terça-feira, 25 de março de 2025

O CANGAÇO EM SANTA INÊS - PB.

A morte do "Azulão paraibano"

Pesquisa de José Francisco Gomes de Lima (Perfil Lampião Governador do Sertão).

Na década de 1920, o cangaceirismo assolava os estados nordestinos. Na época, a Paraíba vivia em constantes combates contra o cangaceiro Virgulino Ferreira (Lampião),o rei dos cangaceiros, que dizia livremente que a culpa daquele estado de coisas era do coronel José Pereira Lima (Zé Pereira de Princesa). 

Segundo o Cangaceiro, Zé Pereira avia o traído e o roubando uma grande quantia de dinheiro. Para piorar a situação para o lado de Lampião, as volantes paraibanas aumentaram o nível das perseguições. Mesmo assim alguns lugares como Patos de Irerê na Paraíba era coito seguro de Lampião.

Desde 1924, quando Lampião foi baleado na Lagoa do Vieira no vizinho Estado do Pernambuco, o trânsito do cangaceiro só aumentou na Paraíba e Santa Inês virou rota do banditismo rural. 

Nesta época um bando de cangaceiros liderados por "Azulão" vivia fazendo coalizões com o bando de Lampião. "Azulão" era um homem perverso e tudo indica que ele era paraibano. Seu bando variava de 5 a 10 homens e suas atuações eram basicamente nos mesmos lugares. 

Devido à brutalidade de Azulão e a falta de insubordinação aliada a um desejo sádico te possuir mulheres, Lampião decidiu expulsa-lo do seu bando. Azulão tinha fama de praticar estupros e de alguma maneira Lampião não aprovava as atitudes dele e esse foi o motivo da separação. Na realidade, Lampião detestava Azulão, porque o cabra era desprezível até mesmo para outros cangaceiros. 

Vira e mexe ele mandava recado para pais de família, dizendo que ia carregar as filhas que estivessem em sua casa. Ele dizia e fazia e por isso ele era temido. A ira de Lampião só aumentava contra Azulão, que além de praticar estupros, dizia ele que era cabra de Lampião e a culpa sempre caia nas costas do Rei do Cangaço.

 Em Conceição na Paraíba o cangaceiro Azulão e seu bando puseram suas garras numa pobre moça. A família que tinha posses, ficou  bastante desmoralizada. Zé Pereira foi cobrado e com o apoio do Governo do Estado intensificou as ações das forças volantes na região. Todavia, depois do acontecido em Conceição, Santa Inês foi palco de uma terrível visita do Azulão e seu bando onde também praticou estupros. 

O terror estava solto. Um dia, Azulão avisou que iria carregar três filhas de um senhor chamado José Nunes. O coitado do trabalhador rural acuado e sem ter o que fazer, mandou avisar a volante comandada pelo Tenente Raimundo Quintino em Conceição na Paraíba, que o bando de Azulão estava em suas terras, pronto para atacá-lo e ele precisava de uma rápida ajuda. 

Em meados de 1927 a volante de Raimundo Quintino sofrendo forte pressão do coronel José Pereira que exigia resultados satisfatórios, estacionou próximo a fazenda de José Nunes na Serra Pintada, que na época pertencia a Conceição, mas que hoje pertence a cidade de Santa Inês. 

Raimundo Quintino era muito Valente e esperto, sua força volante era composta por parentes incluindo um filho.Ele soube que próximo a fazenda do pobre trabalhador havia um caldeirão com água e ele decidiu fazer ali uma espera, (tocaia). 

Foi uma ideia de gênio, pois não demorou muitos dias e logo o bando de azulão se aproximou do caldeirão na Serra Pintada. O cangaceiro, gostava de andar no meio da fila indiana, formada pelo bando, mas quando chegou no caldeirão o cabra se antecipou e foi pular uma cerca de faxina. Não deu tempo nem botar os pés no chão e logo o fuzil cantou. Azulão foi varado de bala e ficou igual uma peneira, o resto do bando se escondeu próximo a um umbuzeiro e abriu  fogo contra volante onde Raimundo Quintino foi baleado no pé. 


O tiroteio não demorou muito e logo os cabras sumiram no meio da caatinga. Azulão foi pego e amarrado em um jumento e levado para a cidade de Conceição onde foi jogado numa calçada. No mesmo dia esta foto abaixo foi tirada mas azulão não saiu na fotografia porque Raimundo Quitino não queria que sua imagem fosse associada a um cangaceiro daquele nível. 

Note que Raimundo Quintino, o primeiro da esquerda está com o pé enfaixado. E foi assim que uma onça terrível chamada Azulão, foi tirada do pasto em Santa Inês-PB.




Agradecimentos:

Professor José Fabio Nicolau e Damião Holanda de Lacerda.


sexta-feira, 7 de março de 2025

RANGEL ALVES NO RASTRO DO CANGAÇO...

... Despedida

O tema Cangaço é instigante de qualquer jeito, seja em roda de conversa, em palestras e seminários, em leituras e até nas imaginações mais irreais ou ilusórias. Contudo, nada igual ao conhecimento de perto dos cenários e paisagens daquela brutal e perversa realidade. Não para engrandecer ou glorificar os feitos cangaceiros, mas pelo conhecimento, pelo confrontamento do que se imagina com a realidade das caatingas, dos coitos, dos locais de combate, com suas causas e consequências. 

Uma cruz esquecida no meio do tempo, um tronco de velha árvore ainda marcada por disparos, uma casinha de oração, uma sepultura já quase desfeita pela voracidade do tempo, uma casinha com seu barro caído e cheio de escritos da história. Tudo isso precisa ser conhecido, de modo a juntar o que se sabe e o que se imagina, com o que resta daqueles medonhos cotidianos nos sertões nordestinos. Após cada contato com o que restou do cangaço, então dizer: Meninos, eu vi! E talvez o visitante ou pesquisador diga que o encontrado e o avistado são mais importantes do que todos os livros já lidos sobre a saga cangaceira.

Meu pai Alcino vivia no rastro dessa história, vivia rastejando cada passo cangaceiro nos sertões de Poço Redondo e mais além. Ouviu testemunhos dos personagens da saga, duvidou do que o livro dizia perante o que encontrou, e, pela própria percepção e sabedoria matuta, foi construindo suas próprias histórias, e tão reais que ainda é possível avistar em meio às caatingas o que ele escreveu. Eu não tenho essa maestria do meu pai, não tenho o dom de traduzir em letras o que meu pai tão bem descreveu, ainda que tivesse apenas o estudo primário. 

Mas eu, filho de Alcino, já fiz o que podia. Já visitei coitos, marcos históricos, locais de combates. Já visitei muitas cruzes, muitas casinhas de oração, locais de ex-votos pelos inocentes mortos pelos cangaceiros, locais onde o sangue espargiu pela violência dos bandoleiros e volantes. Na minha imaginação, eu vi Lídia amarrada ao umbuzeiro, e sabendo que logo seria morta por Zé Baiano. Eu vi Zé Bonitinho ser degolado e o sangue se espalhar pelo batente. Eu vi Adelaide dando seus suspiros finais embaixo do umbuzeiro. Eu vi o menino Galdino e seu avô Monteiro sendo covardemente mortos pela sanha assassina de Gato. Eu vi o ex-cangaceiro Juriti morrendo ateado em fogo. Eu vi Clemente, Doroteu e João transformados apernas em túmulos e em cruzes da memória. E vi muito, muito mais. Meninos, eu vi!


Mesmo num misto de dor, de prazer pelo conhecimento absorvido, e de revolta ante aquele mundo sem lei e sem dono, tudo isso eu vi e registrei. Hoje conto apenas o que sei pelo que conheci. Mas não mais farei isso. A Expedição Rota do Cangaço Poço Redondo 2025, comandada pelo amigo Aderbal Nogueira e marcada para acontecer dia 21 de julho nos sertões de Poço Redondo, será a última que acompanharei os visitantes e estudiosos do tema Cangaço. Em nenhum outro evento estarei presente, nem como acompanhante nem como palestrante ou mesmo mero participante. 

Sei o que sei. Sei o que já aprendi. E já tá bom demais. Nem no Memorial nem na Casa de Pedra receberei turistas ou interessados em informações sobre o Cangaço ou sobre o mundo sertanejo. Não queria que fosse assim, mas sou forçado a me recolher de toda a vida cultural, histórica e turística de Poço Redondo.

At.te Rangel Alves da Costa