Por: Ivanildo Silveira, J. Renato e Fábio Costa
Diagramação: Lampião Aceso.
Para me somar em total apoio e exaltação ao Dr. Leandro Cardoso, e seu artigo abaixo, acrescento este texto que é mais um capítulo de um dos melhores tópicos postados na comunidade do Orkut "Lampião, Grande Rei do cangaço". Desde sua criação ele apresenta uma riqueza de detalhes impressionante, nunca visto, em nenhum livro de cangaço.
Visando esclarecer, ainda mais, a utilização de armas no ciclo do cangaço, sobretudo o uso de metralhadoras, postaremos, logo abaixo, uma descrição destas armas usadas no combate final de Angico, SE , em 28 de julho de 1938, em que tombaram mortos, Lampião e mais dez companheiros.
Convém ressaltar, que o sonho do Rei do cangaço era conseguir uma destas, para poder se igualar ao poderio bélico da polícia.
Tal intento, foi conseguido em 23 de abril de 1931 no Combate da Lagoa do Mel/Touro, com a volante baiana do Ten. Arsênio Alves de Souza. Nesse embate, morreram Ezequiel Ferreira (irmão de Lampião) , e muitos soldados. A metralhadora foi abandonada no campo de luta, mas o esperto tenente, antes de fugir, levou consigo o percursor da aludida arma, para impedir que pudesse ser usada mais tarde . Desse modo, lá se foi o sonho de Lampião de possuir uma "costureira".
Na FOTO, logo abaixo, visualizamos os vencedores do combate em Angico/SE, e suas armas :
1 - Ten. João Bezerra (comandante da volante);
2 - Aspirante Ferreira de Melo.
3 - Sargento Aniceto.
Duas pistolas metralhadoras MAUSER 712 "fogo rápido" (Schenellfeur) , versão com seletor para fogo automático da Mauser C-96... Vulgarmente conhecidas, por “caixa de pau" por causa do coldre/coronha. Uso de oficiais e graduados das Volantes. Por vezes portaram pistolas espanholas Royal, cópias deste modelo... ( informações postadas nesta comuna pelo perito em armas - Fábio Carvalho Costa )
Além das pistolas metralhadoras, acima visualizadas, também foi usado no combate de Angico, a Submetralhadora Bergman, 1928 II, arma de dotação em várias Forças Públicas, em calibre 7,63 mm Mauser. (Veja a gravura e a foto).
Esta arma foi emprestada pelo Sgtº Odilon Flor ao ten. João Bezerra, no dia anterior ao histórico combate.
Nossos confrades J. Renato e Fábio Carvalho Costa especialistas no assunto, analisam a postagem que fizemos, logo acima, enfocando:
1- Capacidade de tiro destas metralhadoras;
2- Tipos de "munição" usadas nas mesma;
3- Alcance, aproximado, de tiro;
4- Outras informações pertinentes, inclusive, correções necessárias.
Ivanildo Alves Silveira
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC
Natal/RN
O escritor Frederico Pernambucano de Mello no livro ''Guerreiros do Sol" apresenta essa mesma foto da volante com as pistolas-metralhadoras. [ pág 322, no rodapé] Mas segundo o autor não são Mausers, são Royal, só não descobri qual modelo exato, se o de 1931 [ cano liso e duas cadências de fogo] ou o de 1934 [ cano aletado e 3 cadências de fogo].
As outras duas ''metralhadoras'' [ na verdade submetralhadoras] são a MP 28 [ Guerreiros do Sol fala em MP 18, mas não deve ser] postada acima é uma Bergmann 35 [ chamada de model 34 no livro, mas analisando as fotos trata-se de uma model 35].
As Royal tinham cadência [ em fogo automático] variando de 120 a perto de 1.000 tiros [ !!!!!!!], coisa totalmente impraticável, pois tornava as armas praticamente incontroláveis, tendendo a subir a boca do cano e lançando a maioria dos projéteis pro alto.
Os chineses, grandes consumidores das pistolas Royal e Schnell, desenvolveram técnicas de tiro pra controlar melhor as armas, atirando com elas deitadas de lado, o que fazia com que as armas derivassem na horizontal, o que podia aumentar as chances de acerto.
Pelo menos as balas não iam pra cima, inutilmente.
E essa cadência é só teórica, pois o maior carregador que se conseguia por aqui tinha só 20 tiros, o que dá pouco mais de 1... isso mesmo, UM... segundo de tiro.
Na foto as pistolas estão com os carregadores de 20. Existiram carregadores de 30 e até 40 tiros, mas são raros até nos EUA, onde se acha de tudo.
Já as MP 28 [ ou 18 ] tinham cadência por volta de 400/500 tiros e as Bergmann 35 ficavam na casa dos 650 tiros por minuto.
Isso tudo são cadências teóricas, pois os carregadores tinham no máximo 50 tiros.
Quanto aos calibres, geralmente as Royal eram em 7,63 Mauser, como foi colocado no texto, mas eu vi uma Royal em 9 mm Luger.
As subs citadas também podiam usar ambos os calibres e muitos outros, mas provavelmente eram em 7,63 mm, que era um calibre muito usado pelas forças públicas, como também foi citado no texto. As MP 28 que já vi eram em 7,63.
A única Bergmann 35 que pude examinar era em 9 mm. Talvez existissem armas de diversos calibres em Angico, o que não era incomum, já que até a tão famosa Parabellum usava dois calibres diferentes, conforme o modelo.
Na verdade sem ter uma fonte muito confiável ou sem examinar as subs é difícil dizer qual exatamente era o calibre de cada uma.
Quanto ao nº certo de SUBs do combate de Angicos, acho que chego a uma conclusão:.
O livro é meio confuso e temos que juntar partes de diferentes capítulos para entender a coisa.
O tenente Bezerra usava uma Bergmann 28, carregador de 50 tiros.
Havia duas Royal, portadas por José Carlos ( não é dada a patente de nenhum dos dois) e uma Bergmann 34 [eu acho que na verdade é uma 35 ...] usada pelo soldado Venceslau. Vejam que as Royal são listadas como submetralhadoras.
Um colecionador aqui de São Paulo me disse, há muitos anos, que a Bergmann do tenente Bezerra ficou com ele e a família por muito tempo. O colecionador não sabe o paradeiro atual da peça.
Há uns anos atrás discutimos bastante o assunto das armas dos cangaceiros numa outra comunidade do Orkut. Inclusive discutimos o modelo da tal metralhadora que caiu em mãos de Lampião.
Quem tiver Orkut e paciência de ler: Nossos bandidos históricos
Abraço a todos
J. Renato
Agradeço a deferência do amigo Ivanildo, e coloco a disposição do blog e comunidade meus humildes conhecimentos. Depois do amigo J. Renato vou chover o molhado.
Esta foto acaba com uma dúvida existente (minha inclusive) a muito tempo. Sobre: Que arma automática teria exterminado a Lampião e parte do seu bando.
Havia várias versões sobre o modelo, falava-se em pistolas-automáticas como as da foto (obviamente a versão correta), submetralhadoras, ou mesmo metralhadoras leves. Infelizmente a baixa qualidade desta foto não permite discernir se a pistola é uma Mauser , ou uma congénere espanhola como a Royal, Astra, ou Azul ...
Acertadamente o Vigário Ivanildo citou as armas longas de ação automática mais portadas pelas forças policiais naquele período: as submetralhadoras {green] Bergman versão MP28 II . As metralhadoras leves mais usadas eram as {green} Madsen e Hotchkiss 1922 .
Quanto as pistolas automáticas, cabe aqui uma distinção: "automáticas" são somente as pistolas que tem uma peça chamada seletor de tiro, ou seja, uma chave ou tecla lateral que pode variar a cadência de fogo entre o tiro intermitente - um tiro por vez - e o automático total , disparando vários tiros em "rajadas". As demais pistolas são todas "semiautomáticas", havendo em exatos 116 anos de fabricação de pistolas coisa de apenas ±10 modelos de pistolas completamente automáticas contra centenas de pistolas semi.
A literatura fala que o modelo usado pelas tropas de Pernambuco seria a pistola espanhola Royal , uma cópia de 1927da Mauser C-96 alemã, com a inovação de acrescentar seletores de tiro ao mecanismo para permitir o regime de fogo semi, e completamente automático.
Podendo inclusive em algumas versões escolher a cadência de tiro automático tendo carregador fixo ou destacável para 10 e 20 cartuchos. Os modelos da Royal sofreram sucessivas evoluções, sobretudo no seletor e no magazine, que passou de fixo nos primeiros modelos a carregador separável na "MM 31" indo de 10 cartuchos iniciais a 20, retornando ao fixo na “MM 34".
A queda na demanda oriental determinou o fim da fabricação em 1934. Podia ter canos aletados ou não, o calibre usual era o 7.63Mauser, eventualmente alguma delas pode ter saído em 9 mm Largo . Tais armas são bem raras e informações sobre seu uso no Brasil (pra variar) é fracamente documentado. Já tive a oportunidade de ver um exemplar de coleção a muitos anos, belíssima arma.
As Mauser 712 (versão de seletor e carregador destacável da Mauser C-96) vieram depois, forçadas pelo sucesso das espanholas Royal , Astra, e Azul , seus clones Espanhóis com seletor de tiro, que as tornavam na prática mini-metralhadoras. Tinham uma precisão, diga-se de passagem, sofrível, por causa da elevada cadência de fogo, e sem o uso da coronha de madeira que é também seu coldre (dai o apelido de caixa de pau a todas elas) eram incontroláveis.
Defeitos a parte tiveram uso limitado em várias unidades policiais especiais de estados como São Paulo, Rio de Janeiro, e Rio Grande do Sul. As Mauser Schnellfeur (fogo rápido como são informalmente conhecidas) certamente poderiam ter sido usadas por outros estados nordestinos, mas não tenho dados concretos sobre isso. As diversas versões civis da C-96 são bem comuns no Nordeste.
Abraços a todos.
Fábio Carvalho Costa
Belo trabalho dos amigos, para ajudar a identificar com precisão o tipo de arma que pode ter sido usada no ataque aos cangaceiros, na grota de Angicos. Interessante saber que apesar da capacidade teórica de disparos das armas, elas estariam bastante limitadas no seu uso, em função do equipamento disponível. Gostaria e saber como os policiais da época usavam essas armas. Na posição automática a arma consumiria toda munição no carregador em menos de 1 segundo. Com o seletor posicionado para tiro intermitente, a arma daria grande vantagem?
ResponderExcluirC Eduardo Gomes.
Caro amigo Ivanildo. Parabéns pela postagem. A importância deste maravilhoso artigo está na clareza e conteúdo das informações, que muito acrescentam a um leigo como eu que não entende de armas; na correlação bem feita com os acontecimentos do Angico, inclusive prorcionando uma visão interessante: os soldados cansados, tensos, alguns alcoolizados, não acostumados a um tipo de armas com tamanho potencial ofensivo. Faço minhas a indagações do ilustre Carlos Eduardo Gomes: como é que eles usavam esta geringonça? Usavam certo? Parabéns ao J Renato e ao Fábio Costa, que realmente sabem o que estão dizendo, e o fazem numa linguagem técnica acessível. Lembrou-me bastante o Mário Carvalho, um amigo que tenho em São Paulo e que é também um grande conhecedor de armas em geral. Quando nos encontrávamos eu sempre ouvia sua maetria sobre este assunto. Parabéns a vocês e ao Kiko.
ResponderExcluirAbraços
Leandro
Meu caro Amigo Ivanildo, boas saudações! Inicialmente parabéns pela postagem: artigo bastante esclarecedor sobre as geringonças que assombravam os cangaceiros, tudo colocado em linguagem técnica, mas acessível. Parabéns ao Fábio Costa e ao J Renato pelo excelente trabalho. Muito me lembrou o amigo Mário Carvalho, de São Paulo (vocês o conhecem?). Ele é consultor da Polícia Militar e quando eu, Amaury e ele nos encontrávamos era para falar das armas do cangaço.
ResponderExcluirGrande abraço
Leandro C. Fernandes
Carlos Eduardo
ResponderExcluirPosso dizer o seguinte, as pistolas-metralhadoras são uma classe restrita de armas (como disse antes se pode contar em 100 anos, apenas ± 10 modelos destas) cujo uso é mais restrito ainda. Trata-se de armas de choque, usadas por pelotões especiais e a curtíssima distância. Ainda foram usadas por estafetas, motoristas, intendência, etc.
Modernamente sua ação mais freqüente tem sido o uso em ataques por unidades de contra-terrorismo (inclusive a paisana), e infelizmente muito mais por grupos terroristas.
O uso de armas automáticas nas polícias brasileiras, segue desde aquela época um modelo, a Submetralhadora via de regra é a arma dos graduados (de cabo ou sargento acima), sendo armamento do soldado o Fuzil. É de se supor que as pistolas-metralhadoras seguissem a mesma regra.
Na prática são armas sem precisão, verdadeiras cospe-fogo, difícil de se dominar, e seu uso certamente se deve a praticidade do tamanho e ao preço, menor que o das submetralhadoras.
No teatro de operações da Gruta de Angicos a distância era pouca, e havia um anteparo atrás dos alvos: o paredão de pedra. Além do mais não havia civis inocentes, todos eram alvos a serem abatidos!! Ou seja, não havia inconveniente em seu uso em fogo automático, aliás, o ataque deveria concentrar a maior quantidade de fogo rápido o possível, para passado o elemento surpresa, neutralizar rapidamente a ameaça de um contra-ataque eficiente. O operador ainda poderia trocar o carregador estando seguramente abrigado.
Abraços, e estou a disposição para (se souber) esclarecer qualquer dúvida.
Abraços Fábio Carvalho Costa
Leandro
ResponderExcluirEu conheço o Mário.
Outro que entende muito de cangaço.
Quanto às armas automáticas, ''armas sem precisão, verdadeiras cospe-fogo,'' como disse o Fábio.
Em regra as automáticas servem pra ''cobrir área'', enquanto os fuzis e carabinas ''cobrem alvo''.
Explico: as metralhadoras e similares são usadas pra se acertar determinada área de terreno.
Atira-se grosseiramente na direção do que se quer atingir, pois um ouu mais tiros provavelmente pegarão onde se quer.
Já o fuzil ou carabina é usado contra um alvo específico, na esperança [ geralmente só esperança, rsrsrsrsrsrsrsrs] de se atingir o alvo.
As subs, quando têm seletor para escolher entre automático e semiautomático, acabam sendo usadas como carabinas.
Atenciosamente J Renato.
Transcrito da comunidade Lampião Grande Rei do Sertão.
Parabens pelo excelente trabalho
ResponderExcluirEu tenho uma c96 mauser e queria fazer uma doação. Se interessa.
ResponderExcluirRodolfo, entre em contato comigo através do lampiaoaceso@hotmail.com
ResponderExcluirAtt Kiko Monteiro