Diário de bordo do "Vaqueiro" Rostand Medeiros
Amigos!
Gostaria de dividir com vocês o trabalho que atualmente realizo e têm relação com o cangaço de Lampião.
Bom, entre os dias 11 e 15 de agosto, estive percorrendo as áreas rurais por onde o bando de Lampião, entre a PB e o RN, como parte de uma consultoria que presto ao SEBRAE, dentro do projeto “Território Sertão do Apodi - Nas Pegadas de Lampião” www.sertaodoapodi.com.br
Estive desde São João do Rio do Peixe, Uiraúna (PB), Luís Gomes, Major Sales, Paraná e Marcelino Vieira (RN). Em relação à Paraíba, que não é o foco do projeto, a idéia foi visitar locais apenas para conhecer. Existem locais onde a preservação é mantida de forma excepcional (caso da fazenda Canadá, em Uiraúna) em outros as mudanças são inevitáveis.
Infelizmente no caso do RN, pelo menos até onde eu fui, trago uma triste notícia; está tudo sendo destruído. As velhas sedes da Fazenda Nova (onde o idoso Cel. Joaquim Moreira foi seqüestrado), Bom Jardim, Diamantino e a centenária sede da fazenda Aroeira (onde dona Maria Lopes foi levada pelo bando), ou não existem mais, ou as mudanças foram tão radicais que as alterações descaraterizaram totalmente estes locais.
Percebi que comparando o caminho que estou percorrendo, com o período da pesquisa realizada por Sérgio Dantas, para o seu livro “Lampião no Rio Grande do Norte”, muita coisa mudou e de forma rápida.
A Fazenda Nova foi inteiramente derrubada para a construção de uma mega e moderna sede de fazenda, até mesmo uma capelinha construída pelo Cel. Moreira, como forma de agradecimento pela sua liberdade, onde se diz que estavam expostas as cordas usadas pelos cangaceiros para mantê-lo preso, veio abaixo.
Percorrendo estes caminhos (geralmente em motaxis) percebi que de forma geral a população da região, principalmente os que moram nestes locais, próximos a eles, e nas pequenas cidades, sabem dos ocorridos, mas sem riqueza de detalhes.
Isto só encontrei nos mais velhos, onde a maioria não vivenciou os fatos, mas escutaram dos pais e avós.
Aonde eu chego existe uma informação quase unânime, acompanhada de uma certa tristeza na voz das pessoas que comentam “-Se você tivesse vindo antes, fulano que viu tudo lhe contava direitinho, mas (o informante) já morreu”.
Percebo que as pessoas associam a passagem do bando de cangaceiros como algo importante na história dos seus locais, mas para eles nada do que ocorreu em suas regiões tem uma maior relevância global. Percebi que esta relevância está associada, quase que exclusivamente, à resistência ocorrida em Mossoró.
Um fato comum é que os mais jovens "ouviram falar", mas não sabem muito.
Na fazenda Baixio (Em Luís Gomes), encontrei a D. Maria do Céu Leite (sobrinha dos irmãos cangaceiros Massilon e Manuel Leite) que comentou triste o gradual desconhecimento dos mais jovens da sua região em relação a passagem do bando de cangaceiros. Percebi que neste locais, quanto mais o tempo passa, mais a informação está difícil de ser conseguida e apurada e cada vez mais, trabalhos como o de Sérgio Dantas, passam a ter valor pelo resgate.
Para elaboração desde trabalho, utilizo a bibliografia existente, onde o livro de Sérgio Dantas, nosso amigo, se destaca. Inclusive durante os dias em que estive viajando e até ontem mesmo, estive conversando com Sérgio Dantas, onde ele vem acompanhando este trabalho que realizo, trocamos idéias, informações e lhe trago notícias de pessoas que ele conheceu nestes caminhos.
Triste é que por onde tenho andado, cada vez mais o esquecimento está se tornando o lugar comum.
Blogs como este, são ferramentas salutares em meio a um mundo cada vez mais digitalizado, mas está nos locais onde tudo ocorreu, tem um sabor diferente. Percorrer estes locais me permite novos pensamentos, novos reconhecimentos dos fatos históricos, sempre aproveitando quem veio antes. Quanto ao 4x4, pode até ser, mas nada que uma boa moto trail, ou um bom jumento com sela não possam alcançar.
Um abraço Rostand Medeiros. www.sertaodoapodi.com.br
Foto: Em Cajazeira - PB com Francisquinha Martins, neta do cangaceiro "Sabino Gomes", ou Sabino Gorê, ou se preferir Sabino das Abóboras. Batalhadora pela história, é funcionária da prefeitura desta cidade paraibana e uma pessoa muito gentil e atenciosa.
Bom Dia.
ResponderExcluirComo admirador de Lampião e de toda sua trajetória e em especial de Sabino Gomes gostaria de entrar em contato com sua neta, Francisquinha Martins e saber dela se ela t6em mais detalhes da participação do grande Sabino das Abóboras, o por quê de sua entrada ao bando.Gostaria de ter contato.
Muito gentilmente agradeço.
Cesar Riccetto.
cesarriccetto@bol.com.br
Prezado César esta publicação foi extraída do orkut (comunidade Lampião Grande Rei do Sertão),feita pelo Sr. Rostand Medeiros. Você pode entrar em contato com ele através de seu perfil http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=4241502039197857428 ou pelo site www.sertaodoapodi.com.br ou diretamente com s Sra. Francisquinha Martins telefonando para a prefeitura de Cajazeiras -PB www.cajazeiras.pb.gov.br
ResponderExcluirAbraçando!
O que Rostand Medeiros viu no Rio Grande do Norte quando de sua procura por informações sobre cangaceiros, e que se apoderou de tristeza pelos os desprezos nos lugares que deveriam ser conservados, isto é descuido por parte dos governantes, que quem entra não conserva e se sai diz que conservou.
ResponderExcluirOs políticos do Rio Grande do Norte não valorizam a cultura, nem os patrimônios que deveriam ser conservados. Existem tantos prédios, não só em Mossoró, mas em todo Rio Grande do Norte, que abrigaram histórias, e hoje estão se deteriorando sem que ninguém faça nada.
O Rio Grande do Norte não constrói nada, destrói o que os outros construíram.
José Mendes Pereira – Mossoró-RN.