Parecia tristeza, mas era a memória em pura ebulição |
Em 2007 e 2008 visitando seu Luiz em sua residência na companhia do grande amigo Netinho nós pudemos conhecer e compartilhar da hospitalidade, alegria e testemunhos ímpares de um grande colaborador desta história.
Só nos resta oferecer nossa solidariedade e votos de pesar a toda sua família. Vá com Deus cabra bom forrozeiro!!!
Reveja o resumo biográfico eleborado pelo amigo Ângelo Osmiro
No ano de 2010, Luiz Alves de Barros, o Luiz de Cazuza completou um século de vida, nascido no dia 06 de setembro de 1910 na Fazenda Pedreira no município de Serra Talhada, no sertão de Pernambuco, filho de José Gomes de Barros e Maria Alves de Barros. Em 1935 aos vinte e cinco anos casou-se com dona Teresa Alves de Barros, sua prima, em 1935 com quem teve onze filhos. Na juventude era conhecido nas ribeiras do Pajeu como exímio tocador de harmônica.
Sobrinho de Zé Saturnino da Pedreira, primeiro inimigo de Lampião, presenciou quando adolescente as escaramuças entre seu tio e padrinho Zé Saturnino e o cangaceiro Lampião; Saturnino era irmão da mãe de Luiz Cazuza.
Morando naquelas ribeiras não poderia ficar a parte das brigas entre seu tio e o famoso cangaceiro. Conversamos inúmeras vezes com seu Luiz Cazuza, sempre nos encantando com suas histórias sobre o cangaço, sobre o sertão, sobre seu amor aquela terra que o viu nascer, crescer e envelhecer.
No final da tarde do longínquo ano de 1927, quando seu Luiz Cazuza já se preparava para o jantar – que no sertão daquele tempo era feito muito cedo – apontou repentinamente Genésio Vaqueiro, um sertanejo das redondezas, meio assustado e um tanto apressado. Trazia um recado de ninguém quem menos que Lampião, o terror do sertão. O chefe bandoleiro mandava dizer que precisava falar urgente com Luiz Cazuza.
O jovem Luiz ficou assustado, afinal seu tio era inimigo de Lampião, apesar dele pessoalmente, assim como seu pai, não haver se envolvido diretamente na briga, o recado era para meter medo. Não comparecer ao chamado era uma imprudência sem limite. Apesar do medo, o jovem sertanejo atendeu de pronto ao chamado. Lampião o aguardava em lugar conhecido por Cacimba do Gado. Dirigiu-se rapidamente para o local demarcado, encontrou uma cena que jamais esqueceria, Lampião acompanhado de mais quatro ou cinco homens, todos maltrapilhos e aparentando cansaço e fome.
Aquele pequeno grupo era o remanescente do numeroso contingente que havia atacado a cidade de Mossoró e apavorado o Rio Grande do Norte, os cangaceiros estavam em estado lastimável. Lampião já conhecia Luiz e toda sua família, sabia do seu parentesco com Saturnino, afinal de contas haviam sido vizinhos, a propriedade de seu pai fora vizinha a fazenda dos Nogueira. A primeira pergunta que Lampião fez, foi saber como andava Zé Chocalho, apelido depreciativo pelo qual tratava José Saturnino, por conta das brigas existentes entre eles. Luiz respondeu que fazia tempo que não encontrava o tio, tentando assim não prolongar o assunto.
Lampião expõe seu problema, disse estarem vindo de longe, estavam com fome, precisavam de mantimentos, perguntou ao jovem sertanejo o que teria para comer. O sertanejo das ribeiras do Pajeu, disse não saber se por sorte de Lampião ou sua, acabara de comprar uma carga de rapaduras para revender, e traria logo, logo, era só o tempo de ir buscar. Junto às rapaduras Luiz trouxe também queijos à vontade, o que agradou muito ao rei do cangaço. Recebido os mantimentos, Lampião tirou do bolso um maço polpudo de dinheiro, contou, recontou e voltou a colocar no bolso, pedindo a Luiz Pedro para pagar, alegando não ter dinheiro trocado para efetuar o pagamento.
Nessa hora seu Luiz disse que o medo aumentou, pois a reação de Luiz Pedro, o cangaceiro do Retiro, foi surpreendente, reclamou do chefe pela sovinice e ainda perguntou para que Lampião queria tanto dinheiro, pois não gastava com nada. Estaria juntando dinheiro para levar para o inferno?
Perguntou Luiz Pedro ao Chefe. Mesmo assim Luiz Pedro retirou um maço de notas do bolso e repassou para Luiz de Cazuza sem contar. Seu Luiz guardou o dinheiro, também sem contar, queria mesmo era deixar aquele lugar, sair do meio daquelas feras, qualquer minuto a mais era correr perigo. Lampião dispensou a presença de Luiz e agradeceu o serviço prestado pelo sertanejo.
Chegando a sua casa, já aliviado por sair do meio daquele covil de feras, Luiz Cazuza foi contar a quantia recebida e se surpreendeu, o dinheiro recebido dava para comprar pelo menos dez cargas de rapaduras, mas seu Luiz ainda hoje conta, o medo que teve naquela tarde, passada na companhia dos cangaceiros de Lampião, dinheiro nenhum pagaria aquela aflição. Essa foi uma das muitas histórias contadas por seu Luiz de Cazuza que escutei sentado em um velho banco de madeira estrategicamente colocado em frente a sua casa na Fazenda São Miguel.
Inúmeras vezes tivemos o privilegio de desfrutar da companhia desse bravo e forte sertanejo das ribeiras do Pajeú, homem simples, excelente anfitrião, quem o conhece fica encantado com sua simpatia. Nas comemorações dos cem anos do meu grande amigo, não poderia deixar de prestar essa singela homenagem a quem merece muito mais do que essas humildes palavras.
Luiz de Cazuza uma verdadeira baraúna do sertão.
Ângelo Osmiro Barreto
Sócio da SBEC
Com a partida de seu Luiz, o nordeste perde mais uma testemunha ocular do fenomeno cangaço. Que deus o receba de braços abertos, pois aqui na terra seu Luiz foi uma pessoa muito querida por todos que o conheceu. Vá com Deus mestre Luiz.
ResponderExcluirUm abraço fraterno a toda família de seu Luiz, todos nós amigos e pesquisadores do cangaço estamos triste pela partida deste grande e gentil cidadão.
Saudações
Juliana
Gostaria de deixar de público meu pesar pelo falecimento do meu grande amigo Luiz Cazuza.
ResponderExcluirUm ser humano de imenso coração que ficará sempre guardado na minha memória. Jamais esquecerei seu sorriso e sua gentileza nas inumeras vezes que o visitei.
Que DEUS ilumine seu caminho na sua última viagem meu amigo.
Angelo Osmiro