sábado, 29 de maio de 2010

De olho... na literatura

Ricardo Albuquerque corrige informações
 
Após leitura do artigo sobre Benjamim postado há alguns dias: Clique aqui  Ricardo Albuquerque (Foto) presidente do instituto que leva o nome de seu pai Chico Albuquerque e neto do célebre Adhemar Albuquerque fundador da ABA FILM nos envia um comentário que merece destaque pelos esclarecimentos sobre informações contidas em recente publicação da literatura cangaceira. 

Lembro aos leitores que o artigo em questão foi encontrado em outro site nós apenas copiamos e publicamos, mas o Blog também está à disposição para réplicas do autor, Sr. Artur Aymoré, se este achar necessário.


Att Adm. Lampião Aceso.


Prezado Artur Aymoré

Com todo o respeito, sinto-me obrigado a fazer as seguintes correções em seu texto a respeito de Benjamin Abrahão:
 

1) Benjamin até a data de 1936 nunca havia sido fotografo e/ou cinegrafista. Alem de ceder todo o material para a empreitada, meu avô Adhemar Bezerra de Albuquerque (ABA Film) deu à Benjamin todas as noções básicas do manuseio do equipamento.
 

2) Apos a primeira visita ao bando em 1936, quando permaneceu por 3 semanas, todo o trabalho apresentado ao meu avô estava velado.
 

3) Em razão da dificuldade de Benjamin com a luminosidade, meu avô soldou a objetiva da maquina e orientou-lhe como se posicionar em relação ao sol para obter resultados satisfatórios.
 

4) Benjamin retornou ao convívio do bando de Lampião, para desenvolver seu trabalho mais 2 vezes em 36 e 37, quando considerou encerrado o trabalho.
 

5) Em seguida, Benjamin veio até Fortaleza, entregando todo o material ao meu avô, para a edição do filme e revelação das fotos, retornando em seguida à Recife onde veio a ser assassinado em 38.
Por esta razão, todo o material ficou em posse da ABA FILM.
 

6) Uma vez editado o filme, o meu avô programou e divulgou a primeira exibição no Cine Moderno em Fortaleza.
 

7) Assim que o DIP tomou conhecimento da exibição programada, solicitou ao meu avô que a sessão fosse fechada, como uma sessão de aprovação da censura.
Disponho de uma foto da platéia, onde pacificamente representantes do DIP e meu avô assistem esta primeira exibição. Ao final da sessão, o DIP não só proibiu futuras apresentações, como apreendeu o filme.
 

8)Em 1955, apos o suicidio de Vargas, meu avô passou à Alexander Wolff, que fazia a distribuição dos filmes produzidos por ele um copião que ele havia escondido por todos estes anos.
 

9) Wolff solicitou ao cineasta Al Ghiu que fizesse uma nova edição do filme, que acabou sendo exibido ao publico pela primeira vez no Rio de Janeiro em 1955.
 

10) Benjamin Abrahão tem um filho vivo, Atahla que vive em Niterói.
 

11) Em 2004, a minha família (Albuquerque), a família de Lampião e Maria Bonita e a família de Benjamin Abrahão formamos uma sociedade com a finalidade de preservar todo este material iconográfico do Cangaço.

Caso tenha interesse em manter um contato, o meu e-mail é: icchicoalbuquerque@uol.com.br


Um pouco sobre o trabalho de Ricardo Albuquerque:

Instituto Chico Albuquerque 
Relíquias iconográficas do cangaço em Fortaleza

Durante 20 anos, Lampião e seu bando percorreram o sertão nordestino a perpetrar feitos que fizeram do capitão Virgulino um mito. Mitificação essa construída a partir do sertão interiorano ao litoral mais desenvolvido, para dele se espraiar a todo o Brasil de ainda precários meios e vias de comunicação. Durante muito tempo, a saga do cangaço foi noticiada através dos cantadores de feira, dos emboladores, dos cegos rabequeiros e da literatura de cordel.
 
Para quem não tinha chegado a ver um cangaceiro de perto, Lampião poderia passar à história como um
fora da lei que talvez nem tivesse existido além da xilogravura ou do desenho. Não fosse a visão de um mascate libanês cuja ousadia foi fundamental para a compreensão atual do fenômeno do cangaço. Benjamim Abrahão foi o responsável pela memória iconográfica do bando de Lampião. Trata-se de uma verdadeira façanha a captura exclusiva de momentos da intimidade cotidiana do cangaceiro e seu grupo, que virou tema do longa-metragem brasileiro “O Baile Perfumado”, de Lírio Ferreira.
 
Todo esse material está disponível hoje em Fortaleza (CE), sob os cuidados do Instituto Cultural Chico Albuquerque – pioneiro da fotografia publicitária no Brasil. A entidade é vinculada à rede de lojas especializada em materiais fotográficos Aba Film, e detém os direitos de uso do trabalho do fotógrafo. O acervo é composto por uma série de 99 fotos e um vídeo de 11 minutos, além de outras 400 fotos coletadas por Ricardo Albuquerque sobre o cangaço, a maioria de fotógrafos amadores. “Essas outras fotos são anteriores às de Benjamim. Existem outras de Lampião com vestimentas diferentes da habitual. Bem pobres em relação às usadas no final do cangaço”, revela Ricardo, presidente do instituto e filho de Chico Albuquerque. Ele diz que foi Dadá, mulher do cangaceiro Corisco, quem motivou os cangaceiros a usarem roupas enfeitadas.
 
A história das fotos e imagens começa com a chegada de Benjamim Abrahão a Juazeiro do Norte. O viajante acabou conquistando a confiança de Padre Cícero e virou seu secretário. Com a morte do padre, decidiu renovar contato que já possuía com Lampião – o cangaceiro era devoto de Padre Cícero – e propôs a Ademar Bezerra Albuquerque, avô de Ricardo Albuquerque e fundador da Aba Film, registrar a rotina do grupo. Proposta aceita, o “mascate-fotógrafo” foi ao sertão, e após um mês de convívio com o bando e todo o equipamento para cobertura, verificou que o filme havia velado. Disposto a cumprir seu intento, Benjamim recebeu dicas de Ademar, voltou outras duas vezes e conseguiu os registros. O ano era 1937. Em 1938, Benjamim foi assassinado em Recife (PE).
 
Segundo Ricardo Albuquerque, depois do episódio, Ademar tentou exibir o filme no Cine Moderno,
em Fortaleza, ainda em 1938. Mas o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do Governo Getúlio Vargas censurou e confiscou a película ao assistir uma prévia. Sorte que Ademar fizera uma cópia do material. As fotografias foram reproduzidas por diversos veículos como o jornal O Povo, de Fortaleza, e até pelo O Globo. O filme do grupo de Lampião foi exibido pela primeira vez em 1950 e serviu para outra película, “Memória do Cangaço”. Uma sala na sede da Aba Film (Rua Costa Barros, 915, 9º andar, Centro), abriga hoje todo o material em disponibilidade para publicações.
 
As fotos que registram a história de Lampião e seu bando foram restauradas em 2003, quando Ricardo voltou de São Paulo para morar em Fortaleza. O vídeo teve sequências compiladas e foi recuperado graças a projeto bancado pela Petrobras.
 
O direito autoral pertence à família Albuquerque, e o de imagem à família de Lampião. “É uma parceria. Há um contrato entre as partes, inclusive a família do Benjamim. E eu tenho uma procuração para cuidar disso tudo”, informa Ricardo Albuquerque.

Fonte: Revista Nordeste 21, edição nº1, Maio de 2009.

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