jornal Ultima Hora do Rio de Janeiro noticiava a morte de outro pássaro inquieto. A matéria é um tanto intrigante, evidente que as informações foram fornecidas por familiares, talvez pelo ex cangaceiro em matéria anterior. Acontece que a reportagem afirma que João Balbino Pereira ou se preferir João Ferreira Filho, 55 anos, teria entrado para o bando de Lampião em "1930" permaneceu por "cinco anos" tendo sobrevivido ao massacre de Angico... como ??? Será que a redação queria se referir à década de 30 ao invés do ano de 30?
Eis a matéria, clique para ampliar.
Já tinham lido sobre este cabra.? Como conceber dois Azulões atuando na mesma época, e correndo da morte em Angico? Quando um recebeu indulto aos 68 anos e o outro morreu aos 55. É notório o excesso de conjecturas e lapsos cometidos pelos próprios cangaceiros em seus depoimentos. Parece exagero, mas julgando uma possibilidade de mascarar a idade, além de preservar a verdadeira identidade o que era comum, e da eterna confusão cronológica da imprensa seria possível concluir que:
- O Azulão III e IV são a mesma pessoa?
- Existiu de fato um 4º indivíduo, porém de atuação apagada?- Ou este Azulão foi simplesmente um farsante?
É possível uma comparação das fotos?
Outros detalhes e ações de "Azulões", que eu localizei, mas não consegui associar:
- Qual destes dois últimos Azulões era primo do ex cangaceiro "Vinte e Cinco", citado por ele em Entrevista para João de Sousa Lima ?
- Qual destes fez parte do Grupo de Corisco, citado pelo cangaceiro "Moreno" em A Saga de Moreno e Durvinha
- Qual destes seria o citado por Frederico Pernambucano de Mello em sua pesquisa intitulada "A castração real no Cangaço: Nota prévia - Estudo de Caso" * Pág. 8, Disponível em: Periódicos da Fundação aponta que em 19 de Maio de 1936 um "Azulão" acompanhava o "sub grupo de Virgínio", tomando a retaguarda no ataque ao arruado Morro Redondo, distrito de Catimbau, do município de Buíque, Pernambuco???
Avia macho, ajude aí comentando!
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Fontes:
Lúcia Gaspar. - Cangaceiros: alcunhas e nomes próprios -Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em Disponível em Fundação Joaquim Nabuco
Rostand Medeiros - Caverna da caridade, Caicó, sertão do Rio Grande do Norte – Antigo esconderijo de cangaceiros. Em: Tok de História
Rostand Medeiros - O Grande Fogo da Caiçara e a desconhecida "Missa do soldado" Disponível em: Lampião Aceso
OLIVEIRA, Bismarck Martins de. Cangaceiros de Lampião – de A a Z” Edição do autor, João Pessoa 2012. Págs 48, 49 e 50.
Rubens Antonio "Lagoa do Lino" em seu blog Cangaço na Bahia
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