quarta-feira, 16 de março de 2011

Resenha sobre o livro de Bassetti e Megale

Lampião: a morte revisada 

por Antonio Sapucaia

Lampião e as suas aventuras sempre foram assuntos recorrentes e palpitantes, a convocar a atenção de escritores, pesquisadores, cordelistas e até cinegrafistas. Para muitos, foi herói; para outros, foi bandido. Morto, ainda houve quem o ressuscitasse e o desse como vivo no Estado de Goiás ou em Campina Grande. Os desencontros em torno da sua vida e da sua morte encheram páginas e páginas de livros e jornais, e ninguém sabe aonde chegará.

Então repórter da Gazeta de Alagoas, em 1965, tive oportunidade de entrevistar o coronel Francisco Ferreira de Melo, que fora chefe da volante que o dizimou, sob o comando do tenente João Bezerra, numa série de três entrevistas que foram reproduzidas no Correio Braziliense. Confesso que fiquei envaidecido com o feito, pois me pareceu que aquela seria a versão definitiva da morte de Lampião, e ninguém mais ousaria tocar no assunto.

Eis que me chega às mãos, agora, o livro Lampião sua morte passada a limpo, de autoria de José Sabino Basseti e Carlos Megale, que me concede a certeza de que eu estava equivocado sobre a possível versão definitiva do extermínio do “Rei do Cangaço”. Dos livros que tenho lido sobre o assunto, ao longo dos anos, este se revelou o mais idôneo e autêntico atestado de óbito da morte de Lampião.


Os autores não buscaram testemunhas auriculares sobre a carnificina de 28 de julho de 1938, em Angico, tampouco procuraram repetir o que muitos autores já haviam divulgado; penetraram os meandros de fontes verdadeiras, medindo os fatos como se estivessem usando uma fita métrica, sem deixar nenhuma margem de dúvida, mesmo que desagradassem a muitos entrevistados. Penetraram nos xiquexiques, macambiras e mandacarus que envolvem o tema, sem se preocupar com arranhões que porventura venham a partir de alguém magoado que tenha uma importância menor do que aquela que julga ter.



Em determinados aspectos apelaram para a lógica e o raciocínio lúcido, bem concatenado, na perseguição da verdade mais verdadeira, mais comprovável ou comprovada. Exemplo claro disso, entre outros, está na contestação dos depoimentos do coiteiro Durval Rodrigues Rosa, cujas revelações tendem mais para a vaidade e a megalomania do que para a veracidade dos fatos, à luz de um raciocínio lógico e racional.

Também foram desmistificadas algumas inverdades, como a suposta assertiva de que o coronel João Bezerra vivia jogando baralho com Lampião, fornecia-lhe munição, e que havia sido dado prazo para liquidar o companheiro de Maria Bonita. Igualmente não procede a informação de que, embriagado, o coronel Ferreira de Melo teria mantido contato com possíveis coiteiros e quejandos. Embora gostasse de uma pinga, Ferreira de Melo nunca foi alcoólatra. São invencionices sem consistência. Outras informações partidas até mesmo de cangaceiros tiveram igual tratamento e com semelhante objetivo, que foi desvendar a verdade dos fatos, embora contrariando e desmascarando alguns deles.

É certo que muita coisa tem ainda a ser contada, focalizando a vida atribulada de Lampião e seus comparsas, mas o livro em questão representa um marco na estrada longa que foi percorrida por Lampião.

Quando em 1965 entrevistei Angelo Roque, o Labareda, em Salvador, indaguei-lhe a respeito de Vinte e Cinco, que ainda vive em Maceió, e sobre Barreira, que na época estava vivo, também em Maceió. As informações não foram muito boas em relação ao Barreira, enquanto Labareda enalteceu a figura de Vinte e Cinco, da mesma maneira que o fez Dadá, na rápida conversa que mantivemos em sua casa, em Salvador. Fácil é deduzir que muita coisa ainda poderá vir à baila em torno do temperamento, da vida e das façanhas dos cangaceiros.

Contou-me o coronel Ferreira, na época, que embora fosse amigo e compadre de João Bezerra, fazia-lhe algumas restrições em razão da publicação do seu livro Como dei cabo de Lampião, que continha muitas inverdades, pois ele puxou bastante a brasa para a sua sardinha. Tanto assim o é que o coronel João Bezerra chegou a oferecer-lhe a importância de cinco contos de réis para que não contestasse a sua publicação, cuja proposta não mereceu acolhimento. Ferreira de Melo limitou-se a dizer que não queria dinheiro, mas gostaria simplesmente que ele tivesse relatado os fatos tal como se deram. Essa particularidade pode ser confirmada pelo seu filho, Dermeval Ferreira de Melo, que vive em Maceió.

De fato, a participação do aspirante Ferreira de Melo foi decisiva para o extermínio de Lampião e parte do seu bando. Comenta-se, inclusive, que o tiro na perna de João Bezerra foi dado por ele mesmo, que chegou a ensaiar um recuo nos instantes iniciais do tiroteio, enquanto Ferreira de Melo lhe dava força para o enfrentamento.

Não tenho dúvida em afirmar que Lampião sua morte passada a limpo constitui o mais completo trabalho envolvendo o capítulo da morte de Lampião, fazendo cair por terra definitivamente a estória do envenenamento e outras que ainda não foram desmistificadas totalmente. Não foi sem razão que, instigado por uma voracidade insaciável, comecei sábado e emendei o domingo na leitura do livro em questão, que, além do bom texto e da excelente feição gráfica, traz algumas fotografias e dois croquis.

(*) Antonio Sapucaia  É desembargador aposentado e jornalista. Publicado na coluna Saber do Jornal Gazeta de Alagoas, Edição de 12 de Março de 2011).

Pescado em: Gazeta on line

*As fotos foram inseridas por nós para ilustrar a matéria. 


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Abaixo o recorte da matéria, cortesia de Gustavo Farias.

3 comentários:

  1. Na minha opinião,e com todo respeito aos grandes escritores que já escreveram sobre o assunto,
    esse lívro de Sabino Bassetti e César Megale é o mais elucidativo
    que já consultei,sem arrodeios nem
    misticísmos apenas a lógica.
    Estão de parabéns.

    Narciso Dias

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  2. Uma excelente resenha sobre o livro dos escritores Bassetti e Megalle.

    José Mendes Pereira - Mossoró-RN.

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  3. Antônio Epitacio Grangeiro Xavier, foi um combatente exemplar. Jamais se acovardou diante do inimigo. Guerreiro valente e leal. Será sempre lembrado como o terror pernambucano, pois agia com muita furia contra os seus inimigos. Deixou um rastro de sangue em sua terra natal, Exu-Pe. Onde estiver, desejo que esteja em paz. João Sampaio Xavier.

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