quinta-feira, 28 de maio de 2009

Volta Seca

Um Cangaceiro (sergipano) de Lampeão 

Por: Luis Antônio Barreto

São desencontradas as informações sobre Volta Seca, cangaceiro sergipano e um dos mais conhecidos e destacados cabras do bando de Lampeão. Em 29 de abril de 1929, quando assistiu missa em Poço Redondo, com seus “rapazes,” o próprio Virgulino Ferreira da Silva entrega ao padre Artur Passos, então vigário de Porto da Folha, uma folha de papel pautado, escrita a lápis, com os nomes, os apelidos e as idades dos integrantes do seu grupo de dez cangaceiros.

No precioso papel, que é documento daquela que pode ser considerada a primeira entrada de Lampeão em Sergipe, o último a ser citado, com o nome de Antonio Alves de Souza, e a idade de 18 anos, com a observação “menino,”, e tem o apelido de Volta Seca.

Preso no início de 1932 e levado para a Casa de Detenção da Bahia, Volta Seca foi procurado por alguns sergipanos interessados em recolher informações sobre o cangaço no Nordeste e sua presença em Sergipe.

Joel Macieira Aguiar, representando o Jornal de Notícias, acompanhado de Hernani Prata e de João Prado, estudantes de Direito na Bahia, encontrou Volta Seca tocando realejo, entrevistando-o, em começo de abril de 1932, fixando estes dados pessoais: sergipano, nascido no Saco Torto, povoado de Itabaiana, filho de Manoel Santos, que trabalhou no Engenho Contadouro, de propriedade de Antonio Franco, frequentou o Engenho Central, onde trabalhava Antonio de Engraçia, conheceu Aracaju, e conheceu bem sua terra, Itabaiana, e Malhador. Volta Seca declarou, ainda, que entrou para o cangaço com 12 anos, a convite do próprio Lampeão, em Gisolo, no sertão da Bahia.

12 anos depois, em março de 1944, Joel Silveira, já um jornalista importante no Rio de Janeiro, viaja a Salvador, e na Penitenciária da Bahia entrevista Volta Seca e outros cangaceiros presos, como Ângelo Roque, Deus Te Guie, Caracol, Saracura, Cacheado. Joel Silveira anota o nascimento de Volta Seca em Itabaiana e diz que ele entrou no cangaço com 14 anos. Um documentário sonoro, feito na década de 1950, gravado em 1957, narrado por Paulo Roberto, locutor da Rádio Nacional, afirma que Volta Seca tinha o nome de batismo de Antonio dos Santos, e que entrara para o cangaço com apenas 11 anos.

A Todamérica grava o documentário comercialmente, apresentando Volta Seca como compositor e intérprete de diversas músicas que estão ligadas ao ciclo dos cangaceiros, como: Se eu soubesse; Sabino e Lampeão; Mulher Rendeira; Acorda Maria Bonita e outras.

Há, portanto, divergência de nome, idade e data de entrada de Volta Seca no grupo de Lampeão.

Considerado valente, tendo brigado com o próprio chefe, Volta Seca não mereceu elogios do padre Artur Passos, no encontro de Poço Redondo em 1929. O padre, que demonstrou simpatia com Moderno (Virgínio Fortunato, cunhado de Lampeão) e com o próprio Virgulino, não gostou de Volta Seca, e sobre eles diz: “Não têm, inclusive Lampeão, cara repelente, como imaginamos nos bandidos em geral, devendo frisar, porém, o olhar especial de um deles, o fedelho de 16 a 18 anos, que os acompanha.”

Padre Arthur Passos


No contato com Joel Silveira, Volta Seca, sob o testemunho de antigos companheiros, reafirmou sua coragem, disposição, e narrou episódio de uma briga com o chefe, em 1931, por causa de um socorro dado a Bananeira, ferido em combate. Lampeão achava que o atraso poderia ocasionar problemas sérios, de confrontos com a polícia, enquanto Volta Seca agia solidariamente, sem querer deixar para trás o companheiro atingido por tiros. O ambiente ficou tenso, e por pouco os dois cangaceiros não se enfrentaram.

A fama de valentia, contudo, ampliou-se dentro e fora do grupo, apesar de Volta Seca ganhar, também, uma imagem lúdica, de compositor e de cantor, responsável por salvar parte do repertório dos grupos de cangaceiros. O disco da Todamérica é um bom exemplo, e foi reproduzido, em parte, décadas depois, por um álbum, long-play, dos Estúdios Eldorado, de São Paulo, com o título de A Música do Cangaço. Nele, além das canções atribuídas e cantadas por Volta Seca, já citadas, figuram artistas como Luiz Gonzaga, Sérgio Ricardo, Teca Calasans e Antonio Carlos Nóbrega.

Além de tocar realejo, compor e cantar, Volta Seca foi submetido, na prisão, ao trabalho forçado de fazer flores e outras artesanais, predominantemente feitas por mulheres. Ele não se abateu, casado, pai de um filho, ele esperava cumprir sua pena de 20 anos, para deixar a prisão e recomeçar a vida. E o fez pela música, ainda hoje uma referência, tomada por empréstimo por Luiz Gonzaga e por outros artistas nordestinos, que concorreram para fixar uma estética do cangaço, da qual Frederico Pernambucano de Mello é especialista.

Publicado no Portal Infonet em 27/02/2009. 

*Adendo Lampião Aceso: O povoado Saco do Torto hoje é situado no município de Malhador, após a emancipação deste. 

5 comentários:

  1. Boa noite amigo..Fiquei muito feliz em ver o carinho aqui expresso pelo cangaço...
    e como li que o comentário passa por sua autorização, tomei a liberdade de lhe fazer uma pergunta ao invés de um comentário..
    Tenho procurado a data de morte de Volta seca, e ate o momento não consegui nada...
    Se puder me ajudar meu e-mail fatima.brida@uol.com.br
    Desde já estou grata.
    Atenciosamente
    Fatima

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  2. Caríssima Fátima
    obrigado por vossa visita e atenção, o espaço é nosso. Vou checar esta informação junto a estimados amigos especialistas e lhe correspondo assim que obtiver a data e se possível a causa mortis do cabra pois não me lembro de possuir texto ou já ter lido algo a respeito, sabe-se que ele passou seus ultimos dias em São Paulo.

    Abraçando!
    Kiko Monteiro

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  3. Fátima tivemos a oportunidade de rever o estimado escritor e amigo Antonio Amaury na semana passada e aproveitei para sanar esta dúvida para você. A resposta é que Volta Seca faleceu em 2 de fevereiro de 1997 na cidade de Leopoldina - MG onde ele viveu seus ultimos anos de causas naturais.

    Abraçando!

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  4. Em minha opinião, o cangaceiro que ao ser entrevistado pelos repórteres e pesquisadores, e menos fantasiou as suas respostas, foi o Volta Seca. Ele disse ao repórter do Jornal “O Pasquim”, Nº. 221 – Setembro/Outubro de 1973, que Lampião não era só um homem vingativo e perverso. Também fazia caridade para a maioria dos necessitados. Durante o período em que Volta Seca conviveu no bando, viu muitas vezes Lampião tirar do bornal, dinheiro e doar às pessoas necessitadas. Se alguém lhe fizesse um pedido, ele tentava ajudar, e seria imediatamente resolvido. Apesar de ter sido um homem aparentemente trancado, mas era bastante generoso, atencioso e além de educado. Qualquer pessoa que fizesse algo de bom para ele, já estava protegida. O que ele não gostava mesmo, era desses como se diz, caguetas; aqueles que espalhavam coisas sobre as suas vinganças. E para essas pessoas, ele tinha um apelidozinho: Chamava-as de “Linguarudos”. O que Volta Seca disse aos repórteres foi confirmado pelo o escritor Rostand Medeiros, do jornal "A Notícia", que circulou no dia 8 de março de 1931, que um ex-cangaceiro de Lampião, chamado Otaviano Pereira de Carvalho, afirmou-lhe em entrevista o seguinte: “-Lampião era um bom homem, que vivia na espingarda, mas era educado. Possuía gestos de generosidade. Distribuía dinheiro com os pobres, os cegos e falava muito pouco, isto é, só falava o necessário”. A entrevista que Balão cedeu em 1973, à Revista Realidade, afirmou também quase isso. Na íntegra: “Até Hoje o povo pensa que LAMPIÃO matava por qualquer coisa. Mas nunca o vi mandar matar alguém a sangue frio. E as fazendas por ele destruídas eram dele mesmo. Lampião havia comprado as terras em sociedade com um tal de Petro de Alcântara Reis: Tronqueira, Cachoeirinha, Formosa. Mas Petro as registrou apenas em seu próprio nome. LAMPIÃO zangou-se. Eu mesmo ajudei a matar muito gado a tiro, na Cachoeirinha. Petro fugiu para Alagoas.

    José mendes Pereira - Mossoró-Rn.

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  5. Ainda encontra se viva morando atualmente no Estado de São Paulo, uma tia de Volta Seca, hoje ela está com 90 anos de idade, nascida e criada em Saco Torto, é conhecida em Sergipe pelo apelido de Sondina esposa de Marcolino

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